quinta-feira, setembro 30, 2021

E se você pudesse voltar no tempo?

      “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo. Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.Eclesiastes 8.5-6

      Se você pudesse reviver teu passado, mudaria alguma coisa em tua vida? Nessa suposição, estabeleçamos dois pré-requisitos, o primeiro é que você seria no passado que voltasse exatamente quem você foi, não quem você é no presente, o segundo é que teria a possibilidade de alterar uma única coisa, fazer uma escolha diferente daquela que você fez. Por mais impossível que essa situação seja, a escolha de para qual momento voltarmos e o que fazermos de diferente nesse momento, pode revelar o que achamos ser importante na vida e que tipo de escolha consideramos relevante. 
      Escolhermos quando e o que mudarmos no passado pode dizer muito sobre quem somos no presente e se estamos felizes. Por exemplo, alguém que é casado, achar importante voltar no tempo para escolher não se casar, pode revelar ou um casamento infeliz, porque escolheu mal, ou um presente imaturo, que não trabalha no casamento para crescer e ser feliz. A pergunta é: a escolha de não se casar objetiva fazer mais feliz o outro e a si, permitindo que ambos façam alianças melhores no casamento, ou objetiva permanecer solteiro e desfrutar de liberdade egoísta que só busca prazer pessoal? 
      Acertar o casamento foi só um exemplo, mas fazemos muitas escolhas na vida que hoje, olhando o passado com os olhos do presente, pensamos que poderiam ter sido outras, contudo, fizemos tais escolhas porque éramos diferentes do que somos hoje. Se voltássemos no tempo e pudéssemos conversar com nosso eu passado muitos de nós não nos reconheceríamos, o que sempre fomos e que manifestou-se hoje estaria dentro do eu passado, mas talvez tão escondido, soterrado ainda por tantas feridas não curadas e perturbações emocionais, que seriam duas pessoas estranhas se falando. 
      Eu tenho um pensamento, não sei se você concorda, se pudéssemos alterar uma decisão que achamos hoje errada, a vida nos conduziria a uma nova situação onde faríamos novamente a mesma decisão errada, e que poderia ter repercussões ainda piores que a primeira. O que temos que viver está dentro de nós, não fora, não somos escolhidos pela vida, mas escolhemos a vida, ainda que inconscientemente. O que temos que mudar está dentro de nós e só melhoramos vivendo, ainda que errando, mas o que somos de melhor está dentro de nós desde o momento que nascemos neste mundo. 
      Não é das pessoas, dos lugares, das situações que temos que fugir, mas temos que nos conhecer melhor, o que queremos de fato nos levará a fazer alianças com pessoas, a estar em lugares e a viver situações, ainda que o tempo revele que tudo isso não é o melhor para nós. Quem se anula para não mostrar aos outros valores que os outros não aprovam, morre em vida, não aproveita a razão de sua existência, e no final acabará só e arrogante, ainda que próspero e aprovado por muitos como alguém que não cometeu erros. É preciso alguma irresponsabilidade, ao menos para se começar a viver. 
      Alguns podem dizer que algumas reflexões do “Como o ar que respiro” são humanistas demais, falam muito do homem e menos de Deus. Mas o que adianta descrever em detalhes o espelho, admirar a limpeza e nitidez de sua superfície, se encantar com sua bela moldura, e não usá-lo para o fim adequado? “Conhece-te a ti mesmo”, mas só nos conhecemos nos olhando em Deus, o espelho perfeito que mostra-nos quem somos e o que precisamos ser. Na humildade de assumirmos que erramos e de trabalharmos para mudar, adquirimos espiritualidade, dependemos de Deus e amamos o próximo. 
      Por razões misteriosas que Deus sabe, é conveniente estarmos presos por um pouco à matéria, ao espaço e ao tempo, numa existência linear quando não temos controle sobre muitas coisas. Erros cometemos e suas consequências não podem ser anuladas, temos que conviver com elas. Assumirmos a responsabilidade de nossas escolhas, não jogar a culpa nos outros ou mesmo em Deus, e seguirmos de pé, em paz e com fé, desejando e trabalhando por dias melhores, é nossa vocação. O resto são provações que estamos no mundo para passar e nelas sermos aprovados, Deus é o Senhor dos tempos. 

quarta-feira, setembro 29, 2021

Pai, amigo, professor

      “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.” 
Salmos 103.13
      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” 
João 15.15
      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” 
João 14.26

      Como nos relacionamos com Deus, como dizemos a ele o que pensamos, o que queremos, o que tememos, o que amamos, e como recebemos dele respostas sobre tudo isso? Deus pode nos responder de várias maneiras, seja pelas bocas de outros homens, não só pregadores mas qualquer ser humano, seja por acontecimentos que nos permitem entender se Deus está ou não aprovando determinado propósito nosso, seja pela Bíblia, as experiências de tantos personagens bíblicos, mesmo que tenham vivido em tempos passados, tudo isso pode nos orientar sobre nossas vidas. Contudo, o meio mais direto de dialogarmos com Deus é a oração, que exercida com dons espirituais pode nos permitir ainda mais clareza espiritual. 
      Toda relação com Deus é baseada em fé, já que nós, seres humanos encarnados, não podemos estabelecer uma comunicação direta e plena com o plano espiritual, assim, ainda que se tenha pouca experiência no evangelho ou com os dons espirituais, Deus responde a todos os que o buscam no Espírito, em verdade e com fé. Fé genuína nos coloca em movimento no caminho Espírito Santo que nos conduz à porta Jesus nas regiões celestiais mais elevadas que nos dá acesso direto ao pai Altíssimo. Fé, Espírito Santo e Jesus, eis a maneira de termos um diálogo objetivo com Deus, felizes os simples que discernem as coisas espirituais e podem ser tratados como filhos de Deus, para esses nada faltará, aqui e na eternidade. 
      Entretanto, à medida que amadurecemos com Deus as coisas ficam mais sérias, assim, da mesma forma que temos mais privilégios também teremos mais responsabilidades, deve ser assim para que sejamos atraídos a crescer espiritualmente. Deus é um ser inteligente, apesar de moralmente extremamente superior a nós e com poderes sobre tudo e sempre, ele se relaciona conosco da mesma maneira que outros seres se relacionam, existem diálogos, silêncios, iniciativas e esperas, principalmente levando em conta os nossos limites como seres encarnados, pecadores e inferiores, e não limites de Deus. Quem tem amizade com o Senhor percebe que há coisas que ele responde sempre e imediatamente, mas há outras que não. 
      No início de nossa caminhada com Deus, principalmente se somos jovens, nosso diálogo com Deus é disciplinado e pode se limitar às orações, não vivenciamos uma comunhão vinte e quatro horas com Deus. Além da forma o conteúdo também é diferente, entregamos assuntos básicos e principais, como nossa vida profissional, afetiva, nossa saúde física, assim como pedimos perdão e agradecemos por tudo isso. Com o tempo e com a roda viva da vida, aumentando nossos compromissos com a sobrevivência no mundo e com as pessoas, nossos momentos de orações podem se tornar menos disciplinados, mas por outro lado começamos a entender um Deus sempre presente e sempre nos orientando, o Deus pai mostra-se amigo.
      Em nossas vidas adultas, em média nosso período mais longo de existência, é quando mais experimentamos um relacionamento com o Deus amigo, amigo não concorda com tudo que fazemos, mas não nos abandona. O ideal é passarmos o mais depressa possível à próxima fase, quando nos relacionaremos com o Deus professor, que nos ensinará mais que o básico da vida espiritual que está na Bíblia e é o que a maioria das igrejas entrega. Usei a palavra professor no lugar de mestre para desmistificar as coisas, mas usando-a me refiro a um Deus que tem muito mais a nos dizer que muitos acham que tem, esse conhecimento é uma palavra diferente do consolo que recebemos diariamente. 
      Para termos esse relacionamento final é preciso inteligência, ele não é só conforto emocional ou interação com bases de sobrevivência no mundo, mas a construção do céu em nós, a formação do homem espiritual que estará com Deus na eternidade. Para esse ensino é preciso paciência e persistência, mas também sabedoria, não confundi-lo com o alimento básico, indispensável para nossa paz diária em Deus, ainda que possa se tornar alimento básico quando crescemos, estamos preparados e somos chamados por Deus para recebê-lo. Assunção de pecados e solicitação de proteção divina para nossas vidas e de nossos próximos é básico, já “batalha espiritual”, “final dos tempos” e temas assim são conhecimentos avançados.
      Enquanto o pai protege, alimenta, fica próximo, e o amigo acompanha mesmo à distância, entende e ama, o professor ensina, e em se tratando do ensino de Deus não são só conhecimentos que satisfazem curiosidades intelectuais, mas revelações da vida mais pura que existe na luz mais alta de Deus. O autor de Hebreus com o termo “meninos” em Hebreus 5.11-6.2 se refere aos cristãos presos à religião antiga e mesmo às primeiras coisas da nova religião, pergunto quantos cristãos atuais de fato entendem que deve haver um crescimento em suas experiências com Deus? Num determinado momento de nossas jornadas somos questionados se queremos seguir como religiosos ou se queremos conhecer mais a Deus, a escolha é nossa. 
      É natural que a chama se apague quando envelhecemos, nossa resposta a paixões aquieta-se, isso é inicialmente físico, mas que interfere em nossa vida mental e afetiva. Mas se conseguirmos crescer em nossa relação com Deus, se do pai passarmos ao amigo e então ao professor, veremos a chama ficar mais forte, não no corpo, mas no espírito. Isso nos permitirá ser mais santos e pacientes, achar as prioridades melhores da existência e cumprir o plano de Deus para nossas vidas de forma plena. Contudo, por resistirem à maturidade, por fazerem as coisas no tempo errado, por não se libertarem das vaidades do mundo, por se acomodarem à religião, muitos se acham no final mais carnais, ao invés de mais espirituais.

