sábado, novembro 30, 2019

Dom de línguas estranhas

      “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.Romanos 8.13-16

      Perdem e muito os que tentam viver o cristianismo sem uma experiência total e verdadeira com e no Espírito Santo. O Espírito Santo habita todos os convertidos, os novos nascidos, na verdade sem o Espírito Santo não há cristão, não há comunhão com Deus, não há novo nascimento, não há experiência de cura e perdão de Deus. Assim, mesmo os que não acreditam que os dons espirituais são para os dias atuais, mesmo que nunca se tenha vivenciado o falar em línguas estranhas, as revelações espirituais que renovam as experiências que temos nas revelações registradas na Bíblia de outras pessoas, mesmo esses têm o Espírito Santo, ninguém duvide disso, sob o risco de pecar contra o Espírito Santo. Contudo, CONTUDO, (e me perdoem a caixa alta), quem não experimenta os dons de maneira explícita, perde muito do poder transformador e exclusivo de Jesus, do pleno e real cristianismo.
      Numa igreja cristã atual (e uso o termo igreja generalizando a grande parte de igrejas protestantes é evangélicas), onde o pentecostalismo se cansou, e se cansou porque se desviou da palavra, perdendo-se nas experiências emocionais e na teologia da prosperidade, e até os pentecostais estão procurando estudos bíblicos mais sérios e profundos compartilhados pelos tradicionais, se faz necessário uma volta ao Espírito Santo, não ao pentecostalismo, porque se esse fosse íntegro não teria perdido a força, mas à liberdade do Espírito Santo que havia na igreja cristã primitiva. Alguns tradicionais equivocados podem dizer, “mas nas cartas de Paulo à igreja de Corinto, vemos uma exortação contra os dons, principalmente o de línguas estranhas”, mas meus queridos, nas cartas aos Coríntios não foram os dons que foram criticados, mas o mal uso deles, todas as igrejas daquela época experimentavam os dons, mas eles pouco são citados nelas porque essa maioria usava os dons da forma correta. 
       “Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (Atos 4.20), eu não posso deixar de testemunhar aqui sobre a bênção que são em minha vida os dons espirituais, todos, e muito o dom de línguas estranhas. Quem tem dons? Não, não são os melhores e eles também não conferem a ninguém um status quo superior no meio cristão, tem os que querem, creem, buscam, recebem e usam, simples assim. E se todos os dons são a força a mais que o cristão precisa para viver o cristianismo, o de línguas estranhas permite um consolo, um fortalecimento, especial, que nos ajuda justamente quando mente e coração não podem. Assim, muitas vezes, quando minha cabeça estava cansada, quando meu emocional estava vazio, o falar em línguas estranhas alimentou e vivificou meu espírito, porque os genuínos dons espirituais são isso, espirituais. Erra quem acha que são meras experiências emocionais, eles podem tocar nossas emoções, mas elas só efeito daquilo que é experimentado antes no espírito. 
      Podemos profetizar através de línguas estranhas e quando houver quem as traduza elas são úteis para abençoar os outros em cultos públicos, mas a principal bênção do dom de línguas estranhas está na nossa vida privada, em nossos momentos particulares e solitários de oração, assim o verdadeiro dom de línguas é tudo, menos adulação de ego para ser exibido para os outros. Só Cristo pode viver o cristianismo, Cristo vive em nós pelo Espírito Santo, exercer os dons espirituais é dar liberdade para que o Espírito seja Deus em nós. Negarmos isso é tentar viver, ainda que com sinceridade, um cristianismo sem Cristo. O dom de línguas estranhas estabelece um diálogo mais direto e espiritual, é o Espírito Santo falando a Deus e ao mundo espiritual através de nosso espírito, que colhe bênção emocional disso, mas que muitas vezes não entende o que está sendo dito racionalmente, por isso ele é bênção quando nos sentimos sem forças para orar. O dom de línguas estranhas é Deus orando por nós em nós.
      Sendo um diálogo de Deus para Deus, nos permite interceder por coisas que não temos consciência que precisamos interceder, pelo menos não a princípio. Isso é o milagre que só o evangelho faz, algo que começa em Deus e termina em Deus, para a glória única de Deus. Quanto mais buscamos o Senhor e falamos em línguas, no temor de Deus, em santidade e com sabedoria, a nossa intimidade espiritual com o pai aumenta, a experiência do dom de línguas estranhas evolui, e tem muita gente que ainda que fale em línguas ainda está no primário desse dom. Mas repito, é importante que tenhamos um crescimento nessa experiência em particular, pois a maneira como o Espírito Santo interage com nossos sentidos, com nossa fala e mesmo com todo o nosso corpo, pode não ser entendida por alguns, e os que já são pré-dispostos a não aceitarem dons espirituais poderão se escandalizar ainda mais. 
      Muitos, contudo, ainda não entenderam a profundidade da interação que o Espírito Santo pode ter conosco, aceitam tanta entregas físicas e emocionais do mundo, mesmo de outras religiões, que não são de Deus, e são frios com relação ao Espírito Santo, por isso tantas enfermidades, principalmente psiquiátricas, no meio cristão, Deus tem a cura mas as pessoas não a querem. Não, ter uma experiência plena com o Espírito de Deus nada tem a ver com possessão demoníaca, a possessão, uma vez autorizada pela pessoa, é algo violento, descontrolado, sujo, degradante. Com o Espírito Santo há felicidade, há vitória, há vontade de ser santo, há luz, entendimento da vontade de Deus, adoração pura, começando no espírito inunda nossa alma, sentimentos e pensamentos, e pode ter liberdade, se assim permitirmos, em todo o nosso corpo. Cheios do Espírito cantamos, dançamos, pulamos, gritamos, mas sempre debaixo de nossa autorização racional. O espírito do profeta está sempre sujeito ao profeta.

sexta-feira, novembro 29, 2019

Se não há para onde ir, não vá

       “Antecipei o cair da noite, e clamei; esperei na tua palavra. Os meus olhos anteciparam as vigílias da noite, para meditar na tua palavra.Salmos 119.147-148 

