quarta-feira, novembro 18, 2020

49. Nos lugares celestiais em Cristo

Espiritualidade Cristã (parte 49/64)

      Na 6ª parte desse estudo, “Espiritualidade Cristã”, intitulada, “Para ter o poder de Deus“, já compartilhei o texto de Efésios 1 que cita o termo “lugares celestiais”, vamos refletir um pouco mais nele, apresentado novamente por Paulo no segundo e no sexto capítulo da mesma epístola. Penso que esse termo é extremamente revelador e de suma importância na teologia evangélicas, aliás, parte de um ensino fundamental para o cristianismo presente nos dez versículos iniciais do capítulo dois da carta aos Efésios. 

      “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. 
      Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. 
      Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” 
Efésios 2.1-10

      “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.” 
Efésios 6.10-13

      O texto de Efésios 2 coloca os seres humanos em posições espirituais diferentes, são essas posições que definem perdição e salvação, inferno e céu, espiritualidade dos seres espirituais rebeldes e espiritualidade mais alta de Deus. Inicialmente os seres humanos estão mortos andando segundo o curso deste mundo que segue o espírito que opera nos filhos da desobediência, isso ensina que todo homem neste mundo precisa de salvação, precisa mudar de posição espiritual, precisa subir. Ainda que essa mudança necessite de escolha, ainda que o ser humano tenha liberdade para fazê-la ou não, se ela não for feita o homem continuará numa posição inferior, e isso independe se ele é ou não um bom cidadão, com bons valores morais, e mesmo se tem alguma experiência com o mundo espiritual ou se é um religioso fiel. O texto dá informações importantes para se entender posição espiritual, e em qual posição tem liberdade para agir qual “espírito”. 
      Deus está no mais elevado lugar celestial e esse lugar só é acessado por Cristo, por isso chamar Deus de o Altíssimo é tão propício, tão significativo, tão preciso, por isso os antigos buscavam Deus em lugares altos, por isso sistemas esotéricos, como a Cabala, colocam Deus na posição mais alta. Quando aprendemos a meditar “olhando” o mundo espiritual, e isso é algo que nem todos sabem (e nem precisam saber), fixamos nossos olhos espirituais na posição mais elevada, já que os seres espirituais, de luz ou de trevas, estão abaixo dessa posição. Demônios estão quase que presos à superfície desse mundo, anjos estão acima, por isso a crença tradicional que o inferno está nas regiões subterrâneas, mas isso não é no plano físico, na Terra, neste mundo, mas no plano espiritual. Veja que um diabo é descrito no texto como o príncipe das potestades do ar, ele também é colocado numa posição acima do chão pois lidera legiões. 
      No capítulo seis de Efésios Paulo torna a usar o termo lugares celestiais, agora posicionando os espíritos malignos, e mais, o apóstolo-teólogo nos revela quem são nossos piores inimigos, que não são a carne e o sangue. Esse ensino, contudo, pode ser mal interpretado quando os cristãos colocam no diabo a culpa por erros que são seus, pode existir uma batalha maior entre seres espirituais rebeldes e seres espirituais da luz, mas ela não é para nos tentar nas coisas corriqueiras do dia a dia. Em nossas lutas diárias somos nós que decidimos se a vitória será dos demônios ou do Espírito Santo e essa luta só acontece dentro de nós. A batalha que Paulo se refere pode ser melhor entendida com a experiência de Daniel (Daniel 10), quando ele lutava em oração por toda uma nação, numa situação dessas, sim, existe algo que vai muito além de nossas vontades e que independe de nossas forças, ainda que conte com nossa fé e consagração.
      Aliás, as pessoas muitas vezes sem importam demais com o diabo quando em grande parte das vezes ele não se importe tanto assim com elas, ainda que ganhe o crédito mesmo quando não está envolvido diretamente. Se fazemos algo em Deus e para Deus a glória é de Deus, mas todo o resto, incluindo coisas que fazemos com boas intenções, para ajudar os homens e sem nenhum ligação com o diabo, é para o diabo, parece extremista mas é isso (como já refletimos em “O diabo é um humanista (III)” e outras reflexões). Se o homem se afasta da luz está nas trevas, não tem meio termo, mas se o diabo ganha créditos sem fazer nada Deus já fez tudo, inclusive pelos que estão longe dele, salvou a humanidade por Cristo Jesus. Se o diabo mente para ser adorado e ter legalidade para se apossar de territórios através do homem, ainda que Deus nada faça ele pode dar tudo porque tudo já fez.
      Algo que precisamos entender é que altura espiritual não tem a ver diretamente com altura física, na verdade os dois planos, espiritual e físico, se sobrepõem em dimensões distintas, contudo, como os espíritos malignos têm legalidade, dada pelo homem, de agirem no mundo, nas coisas dos homens, podemos dizer que eles estão numa posição próxima ao céu físico do planeta Terra, bem abaixo do céu espiritual onde estão os anjos, e todos esses abaixo do trono de Deus, onde está a “consciência” do Altíssimo. Assim podemos abranger um pouco mais o entendimento dos três céus: o céu físico do planeta Terra que sobrepõe o primeiro céu espiritual dos demônios (o mundo, I João 5.19), o segundo céu, o espiritual dos líderes espirituais, onde ocorrem as batalhas espirituais (como a de Daniel 10), e o terceiro, o céu espiritual mais elevado, onde está o trono de Deus (visto por Isaías em Isaías 6).

