quarta-feira, outubro 21, 2020

21. Espiritualidade do profeta

Espiritualidade Cristã (parte 21/64)

      Muitos se consideram profetas, nas igrejas evangélicas atuais, mas a maioria não entende de fato o que era um profeta no antigo testamento, assim como não entendeu o que é profecia, hoje, sob o novo testamento. Nunca nos esqueçamos, Jesus, mais do que qualquer outro personagem bíblico, é nossa referência máxima de homem espiritual. No mundo atual, onde o ministério do Espírito Santo tem liberdade nas vidas de todos os convertidos, não há necessidade mais de profecias como as do antigo testamento, direcionadas a um povo e com o objetivo de trazer um povo desviado de volta a Deus. Na maior parte das vezes as palavras que o Espírito Santo entrega atualmente são palavras de consolo, não de condenação, as mais sérias só recebem os muito rebeldes, e quero crer que são excessões. 
      A experiência  com o Senhor, após a obra redentora de Cristo e a descida do Espírito Santo, é individual, ainda que nos reunamos em igrejas para compartilhar a fé, de acordo com afinidades e gostos doutrinários comuns. Se Deus precisa falar, ele fala ao coração do homem pelo seu Espírito, quanto ao mundo o Senhor fala pelo testemunho dos crentes, não por profetas no estilo bíblico, muitos que se colocam nessa função, seria mais prudente que os encaminhássemos para psicoterapia. No antigo testamento a religião autorizada por Deus era diferente, uma simbologia do cristianismo, as coisas eram físicas. Contudo, vidas de homens como Habacuque, nos ensinam muito até hoje, sobre sensibilidade espiritual, sobre lucidez para com a realidade e principalmente com respeito à espiritualidade cristã.

O peso que viu o profeta

      “Habacuque ou Habacuc é o livro bíblico cuja autoria é atribuída ao profeta de mesmo nome. Discute-se a data em que o livro foi escrito, havendo duas hipóteses:
- o livro foi escrito pouco antes da queda de Nínive em 612 AC; nessa hipótese, os opressores seriam os Assírios;
- o livro foi escrito entre a Batalha de Carquemis em 605 AC e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C.; nessa hipótese, os opressores seriam os caldeus. 
      Habacuque significa "abraço", e está incluso na subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Menores, sendo um livro de apenas três capítulos. Provavelmente tenha sido escrito no século V a.C.. Habacuque nos sugere que observava a sociedade judaica a partir do Templo, onde possivelmente servia como levita, isto é cantor, ornamentador, prontificador do templo (ver Números 3:6-10). Podemos notar que o capítulo três de seu livro é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento. 
      O livro de Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois em momento algum há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, porém o que se pode ver é um diálogo entre o profeta e Deus. Entre seu texto há no capítulo dois a expressão: "O justo viverá da fé", que mais tarde inspiraria o apóstolo Paulo a escrever a mais teológica de suas cartas, a Carta aos Romanos, que posteriormente inspirou também Martinho Lutero na elaboração das 95 Teses "gatilho" da Reforma Protestante.”
Fonte: wikipedia 

      “O peso que viu o profeta Habacuque.”

      A palavra “peso”, usada na primeira frase, também pode ser traduzida como advertência ou sentença, e o texto é isso, uma veemente palavra profética chamando a atenção dos homens para a realidade. O profeta sentiu a seriedade do momento e clamou a Deus, nesse clamor o Espírito Santo teve liberdade para revelar a ele a profundidade da situação. Se alguém é frio ou acha na frieza proteção pessoal, não busque ser profeta, se alguém prefere ficar na sua, não se envolver, não tomar partido, não almeje ser boca de Deus. Para ser boca de Deus antes é preciso ter ouvidos espirituais acurados para ouvir a palavra de Deus, mas ser boca não seja sair proclamando o que se sabe de qualquer maneira, é preciso o mesmo cuidado que se teve para ouvir, para falar. Se Deus precisa corrigir um filho, isso é algo sério, devemos ter temor de Deus por isso, principalmente se estamos numa condição de mais iluminação onde podemos ver que alguém está errado e pode pagar um preço caro por isso. O fiel de Deus sente o peso da palavra do Senhor e treme, não se alegra com a queda do arrogante, nem com a vergonha do tolo, antes enxerga a situação, cala-se e espera, com respeito. 