     Quando não vemos saída nos desesperamos porque ainda que queiramos seguir em frente nenhum caminho se apresenta. Se não há caminho não é tempo para se desesperar, mas apenas e simplesmente para esperar, quando for o tempo certo, Deus mostrará o caminho e poderemos então seguir em frente. Não ter para onde ir não é necessariamente um problema, o problema é não termos onde esperar. Bem, os filhos de Deus podem esperar em Deus, em paz e certos que esperar também é útil, é necessário, é agradável ao Senhor, assim se temos que esperar o façamos tranquilos, felizes, não ansiosos ou amargos, Deus está preparando o melhor para o melhor momento, quando então poderemos seguir em frente. 
      Por que não gostamos de esperar? Um dos motivos é porque achamos que os outros vão nos julgar mal por estarmos parados, vão achar que somos de alguma maneira negligentes, rebeldes, ociosos, mas é em momentos assim que temos que assumir a quem servimos, se aos homens ou a Deus, e a quem queremos agradar. Fazer no nome de Deus, estar em atividade, é mais fácil, já esperar em seu nome, principalmente à vista de todos, de familiares, de irmãos da igreja, é difícil, depende muito mais de fé, de confiança no Senhor, mas é na espera que Deus amadurece seus servos, é nela que se conhece quem de fato segue a Jesus seja onde for, é nela que provamos a felicidade mais resistente. 
      O problema de não saber esperar é acabar indo para lugares errados, fazendo alianças erradas, com pessoas erradas, no tempo não propício, e assim se desgastar, perder energia, se expor desnecessariamente, e acabar mais fraco que no início. Um dos motivos da esperar é ter um momento pra descansar e renovar as forças, mas se insistirmos em fazer e fazer inverteremos a situação, algo que era pra ser bom se torna pior ainda. Algumas vezes fazer é para os arrogantes e que não confiam em Deus, já esperar pode ser a saída dos sábios e humildes, que creem no Senhor. Muitos não sabendo esperar, obcecados por ativismos, acabaram perdendo tudo que tinham conquistado até então.
      Se não há para onde ir, não vá, não se sinta na obrigação só para provar para os outros que você é alguém esforçado, vença os críticos e invejosos que sempre esperam situações para acusar. Deus é Senhor do caminho mas também da espera, do fazer mas também do não fazer. No texto inicial o salmista tem um discernimento importante, faz a descoberta de um momento importante da vida, a proximidade da “noite”. Em primeiro lugar não era noite ainda, ela só estava próxima, entender que algo vai acontecer antes que aconteça nos dá tempo, tempo para nos prepararmos. Antecipar as vigílias da noite nos dá tempo para meditar mais na palavra de Deus e orar. Mas o que seria “noite”? 
      Ao pé da letra, noite é o período onde temos a ausência da luz do Sol, sem a luz natural existe mais dificuldade para andar pelo mundo, mesmo para o trabalho, por isso é mais conveniente para o descanso, dentro de casa, protegidos em nossos lares. Existem muitos textos bíblicos sobre esperar em Deus, talvez um dos temas mais presentes na Bíblia e principalmente nos Salmos, mas a passagem inicial do Salmo 119 me chamou a atenção por causa disso, da antecipação da noite que o escritor bíblico faz. Nesse tempo é preciso parar, entender que o tempo de fazer, ou ao menos o tempo mais eficiente para isso, já passou, é preciso ter lucidez e humildade para aceitar a realidade.
      Antes que chegue a noite mais profunda temos que nos preparar focando em Deus, os filhos de Deus, aqueles que o temem e que estão em comunhão com ele, sempre saberão em que tempo vivem e terão tempo para se preparar para o pior tempo. Nós em especial vivemos atualmente tempos escuros, próximos da grande noite que virá sobre o mundo, é preciso mais que nunca nos prepararmos. Trabalharmos? Sim, o máximo que pudermos, mas conscientes que estamos numa passagem, devemos depender de Deus sempre, mas na noite mais ainda. Contudo, na noite as referências faltam, aquelas que tínhamos no dia, assim dependeremos mais ainda de fé.
      “Antecipei o cair da noite e clamei”, essa é a grande lição do texto inicial, por nós mesmos não podemos adivinhar nada, mas no Espírito Santo podemos antecipar, Deus é vivo e nos ama, assim ele fala conosco e quer o melhor para nós. A nós resta ouvir e obedecer, em comunhão com Deus somos protegidos, salvos, resgatados. O que é o arrebatamento senão um resgate dos filhos em plena comunhão com Deus e dos inocentes, crianças, bebês, deficientes mentais (que também podem ser inocentes)? Um resgate antecipado antes que chegue a pior noite que a humanidade enfrentará no mundo. Louvado seja o Senhor que vive e reina para sempre e que não desampara os seus!

quinta-feira, novembro 28, 2019

Desejo de orar, a maior das bênçãos

      “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Isaías 55.6
      “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” Isaías 59.1-2
      “Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.Isaías 1.18-19