      “Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. 
      Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal. Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.” 
Hebreus 5.11-6.2

terça-feira, setembro 28, 2021

Atraídos pelo desconhecido

      “E me disse: Daniel, homem muito amado, entende as palavras que vou te dizer, e levanta-te sobre os teus pés, porque a ti sou enviado. E, falando ele comigo esta palavra, levantei-me tremendo. Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.11-12

      O ser humano tem a necessidade de se encantar, mesmo de se assustar, por isso filmes e livros de mistério, de terror e sobre o sobrenatural são tão populares. Essa tendência é uma curiosidade a princípio sadia, mas existe para ser gradativamente satisfeita, passarmos a vida nos encantando e nos assustando, buscando experiências que provoquem nossos sentidos, sem nunca saciá-los, é infantilidade. O objetivo dessa característica tão humana é motivar o ser a conhecer os mistérios espirituais, que são mistérios porque são assuntos sérios demais para que os não preparados tenham acesso.
      Existe uma porta que a curiosidade natural do ser humano encontra, ela dá entrada ao desconhecido, por isso o encanto e o medo existem na alma de todo que se deixa levar pela curiosidade maior. Para abrir essa porta é preciso vencer esses sentimentos, e para isso é preciso coragem e fé. Dar um passo no desconhecido sempre exige irmos além daquilo que já temos conhecimento, que está sob nosso controle, e portanto que não espanta mais. Contudo, quem não entra pela porta que dá acesso aos genuínos mistérios de Deus seguirá se espantando, contudo, não pela porta de Deus, mas por outras.
      Essas outras portas são as que conduzem aos embusteiros, às teorias de conspiração, às superstições. Sem fé e com covardia o homem poderá assumir que seu espanto não deve ser levado a sério, que só conduz a enganos, que no máximo lhe dá alguns momentos de diversão e fantasia, assistindo filmes de terror ou visitando sites sobre esoterismo, o.v.n.i., magia e fantasmas. Não podemos anular o prazer que existe no encantamento pelo desconhecido, no susto pelo medo ou na curiosidade pelos mistérios, ou resolvemos em Deus, ou nos tornamos céticos ou então presas de bobagens. 
      Muitos podem achar bobagem ou inutilidade sermos atraídos pelo desconhecido, mas é isso que leva o ser humano a fazer descobertas científicas, a escalar os montes mais altos, a conhecer o espaço e outros planetas. Mas essa atração nos leva principalmente a nos prepararmos para o maior de todos os mistérios, a morte, quando estaremos plenamente no plano espiritual. Daniel (ver texto bíblico inicial) buscou a Deus além do óbvio, além de suas necessidades pessoais básicas, ele queria uma solução do Senhor para seu povo que estava em cativeiro, e como resposta conheceu mistérios únicos. 
      Muitos, lendo o texto de Daniel, não têm noção do medo que ele sentiu, não foi terror por estar próximo do mal, mas temor por estar na intimidade santa do Altíssimo. Jesus nos tornou herdeiros do Espírito Santo que hoje habita-nos permanentemente, que conhece a Deus e pode nos revelar o que sabe. Ele é a resposta a todas as nossas curiosidades assim como o prazer que vai muito além do que sentimos diante das explicações, do encanto e do espanto que arte e imaginações do mundo podem dar. O Espírito Santo é o desconhecido para o qual somos atraídos e que podemos conhecer. 

segunda-feira, setembro 27, 2021

Quem é melhor?

      “Diante de ti puseste as nossas iniquidades, os nossos pecados ocultos, à luz do teu rosto. Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta. Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando. Quem conhece o poder da tua ira? Segundo és tremendo, assim é o teu furor. Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.Salmos 90.8-12