      “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.

      O conhecimento tem seu preço, a sensibilidade espiritual tem sua responsabilidade, Habacuque via uma situação errada que não se resolvia e sofria com isso, não era indiferente nem dizia, “o problema não é meu, se eles erraram que paguem o preço”. Ele sofria porque tinha sede de justiça, e o Espírito Santo clama dentro dos filhos de Deus por justiça, aqueles que de fato andam com Jesus não se alegram com a injustiça nem são displicentes, mas anseiam que as coisas se resolvam. Contudo, os profetas de Deus não fazem justiça com as próprias mãos, querem que as coisas se resolvam, mas do jeito certo, o jeito certo é o jeito de Deus, no tempo e no lugar certo. Deus pode agir por meios que podem ser impossíveis aos homens, mesmo desconhecidos por eles, mas quem tem os olhos espirituais abertos e vê que algo está errado, quando muitos falsos profetas veem que está tudo certo, clama a Deus por justiça. 

      “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade. E os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, e mais espertos do que os lobos à tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda parte; os seus cavaleiros virão de longe; voarão como águias que se apressam a devorar. Eles todos virão para fazer violência; os seus rostos buscarão o vento oriental, e reunirão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis, e dos príncipes farão zombaria; eles se rirão de todas as fortalezas, porque amontoarão terra, e as tomarão. Então muda a sua mente, e seguirá, e se fará culpado, atribuindo este seu poder ao seu deus.

      Então Deus responde a Habacuque, aos que o buscam com todo o coração o Senhor sempre responde, e de forma maravilhosa, a solução de Deus pode vir de maneiras que nós sequer imaginamos. Ela pode nos surpreender porque Deus tem solução quando ninguém tem, ele é dono de tudo e de todos, todos os sistemas do plano físico e do plano espiritual estão em suas mãos, e ele os administra com equilíbrio. Algumas vezes para vencer um inimigo poderoso Deus levanta um inimigo mais poderoso ainda que domina o inimigo inicial e traz justiça à Terra, disciplinando os rebeldes. Enganam-se os que dividem os homens em bons e maus, ou mesmo os seres espirituais em anjos e demônios, como se uns obedecessem a Deus e os outros, não. 
      Existem diferenças nas índoles, diabos e demônios tiveram oportunidade de livre arbítrio e escolheram ser rebeldes, mas todos estão debaixo, de um jeito ou de outro, da soberania divina, alguns obedecendo ordens diretas, e outros, mesmo que através de atos cruéis, contribuindo para que a vontade final de Deus seja cumprida. As complexidades do universo são para terror dos ímpios, as “árvores cabalísticas da vida”, as hierarquias dos anjos, os rituais mágicos, tanto quanto os políticos corruptos e a burocracia dos estados, quem está em trevas tenta dominar tudo isso para conquistar seu espaço. Mas a vida é simples para os simples, direto ao Altíssimo, esse não teme babilônios, caldeus, gregos ou romanos, pois tem o todo poderoso ao seu lado. 
      O justo vive pela fé, quem busca, obedece e adora a Deus tem uma vida iluminada, quem está em Deus tem ao seu lado o tempo e todos os seres, homens ou anjos, e não precisa temer nem os poderes desse mundo, que por maiores que se apresentem são temporários. O arrogante, contudo, será vencido, não pelo simples que humilhou, mas por alguém mais arrogante que ele, apesar de aparentar-se forte e destemido, seu íntimo teme, pois sabe que existem outros com ele, injustos e egoístas. Já para o justo que crê a mão de Deus pode se apresentar de diversas maneiras, não para destruí-lo, mas para defendê-lo, assim ele não precisa se vingar ou dar a última palavra, basta crer, com temor a Deus e em silêncio. 

      “Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não morreremos. O Senhor, para juízo o puseste, e tu, ó Rocha, o fundaste para castigar. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele? E por que farias os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm quem os governe? Ele a todos levantará com o anzol, apanha-los-á com a sua rede, e os ajuntará na sua rede varredoura; por isso ele se alegrará e se regozijará. Por isso sacrificará à sua rede, e queimará incenso à sua varredoura; porque com elas engordou a sua porção, e engrossou a sua comida. Porventura por isso esvaziará a sua rede e não terá piedade de matar as nações continuamente?