      De todas as coisas boas que podemos ter neste mundo, que podemos receber de Deus, o desejo de orar, de nos aproximarmos do Senhor, de querermos estar na presença de Deus, e de sentir nessa experiência o maior prazer de todos, é a maior benção de todas. Orar a Deus é uma benção em si mesma, assim não importa para que estaremos em comunhão com Deus, não importa o que diremos ao Senhor, o que pediremos, nem o que Deus nos responderá, ou o que nos dará, estar na presença no Senhor, ter o desejo de querer isso e executar isso, é o maior tesouro que um homem pode ter, abençoado demais será aquele que ter essa vontade até o fim de sua vida neste mundo. Quando orar, antes de qualquer coisa, antes mesmo de agradecer pela vida, pela família, pelo emprego, pela saúde, pela salvação, agradeça a Deus por poder orar, por achar um tempo para a tempo achar o Senhor. 
      Mas o homem que recebe essa benção não deve ser grato por querê-la, mas por se atraído por Deus à sua presença e então poder desejar isso, é Deus quem nos atrai e atraindo nós o desejamos, de todo o coração, amamos a Deus porque ele nos ama primeiro, o buscamos porque ele nos acha e abre a porta de sua presença. Assim, louvemos a Deus, o adoremos com toda a alma e com todo o entendimento, simplesmente porque podemos querer fazer isso e porque o fazemos, sem impedimentos, sejam externos, sejam internos, sejam do mundo, dos demônios, sejam dos nossos próprios pensamentos e sentimentos, exaltemos o Deus todo poderoso, altíssimo, santo, onipresente, eterno, que apesar de tudo isso nos é acessível, pelo único e poderoso nome de Jesus Cristo, através do Espírito Santo que habita os filhos e salvos. 
      Quando Deus nos atrai nós o achamos, contudo, alguns, em algum momento, podem buscar a Deus e não achá-lo, essa é a maior de todas as tristezas, a maior de todas as decepções, a maior de todas as dores, mas será que é Deus quem se esconde, quem não se deixa achar? Não acha quem ainda que diga com a boca que deseja achar a Deus, com o coração nega, à medida que não assume seus pecados, que não quer confessa-los, que acha que está fazendo tudo certo, que inventa mil argumentos para se justificar e assim tenta entrar na presença do Senhor sujo, com a alma cheia de pecados. Mas Deus conhece os humildes, os que sabem que não merecem estar na presença do Senhor, que temem e tremem diante do altíssimo, mas que ainda assim, com a coragem de filhos, se achegam a Deus clamando por perdão, por misericórdia, por graça. Esses são atraídos pelo amor do pai e se sentem privilegiados só por estarem em sua presença, esses entenderam o melhor da vida. 

quarta-feira, novembro 27, 2019

Olhemos para cima

      “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terraColossenses 3.2

      Olhamos para baixo quando prestamos atenção demais nas vidas dos homens, quando comparamos demais nossas vidas com as vidas dos outros, quando damos importância demais para o que os outros dizem. Se isso tudo for feito demais corremos o risco de adoecermos mentalmente, começando a imaginar coisas que não existem, a ouvir coisas que não existem, a colocar palavras na boca das pessoas pensando de uma maneira doentia que elas estão falando o tempo todo da gente, e falando coisas ruins, nos criticando e nos caluniando. Essa situação pode nos confundir a ponto de não conseguirmos discernir o que é real do que é só imaginação.
      É preciso entender que no mundo impera um clima de acusação, isso é fato, não é fantasia. Todavia, podemos nos levar por um caminho louco, nos acostumando a ouvir coisas ruins, muitas vezes porque fomos criados ouvindo sempre que estávamos errados e que não íamos dar certo na vida. Alguns, por problemas de saúde, podem ter uma tendência física, neurológica, de imaginar coisas ruins dos outros contra eles, isso também pode acontecer. Se estivermos nesse estado ou chegarmos a ele, pode ser necessário até tratamento psiquiátrico e medicamentos, contudo, o remédio espiritual, que deve ser tomado junto do físico, é um olhar para o alto, não para baixo.
      O que tem grandes fraquezas é convidado por Deus a ter grandes experiências espirituais com sua intimidade, assim quem é atraído a olhar demais para baixo, para o mundo, para os homens, que ouve demais “vozes” ruins, deve direcionar essa tendência para o alto, para ouvir a voz de Deus que sempre é boa, delicada, sábia, abençoadora, cheia de paz, e repito, ainda que se necessário for ter essa atitude espiritual junto de acompanhamento profissional médico para o corpo e mente. Isso é um trabalho de reabilitação de alma, agora aprendendo a sintoniza-la na frequência mais alta do voz do altíssimo, como trabalho isso não é fácil no início, mas é possível, e quando feito traz cura e transformação de vida. 
      Nesse processo de libertação, oração a sós no silêncio, aquietando corpo, alma e espírito, é fundamental. Repito novamente, se entrarmos numa experiência descontrolada de imaginar acusações o tempo todo, busquemos médicos e bons pastores, equilibrados e lúcidos, que nos deem tanto atenção em amor quanto orientação realmente de Deus. Mas depois disso devemos descansar, corpo e alma, como também o espírito, orando a Deus com calma, sem exageros, sem pesos, Deus sabe muito bem quando atingimos nossos limites e estamos enfermos, ele, mais que ninguém, é paciente e tem o jeito certo de nos recuperar para que sejamos nosso melhor nele. 

terça-feira, novembro 26, 2019

Santidade, uma questão de opção?

