sábado, maio 16, 2020

Reavaliemos Inferno (16/30)

16. Inferno

      Está é a segunda reflexão sobre o tema “Reavaliemos Céu e Inferno”, na anterior refletimos sobre o céu, nesta refletiremos sobre o inferno, ambas sobre a passagem bíblica de Mateus 25.32-46.

      “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjosMateus 25.41

     O inferno é definido no novo testamento como um local de sofrimento e castigo no plano espiritual, preparado, ao menos inicialmente, só para o diabo e seus anjos, não para os seres humanos, isso é o que entendemos no texto bíblico. Isso porque os seres espirituais malignos já escolheram uma eternidade sem Deus, no início dos tempos, o homem está escolhendo, a partir do momento em que Adão e Eva míticos foram expulsos do paraíso terrestre. A Bíblia, exceto pela informação que é um local de fogo, não diz mais sobre o inferno (poderia ser um local gelado, isso também pode causar sofrimento), mas ela nem precisa dizer mais, sofrimento é tão terrível quanto simples, e se estamos nele tudo o mais desaparece, referências de estética, de espaço e de tempo, sofremos e ponto. No Antigo e no Novo Testamento termos diferentes são usados para referirem-se ao inferno: 

      “A palavra hebraica principal usada para se referir ao mundo dos mortos é sheol. A origem do termo sheol é incerta e todas as tentativas de fazer isso foram frustradas ou são duvidosas... A Bíblia Hebraica usa o termo sheol (65 vezes) para se referir ao submundo dos mortos retratado como um profundo e escuro abismo. Na Bíblia o termo está estritamente relacionado a abismo e sepultura. Sheol é o termo preferido dos textos poéticos, pois exceto oito passagens no AT, todas as demais ocorrem em textos poéticos. Sheol é a sepultura ou morada de todos os mortos indistintamente. Em várias ocorrências da palavra não é um local desejável de se ir, exceto quando preferível a um grande sofrimento aqui na terra dos vivos. Mas está completamente ausente o ensino de que era um local de fogo e tormento dos maus como na ideia atual de inferno. 
      ...Para os israelitas antigos era o termo designativo do mundo dos mortos é sheol, que apresenta essa característica de desolação, silêncio e purificação. "De acordo com o pensamento dos israelitas antigos, um abismo escuro e silencioso situado nas profundezas da terra, para onde todas as pessoas iam depois de morrer." Sheol tem uma associação muito estreita com o túmulo (veja Isaías 5.14; 11.9,18-20), mas sheol é usado principalmente em textos poéticos. Embora o significado seja controverso, o uso do termo sheol indica lugar de morada dos espíritos dos mortos, conforme o contexto nos mostra, embora deixe transparecer que essa existência no sheol é um estilo de vida fraca e não gratificante...”

      “Quando os judeus fizeram a tradução da Bíblia Hebraica para o Grego Koinê (comum), conhecida como Septuaginta (símbolo LXX), usaram 61 vezes o termo grego hades comum na mitologia grega para se referir ao reino dos mortos, mas não há evidências de que partilhassem de todas as concepções mitológicas sobre o hades, principalmente sua personificação no deus Hades. Seguindo a tradição da Septuaginta (LXX), os cristãos, ao produzirem o chamado Novo Testamento Grego, usaram a palavra hades para se referir ao submundo dos mortos, principalmente quando citavam a Bíblia Hebraica ou Antigo Testamento para traduzir a palavra sheol. 
      Como os judeus, os cristãos emprestaram apenas o sentido geral de hades como mundo dos mortos, mas não há evidências no Novo Testamento ou nos primeiros cristãos de que usassem a palavra com a mesma ideia mitológica grega. O Dicionário da Bíblia Almeida, publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil, que é responsável pela tradução das principais versões da Bíblia protestante usada no Brasil, diz sobre o termo hades: "Palavra grega que designa a morada dos mortos, bons e maus. Em quase todos os contextos, hades é equivalente a SHEOL (At 2.31). Possivelmente no seu Evangelho, Lucas (16.23) tenha empregado hades como equivalente de GEENA, num contexto de castigo e tormento, visto que essa era a visão típica dos gregos e dos romanos quanto à situação das pessoas depois de sua morte.”

      “A origem do termo inferno é latino: infernum, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior". Origina-se da palavra latina pré-cristã inferus "lugares baixos", infernus. 
      A medida que a igreja crescia e mais e mais romanos foram se tornando cristãos vindo, por fim, a cristianizar todo o império, foram feitas traduções da Bíblia para o latim, língua oficial dos romanos. Primeiro havia os textos da Antiga Latina ou Vetus Latina, e, por fim, o monge São Jerônimo fez uma tradução completamente nova da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) para o latim que veio a ser conhecida como Vulgata Latina (vulgata, quer dizer comum, i.e., latim comum). Na Vulgata, foi usado o termo latino infernus 61 para traduzir o hebraico sheol (61 vezes) e o grego hades e geena sem distinção, o que fatalmente tem causado vários mal entendidos, uma vez que geena tem sentido diverso de hades e sheol, embora em alguns contextos apareça associado a estes. Assim como sheol e hades, infernus se referia ao mundo dos mortos na mitologia romana.” 

      Achei importante citar as explicações mais técnicas acima para entendermos que na verdade a Bíblia não se dá ao trabalho de especificar muito o sheol, o hades ou o inferno, e os termos usados nas línguas originais têm significados variados, sejam hebreus, gregos, romanos ou latinos. Novamente o evangélico atual precisa entender que a Bíblia não é esse livro com exatidão científica que temos que obedecer e crer ao pé da letra, é preciso interagir com ela usando todo o nosso ser, não só fé espiritual, mas também inteligência mental e mesmo um sentimento de amor e de paz, é preciso reavalia-la. O que de fato é o inferno? Não sabemos, o que sabemos é que é um “lugar” (ou uma posição espiritual, ou uma disposição mental...) de sofrimento, é eterno? Bem, todo sofrimento parece eterno enquanto estamos nele, e terá duração proporcional ao tempo de nosso orgulho, só a humildade para por fim a ele. 

Quem vai para o Inferno

      “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.25.42-46

      Interessante que os condenados a uma eternidade longe do melhor de Deus também questionaram o Senhor no juízo, mas esses pelo motivo oposto ao dos justos. Esses tinham certeza que morariam no céu na eternidade, por isso se surpreenderam, se ainda não tivessem se surpreendido haveria neles mais justiça, pois seria atitude de quem sabe que está errado e por isso entende que é justificado seu terrível fim, para esses talvez ainda houvesse uma eternidade no melhor de Deus. (Uso frequentemente o termo perto ou longe do melhor de Deus, alguém pode perguntar, mas Deus tem pior? Sim, o inferno foi criado por Deus, está em Deus, pois Deus tudo contém sempre, mas é um lugar bem ruim). 
      Não entendemos pelo texto bíblico, que são os não cristãos, pessoas que muitos evangélicos consideram mundanos, carnais, adúlteros e alcoólatras, que questionam Deus do porquê não terem direito ao céu, esses não fazem esse tipo de pergunta, eles não estão nem aí pra céu e inferno, muitos desses dizem com desdém, “vou pro inferno mesmo”. Por outro lado, os que dizem ter certeza do céu são justamente os religiosos, e principalmente cristãos evangélicos e protestantes. Assim, reavaliemos nossas vidas, o que esperamos da eternidade, o que pensamos sobre a eternidade dos outros, será que o inferno não será de acordo com o que cremos que ele é? Se for assim, cristãos equivocados são os que terão o pior inferno, pois creem nele.

Esta é a 16ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

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