      Alguns parecem ser mais experientes, mas é só porque estão há mais tempo errando. Já outros parecem melhores porque estão acertando, ainda que há menos tempo. Quem é melhor? A resposta é que com tempo ninguém é, todos são iguais. Ver os seres humanos assim é vê-los como Deus os vê, pelo menos naquilo que como seres no mundo podemos ver, é vê-los como candidatos a serem melhores, indiferente do tempo que levem, principalmente porque para Deus não existe tempo. Deus não se cansa e não se entedia, se há arrependimento no ser ele não leva em conta o passado, rapidamente esquece os erros, e se há pecado demorará para julgar, mas considerará sempre o presente do ser humano.
      Vaidade e impaciência são coisas que desaparecem à medida que nos tornamos realmente espirituais, assim à medida que nos aproximamos de Deus paramos de comparar homens com homens para estabelecer diferenças e nivelar as pessoas, considerando umas piores e outras melhores. Também deixamos de nos importar com o tempo, esperamos em amor que todos sejam bons. Vaidade e impaciência elevam o ego e não exaltam a Deus, no coração do vaidoso e impaciente, ainda que seja trabalhador esforçado e honesto, não há amor, ele é juiz duro e injusto, exigindo dos outros o que acha que é. Isso, contudo, é fraqueza que com o tempo o fará cair, falta de amor derruba até soldado mais valente. 
      Não nos achemos melhores porque temos mais tempo de estrada, isso pode ser só mais tempo errando, justamente por termos sido mais teimosos em acertar nossos caminhos. Por outro lado, respeitemos quem caminha há mais tempo que nós, não devemos querer errar, mas isso pode nos ensinar muitas coisas, ainda que pela dor. Mas também não nos achemos melhores por estarmos acertando mais e em pouco tempo, a vida é longa e não sabemos o que enfrentraremos, as escolhas que teremos que fazer. Muitos só acertam porque ainda não tiveram oportunidade para errar, ou pior ainda, porque não ousam, se conservam protegidos pela covardia, e esses ainda que pareçam íntegros não são felizes. 
      Contudo, honremos os que acertam, mesmo que sejam jovens inexperientes, essa é a vontade de Deus e Deus honra os que andam certo, e ainda mais os que fazem isso por mais tempo, mesmo que sejam um pouco orgulhosos por causa disso. Felizes os que permitem que a luz de Deus exponha seus erros, que não se escondem atrás de hipocrisia e mentira, felizes os que acham a honra maior na humildade que admite o quão pecadores foram e são. Deus não nos julgará na eternidade pelo quanto nos achamos certos, mas pelo quanto nos achamos errados, ainda que deixando o erro, sabendo o quanto ele nos afasta do melhor de Deus e conseguindo manter no tempo uma vida de santidade interior e amor puro. 
      A maioria de nós só escolhe o caminho melhor quando vê que o caminho pior tem consequências ruins, sofrimentos a muitos, feliz o que tem sensibilidade, que sofre com o erro e se alegra com o acerto. Contudo, mais bem-aventurado é o que quer acertar ainda que isso não lhe traga efeitos imediatos e materiais, vantagens sociais e mesmo religiosas, que o faz só porque é certo, porque faz dele um servo mais útil e porque agrada a Deus. Quem quer acertar sem segundas intenções achou a espiritualidade maior e mais madura, esse já desfruta do céu no mundo, e da intimidade mais profunda de Deus, a esse serão revelados mistérios, se libertou da matéria e poderá conhecer como é conhecido.

domingo, setembro 26, 2021

Deus do improvável (2/2)

      “O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens.” Salmos 33.13

      Na postagem anterior, na primeira parte da reflexão “Deus não faz o impossível, só o improvável”, entendemos que Deus não faz coisas extraordinárias porque não precisa fazer, todavia ele usa forças naturais, sejam físicas ou espirituais, ainda que sejam coisas que desconhecemos e por isso chamamos de milagres impossíveis. Contudo, saber que Deus age assim, de um jeito ou de outro, para todos os seres humanos, sejam cristãos ou não, não deve ser motivo para que não oremos. Por que devemos orar? Segue a segunda parte da reflexão. 

      Devemos orar cada vez mais! Mas será que entendemos qual é o benefício espiritual maior da oração? Muitos usufruem há séculos desse benefício e não sabem, não sabem porque não precisam saber, pelo menos não precisavam até há algum tempo atrás, mas hoje os que querem já podem ter esse entendimento. Deus olha a intenção no coração, não o entendimento intelectual ou o conhecimento espiritual, Deus ama a criança, tanto quanto ao jovem ou ao idoso, e me refiro a idades morais, não físicas. O que as pessoas falam em suas preces é menos importante que o amor a Deus que elas têm. 
      O maior benefício do louvor que cantamos ao Senhor, dos pedidos que fazemos em oração, do perdão que rogamos por Cristo, é sermos colocados espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas. Nisso há paz porque nos posicionamos no Altíssimo, e nessa paz entramos em sincronia com o universo criado por Deus. Uma planta, plantada na terra e recebendo raios solares e água da chuva de forma equilibrada, crescerá, dará flores e até frutos, se essa for sua vocação, e isso naturalmente. Assim somos nós seres humanos, em Deus crescemos, somos o nosso melhor, cumprimos nossa vocação. 
      Se um dia não chover, o homem usando sua inteligência poderá regar uma planta com água necessária para sua sobrevivência, se a planta tivesse alguma inteligência poderia achar isso um milagre, já que até então poderia só ter sido suprida pelas forças da natureza. Mas o homem faz parte do mesmo universo que a planta, assim, nas providências divinas, ele foi usado para dar o suprimento que a chuva não forneceu. Nós seres humanos muitas vezes agimos como “plantas inteligentes”, se falta o que chamamos de normal e Deus usa outra coisa para nos suprir, achamos que o impossível foi feito. 
      O certo é andarmos o tempo todo em comunhão com Deus, nessa interação as coisas certas acontecem sempre, e eu disse certas, que necessariamente podem não ser as boas a curto prazo. Às vezes algo ruim, difícil, mesmo que nos faça sofrer um pouco, em médio e longo prazo mostrará ser algo bom, que de alguma forma nos fará pessoas melhores. Quando andamos em comunhão com Deus estamos em sincronia com todo o universo, com coisas que não sabemos e nem podemos prever que acontecem, mas que ocorrem para nós se estivermos andando certo. Vou dar um exemplo simples.
      Uma pessoa sente vontade de aproveitar um tempo livre e ir fazer um passeio num shopping center, contudo, antes de ir ela fala com Deus e sente que não deve ir. Mesmo assim ela vai, ela raciocina diante do peso que sente no coração, “que mal tem ir ao shopping? estou com tempo livre, não vou fazer nada de errado?”. Mais tarde, no caminho de volta do shopping para casa, um carro passa o sinal vermelho e bate em seu carro. A pessoa não sabia que isso ia ocorrer, e talvez se não tivesse ido e soubesse que tinha havido um acidente poderia dizer que tinha experimentado um milagre. 
      Se tivesse sido livrada por ter obedecido a Deus, algo impossível teria sido realizado? Não para Deus, o Senhor do universo sabe de tudo e de todos, Deus sabia que naquela hora um motorista, usando indevidamente um celular, não veria o sinal fechar e passaria no vermelho. Esse motorista poderia estar com um problema com alguém que ligou para ele naquele momento e ele teve que atender, mesmo dirigindo no trânsito. Parece impossível porque não é do nosso conhecimento, mas só é improvável. Pode acontecer e Deus sabe se vai acontecer e como isso pode nos beneficiar ou não. 
      A verdade é que nós não temos ideia de quantos livramentos Deus já nos deu, dá e dará, e por incrível que possa ser para muitos, os que mais provam “milagres” são os que menos pedem por milagres, e que por isso têm menos consciência que eles ocorrem, porque milagres ocorreram e eles nem souberam. Não sabem, mas por temerem a Deus e andarem sempre em comunhão com ele, têm entendimento de que só existe paz na obediência, por isso são gratos não só pelo que veem, mas também pelos mistérios invisíveis. Não peçamos por milagres para nós, sejamos milagres para os outros. 
      Quem pede demais por milagre pode ser justamente quem mais anda errado, quem anda certo não precisa do impossível, basta-lhe o provável melhor constante de Deus. Chegará o momento no planeta Terra onde uma grande maioria de seres humanos, e não só uma minoria, provará a iluminação do Espírito Santo, então, os véus das religiões serão retirados e Jesus será entendido, não só como fundador de uma religião retrógrada e manipulada, mas como a porta mais elevada para o Altíssimo, para o qual nada é impossível. Mas não se assustem, antes do nascimento do novo há a morte do velho. 