      “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.Marcos 14.38

      Enquanto queremos viver o cristianismo ou qualquer outra proposta de vida moral equilibrada com as próprias forças, ainda que bem intencionados, santidade é caminho impossível, pelo menos é impossível de ser mantida no tempo. Quando jovens e apaixonados, até podemos provar momentos de santidade vivenciados com as nossas forças, a paixão dá forças, mas não para sempre. Contudo, se formos sadios, já que os doentes podem se privar de excessos não por serem santos, mas por serem incapazes de viver a vida em sua plenitude, se formos normais, com o tempo, vícios da carne, principalmente os prazerosos, podem nos vencer. 
      Abrindo parênteses, tem muita gente doente achando que é santa, e muitos desses até se engajam em causas e sacerdócios religiosos, mas ainda que muitos na inocência, na boa intenção, na sinceridade benigna, não podem de fato serem exemplos de santidade escolhida, é gente que precisa de terapia, não de aprovação, e que infelizmente é usada e manipulada por muitos outros, fecho parênteses. 
      Contudo, numa vida de busca constante de Deus, de oração, de adoração, de escolhas certas de alianças e de lugares a se frequentar, depois de tudo isso, santidade pode ser uma opção, então, se de fato entendemos tudo o que o Espírito Santo está nos revelando nessa comunhão poderemos optar por sermos santos, não de acordo com legalismos religiosos e humanos, mas de acordo com a real vontade de Deus. Essa escolha, contudo, enquanto vivemos no corpo físico, encarnados, tem curta duração, não se faz opção por santidade uma vez na vida e conseguimos nos manter santos para sempre. Ela dura até nosso próximo período de oração e adoração a Deus, por isso esses períodos devem ser frequentes, diários pelos menos. 
      O versículo inicial, dito por não menos que Jesus, testemunhando que mesmo ele tinha que estar em frequente consagração para permanecer santo, define o ensino sobre santidade, nosso espírito num determinado momento entende que santidade é o melhor caminho e é possível, mas a carne não pode reter esse compromisso por muito tempo. Por isso temos que insistir sempre nesse ponto, busquemos a Deus, todos os dias, e por mais que a vida real seja difícil, não desistamos do padrão de santidade que Deus quer para nós.
      Mas por que santidade pode ser opção? Pode ser porque depois que fizermos nossa parte nos consagrando a Deus, o Espírito Santo nos dará forças, e Deus sempre, sempre dá forças aos que o buscam. Contudo, é logo após essa consagração que a santidade é possível mas é opção, porque se escolhermos teremos forças para dizer não ao pecado, todavia podemos não escolher, já que Deus nunca nos obriga a nada. Dessa forma, muitas vezes, mesmo depois de termos tido uma experiência maravilhosa com Deus, podemos, pouco depois, escolher o pecado, esse pecado é o mais amargo de todos, e que pode nos custar caro.
      O conselho: escolhamos ser santos, racionalmente, numa convicção que começa mental, para depois encher nossos corações de alegria, nossa alegria por saber que estamos optando pelo melhor caminho, alegria do Espírito Santo em nós, que nos revela que estamos fazendo a vontade do santíssimo Deus altíssimo.

segunda-feira, novembro 25, 2019

Não te deixes vencer do mal

      “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Romanos 12.19-21

      O mal nos vence quando retemos a injustiça, a ingratidão, a falsidade, o desprezo, e não anulamos tudo isso com misericórdia, com generosidade, com sinceridade benigna e com voluntariedade de amor, por estarmos vazios e famintos de virtudes. 
      O mal nos vence quando pesamos o passado pior por não ter um presente bom que ocupe nossas mentes e corações, quando vivemos de culpas antigas ou de ilusões ultrapassadas, ao invés de nós saciarmos com a realidade vitoriosa, com a verdade. 
      O mal nos vence quando nos viciamos em construir castelos de mentiras em nossas almas, por medo de olharmos de frente a casa em que habitamos, pequena, não tão luxuosa, mas o que conquistamos com a colheita justa de tudo o que plantamos na vida.
      O mal nos vence quando o acusador nos vence, quando a displicência e incredulidade dos outros no nosso melhor se torna maior que aquilo que Deus pensa de nós, fez por nós, quer para nós e já disse tantas e tantas vezes que cumpriria em nossos caminhos. 
      O mal nos vence quando o medo nos vence, medo que nos faz ver inimigos onde só existe gente como a gente, com inseguranças, com defeitos, com fraquezas, mas também com sonhos, com qualidades, com boas obras, o mal pode distorcer nossa visão. 
      O mal nos vence quando deixamos pecados se acumularem sem que os admitamos e nos apossemos de perdão, o mal nos vence quando trocamos a paz por um “prato de comida”, como fez Esaú, quando preferimos o passageiro no lugar do eterno.
      O mal nos vence quando tentamos viver o evangelho do nosso jeito, por não termos aceitados o jeito de Deus, por termos nos rebelado contra o Senhor, por termos insistido em seguirmos arrogantes e não termos nos quebrantado diante do pai.
      O mal nos vence quando olhamos para baixo e não para cima, quando permanecemos caídos e não nos levantamos, quando desistimos de tentar novamente e nos prendemos a homens, quando insistimos em andar sozinhos e deixamos de andar com o fiel amigo Jesus.

domingo, novembro 24, 2019

Quem pode dizer se somos bons cristãos?

      “Ao fim de doze meses, quando passeava no palácio real de Babilônia, Falou o rei, dizendo: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência? Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino. 
      E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. Na mesma hora se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pelo, como as penas da águia, e as suas unhas como as das aves.
      Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes? 
      No mesmo tempo tornou a mim o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e buscaram-me os meus conselheiros e os meus senhores; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada.” 
Daniel 4.29-36

      Esta reflexão não é um estudo bíblico, aliás, como ocorre aqui na maior parte das vezes, é uma crônica, não o esmiuçar de uma citação da Bíblia com detalhes técnicos. Vou dar só um resumo do texto inicial, ele é a conclusão de uma passagem da vida de um dos homens mais poderosos citados na Bíblia, que por ter feito grandes conquistas achou ser maior que Deus. Por causa disso Nabucodonosor teve, podemos dizer assim (numa interpretação atual), uma enfermidade psiquiátrica, causada com certeza por uma dureza espiritual de coração. 
      Essa terrível doença o levou a viver como um animal, dessa forma o homem que tinha tudo perdeu tudo incluindo o principal, sua dignidade como ser humano, mais ainda que como monarca. Não vemos nos textos bíblicos a mão de Deus sendo pesada de forma tão implacável sobre alguém, principalmente alguém do quilate de Nabucodonosor. Mas ele se arrependeu de sua arrogância, teve humildade, então, imediatamente (tanto quanto foi sua queda relatada e frisada em negrito), Deus o restaurou totalmente. 
      O que me chama atenção no texto é o termo altíssimo, de todos os adjetivos de Deus, o meu preferido, posição almejada por Nabucodonosor (e pelos diabos), mas que é exclusiva de Deus. Nessa posição não podemos estar, mas quando nos refugiamos em Deus temos um abrigo nessa medida, que nos dá tanto proteção como uma visão justa de nós mesmos, dos homens, da vida, dos seres espirituais e do Senhor. Quem pode dizer se somos bons cristãos? O Deus altíssimo pode. Mas vamos à crônica para os que têm ouvidos e olhos espirituais para ela. 