      O profeta enxerga a verdade e pede que Deus aja, ele entende que se há sofrimento, é porque houve pecado, penso em quantos veem o Brasil como está hoje e ainda acham que está tudo certo, e quando digo tudo certo são evangélicos e protestantes que pensam que se há algum problema ele está no mundo, não neles. O julgamento do ímpio só ocorrerá no final ou após sua morte, Deus autorizou o homem a cuidar do mundo à sua maneira, o homem já entendeu que o mundo que é seu precisa ser cuidado melhor, por isso tanta preocupação com queima de florestas, com poluição de ar, rios e mares. A verdade é que os poderes deste mundo estão bem acordados quanto às suas responsabilidades com o planeta, quem não está acordado é o cristão quanto à sua vocação espiritual.
      O cristão é corrigido no mundo, não na eternidade, na eternidade ele estará no melhor de Deus, numa “posição” espiritual onde não haverá choro, dor, culpa, mágoas, lembranças ruins e nem medos, na luz de Deus só há o amor. Todavia, neste plano, o filho de Deus é disciplinado para que possa mudar de atitude, crescer, receber cura e libertação, experimentar perdão e justiça. Dessa forma, se o mundo, se o Brasil, passa por uma situação difícil, a responsabilidade pode ser do cristão, principalmente daquele que fugiu para dentro dos templos, para “curtir” cultos cheios de música ou cheios de estudos bíblicos técnicos, que não mudam suas práticas de vida, ficam encantados com a falsa unção, mas não são transformados e assim não são força de transformação na sociedade. 
      Quando Israel se desviou de Deus o mundo se desequilibrou, porque quem tinha a missão de iluminar o mundo estava em trevas. Por causa disso as nações, que já viviam em paz ainda distantes de Deus já que Deus respeita o livre arbítrio, entraram em guerra, conquistaram Israel e depois foram conquistadas por outras nações. É a serpente engolindo o próprio rabo, tudo porque quem deveria estar fazendo a coisa certa não estava. Não fazemos ideia do quanto as pessoas são prejudicadas quando desobedecemos o Senhor, ainda que fisicamente possamos não estar fazendo a elas nenhum mal. Deus age no mundo pelos seus fiéis profetas, isso não é algo só físico, que acontece quando uma palavra profética é entregue, é espiritual, quando alguém como Habacuque faz a oração do capítulo um de seu livro. 

Na torre de vigia

      “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa.”

      O ofício do profeta, dedicar tempo para conhecer a vontade de Deus, apesar de ser mais adequado que se esteja bem física e emocionalmente, já que o trabalho de comunhão espiritual mais profunda exige que nossos sentidos e movimentos físicos estejam sadios, a tarefa é espiritual. É preciso que se esteja com o espírito lavado pelo sangue de Cristo, com a mente em paz, com a consciência limpa e com os sentimentos tranquilos e focados em Deus. 
      Nesse ofício o trabalho do homem é obedecer, é Deus quem chama o profeta, se limpar, é Cristo que purifica o profeta, e prestar atenção, é o Espírito Santo que fala, revela, ensina, mostra e toca. O que tiver real chamada de profeta entenderá as coisas espirituais porque é espiritual, ainda que tenha convicção de que é só um homem pecador como todos os outros, não é especial por ter recebido sua chamada, mas tem uma chamada especial porque é comissionada por Deus. O profeta de Deus ouve  e adora somente a Deus.

      “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.”