Leia na postagem anterior
a 1ª parte desta reflexão.

sábado, setembro 25, 2021

Deus do improvável (1/2)

      “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares. O Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!Salmos 8.3-9

      “Creio no milagre de Deus como sendo a realização de algo improvável (para mim), não de algo impossível (para Deus)”, essa frase não é minha, ouvi recentemente de um filósofo (um dos três que estão populares hoje na TV e na internet). Ela me representa, segue uma reflexão sobre esse tema dividida em duas partes. 

      Deus não faz o impossível, nada é impossível para ele, mas ele faz o improvável para nós, é esse improvável para nós que nós seres humanos chamamos de milagre. Deus estabeleceu as leis físicas e espirituais do universo no início de tudo, a essas leis nem ele desobedece. Os crentes mais espirituais e consagrados (e entenda como crente aquele que pela fé estabelece contato com o plano espiritual, não o que é membro de alguma religião evangélica específica) conhecem parte das leis espirituais, assim como os cientistas mais sérios e dedicados conhecem parte das leis físicas. 
      No mundo atual ninguém conhece tudo, e isso em si não é problema, mas por causa do orgulho tanto crentes quanto cientistas não admitem que não sabem e ainda querem estabelecer perímetros com o conhecimento limitado que possuem. É por causa disso que as leis cósmicas não são respeitadas, e que boa parte dos crentes e grande parte dos cientistas se antagonizam, ignorando que ambos são lados opostos da mesma moeda, a existência criada por Deus. Bastaria humildade de ambos, ainda que sem conhecimento, para que seguissem juntos apoiando-se em novas descobertas. 
      Deus não faz o impossível porque não é preciso fazer, se fosse ele seria imperfeito, já que teria que corrigir algo que fez anteriormente e não foi suficiente para beneficiar suas criaturas. Mas sob os nossos olhos, limitados, que veem só o que nos convêm e que está à nossa frente, parece ser o impossível, entretanto é só algo que não achávamos provável ocorrer, ainda que sempre tenha sido possível, não para nós mas para Deus. Como Deus faz as coisas? Deus faz todas as coisas através das forças “naturais” do universo que ele mesmo criou, sejam forças físicas, sejam forças espirituais.
      Deus age através dessas forças, ainda que muitas delas sejam desconhecidas para nós hoje, como a eletricidade era desconhecia até poucos séculos, e como virtudes interiores não eram relevantes para uma religião farisaica mais interessada em aparência externa no século I. Deus não age de forma extraordinária manipulando forças invisíveis para que sejamos abençoados ou disciplinados, Deus não faz magia, aliás, magia não existe, nem poder da mente sobre matéria. A existência é muito mais simples que muitos acham que é, bem mais razoável e menos supersticiosa, os humildes sabem disso. 
      Grande parte dessas forças Deus criou e depois deu ao homem autorização para que as administrasse. Os antigos rezavam e ofereciam sacrifícios aos seus deuses para que chovesse e a agricultura e a pecuária prosperassem, hoje sabemos que toda a natureza, florestas e rios, precisam estar bem cuidadas para que o clima funcione adequadamente, para que chova na estação certa. Deus deixou de existir porque a ciência obteve esse conhecimento? Não, o que deixaram de existir foram os falsos deuses, e se ainda assim os homens creem que preces e sacrifícios interferem na natureza Deus respeita isso. 
      A ciência não “matou” o Deus verdadeiro, mas autorizada pelo próprio Deus, que quer que o homem evolua intelectualmente tanto quanto moralmente, jogou água fria na cara dos crentes equivocados para que esses acordassem de seus místicos devaneios. Deus faz chover, e faz isso desde antes que civilizações dominassem o globo terrestre, mas não como pensavam os “crentes” pagãos ou mesmo como criam os católicos, a ponto de perseguirem e matarem os pioneiros da ciência. O criador do universo usa o universo, em comunhão com Deus estamos também de bem com o universo.
      Tendo a fazer abordagens “técnicas” sobre espiritualidade, temo que isso às vezes soe duro demais, sinto de Deus que apesar de ter que ser severo principalmente com líderes cristãos mal intencionados, não posso de maneira alguma escandalizar os pequeninos, que precisam de Deus e confiam nele ainda que com um entendimento intelectual mais restrito. Assim, que fique claro, podemos, sim, orar a Deus pedindo por milagres impossíveis, eu faço isso, muitas vezes em nossas vidas a dor é grande, não temos tempo para “tecnicidades”, só para clamarmos por uma ação poderosa e rápida do Senhor. 
      Entretanto, o objetivo do “Como o ar que respiro” é trazer clareza sobre o cristianismo e a interação humana com o mundo espiritual, conduzir a um desvencilhar de superstições e tradições para alcançar um equilíbrio que não nega a ciência, mas busca santidade e caridade, provando qualidade moral, mas entendendo aquilo que Jesus entregou e que tanto o catolicismo quanto o protestantismo esconderam por séculos. De tudo que é dito aqui, o principal é: confie num Deus de amor sem fim, que tem muito mais para você que as religiões, e aceite a vida encarnada de Jesus como modelo único. 

Leia na próxima postagem
a 2ª parte desta reflexão.

sexta-feira, setembro 24, 2021

Sozinho o ser sofre (2/2)

      “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.Isaías 1.17-19

     No mundo, a luz mais alta refletida no espírito humano, e Deus atrai a todos sempre com sua luz, fará com que o ser queira interagir com Deus, mas nosso livre arbítrio, ainda sendo moldado, poderá querer os prazeres, consolos e referências mais “fáceis” do corpo físico. O bem e o mal estão em conflito em nós, tentando curar a solidão de maneiras distintas. “Porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro para que não façais o que quereis” (Gálatas 5.17), nunca entenda a “carne” citada na Bíblia como a matéria do corpo físico, como sempre dizemos aqui, mas como escolha de não se mover em direção a Deus. Parados podemos até buscar equilíbrio moral e religião, mas se isso não ocorrer em Deus e para Deus será carne, não espírito. 
      Tem crescido bastante o número de pessoas que pega animais para criar, contudo, como toda solução de solidão, implica em conviver com o outro e isso dá trabalho. O solitário é basicamente alguém que por algum motivo não quer pagar o preço da companhia, seja inicialmente procurando-a, selecionando-a e finalmente mantendo-a, e aqui não estou fazendo juízo de valor, a escolha é pessoal e livre. Mesmo animais de estimação dão trabalho, mais ainda cônjuges e filhos, sendo assim por que seria diferente nossa amizade com o maior amigo de todos, Deus? Ter a companhia do Senhor é conhecê-lo, isso requer tempo, mas conhecimento de Deus gera vida, assim quem quer tê-lo por perto terá sua vida mudada para melhor. Essa amizade requer persistência, mas é a única que nos completa. 
      Olhando para cima as pessoas podem até ver o mesmo Sol que nós vemos, mas cercadas pelos altos muros da solidão que elas constróem, elas podem achar que veem algo exclusivo, diferente daquilo que os outros veem. O que limita e afasta não está na vertical, mas na horizontal, não é construído por Deus, mas pelos homens, sendo assim mesmo que Deus abençoe a todos com o mesmo carinho muitas pessoas poderão achar que creem num Deus diferente do Deus dos outros, eis uma das coisas que mais encarceram os seres humanos em solidões. Assim preconceitos e sofrimentos desnecessários são criados e mantidos, separando os seres neste mundo, gerando arrogâncias e mágoas, visto que dentro dos muros todos podem se achar melhores ou piores, mas dificilmente semelhantes. 
      A coisa mais importante que precisamos saber é que como nós as pessoas sofrem com a solidão, e algumas mais que nós pois não têm a companhia de esposas, esposos e filhos por perto. Portanto, sempre que pudermos, nos demos ao trabalho de sermos boas companhias, principalmente para os mais solitários, uma ligação pelo celular, uma mensagem pelo computador, algo simples e nem tão demorado, mas que pode ser o suficiente para alegrar alguém. Solitários não são pessoas fáceis, se fossem não seriam solitários, assim podem requerer de nós paciência, cuidado, respeito, mas essa é uma dádiva que Deus se alegra em nos ver dando, amor sem segundas intenções para quem mais precisa. Quanto a nós, busquemos a Deus, Deus é amigo sempre, quem o busca nunca deixa sua presença na solidão. 
      O texto bíblico inicial ensina sobre a importância de assistirmos os solitários, viúvas sem maridos, órfãos sem pais, e existem viúvas e órfãos diferentes nos dias atuais, mas ainda necessitando de companhia afetiva e suporte material. A recompensa é perdão de pecados, pecados brancos como a neve, e prosperidade financeira, comereis o bem da terra, é claro nesse ensino que pecados não são perdoados e riquezas não são conquistadas só pela fé, mas por obras, quem discordar disso que rasgue a página de sua Bíblia com o texto acima. Que antes se creia no perdão por Jesus para se ter a paz, mas depois que nessa paz se trabalhe pelos outros, então, Deus suprirá o que for preciso, “buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33).