      Quem pode dizer se nossas vidas realmente são transformadas pelo evangelho que dizemos crer, quem pode dizer se de fato somos diferentes como cristãos, quem tem a visão mais limpa para falar se somos espirituais? Nós mesmos, os outros, Deus? Diz-se que se vê melhor do lado de fora e de longe, de perto perdemos referências e podemos nos enganar achando que é uma coisa quando é outra. De perto também nos envolvemos com o objeto analisado e não fazemos uma crítica isenta, só à distância adquirimos a frieza necessária para tecer uma avaliação justa. 
      Muitas vezes, tão envolvidos com nossos egos, com atividades de igreja, com a vida social de comunidades cristãs, podemos simplesmente concluir que somos bons cristãos. Outras vezes, fazendo sacrifícios físicos e emocionais, gastando muito tempo com estudo teológico, usando forças materiais, cansando o corpo e a alma, podemos achar que somos espirituais, que somos cristãos sérios e comprometidos com o evangelho. Líderes e pastores, de maneira geral, são os que mais podem se equivocar em avaliar suas vidas como de fato transformadas pelo cristianismo. 
      O fato é que quando se desce do “altar” (e o termo melhor e de fato técnico deveria ser palco, por mais que falsos espirituais achem isso um termo menor e mundano), quando se pisa o chão dos reles mortais, sem microfone na mão, máscaras caem. Alguns nem acham que precisam se relacionar com as pessoas, só com pares, ainda que jurem cristianismo nas pregações, revelam-se arrogantes e prepotentes no “chão de fábrica”. A verdade é que muita gente usa o púlpito e se fantasia de pregador só para compensar inseguranças e tentar convencer a si mesmos, nem aos outros, que são especiais. 
      Jesus, Jesus, e Jesus encarnado, como homem comum, humano, despido de todo super poder divino, ele é sempre o exemplo maior e melhor, sempre, e é isso que sempre me fará amar o evangelho e ver nele mais que mais uma religião. Jesus era o mesmo no “altar” e entre os “bancos”? Nem precisava ser, ele não subia em altares, no máximo usava um lugar mais alto só para ajudar na acústica e ter mais eficiência em seu ensino, mas Cristo nunca subia em palcos. A única vez que fez isso não foi para ser honrado, mas para ser sacrificado, subiu ao altar da cruz e se ofereceu em morte terrível para salvar a todos.
      Quem nos conhece de perto, como nossas famílias e nossos colegas de trabalho, pode dizer quem somos? Sim e não. Sim porque são os que convivem com nossas realidades mais reais, não com o palco de ilusão que são muitas igrejas e púlpitos. Mas não porque estão tão envolvidos com a gente que podem se enganar, principalmente se formos bons atores. O ponto desta reflexão é que precisamos sair de nós mesmos e nos olharmos de longe, compararmos teoria com prática, palavra com ação, intenção com atitude.
      Só saberemos se somos de fato o que gostaríamos de ser, ou o que queremos que os outros pensem que somos, se nos olharmos à distância, contudo, querer ser algo só para conseguir aprovação de homem é uma tarefa tão impossível quanto desnecessária. Lúcidos, despertos, sóbrios, eis o desafio, muitos contudo só trocam de fantasias, deixam sexo, drogas rock and roll, e outros vícios, e colocam no lugar religião, trabalhos comunitários e engajamento social. Muitos só trocam de carcereiros, saem debaixo de traficantes e se colocam sob pastores hereges. 
      Mas pode-se argumentar, “mas é melhor que ajudar o próximo que perder-se em vícios”, sim, para o próximo é, mas não para quem quer ajudar o próximo com os meios errados, os fins não justificam os meios, não no verdadeiro evangelho. Quem usa os meios errados um dia será desmascarado, não conseguirá manter o personagem para sempre, tropeçará nas próprias pernas, ídolos não dão forças, nem pra fazer as coisas boas, e sendo vício um exagero carnal, ajudar o próximo de forma obsessiva é tão vício quanto beber cachaça. 
      O viciado, ainda que em algo aparentemente bom, não tem lucidez, assim facilmente será enganado é manipulado, se quer entender isso melhor veja o que acontece com muitos engajados politicamente, ainda que se iniciem numa causa para ajudar a sociedade, crendo que defendem uma bandeira que é a escolha melhor para um grupo social, uma cidade, uma nação, com o tempo tornam-se recrutas cegos e passivos que obedecem cegamente mesmo a líderes corruptos e inescrupuloso. Isso acontece em partidos políticos de trabalhadores honestos tanto quanto em igrejas cristãs de crentes sinceros. 
      Conheço bem os dois lados, fui arrogante em “altares” e invejoso nos bancos de igreja, ainda estou aprendendo o difícil caminho do equilíbrio, mas sei que todos nós temos a tendência de romantizar nossas histórias, de contá-las às pessoas nos colocando sempre como heróis ou vítimas, nunca como bandidos ou agressores. Novamente exalto a verdade dos textos bíblicos que sempre mostram os personagens por inteiro, suas vitórias e virtudes assim como suas quedas e pecados. A Bíblia nos dá uma visão isenta porque vê de longe, são homens escrevendo mas sob quais olhos? O olhos do Espírito Santo do altíssimo Deus. 
      Para concluir retorno ao texto inicial, ver-se equivocadamente pode levar à loucura, que antes passa pela arrogância de se achar muito espiritual, quer um conselho? Não almeje alturas, mesmo que tema a Deus e queira ser parecido com Jesus, na verdade o altíssimo se conhece na simplicidade de pés que tocam o chão, ainda que caminhando para frente sigam devagar. Eu já almejei grandes coisas, e nem digo que eram ilegítimas, eu tinha e tenho capacidades para exercê-las. Mas será que isso me levaria para mais perto de Deus, mesmo que seja almejando ser servo de Deus? Algumas coisas podemos fazer, mas é melhor nem fazer, para não perder a paz e a posição de pequenino que o altíssimo abriga sob suas asas. 

sábado, novembro 23, 2019

Quem pode se proteger da morte?