      A palavra de Deus deve ficar clara para que os homens identifiquem sua origem, o profeta, portanto, não pode ser covarde ou confuso, ainda que muitos não o queiram ouvir e que ele deva ter muita sabedoria para saber com quem deve compartilhar as revelações que recebe, e ainda que muitos mereçam saber dos mistérios de Deus por códigos, para que mesmo que olhem não vejam, por terem corações endurecidos e arrogantes. Os simples e humildes, contudo, sempre entenderão a profecia, e na verdade nem necessitarão dela, profecia ocasional é para rebelde, o fiel tem consolo o tempo todo, pois se acertam com Deus antes que sejam necessárias disciplinas e exortações. 
      Entretanto, não se enganem os soberbos, Deus não se atrasa e nem falha, mesmo que confiem na curta glória do mundo que seus olhos veem, mesmo que duvidem da justiça por se acharem com créditos suficientes para serem aprovados por Deus, isso tem tempo certo para acabar. O justo, todavia, não se ilude com o momento, não se ilude com as vaidades, não se vende por nada, antes suporta em silêncio a injustiça e a incredulidade dos loucos e confia plenamente num Deus que mantém o equilíbrio do universo. Nenhum mal fica sem castigo e nenhum bem sem recompensa, mas só o poder do nome de Jesus anula o efeito espiritual do pecado, esse direito só tem o que crê no invisível. 
      Começamos a andar com Deus pela fé, então, vivenciamos as primeiras experiências, a paz que vem do perdão, as curas dos vícios mais sérios, o consolo da oração, a sabedoria da Bíblia, depois caminhamos com alguma facilidade, porque fé vira experiência que gera conhecimento e conhecimento mantêm-nos na vida eterna. Contudo, o conhecimento de Deus não para, o Espírito Santo está sempre nos desafiando a conhecer mais para viver com mais profundidade a vida eterna, assim, mais fé se faz necessário. Neste mundo sempre será assim, se sabemos não precisamos crer, mas só se cresce com mais conhecimento espiritual, assim, é preciso crer mais. O justo viverá pela fé até o fim de sua vida aqui. 

      “Assim como o vinho é enganoso, tampouco permanece o arrogante, cuja gananciosa boca se escancara como o sepulcro e é como a morte, que não se farta; ele ajunta para si todas as nações e congrega todos os povos. Não levantarão, pois, todos estes contra ele um provérbio, um dito zombador? Dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu (até quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores! Não se levantarão de repente os teus credores? E não despertarão os que te hão de abalar? Tu lhes servirás de despojo. Visto como despojaste a muitas nações, todos os mais povos te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores. Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr em lugar alto o seu ninho, a fim de livrar-se das garras do mal! Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma. Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento. Ai daquele que edifica a cidade com sangue e a fundamenta com iniquidade!”

      O homem que se afasta de Deus e assume sua situação, ainda se mantenha afastado, se torna um pária no mundo, escravo de vícios, usados por muitos e nunca tendo nada seu, mas o que se afasta e não se assume como tal prova do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, quer ser Deus e parte, sem medo, para conquistar o mundo e dominar os homens. Se para o primeiro tipo de homem há esperança de mudança de vida mais rápida, ainda que pague um alto preço por isso, para o segundo tipo a mudança pode ocorrer, se ocorrer, só no final, depois de ter gasto uma vida roubando, matando e sendo infeliz. 
      Não, não me refiro a roubo como algo explícito, socialmente ilegal, mas a algo que pode ser feito mesmo com trabalho honesto e muito esforço, quando um homem busca ter uma vida, ainda que certa para outros, não a vida que Deus tem como a melhor para ele. Quando se faz isso se rouba, não a Deus, mas a si mesmo, pois se usa o tempo que deveria ser usado para receber coisas certas para tentar comprar coisas erradas, ou melhor roubar. Quem faz isso sempre acaba, de alguma forma, matando os outros, pois não teve tempo para amar quem precisava, dar a eles atenção, vida, visto que gastou seu tempo amando a si mesmo. 
      O maior risco que corre o que se fortalece a troco de enfraquecer os outros e que acaba encontrando outros iguais a ele, quem rouba, acaba roubado, “os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mateus 26.52b), o mal atrai o mal. Como saber se alguém adquiriu poder nesse mundo do jeito legítimo? Não é pelas obras exteriores, essas até podem parecer boas, mas é pela intenção do coração, e essa só o tempo para revelar. O certo é que quem faz algo sem a aprovação de Deus está desprotegido, Deus protege os que se constróem em seu amor, porque esses adoram a ele, não a si mesmos, e abençoam os outros. 

      “Não vem do Senhor dos Exércitos que as nações labutem para o fogo e os povos se fatiguem em vão? Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.”

      O próprio Deus permite que o soberbo prossiga, insista em seu caminho, o Senhor faz isso esperando que ele um dia se arrependa? Sim, Deus ama sempre e sempre espera que o homem volte para ele, a porta do céu sempre, sempre está aberta, mas os que insistem em se fatigar com trabalho desnecessário, com guerras inventadas, para compensar uma insegurança que dinheiro, bens e aprovação humana não compensam, e que só uma vida humilde em Jesus pode curar, seguirá por muito tempo, antes que seja disciplinado. 
      Nesse tempo poderá achar que de fato está fazendo tudo certo, quando não está, só Deus sabe o tempo de cada um debaixo do Sol, o tempo de receber glória, o tempo de ser cobrado pela falsa glória que usurpou. Mas um dia a justiça vem, e como uma luz forte revela todas as intenções, mesmo as mais ocultas, o que se fez por inveja será conhecido, o que se acumulou para impressionar os homens será revelado, mas o que se buscou de todo o coração no Senhor, será honrado, nada e nem ninguém pode impedir isso. 