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

quinta-feira, setembro 23, 2021

Sozinho o ser sofre (1/2)

      “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia.Isaías 51.3

      Solidão, a maior dor e o principal motivo das pessoas se perderem em escapismos e vícios. O ser humano é só? Sim, ainda que busque no mundo o tempo todo por apoio, ainda que queira achar nas relações sexuais mais companhia que prazer, no casamento mais cumplicidade que status, e nas amizades a família que pode não ter tido, o ser é só. É como se no plano físico ele quisesse negar o que é no plano espiritual, uma entidade independente, que deve responder por si, que não precisa responsabilizar os outros por seus erros e carências. Espírito também não se reproduz, assim não tem sexualidade, característica predominante no ser enquanto matéria, característica responsável por tantas escolhas e descaminhos. Sexo sempre busca companhia, ainda que só mental ou virtual. 
      Entretanto, o ser não sofre por ser só, mas por fugir da companhia daquele que o completa, seu criador, que depois lhe dá a companhia de outros seres para que ele os sirva em amor. No mundo isso é mais difícil, Deus coloca o espírito num corpo físico e sexual, assim está criado o conflito. Deus permite esse conflito para que o ser sofra? Não, para que seja provado, aprovado, conheça a Deus, dê a ele a relevância certa, então cresça. O fato de Jesus homem, diferente de outros fundadores de religiões, ter sido solteiro em sua caminhada neste mundo, nos fala muito sobre o ideal e a vocação maior do ser humano. Mas essa é só mais uma diferença que faz do Cristo a verdade mais alta do Altíssimo dada aos homens, existem outras, e essa característica não foi causa de sua espiritualidade, só efeito. 
      Não temos ideia do que as pessoas fazem para se consolarem em suas solidões, os preços que pagam, as alianças que fazem e as que traem, só Deus na “causa”, como se diz, mas vencer a solidão é nosso maior desafio no mundo. Muitos, ainda que se mostrem prósperos financeiramente e profissionalmente, ainda que sejam versáteis para se moverem entre lugares, empresas e eventos, ainda que tenham o respeito de muitos, são solitários, e à noite, num quarto confortável de hotel, entre um compromisso e outro, sofrem. Outros sofrem mesmo em famílias bonitas e honradas pela sociedade, homens, mulheres, mas antes de tudo, seres humanos, cujos espíritos não se satisfazem com sexualidades binárias, ou mesmo nem com as não binárias. O ser sofre sempre sendo só. Mas o que é a solidão? 
      Solidão é morte presente na ausência de movimento espiritual para Deus, quando se para, desliga-se de Deus, se morre e nisso o espirito está só. O inferno é solitário, e mesmo que os seres procurem a proximidade de outros seres também parados, serão companhias frias e negras, sem o calor e a luz do amor de Deus. João 17.21, “para que todos sejam um como tu, ó Pai o és em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós para que o mundo creia que tu me enviaste”, é um dos meus textos bíblicos favoritos, cito-o com frequência aqui, tem uma das revelações espirituais mais profundas e importantes. Ele fala justamente da interação espiritual que existe entre seres e seu criador, possível através de Jesus, essa interação é a única coisa que livra o ser da solidão. 
      No céu, a melhor eternidade com Deus, não haverá solidão porque os seres estarão unidos numa comunhão que vai além de proximidade física e compartilhamento de coisas em comum. Não podemos ter, como homens no mundo, a exata noção do que é essa interação, mas ela é muito mais plena e livre, visto que no céu não seremos delimitados por matéria, espaço e tempo. “As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam, mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito” (I Coríntios 2.9-10a). Provará a companhia espiritual maior quem se libertou das falsas companhias da carne, por isso persistamos nas melhores virtudes, ainda que sozinhos entre os homens, com a companhia do Espírito de Deus. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

quarta-feira, setembro 22, 2021

Deus do tempo presente

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.João 8.10-11
      “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.Mateus 6.34

      Permanecer em Deus e consequentemente permanecer na paz que nos dá forças para vencer o “pecado” e seguir em frente, é permanecer no tempo espiritual melhor, o “presente de Deus”. Somos tentados o tempo todo, e antes que por seres espirituais ou homens maus, pela nossa própria mente, ela não para de pensar, de imaginar, de lembrar, de querer, de não querer. Nas viagens que nossas mentes fazem somos levados numa máquina do tempo, que ora nos lança ao passado, ora ao futuro, e ambos podem ser mentiras. Se do futuro ninguém sabe do passado também não temos certeza, não quando tentamos interpretar as coisas só sob o nosso ponto de vista humano e pequeno. 
      Por isso precisamos aprender a permanecer espiritualmente em Deus, só o Espírito Santo pode assentar nossas emoções e nossos pensamentos e nos conduzir a uma disposição de vitória no tempo presente de Deus. Preste atenção em como começa um “pecado”, usando o termo aqui para definir tudo que fere de alguma forma nossa paz em Deus, avalie com cuidado o processo que nos tira de uma disposição de vitória e nos entrega ao mal. Sempre se inicia com devaneios temporais, que nos tiram da realidade, do aqui e agora, e nos colocam numa ilusão, seja passada, seja futura. Daí nasce o desconforto e esse pode nos levar a buscar consolo nos prazeres mais baixos do corpo, consumando o pecado. 
      O trabalho de vigilância moral é o trabalho de não embarcarmos na máquina do tempo de nossas mentes. Sim, podemos reavaliar o passado para nos conscientizar de erros, assumi-los e obter perdão deles, também podemos planejar o futuro, querer o melhor e visualizar isso. Contudo, para melhorar de forma prática nosso tempo presente, seja não repetindo erros passados, seja trabalhando para construir o futuro, mas de forma alguma para reter culpa ou instalar ansiedade. Deus é um ser presente, para ele não existe passado nem futuro, ele sabe e faz tudo aqui e agora, assim o Espírito Santo nunca nos acusa nem nos pesa, ele é direto e possível, orientando-nos a sermos nosso melhor hoje. 
      Quem tem experiência real com o Espírito Santo, ouvindo sua voz em profecia, tendo revelação ou interpretando línguas estranhas, e eu disse experiência real, não falsificações como as que existem por aí, que na melhor das circunstâncias só usam clichês de palavras que um dia podem até terem vindo de Deus, sabe que o Espírito Santo é sempre positivo, sempre luz, sempre conduz à paz. Essa palavra realmente espiritual sempre levanta e põe em movimento o espírito humano em direção ao Altíssimo, a assunção do pecado ocupa só um instante, no qual Deus não perde “tempo”. O nosso tempo deve ser usado para agirmos certo, não para nos culparmos pelos erros e muito menos para tornarmos a errar. 
      Permanecer no presente espiritual é permanecer vivo espiritualmente, experimentando pelo menos em parte o que teremos na melhor eternidade de Deus, onde não seremos corrompidos, quando só teremos um trabalho a fazer, amar. Os textos iniciais mostram Jesus interagindo com o tempo de forma direta e positiva, sobre o pecado passado, ele diz está perdoado, simplesmente vai-te, e não peques mais. Sobre as necessidades futuras, basta a cada dia o seu mal, eis uma orientação realista, que não nega a existência de problemas e erros futuros, mas que ensina a não nos ocuparmos antecipadamente com isso. Viver o tempo que se chama hoje em Deus, eis o desafio maior neste mundo para todos nós. 