      “E andou Enoque com Deus, e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.Gênesis 5.24

      Você pode não gostar do Gugu Liberato, dos programas que ele fez, do estilo dele, mas uma coisa todos temos que admitir, ele foi importante na TV brasileira, foi muito importante na cultura do povo brasileiro, fez parte do entretenimento televisivo de muita gente, está em nossas memórias, e sempre como um símbolo de alegria. Era uma pessoa carismática, dessas que as câmeras amam, que brilham na tela, era amado e respeitado por muitos e sempre nos passou a imagem de alguém carinhoso, delicado, gentil. Você, crente, não seja preconceituoso, medindo o trabalho desse homem como de mau gosto, como indecente em alguns momentos, saiba que ele reflete a realidade de uma parte majoritária da população brasileira, e ele não ganhou tudo que ganhou sem motivos legítimos. Gugu Liberato mereceu tudo que teve em quase quarenta anos de trabalho na TV, tudo, o universo é sempre justo. 
      Aos 60 anos, depois de décadas de uma carreira vitoriosa no SBT, ele tinha um programa na Record, mas morava nos E.U.A., com os três filhos e a mãe de seus filhos, podemos dizer que já estava usufruindo de tudo o que plantou, morando numa casa nova, e com certeza nem precisaria mais trabalhar para o resto da vida. Então, numa quarta-feira, dia 20 de novembro de 2019, querendo consertar um ar condicionado, subiu ao sótão sem saber que o chão não poderia suportar o peso, caiu de uma altura de quase quatro metros e bateu a cabeça num móvel. Foi levado ao hospital e depois de 48 horas, na sexta-feira, dia 22, sua morte cerebral foi anunciada. Rápido demais? Fora do tempo demais? Estúpido demais? Mas a morte veio, e mesmo ele, com toda a fama, poder aquisitivo, com toda a segurança que buscava no estado da Flórida nos Estados Unidos, não pode se proteger dela, não pode prevê-la. 
      Por quê essa morte me tocou tanto? Porque de alguém que já está bem velho, doente, ou que até tem uma personalidade mais sombria, mais fechada, ou uma atividade mais escondida, nem notamos muito quando se vai, ainda que toda morte seu doída para alguém. Mas o Gugu era todo luz, todo vida, todo sorriso, todo energia, jovial ainda que sexagenário, desses que nos parece que nunca vai partir desse plano, e de repente, de um jeito estúpido, repito, num acidente doméstico, longe do trânsito das ruas, fora de aviões que sempre nos parecem estarem se movendo em espaço que não lhes pertence, ainda que quedas de avisões sejam estatisticamente menores, longe da criminalidade das cidades brasileiras, das guerras civis ou não, onde tanto risco se corre, de repente ele cai, sozinho, e se acidenta de um jeito irreversível. Tantos se expondo de maneiras perigosas escapam da morte, Gugu não escapou.
      Nesses momentos nós pensamos sempre a mesma coisa, eu preciso dar mais valor à vida, preciso me cuidar mais, mas também não deixamos de repensar o óbvio, a única verdade inexorável da vida: ela é curta e ninguém escapa da morte. Eu penso que morte se constrói, durante toda a vida, cada escolha, cada atitude, cada palavra, cada amor e cada ódio, cada sonho e cada desilusão, coloca um pedaço numa porta chamada morte. A morte não se adquire por inteira e de uma só vez, mas aos poucos, ocorre que quando ela está pronta ela se abre, bem a nossa frente, seja lá onde estivermos, sem que tenhamos chance de fechá-la. Quanto tempo levamos para construir essa porta? Isso varia, de pessoa para pessoa, depende de todas as coisas que fizemos durante toda a nossa vida. Algumas mortes nos parecem pegar de surpresa? Pois a Deus não pega, quando ela vem é porque ela é necessária.
      A verdade é que somos escravos do tempo, ou daquilo que achamos que ele é, mas o tempo de Deus é diferente, aliás Deus não tem tempo, pra ele é sempre presente, pois ele não envelhece nem planta para colher depois. Viver bem cada momento, cada instante como se fosse o último? Não se culpar pelo passado, nem se preocupar com o futuro? Isso tudo até pode ser sábio, mas ainda é se ocupar do tempo, o melhor é se ligar ao Senhor de tudo, até do tempo. Ligado em Deus nada nos pega de surpresa e o Senhor sempre nos dirá o que fazer para viver bem cada momento e não ter uma partida desse plano estúpida. Deus sabe de cada um, conhece lá no fundo o coração de todo ser humano, conhece a verdade, o que somos de fato, nossas prioridades. Deus sabe se nossos corações amam aquilo que de fato importa nessa existência e que nos preparará para o melhor, e não para o pior, da eternidade.
      Quem pode se proteger da morte? Ninguém, nem o pobre, nem o rico, nem o famoso, nem o desconhecido, nem o erudito, nem o desinformado, mas todos, todos nós podemos nos aproximar de Deus, a tempo. A maior prova de amor de Deus para conosco é que ele compartilha a eternidade e a espiritualidade mais alta conosco, reles mortais, se nós quisermos, se nós buscarmos, se nós permitirmos. Mas será que somos nós de fato que fazemos alguma coisa, que recebemos algo por algum mérito? Eu penso que não, penso que tudo parte e se encerra em Deus para depois nascer de novo de um modo fantasticamente superior e inédito, que nós nem podemos imaginar. Por algum motivo, que é preciso que seja mistério para todos nós nesse tempo, temos um destino para amarmos (ou não) a Deus, esse entendimento não é para todos, os que amam a Deus, contudo, sabem que amam porque Deus os amou primeiro. 
      A morte nos coloca em contato direto, sem a fumaça da existência encarnada, com esse mistério, que se inicia antes de tudo com algo absolutamente novo. Ainda que autores bíblicos falem de céu e inferno, de paraíso e perdição, tentando comparar valores espirituais com referências materiais, ainda assim nós não podemos fazer ideia do que é a morte e do que encontraremos depois, tanto perto quanto longe de Deu (se é que é possível estar longe do amor de Deus para sempre, talvez só longe de se deixar ser amado...). Deus não se afasta de ninguém, são as pessoas que se afastam dele, e se isso for feito de maneira muito decisiva não só levaremos isso para a existência pós-morte mas também apresaremos a morte. Por quê? Porque para que deve existir vida se não for para andar com Deus? Contudo, os que andam muito com Deus, como Enoque, nem a morte provam. 
      Se o Gugu Liberato está perto ou longe de Deus agora em sua existência puramente espiritual só Deus sabe. O que podemos fazer neste momento é com relação aos vivos na carne, isso nos é autorizado, comunicação de vivos com vivos e todos com Deus através de Cristo. Assim, sejamos sensíveis à vida, às experiência dos outros, aprender com erros alheios nos protege de termos que aprender com os nossos próprios, que dói muito mais. Mas tenhamos humildade para assumir nossos erros, nos arrependermos, pedirmos perdão e desejarmos seguir sem cometê-los de novo. Tenhamos coragem de fazer as melhores escolhas, e as melhores escolhas é sermos fiéis com as alianças que fazemos. Não percamos a esperança em Deus, não desistamos de Deus, e se o buscarmos no Espírito Santo sempre acharemos forças para crer e adorar a Deus. Quem vive certo, em nome de Jesus, terá uma boa morte, eu creio. 