      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” João 17.20-24

      A posição espiritual melhor, mais alta, está no nível mais elevado dos lugares celestiais onde está o melhor do Deus verdadeiro, que é sua “essência“, sua “consciência”. Deus não está só nesse lugar, ele está em todos os lugares, ele tudo contém ainda que nada o contenha, até no inferno Deus está. Contudo, a “essência” de Deus, sua “consciência”, e estou usando esses termos por falta de termos mais apropriados, termos melhores que na verdade não existem no plano físico visto que nos referimos a conceitos espirituais do mais alto plano, que seja, essa posição onde está o melhor de Deus é a vocação de todo ser humano, de toda alma vivente, de toda criatura que foi colocada neste mundo com o sopro de Deus vivo. O homem é posto no mundo e seu destino é retornar a Deus, contudo, só Jesus pode devolver o homem a essa posição, mais nada e nem ninguém. Cristo está nas regiões celestiais mais altas esperando os que nele crerem. 
      A posição espiritual mais alta, contudo, não é conquistada com trabalho e com tempo, por isso o homem poderia reencarnar eternamente e ainda assim viveria um contínuo inferno, mesmo que se tornasse um homem de bem e bem fizesse a todos “sem ver a quem“. Essa posição não é o final de uma longa e exaustiva jornada, mas é um posicionamento feito num instante de fé, a posse intelectual e emocional de uma promessa, promessa da palavra de Deus, essa palavra diz: em Cristo Jesus sois novas criaturas. A novidade não está numa nova religião e em nada de exterior, mas na colocação do espírito humano em comunhão direta com o Deus altíssimo. É importante entender que a fé que é a chave para a porta que é Jesus não é força humana, mas dom de Deus, o homem pode querer, deve querer, mas só receberá fé para se posicionar se Deus der a ele. Fé é dom de Deus, ensino fundamental de Paulo (Efésios 2.8).
      Esse reposicionamento espiritual é algo que muda profundamente o ser humano, ele ressuscita o morto, morto não no corpo, mas no espírito, por isso essa nova vida vence a morte do corpo, anula o inferno e coloca o ser nos lugares celestiais em Cristo (Efésios 2.6) e que posição é essa, meus queridos. Nela os diabos e outros seres espirituais rebeldes não tocam, é o abrigo onde o salmista se colocava para se proteger de todo o mal e achar consolo de toda injustiça. Essa posição tem uma luz espiritual tão forte que os demônios temem olhar, e os homens que não amam a Deus sentem, mesmo sem terem consciência do que é, nos homens que amam Deus, ainda que esses últimos sejam humanos e limitados. Nesse lugar não há necessidade de milagres pois nele tudo que o ser necessita, de material e espiritual, está, naturalmente para os que estão em plena comunhão espiritual com o Deus altíssimo pelo Espírito Santo. 
      Por isso, ainda que o cristianismo seja tão mal tratado, mal falado, mal vivido, mal interpretado, possui um poder sem igual, uma autoridade singular, ele tem Cristo, e isso basta. Mesmo com heresias, com fé na fé, com dizimolatria, com busca de prosperidade material mais do que de virtudes morais, com tanta imaturidade, hipocrisia e superficialidade, aliados ao cristianismo em quase dois mil anos de história, se há o nome de Jesus, há salvação. Isso é algo que a religião mais sincera, que os espiritismos mais caridosos e altruístas, que os esoterismos mais profundos e legítimos, não têm e nunca terão. Os doces frutos do Espírito Santo sempre trarão a vida eterna, que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não pode trazer, por mais sofisticado e exótico que seja. Podemos provar os frutos do Espírito porque um Deus altíssimo, mas acessível, nos ama e nos salva, eis o segredo da mais alta espiritualidade.
     Jesus deixou muito claro, “onde eu estiver, também eles estejam comigo”, assim os que creem nele têm direito à mesma posição espiritual que ele tinha antes de encarnar e continuou tendo depois que subiu ao céu ressuscitado. Isso nos dá plena certeza que não há necessidade de mais nenhum “trabalho” ou “tempo” para que sejamos restaurados ao nível espiritual mais alto, aquele que o homem tinha antes da queda no Éden. A obra de restauração de Cristo é completa e livra completamente do inferno, seja ele o que for e quanto durar, essa é a verdade espiritual que os espíritos rebeldes tentam esconder, ainda que entreguem ao homem um vasto e profundo conhecimento espiritual. Em Jesus somos perfeitos num passo de fé, vivamos, então, como dignos dessa tão excelsa vocação. Qual a marca dos que são um em Cristo como Cristo é um em Deus? O amor, em paz o homem pode amar e esse é o fruto da mais elevada espiritualidade.

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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