      “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.” Hebreus 3.13

terça-feira, setembro 21, 2021

Não deixe nem começar!

       “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.Provérbios 22.6

     Algumas coisas temos dificuldades para terminar, mas podemos evitar que comecem. Vício é fazer algo errado pela segunda vez, só bastam duas vezes para nos viciarmos em algo. Não se vicia em coisas diretamente ruins, pelo menos não são ruins para quem as faz, ninguém cheira cocaína porque é ruim, cheira porque lhe dá prazer. O que livra as pessoas de vícios não é dizer a elas que algo é ruim, mas é acostumá-las com algo melhor. Vamos diferenciar vício de costume, costume não é vício, vício é aquilo que nos controla, costume é só a repetição de algo, sobre isso temos controle.  
     O ser humano até poderia provar algumas coisas, ao menos uma vez, e eu disse algumas coisas, se tivesse controle sobre si mesmo e se conhecesse. Temos controle sobre algo quando percebemos que algo não nos oferece uma satisfação completa, que de alguma maneira prejudica nosso corpo, nossa alma ou ambos, por isso o rejeitamos. Conseguimos nos livrar de vícios quando temos percepção suficiente para discernir se algo nos faz bem ou não, ainda que seja agradável. Só temos essa percepção quando temos sensibilidade baseada em referências altas de qualidade de vida física e moral. 
      Tem gente que prova uma vez bebida alcoólica, não gosta e nunca mais prova, outros, ainda que não gostem, por motivos diversos, incluindo ser aceito num grupo social, tornam a provar até que se viciam. Uma das principais características do ser humano é a adaptabilidade, ela é necessária para sobrevivência neste mundo. Contudo, assim como o ser humano pode se adaptar e gostar de algo que a princípio lhe é desconhecido, mesmo desagradável, mas que lhe faz bem, ele também pode se adaptar, e infelizmente com mais facilidade, a algo que não lhe faz bem e que lhe dá um prazer. 
      Bebidas alcoólicas podem prejudicar o fígado, assim como tabagismo pode prejudicar os pulmões, mas entorpecem o cérebro e entregam prazer, seja de calma ou de euforia. A quem interessa esses prazeres artificiais? A quem não encontra prazer equilibrado e não nocivo na vida real, no que bebe, no que come, na ocupação produtiva que exerce, nos relacionamento sociais e íntimos que tem. Alma angustiada, magoada, solitária, desocupada, é terra fértil para vícios, solução para todos esses problemas só vida com Deus, que experimenta e entrega perdão, que respeita a si e aos outros. 
      Ensine uma criança o que é melhor, seja na área que for, e ela não será presa do mal e de vícios, mas ensine-a de forma que ela tenha alegria no melhor, senão poderá ter efeito contrário. Muitos pecam simplesmente por falta de opção, não conhecem nada melhor para fazerem e terem prazer, assim se entregam a sexo antes do tempo e com pessoas erradas, buscam apoio em amizades tóxicas, porque não têm ninguém mais perto e com melhor intenção por companhia. Mas outros ainda que tenham tudo se viciam, porque insistem em andar longe de Deus, e eu disse de Deus, não de religião.
     Mas ensinemos a criança do jeito certo, dando exemplos práticos do que é ensinado e monitorando de perto, com amor e paciência. Falar sem dar exemplo ou estar longe, pode levar a criança a sentir aversão pelo que aprende, ainda que seja algo bom. O melhor é ocuparmos tempo e energia com coisas boas, assim o mal não terá oportunidade nem para uma primeira vez. Muitos têm se viciado na internet por acharem no mundo virtual companhia e prazer que não têm no mundo real, mas ela pode ser uma grande mentira, nos aproximemos de quem nos ama de verdade, isso nos protege de vícios. 

segunda-feira, setembro 20, 2021

Só pelo prazer?

      “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.Isaías 53.3-5

      Como o Cristo Jesus conseguiu exercer por três anos um ministério, vivendo, ensinando, amando, com paciência, com esperança, com calma, com alegria, sabendo que no final lhe aguardava algo terrível, extremamente doloroso e cruel? Ainda se ele soubesse que o que construiu por três anos o ajudaria de alguma maneira, não para livrá-lo da morte, mas pelo menos para dar a ele companhia de amigos que o apoiassem, gratos pelos milagres, curas e maravilhas que provaram através de seu trabalho, mas não.
      Se ele olhasse só para o final poderia achar até que era inútil se esforçar tanto, amar tanto, se sacrificar tanto, afinal muitos dos que foram abençoados por ele fariam parte do coro que escolheria livrar o criminoso Barrabás em seu lugar. Mas ele cumpriu sua missão até o final, e só colheu de fato um resultado bom depois que ressuscitou, a salvação de toda a humanidade. Jesus não teve nenhum prazer como recompensa, sua passagem no mundo foi dor e injustiça, e ainda assim foi o modelo de homem perfeito. 
      Ah, como estamos distantes desse ideal de vida, somos seres viciados em prazer, tudo o que fazemos é visando prazer, ainda que trabalhemos e soframos um pouco, o fazemos porque sabemos que logo depois poderemos desfrutar algum prazer. Somos seres mimados, imaturos, todos carnais, ainda que disfarçados de espirituais, não estamos preparados para sofrer. Alguns visam prazeres baratos, outros mais caros, outros ainda mais sofisticados e eruditos, não materiais mas intelectuais e artísticos, mas sempre prazer egoísta. 
      Mas mesmo religiosos visam prazeres, ainda que seja cantando louvores, usando os dons espirituais, ainda que não seja prazer diretamente no corpo, mas querem sentir na alma êxtases resultantes de experiências espirituais. Será que nós cristãos, se Deus nos dissesse que não teríamos mais que o suficiente para estarmos fisicamente vivos e que ainda assim teríamos que ser santos e servir os outros, sem esperar nenhum prazer como pagamento, pelo menos neste mundo, será que ainda assim seríamos cristãos? 

domingo, setembro 19, 2021

Sábia criança pobre

      “Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar. Porque um sai do cárcere para reinar; enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.Eclesiastes 4.13-14

