sábado, novembro 14, 2020

45. Ouça o Espírito

Espiritualidade Cristã (parte 45/64)

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” Apocalipse 3.22

      Por sete vezes a frase do versículo acima é citada no livro de Apocalipse, o que existe de tão importante nela? Ela se refere à primeira parte de Apocalipse onde João entrega cartas a sete igrejas, o que são ou representam essas igrejas ninguém sabe ao certo, mas existem várias interpretações. Podem ser igrejas mesmo, locais da época em que João escreveu o livro, podem ser eras na história da igreja cristã universal, do início do evangelho até o final dos tempos, podem ser grupos específicos de cristãos no final dos tempos, assim representando a situação do cristianismo nos últimos tempos. Enfim, as cartas nos falam como seres humanos, sobre condições, situações e escolhas que cada um de nós fez e faz na vida, e o que Deus pensa disso e com nos orienta para que nos preparemos para a morte e para o juízo final. 
      O objetivo desta reflexão não é ser um estudo sobre Apocalipse, mas entender a relevância da frase “ouça o que o Espírito diz”. Quando João fala “quem tem ouvidos“ obviamente não está se referindo a ouvidos físicos, esses todos têm, também não se refere a isso porque senão os fisicamente surdos estariam sendo deixados de fora para ouvirem um ensinamento de Deus, o Senhor não comete essa injustiça. Assim, os tais ouvidos, são ouvidos espirituais e esses não são todos que têm, porque não são todos que querem ter, ou que mesmo tendo usam. A exortação de João é para que tenhamos e mantenhamos viva e atenta nossa sensibilidade espiritual, nossa verdadeira espiritualidade, nosso cuidado em buscar, ouvir e obedecer à voz de Deus. Caso contrário poderemos não perceber algo sério e decisivo que está acontecendo, e nos separarmos da melhor vontade de Deus para as nossas vidas.
      Interessante que João poderia ter usado outra referência na frase para denominar o divino, ele poderia ter registrado “ouça o que Jesus diz”, ou “ouça o que Deus diz”, mas ele usou Espírito, Espírito Santo, penso que isso mostra não um Deus criador distante ou um Cristo salvador que partiu do mundo, João conviveu com Deus homem em Jesus em tempo real. João nos chama a atenção para o Espírito Santo, o representante oficial de Deus na Terra, aquele que foi enviado por Jesus, com a mesma autoridade e poder dele, para permanecer com a humanidade até o fim. É esse Espírito que nos exorta, e não só nos registros de Apocalipse, mas hoje, em nossos corações, assim como chamando todos os homens à salvação. É o Santo Espírito que torna viva, próxima e acessível a presença do Deus Altíssimo, ele é a espiritualidade melhor de Deus, ele é o evangelho, sua origem e seu fim, ele é a religião de Deus que salva o homem.   
      Quantos, contudo, têm negligenciado a voz do Espírito, quantos têm “profetizado” de seus corações e não dele, quantos têm interpretado sua voz sem cuidado, sem sabedoria, sem temor a Deus, e têm levado palavras enganosas ao povo de Deus. Mas também, quantos têm amordaçado a boca dos verdadeiros profetas, aqueles que têm ouvido a voz de Deus e têm algo a entregar ao povo de Deus, mas não entregam porque líderes vaidosos e manipuladores não permitem. Enquanto isso os falsos profetas têm liberdade e são bem pagos para dizerem coisas que interessam a muitos líderes e que são agradáveis a muitos cristãos que não querem a verdade, que não querem mudar de vida, não a interior, a espiritual, só querem prosperidade material que mude seus exteriores. Quem tem ouvidos ouça? Mas muitos não possuem ouvidos, se fazem de surdos, e isso no meio do chamado povo de Deus, nas igrejas cristãs, não no mundo.

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte.
      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.” 
      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2.7, 11 e 17