      “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor, e que o embebeda para lhe contemplar as vergonhas! Serás farto de opróbrio em vez de honra; bebe tu também e exibe a tua incircuncisão; chegará a tua vez de tomares o cálice da mão direita do Senhor, e ignomínia cairá sobre a tua glória. Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a destruição que fizeste dos animais ferozes te assombrará, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores.”

      As pessoas podem ser maquiavélicas, esconderem más intenções atrás mesmo de presentes e festas, só para dominarem os homens, alguns se surpreenderiam em saber o que muitos fazem para prevalecerem sobre os outros, para tentarem comprar as pessoas, para forçá-las a mostrar suas fraquezas e então humilhá-las. Quanta malícia pode haver na alma de seres humanos que por não terem paz em si mesmas com Deus, querem roubar a paz dos outros, enfraquecer e desmerecer para dominar e usar. 
      Por que mortes estúpidas em acidentes e no crime? Porque a vida pode cobrar num minuto estupidez acumulada em anos, exigir num instante as oportunidades que deu para alguém por anos neste mundo, e que a pessoa endurecida não aproveitou. Por que mortes demoradas e dolorosas em leitos de hospitais, na solidão em asilos? Porque pode ser preciso uma interrupção abrupta e extrema do corpo, para que o espírito pare e ache humildade para entender o que precisava ter feito para ser feliz, e não fez por toda uma vida.

      “Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.”

      Muitos de nós não fazemos ideia de como existem ídolos neste mundo ocupando o papel de Deus, e ídolos com semelhança de Deus, falando coisas da Bíblia, adorados por gente que se diz cristã e seguidora do evangelho. São ídolos lindos, feitos com os materiais mais nobres, mais que ouro e prata, são ídolos ideológicos, criados e mantidos nas mentes das pessoas e construídos de intenções nobres, humanitarismos, preocupação com o meio ambiente, bandeiras de justiça social, igualdade, tolerância, religiosidade. Mas ainda assim, são ídolos, não Deus, e como tais, na hora final, quando a pessoa mais precisar, não poderão ajudá-la, salvá-la, consolá-la, curá-la, dar-lhe paz. O ídolo é um deus falso como falso é quem o adora. 

      “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 

      Um dos versículo mais lindos da Bíblia, Habacuque 2.20, com poucas palavras o profeta expressa a nobreza e a majestade de Deus, assim como a reação que têm aqueles que de fato temem a Deus, o obedecem e o adoram, o silêncio contemplador. A alma precisa estar em silêncio para conhecer a Deus, não embriagada com as próprias e mesquinhas intenções, e nem ambiciosa para dominar e crescer diante dos homens, só o simples e humilde consegue calar a alma. Com a alma quieta e o espírito limpo a voz do Espírito Santo é clara para nos entregar o discernimento que nos permite entender todas as verdades, a nossa, as dos homens e a do Deus Altíssimo. 
      Profeta legítimo de Deus tem esse privilégio, mas não tente ele esperar de homens honra por isso, não nesse mundo, a ele basta cumprir sua missão com mais e mais cuidado, santo, com domínio próprio, sendo um dos luzeiros de Deus que justificarão no juízo os julgamentos divinos. Se alguém perguntar naquele dia derradeiro, “por que estou sendo condenado por algo que eu nem sabia que tinha que fazer?”, Deus responderá, “havia um profeta, bem perto de você, ele te alertou com profecias, com sonhos, e sempre esteve disponível para te aconselhar, mas você preferiu ouvir os falsos profetas, que diziam aquilo que você queria ouvir, não o que precisava ouvir”.  

Ainda que a figueira não floresça

      “Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote. Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor. E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o esconderijo da sua força. Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos. Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem. Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.”