      Amo a sabedoria contida em antagonismos bíblicos, que nega o óbvio, que surpreende a malícia humana, que deixa claro tanto a teimosia do homem em fazer escolhas erradas quanto a insistência de Deus em dar uma nova chance para que o ser humano acerte. Nos dois versículos iniciais de Eclesiastes dois desses antagonismos, um entre a criança e o velho, outro entre o pobre e rico. Talvez a pergunta que o texto inicial tenta responder seja, quem tem direito à paz? Eu disse paz, não vitória ou prosperidade, porque muitos conquistaram muitas coisas e são prósperos no mundo, mas não têm paz, não a paz espiritual mais alta que permanece e que não pode ser comprada. Seria a criança, o velho, o pobre ou o rico? 
      Antigamente o velho era valorizado, crianças e jovens deviam aprender com ele, ele era depositário e compartilhador de experiências, passava conhecimentos de uma geração para outra. É claro que existia injustiça, sempre houve, há e haverá por muito tempo, crianças não eram respeitadas, jovens não eram valorizados. Para mudar isso na pauta atual de direitos o jovem ganhou valor, sua falta de experiência é compensada pelas novas ideias que tem, principalmente porque crianças são criadas hoje próximas à internet e a tecnologias. A internet e seus ilimitados bancos de dados, substituíram os velhos e seus conhecimentos, para que perguntar ao pai ou à vovó se pode-se perguntar ao Google ou à Alexa? 
      O texto de Eclesiastes não fala em riquezas materiais, ele ensina que essas são menores em relação às virtudes morais e à espiritualidade, por isso diz “melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato que não se deixa mais admoestar”. A sabedoria é confrontada com a negação da admoestação, não ser sábio não é necessariamente estar errado, mas não se deixar admoestar, o errado pode sê-lo sem o saber, mas a partir do momento que sabe acerta sua vida. Contudo, o que sabe que está errado e não muda, e nem aceita que alguém lhe diga que está errado, esse pode ser até um rei, rico e velho, cheio de experiências e bens, mas será um tolo, menos espiritual que uma criança pobre e inexperiente. 
      O texto inicial diz mais, “porque um sai do cárcere para reinar, enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre”. Não posso deixar de pensar em Salomão, pretendido autor de Eclesiastes, quando leio esse texto, num velho rei fazendo auto-análise, avaliando sua vida, suas escolhas, sua paz. Lembro-me também de Mateus 19.30, “porém, muitos primeiros serão os derradeiros e muitos derradeiros serão os primeiros”. O texto diz algo que o arrogante tem dificuldade para aceitar, a graça de Deus, ela contempla mudança de vida, nova oportunidade e aquisição de algo sem merecimento prévio. Não nego a importância de obras e trabalho, mas enfatizo a intenção do bem que muda o homem de dentro para fora. 
      Nos vem à mente Mateus 19.14, “Jesus, porém, disse, deixai os meninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus”, assim como João 3.7, “não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo”, quando lemos o texto inicial, textos onde Jesus ensina simplesmente sobre a necessidade de recomeços. Aqueles que acham mérito em nunca terem recomeçado na vida, ou são perfeitos, algo que não é impossível mas é improvável, ou são arrogantes e imaturos, que mesmo dentro de igrejas cristãs não entenderam o que é o evangelho de Cristo. Você já nasceu de novo?  E não me refiro a reencarnar, mas em ressurgir da morte de um velho eu, de velhos hábitos e mesmo de grupos sociais, sem deixar o mundo.
      Na verdade temos que nascer de novo todos os dias, sermos meninos o tempo todo, não na ingenuidade e na inexperiência, mas na pureza moral e na mais alta iluminação espiritual. Isso é possível e os que têm essa disposição não só estão preparados para a melhor eternidade de Deus como são recompensados pelo próprio Deus com honra e dignidade neste mundo, é isso que diz o final do texto inicial. Deus o pai de amor nos tira do cárcere para reinarmos, ainda que não tenhamos origem nobre, ainda que tenhamos errado muito, só basta-nos a humildade de uma sábia criança pobre. Uma palavra aos ricos, não necessariamente na área financeira, mas em alguma segurança não firmada em Deus, mesmo que seja religiosa.
       “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” (Apocalipse 3.15-19). Que nos achando satisfeitos, lúcidos e protegidos em nossas obras, não sejamos achados espiritualmente pobres, cegos e nus. 

sábado, setembro 18, 2021

Se há riqueza, sejamos pobres

       “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis. E nisto dou o meu parecer; pois isto convém a vós que, desde o ano passado, começastes; e não foi só praticar, mas também querer. 
      Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes. Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem. 
      Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade.” 
II Coríntios 8.9-14

     Vou contar a vocês uma história, não é uma parábola, é baseada em fatos. Um homem sente a chamada de Deus para pregar o evangelho, além da chamada autêntica e dos dons espirituais recebidos ele já possui um carisma natural, uma voz clara, um jeito afetuoso, uma presença marcante que chama para si a liderança sem muito esforço. Esse homem se põe a trabalhar, começa como pregador, depois se torna pastor, com o tempo o templo fica pequeno para todos os que querem ouvi-lo, assim ele aumenta o lugar. De uma igreja outras nascem, baseadas na visão que ele tem da obra, e essas novas igrejas também crescem, o homem percebe que tem algo grande nas mãos. 
      Algo grande requer grandes recursos para ser mantido, assim, ainda que inicialmente a intenção seja boa, o homem incentiva a coleta de dízimos e ofertas para que seu ministério, agora um grupo de igrejas, siga crescendo. Mas o dinheiro sempre tenta, e os recursos que antes o homem deliberava só para o ministério agora ele começa a usar para sua vida pessoal, afinal ele começa a achar que o trabalho que teve para construir o ministério merece receber recompensa no mundo. Quando isso ocorre o líder e fundador perde a pureza, ao mesmo tempo que percebe que seu ministério segue forte pelo que ele é, não necessariamente pela qualidade moral e espiritual de sua vida pessoal. 