sexta-feira, novembro 22, 2019

Às vezes ninguém precisa saber...

      Em quarenta e três anos de conversão oficial ao cristianismo, iniciando com batismo numa igreja Batista tradicional (CBB) em 1976, Deus me levou, por motivos de estudo e de trabalho, a morar em muitas cidades. Com as cidades as igrejas também mudaram, e ainda que tenha sido membro por quatorze anos seguidos de igreja protestante tradicional, fui membro e trabalhei bastante em igrejas pentecostais. Nunca fui membro de banco, como se diz, sempre trabalhei e bastante, principalmente nos ministérios de música e oração, aliás, apesar de ter a música no sangue, tenho a oração no coração e por ela abriria mão mesmo da música.
    O que aprendi é que existem vantagens e desvantagens nas duas linhas, os que deixam os dons espirituais em segundo plano, priorizam um estudo bíblico sério e profundo. Por outro lado os pentecostais têm experiências com a intimidade espiritual de Deus de maneira mais explícita e assumida, ainda que possam se perder nas heresias e emocionalismo, à medida que fogem de uma leitura mais profunda da palavra escrita. Encontrei muito zelo pela palavra nas protestantes tradicionais, mas um temor a Deus e uma adoração libertadora e curativa nas evangélicas pentecostais. 
      Essas definições, contudo, são coisas que estão ficando meio ultrapassadas, atualmente tudo parece caminhar para uma mesma coisa, uma mistura de um pouco de tudo, à medida que a população do mundo aumenta assim como o número de igrejas e denominações. Mas saudosismo à parte, isso não importa, Deus sempre foi Deus e o homem sempre foi homem, assim, como já tenho dito tantas vezes aqui, religiões são coisas de homens querendo buscar a Deus às suas maneiras, mais ou menos distantes da verdadeira maneira de Deus. Minhas escolhas me levaram, graças a Deus, a confiar mais em Deus que nos homens.
      O ponto desta reflexão é o seguinte: tive muitas experiências com dons espirituais, com profecias, com visões, com sonhos, contudo, aprendi, e deixo bem claro que essa é a minha experiência pessoal, não estou dizendo que deve ser assim para todos, enfim, aprendi algo não tão óbvio com essas experiências. Aprendi que ainda que Deus me revelasse coisas sobre outras pessoas não era para que eu procurasse essas pessoas e entregasse a elas a revelações, era para eu guardar para mim e compartilhasse no máximo com esposa, ou ainda que com outros, não para que a palavra fizesse alguma mudança rápida e precisa de percurso. 
       Por que então Deus me mostrou algo se não era para corrigir imediatamente o caminho de alguém? Simplesmente para me consolar, e é claro, também para interceder pela pessoa sobre a qual algo me foi revelado, em outras palavras com a revelação o Senhor estava me dizendo: “eu sou real, eu sou Deus vivo, sei de tudo, nada me passa desapercebido e nada me pega de surpresa, e por amor eu revelo o escondido aos meus amigos íntimos, que se dão ao trabalho de me buscar com todo o coração, revelo para que eles sejam testemunhas do meu agir e me adorem por isso”. 
     Não, não era para eu sair como profeta clichesado do antigo testamento, confusão que tantos fazem hoje em dia, exortando todo mundo, glorificando mais ao profeta que a Deus, mas era apenas para eu ficar feliz por ter um Deus vivo e poderoso como um amigo íntimo que confia em mim de tal maneira que até os mistérios de outros me revela. Por outro lado as pessoas são céticas, mesmo líderes, muitos não aceitam que outros tenham experiências com Deus que não sejam eles mesmos, essa é uma verdade na prática, ainda que na teoria muitos pastores digam que não.
      É preciso vencer vaidades para saber algo sério e em primeira mão de Deus e ainda assim se calar e guardar no coração, e eu confesso que até hoje sou vencido pela vaidade muitas vezes. Isso é até justificável, a experiência de receber uma revelação de Deus, seja da maneira que for, é impactante, nos marca emocionalmente, nos enche de temor ainda que de maneira muito prazeirosa. Assim, a revelação verdadeira de Deus abençoa o profeta, alimenta-o, fortalece-o, de maneira que ele não precisará buscar forças ou aprovação de homens.
      Basta que o profeta guarde com muito cuidado o conhecimento que recebeu no coração, sem fazer alarde, essa experiência nos amadurece, e nos ensina humildade. Se Deus a dá é porque ele sabe que o profeta tem espiritualidade para administrá-la do jeito correto, bem, se não tiver pagará um preço por isso, entregar pérolas aos porcos, isso alimenta porcos mas enfraquece o que entregou. Como eu disse, essa é minha experiência, mas avalie as tuas experiências, será que Deus não está te consolando à medida que confia em você para te dar revelações, mistérios que ninguém mais precisa saber?