      O capítulo três do livro do profeta Habacuque é um "sigionote", um tipo de canto poético ou elegia, assim esse texto é a letra de uma música antiga. Que palavra atual essa do profeta, não há nada que o cristianismo de hoje mais precise que um avivamento, contudo, e infelizmente, como esse termo foi corrompido no meio cristão, o sentido bíblico e mesmo o evangélico de algum tempo atrás, que significava de alguma maneira uma volta ao primeiro amor, ao cristianismo original, se tornou sinônimo de qualquer heresia que se pregue como novidade em muitos púlpitos, e que toca os corações não por ser de Deus, mas só por ser uma nova moda. 
      Quem acompanha a igreja cristã há algumas décadas, sabe como vieram e foram vários modismos, métodos, teologias, termos e conhecimentos, que eram só novidades passageiras para seduzir gente que ama modas, que quer a vaidade de achar que possui um conhecimento mais profundo que os outros, mas que não ama a Deus. Deus não precisa de moda, é o mesmo ontem, hoje e será eternamente, os mistérios ele revela aos que o amam e esses não usam desse conhecimento como vaidade. 
      Aviva tua obra, Senhor, mas a obra de Deus não são igrejas e ministérios de homens, é a ação direta do Esprito Santo na Terra sobre indivíduos, essa obra é avivada quando as pessoas tiram os olhos daquilo que lhes convém no plano físico e olham diretamente para Deus, por isso pode ser necessário que o cristianismo evangélico e protestante atual seja desconstruído, para que o nome de Deus seja de fato glorificado. Da Igreja Católica não adianta nem falar nada, ela se perdeu no abismo há séculos, mas que o Senhor tenha misericórdia de muitos católicos sinceros e que de fato querem Deus, apesar do catolicismo. 
      Após esse clamor, Habacuque contempla a majestade de Deus e teme, as forças da natureza são só metáforas do eterno poder espiritual de Deus, se uma tempestade, se chuvas fortes e ventos violentos, se a força das águas e explosões vulcânicas nos fazem tremer, muito mais a manifestação da ira de Deus sobre um homem que quer ser Deus e não teme ao Deus verdadeiro. 

      “Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus carros de salvação? Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma palavra segura. Tu fendeste a terra com rios. Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a sua voz, levantou ao alto as suas mãos. O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da tua lança. Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste os gentios. Tu saíste para salvação do teu povo, para salvação do teu ungido; tu feriste a cabeça da casa do ímpio, descobrindo o alicerce até ao pescoço. Tu traspassaste com as suas próprias lanças a cabeça das suas vilas; eles me acometeram tempestuosos para me espalharem; alegravam-se, como se estivessem para devorar o pobre em segredo. Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas.”

      Sim, a natureza paga pelo pecado do homem, e ela responde a isso, viveremos tempos difíceis de agora em diante, todos seremos afetados, ninguém ficará impune, mesmo os justos, ainda que Deus os proteja do pior pela sua misericórdia. Mas não nos enganemos, ainda que a natureza se transforme e se revolte contra o egoísmo e a maldade do homem, desequilibrando o clima, secando os mares e queimando as matas, não é contra ela que Deus se ira. 
      Sobre Jesus foi lançada toda injustiça, assim quando cremos nele somos perdoados, porque ele levou sobre si nossos pecados, dessa forma Deus se “vingará” no final, não pelos justificados, não existe mais nação escolhida, mas um povo, de todas as nações, Deus derramará sobre os homens injustos a injustiça que fizeram e fazem contra o único justo, Cristo. Deus tomou sobre si o castigo para que pudesse lutar pelos justos, assim o final não será a guerra de homens bons contra homens maus, mas do rei Jesus contra todas as potestades de espíritos rebeldes. 
      Usei a palavra vingará entre aspas porque na verdade Deus não se vinga, não é assim que funcionam as coisas espirituais, mas o homem quando planta injustiça a injustiça ele colhe, e isso quem cobra é o universo, que está debaixo de leis eternas e imutáveis estabelecidas por Deus antes do início dos tempos. Por isso a natureza se revolve e exige, e com ela vêm pestes e guerras, sobre um homem que não foi humilde para buscar seu criador e muito menos será para fazer alianças com as criaturas para construir paz e justiça. 
      Ah, meus queridos e minhas queridas, o homem não tem ideia sobre com que está mexendo, ainda que ache que a solução seja tratar a natureza com respeito, ainda que ouça a sensatez da ciência, ele despreza o principal, seu próprio espírito, esse clama para voltar ao seu criador. Desse pecado nenhum cuidado com sustentabilidade, ecologia, e mesmo com justiça e igualdade social e tolerância, poderá salva-lo, só o nome do Cristo que ele desprezou e perseguiu.  