      Quando um pastor, dos recursos materiais recolhidos pela igreja, usa para si mais que o que precisa para ter uma vida minimamente digna, ele se torna um herege, essa é a opinião do “Como o ar que respiro”, esse é o ponto divisor de águas entre um pastor de Deus e um “mercador da fé”. O problema pode nem estar em recolher muito, já que as pessoas podem dizimar e ofertar com boa sinceridade e para Deus, além disso num Brasil com tanta pobreza, recolher muito pode ser útil. A verdade é que se houvesse justiça social no mundo bastaria às igrejas dividirem os gastos que têm com manutenção do templo, água, luz, faxina e aluguel, e mais nada, fazendo coletas ocasionais só para ajudar necessitados. 
      Incentivar dízimos e coletas sem motivos santos é heresia, e muitos fazem isso não para ajudar os necessitados ou mesmo aumentar o ministério para servir a mais pessoas, mas para que os líderes invistam em suas vidas pessoais e em outros negócios. Atividades envolvidas com mídia e comunicação, como redes de televisão, de rádio etc, são as preferidas dos hereges, porque são eficientes, não para pregar o evangelho puro, mas para estabelecer um marketing de venda de um produto lucrativo, ainda que seja um produto com o formato de Jesus e do cristianismo. São eficientes também para se produzir candidatos políticos elegíveis, levando os hereges a mais uma heresia, envolver-se com a política do mundo. 
      Paulo é claro no texto inicial, “não digo isto para que os outros tenham alívio e vós opressão, mas para igualdade, neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade”, o ponto é igualdade! Nada no evangelho justifica a riqueza de cristãos, por isso os hereges criaram a teologia da prosperidade baseada, não no novo testamento, mas no antigo. Sim, na nação de Israel havia homens de Deus que eram reis e latifundiários, isso era necessário para testemunhar Deus numa humanidade imatura, num mundo materialista, onde vitória em guerras físicas e posse de bens eram sinônimos de vidas agradáveis a Deus. 
      Repetindo o que tanto já dissemos aqui, as referências de qualidade de vida do evangelho de Jesus são interiores e espirituais. Muitos podem dizer, “o que o pastor faz com meu dízimo é problema dele, eu dizimo para Deus”, mas é esse raciocínio que mantém hereges, pode parecer espiritual, mas é imaturo, covarde e só corrobora para que aumente a injustiça social no mundo. Outros podem dizer, “a igreja está cheia, muitos ouvem o evangelho, a palavra do pastor é poderosa, minha fé é fortalecida”, mas ainda assim, se houver incentivo à prosperidade material exagerada é heresia. 
      Um pastor pode até iniciar certo, mas se começa a achar que tem direito à prosperidade material ele se desviou, ignorando que as provações de Deus para nossas vidas, que nos fazem evoluir espiritualmente, baseiam-se na falta, não na abundância. Se somos pobres, devemos buscar a dignidade, mas se somos ricos devemos dar o que temos e aprendermos a viver com o mínimo. Se todos os cristãos devem viver isso, muito mais os líderes, que se dizem homens de Deus, que são pessoas públicas e cujos testemunhos influenciam a muito mais pessoas. Pensar diferentemente disso é ser herege.
      “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Efésios 3.16), as riquezas que a nova aliança de Cristo oferece são morais e consequentemente espirituais, são as que poderemos levar desta vida para a outra. Não que nos simples fato de ser pobre haja espiritualidade inerente, mas talvez a coisa que mais nos enriqueça espiritualmente seja abrir mão das riquezas materiais, e também sem fazer isso de forma extremada, porque no querer aparentar-se espiritual também há vaidade e um tipo de riqueza desnecessária. 
      A sabedoria mais alta de Deus sempre está no equilíbrio pessoal que busca a igualdade coletiva. Se falta, busquemos ter, se sobra, doemos, se há pobreza, sejamos ricos, se há riqueza, sejamos pobres, não nos acomodemos em extremos, mas trabalhemos o tempo todo pelo meio termo. “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis”, o assunto de Paulo no texto inicial é sobre coleta para os pobres, seguindo o exemplo primeiro de Jesus. Pratiquemos o evangelho genuíno e não aceitemos hereges. 

sexta-feira, setembro 17, 2021

Que Cristo seja exaltado!

      “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.Filipenses 1.18

      Tenho caminhado com Deus por mais de quarenta e cinco anos como cristão batizado em igreja protestante, mas creio que Deus tem me guardado em todos os meus sessenta e um anos de vida. Trabalhei muito em igrejas, conheci tanto a visão das igrejas chamadas de tradicionais quanto a de igrejas pentecostais. Fiz seminário teológico, dei aulas em curso teológico, como músico gravei discos gospel, e quem me acompanha aqui sabe que compartilho reflexões cristãs há mais de dez anos, tudo pela misericórdia do Senhor, com muita sinceridade e sem ter retorno material direto por isso, ainda que sempre sustentando por Deus dignamente. 
      Com minha experiência prática, adquirida de forma dolorosa muitas vezes pela dureza de meu coração, que me trouxe ao que sou hoje, com uma família bonita e correta, curado de muitos vícios e enfermidades, e sustentado em honra neste mundo, tenho chegado a algumas conclusões. Essas podem se opor a muitos entendimentos que muitos evangélicos têm sobre suas crenças e a doutrina protestante tradicional. Não peço que você concorde com tudo que vou dizer, mas leia e ore a respeito. Eu estou sempre pronto a mudar de opinião, creio que o Deus vivo que nos guia e cujo Espírito nos habita conduz-nos a mudanças constantes para que melhoremos. 
      Não sou a favor do crescimento do número de igrejas cristãs, mas em sua diminuição, no meu ponto de vista existem igrejas evangélicas ruins demais. Penso que o governo deva estabelecer leis que coíbam o som alto que as igrejas fazem no período de louvor, a música cristã não precisa ser tão barulhenta. Acho que deva cessar a isenção de impostos para igrejas, não se muitas delas são na prática entidades com fins lucrativos. Creio que deva ser judicialmente criminalizada discriminação sexual feita em púlpito, ainda que usando Bíblia como apoio. Acredito que deva haver separação entre atividade religiosa e política, quem tem uma atividade não pode ter a outra. 
      Isso não diminuirá a obra de Deus no mundo, mas limitará a falsa obra. Isso exigirá que muitos líderes cristãos se posicionem, ou de fato como pastores de um reino espiritual ou só como empresários num mundo material. Isso levará os cristãos a permitirem que o Espírito Santo lhes mostre como Deus pode tratar o ser humano hoje, mais preparado que o dos tempos bíblicos para a verdade espiritual mais profunda. Isso fará de igrejas cristãs instrumentos de justiça e caridade num mundo desigual, e não só parte de agendas de ódio, preconceito e materialismo. Isso entregará Jesus como bem puro e precioso que é, não vendido como produto barato e banal.
      Se algo funcionou há trinta, cinquenta, cem anos atrás, foi pela misericórdia de Deus que respeitou os limites intelectuais, sociais, morais e espirituais de um homem de trinta, cinquenta, cem anos atrás. Mas os tempos mudaram, não dá para fechar os olhos a todas as reivindicações que estão sendo feitas hoje no mundo, sejam contra racismos, machismo, homofobia e tantas outras fobias, que até algum tempo eram aceitas como normais. Deus não muda, o homem sim, assim o cristianismo precisa mudar. O Espírito Santo sempre entendeu o ser humano sem diferenças, Jesus pregou isso há quase dois mil anos atrás, chegou o momento do homem entender isso e praticar. 
      Infelizmente vemos no Brasil muitos cristãos que não aceitam o “próximo nível do jogo”, retornam ao nível anterior over and over again. Nesse equívoco já pregado e crido há anos em muitas igrejas, embusteiros acham eleitorado interessante, juntam a ele conservadorismos também equivocados, adicionam pitadas de extremismos de direita e outras maluquices estúpidas, e pronto, é criado um falso “mito”, que não é mais que um aproveitador querendo poder e planejando mantê-lo por um bom tempo. Quando o coração mente acha no mentiroso sua verdade, o enganador só se eleva quando há enganáveis, eis o trágico resultado de um cristianismo que nega o Cristo. 
      Mas isso não é o fim, é só o fim que muitos acreditam que seria, Jesus sempre será caminho na Terra e porta para Deus no céu, as religiões cristãs, contudo, terão que ser humilhadas para que Cristo seja exaltado. Foi assim com a nação de Israel, se afastou de Deus, foi levada cativa a outras nações e das doze tribos só Judá, Benjamim e Levi não se perderam. Os judeus seguem lutando em vão, hoje contra palestinos para terem de volta sua terra original, não aceitam que sua Canaã agora é celestial. O mesmo ocorre com muitos cristãos brasileiros que não aceitam que o país pelo qual devem lutar é o céu, não politicamente pelo Brasil, ao Brasil basta-lhe serem bons cristãos.