      Os versículos iniciais fazem três promessas “aos que vencerem”, e essa vitória está essencialmente ligada a ouvir a voz do Espírito, não de religiões, não de homens, mas a verdadeira voz de Deus, vamos refletir sobre essas promessas. A primeira promessa é não receber o dano da segunda morteA primeira morte é a morte do corpo, que os arrebatados não provarão, eles serão livrados das duas mortes. O arrebatamento é a tomada por Deus de pessoas vivas no mundo que estiverem numa situação espiritual diferenciada, antes que o mundo comece a passar por sua pior fase, um tempo de problemas globais em várias áreas, área climática, cósmica, política, da saúde e também áreas moral e religiosa. Assim, ocorrerão terremotos, quedas de objetos espaciais, como guerras, doenças e desvirtuação de valores morais. Mas mesmo mortos em Cristo serão ressuscitados e não provarão a segunda morte.
      A segunda morte é a condenação ao inferno, onde, pela visão teológica do cristianismo protestante tradicional, será uma condição de danação eterna. Ouvir a voz do Espírito, e na área espiritual acima que a voz da ciência e de outros materialismos incrédulos, livra do inferno e de uma situação de sofrimento sem fim do espírito, a essência eterna do homem. A segunda promessa está ligada à primeira, comer da árvore da vidaque terão direito os que não tiverem a segunda morte e estiverem no lugar (ou posição) céu, o paraíso, o melhor da eternidade com Deus. Seria a mesma árvore citada no livro de Gênesis (2.9 e 3.22 e 24)? Penso que sim, mas sendo isso a Bíblia dá outra dica para entendermos que Gênesis não descreve fatos que devem ser entendidos ao pé da letra, mas que são ou metáforas ou só esboços de eventos e lugares bem mais complexos para os quais o ser humano, no geral, não está pronto para entender. 
      Como a árvore plantada em algum lugar do oriente médio estará no paraíso celestial e alimentará os salvos? Não penso que os frutos dessa árvore serão alguma espécie de alimento, os salvos e transformados no céu não necessitarão de alimento, mas eles terão o privilégio de provar um fruto que foi proibido ao homem depois que ele pecou. Lembremos que esse fruto, pelo que lemos na Bíblia, só foi proibido depois que o homem pecou, antes só o fruto da outra árvore, a do conhecimento do bem e do mal, era proibido. Pelo que entendemos o fruto da árvore da vida poderia dar vida eterna ao homem encarnado, ainda vivendo no plano físico. Mas seja por alguma espécie de necessidade de manutenção de vida eterna ou prêmio aos salvos, esse será outro direito exclusivo para os que ouvem a voz do Espírito. Que sabor terá esse fruto?
      Comer do maná escondido é outro direito dos salvos, uma terceira promessa ao que ouvem a voz do Espírito, o que é isso a Bíblia não dá qualquer informação, só a relação óbvia que podemos fazer com o maná que os Israelitas comeram no deserto quando iam à Canaã. Aquele maná era efeito de um evento milagroso de Deus para alimentar o povo numa situação especial e num lugar limitado. O paraíso será um lugar diferenciado, os salvos existirão numa condição especial, assim podemos entender que poderemos provar coisas singulares, que nunca ninguém provou e nem tem a mínima ideia do que sejam. A verdade é essa, não podemos ter ideia do que será prazer na eternidade, já que prazer no mundo material sempre acaba, enjoa, entedia, por causa da condição da carne caída no pecado, ainda que nosso espírito esteja salvo e ungido com o Santo Espírito. 

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Apocalipse 2.17

      Há uma outra promessa feita aos que ouvem a voz do Espírito em Apocalipse 2.17,  o recebimento de uma pedra branca com um novo e secreto nome, nome que só o que recebe sabe qual é. É importante que entendamos que lugar, objetos e mesmo nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. De maneira geral podemos entender essas lugares como posições espirituais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, nome não é uma denominação simplesmente para chamar alguém, mas uma graduação que coloca a pessoa numa altura espiritual. Mas o interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de se postar sobre os outros para receber glória deles, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. 
      Isso nos fala profundamente sobre a verdadeira espiritualidade, aquela que levaremos na eternidade e que começamos a construir aqui pela fé em Jesus, dando liberdade ao Espírito Santo e conhecendo e obedecendo ao Deus Altíssimo. Contudo, nossa existência no melhor do plano espiritual de Deus é mais que termos liberdade de movimentação além de para frente, para trás, para à esquerda e para à direita, nós seremos livres, e não só para ir para cima e para baixo, mas poderemos flutuar, voar, libertos dos limites dos membros de nossos corpos físicos. Poderemos nos mover em todas as dimensões e na velocidade do pensamento, simplesmente poderemos aparecer nos “lugares”, como Jesus mostrou que podia fazer depois de ressuscitado, mas ainda neste mundo. Contudo, mesmo o exemplo de Jesus depois de ressuscitado e antes de subir ao céu, não mostra tudo o que poderemos fazer no plano espiritual.
      Jesus, ainda que estivesse com o corpo transformado, estava aqui, no plano físico, assim aqueles que testemunharam seus movimentos e os registraram na Bíblia reconheciam as coisas ainda com a ótica de corpos físicos no plano físico. No mundo espiritual não existem “lugares” como entendemos aqui, embora João tenha interpretado revelações espirituais com as referências sensitivas físicas que ele tinha, mas é muito mais que comprimento, largura e altura, que espaço, e isso sem tempo, já que espírito na melhor eternidade de Deus não envelhece nem sofre. Não será assim no “inferno”, uma eternidade também feita e mantida por Deus, mas um “lugar” (ou posição, e bem inferior”) de sofrimento, e tempo é inerente a sentir o passar do tempo. Sofre-se porque não se vê o fim do sofrer, ainda que se sinta que o tempo passe, para quem sofre um minuto parece mil anos e mil anos são apenas um minuto de um tempo sem fim. 
      Se alguém quer adquirir espiritualidade saiba que a espiritualidade mais alta só é acessada por Jesus que nos dá direito ao selo do Espírito Santo. Cuidado, muitas religiões são profundamente espirituais, mais até que muitas denominações cristãs, contudo, não ouvem a voz do Espírito Santo, só a de outros seres espirituais. Não basta ser espiritual, no sentido de crer no mundo espiritual e se comunicar com ele, é preciso se render ao nome de Jesus, se assumir como pecador e ser selado com o Santo Espírito. Mas cuidado, também aos cristãos, não basta uma relação intelectual com Deus, como tantas vezes temos dito aqui no “Como o ar que respiro” e em especial no estudo “Espiritualidade Cristã”, do qual esta reflexão faz parte. Precisamos ter momentos de oração mais dedicados, quem tiver ouvidos, ouvirá do Santo Espírito coisas inefáveis, que guardará só para si de tão preciosas que são.

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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