      “Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas. Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.”

      Habacuque expressa novamente seu temor, tem temor que tem sensibilidade espiritual, tem sensibilidade quem busca, acha, ouve e obedece a Deus, esse teme e treme, pois sabe que o universo geme por equilíbrio. Segue, então, o texto com uma das passagens mais lindas da Bíblia (versos 17 e18), dessas que reúnem poesia e espiritualidade, alma e espírito, expressados por um corpo machucado pela realidade que é conhecida somente por aquele que de fato é profeta de Deus. Será que somos espirituais de verdade para que ainda que nossos olhos físicos vejam uma Terra destruída, com um povo passando necessidades extremas, continuemos confiando em Deus e com muita alegria? 
      Como muitos evangélicos atualmente se acham preparados para o fim, acham conhecer bem a Bíblia, e nisso pensam ter o conhecimento espiritual mais profundo. Por outro lado, como pensam, hereticamente, que podem evitar o pior final com líderes políticos que defendam suas bandeiras, quanto equívoco, quanto equívoco. Não sei se temos olhos espirituais abertos o suficiente para nos darem luz diante das trevas que os olhos físicos verão, a verdade é que o que virá surpreenderá mesmo os que se acham os mais espirituais. 
      Mas os últimos tempos serão terríveis, o mundo enfrentará uma calamidade com colapsos em várias áreas ao mesmo tempo, como nunca enfrentou antes. Por isso Deus livrará alguns, não todos, pois muitos ainda que sejam filhos provarão a agonia final do planeta Terra, junto dos ímpios, dos ateus, dos materialistas, dos adoradores de Lúcifer e Satã, do enganados pelas falsas luzes de querubins e arcanjos caídos, de tantos que confiaram na ciência dos homens e nas tradições religiosas, mas não no Altíssimo. 
      Por isso nos acertemos enquanto há tempo, a nós e às nossa famílias, ainda que o fim possa demorar, é importante que nos preparemos sempre e em todos os tempos, para que a verdade do evangelho seja passada para as próximas gerações. Não olhemos para o homem, principalmente para aquele que se diz profeta de Deus quando é filho de Belial, Leviatã se levantará no final e tragará a todos, sem dó, porque recebeu de Deus autorização para isso, só os realmente lavados pelo sangue do cordeiro, que não se corromperam com prostituição espiritual e com as vaidades desse mundo serão poupados. 

      “O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. 
(Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

      Se o monte é alto, Deus nos coloca num lugar mais elevado. Se o inimigo é rápido, Deus nos faz mais velozes. Se o mar é profundo, Deus nos faz leves para flutuar. Se o louco nos afronta com mentiras, Deus nos dá a paz que têm os que guardam sua verdade no coração. É preciso conhecer toda a verdade para ver toda a realidade para assumir toda a dor e, então, poder provar toda a libertação de Deus, é preciso não ter medo para sentir temor e tremor diante do Altíssimo. Quem busca escapismos numa verdade pessoal inventada, construída num coração que um dia não aceitou o plano de Deus para sua vida, coloca-se acima da verdade de Deus e viverá uma ilusão, se achará forte, rápido, mas será baixo e pesado, por fim, afundará na própria arrogância, sozinho, preso numa cela dentro da própria mente.
      Habacuque era um homem espiritual, via o mundo de sua época, seu povo, as outras nações, via os justos e os injustos, mas se colocava acima disso tudo, numa torre de vigia, ele era livre, por isso via além do mal na Terra, no coração do inimigo poderoso, nas intenções das potestades dos seres espirituais rebeldes. Ele não era alguém diferente de outros de sua época, ou de mim e de você, devia ter seus limites, seus pecados, mas ele tinha uma comunhão diferenciada com Deus, Deus o atraia e ele se deixava atrair, por isso buscava coisas mais excelentes que os outros. Assim Deus o usou, para registrar coisas mais altas, que abençoam todos os que leem textos sagrados judaicos e cristãos por séculos, ainda que tenha escrito um livro pequeno, de somente três capítulos, porém, com palavras que nos abraçam de forma especial. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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