      “Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve. E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.II Coríntios 12.6-7 (Longe, mas muito, muito longe de mim me comparar ainda que de longe a Paulo, contudo, o texto do capítulo 12 de II Coríntios explica muito bem este assunto).

quinta-feira, novembro 21, 2019

Balancete

      “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos, Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento.” Mateus 10.7-10

      Você já fez um balancete geral de sua vida? Bem, ele funciona assim. Quando damos se exigir nada em troca criamos créditos, quando exigimos sem dar nada em troca criamos débitos para nós e damos créditos aos outros. O universo é sempre justo, mesmo que às vezes a vida não pareça ser, se temos créditos em haver, um dia receberemos, ainda que sem nada fazer, por outro lado se temos débitos, poderemos ser cobrados de uma maneira ou de outra em algum momento.
      Ter saldo zero é dever de todos os justos, ter saldo positivo é escolha dos misericordiosos, saldo negativo é herança dos injustos e egoístas, que só pensaram neles mesmos, que nunca deram sem exigir algo em troca ou que mesmo quando receberam, pagaram para não terem o orgulho ferido. Receber sem fazer quando de fato não se pode, é graça que Deus dá aos humildes, receber sem fazer quando se pode fazer, é entrar em dívida com o universo, não com Deus, nem com os homens. 
      Por que uso o termo universo, não Deus? Porque o universo tem leis estabelecidas por Deus para todos os homens, contudo, em Cristo, até as leis do universo podem ser aparentemente modificado para abençoar os filhos de Deus. Quanto aos que são só criaturas de Deus, esses estão debaixo só das leis imutáveis do universo, que neste plano podem até permitir saldos positivos, mas que são diferentes no outro plano. Na eternidade só o sangue de Jesus para zerar nosso saldo.

      O texto inicial fala de cristãos desempenhando chamada evangelística, o desprendimento que eles devem ter com bens materiais e o direito que têm de receber seu sustento por estarem cumprindo essa chamada. O texto fala de uma situação especial, a maioria de nós não vive em tempo integral pregando o evangelho. Mas será que é isso mesmo? Eu penso que nos dias atuais termos trabalhos seculares e nessa realidade testemunharmos de Deus em nossas vidas, é o tipo mais eficiente de evangelismo. 
      Os dias são outros, o mundo é maior, a quantidade de gente é muitíssimo maior, por outro lado quase todo mundo já conhece um pouco do cristianismo, não é como era há centenas de anos atrás quando o paganismo greco-romano imperava no mundo ocidental. Hoje todos temos que trabalhar secularmente e muito para termos vidas dignas, e eu penso que em muitos casos não se justifica gente trabalhando na obra em tempo integral sendo sustentado por outros, essa é pelo menos minha opinião.
      Por outro lado, quem é mais capaz de testemunhar para um pedreiro que um pedreiro? Para um engenheiro que um engenheiro? Cada profissional conhece melhor sua realidade. O texto inicial, contudo, cita uma frase que foi o que me chamou a atenção para a reflexo sobre balancete de vida, “de graça recebestes, de graça dai”, isso nos ensina algo muito profundo sobre dar e receber. Na verdade se damos em Deus, não cobramos de ninguém, pois damos o que não é nosso, sobre o qual nada nos foi cobrado.
      Mas o texto inicial também cita a frase “porque digno é o operário do seu alimento”, podemos entender que se alguém está de fato fazendo a vontade de Deus, seja ela qual for, e independente do que os homens pensem ou vejam, ele será alimentado por Deus, de um jeito ou de outro, e isso é justo. Assim, tenhamos cuidado, não julguemos servo alheio, Deus sabe o que faz com cada um que o busca e o obedece, quem somos nós para julgar saldo alheio como positivo, zerado ou negativo? 

quarta-feira, novembro 20, 2019

A Bíblia não se contradiz

      “Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.Mateus 12.8
      “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.Mateus 5.17

      Esses textos, ambos ditos por Jesus, parecem oporem-se, e antes de começar a reflexão é preciso dizer algo. Muitas vezes ensinamentos sobres as mesmas coisas parecem dar orientações diferentes em passagens bíblicas distintas, esse é um dos motivos porque a Bíblia não deve ser interpretada ao pé da letra. A Bíblia se contradiz? De forma alguma, e entenderemos isso se a lermos debaixo da clareza do vivo Espírito Santo. Eu, particularmente, amo quando a Bíblia mostra essas discrepâncias aparentes, isso faz com que os religiosos saiam de suas zonas de conforto e busquem numa mente esclarecida por Deus em oração, não só numa leitura ociosa e rasa, a maneira correta de entender e praticar a Bíblia, mas vamos à reflexão.
      No primeiro versículo Jesus responde aos religiosos da época que o estavam criticando porque seus discípulos colheram, num dia de sábado, espigas de milho para saciar a fome, sendo sábado um dia proibido pela religião dos fariseus para se realizar qualquer trabalho. Na mesma passagem Jesus cura um homem com a mão mirrada também no sábado, o que despertou a ira dos fariseus. Jesus ensina nesses casos que é a lei para o homem, não o homem para a lei, que a lei foi dada por Deus para que o homem fosse abençoado, cuidado, por ela, não para que fosse obedecida cegamente ainda que o próprio homem fosse prejudicado, esquecido. Jesus deixa claro que o bem deve ser feito, ele tem prioridade, mesmo aos sábados (Mateus 12.12).
      É terrível quando algumas vezes o maior inimigo do justo não é o mundo, não é a carne e seus vícios, não é o homem incrédulo e cruel, mas são aqueles que se dizem religiosos, e mais que isso, líderes religiosos, conhecedores profundos da doutrina (doutrina e palavra de Deus são as mesmas coisas? Nem sempre). Tais religiosos tentam acusar o justo, baseados não em seus corações invejosos, isso ao menos seria mais honesto, mas no que eles pensam ser a vontade de Deus, algo covarde e absolutamente sem temor a Deus, pois agindo assim eles pensam que podem usar Deus e sua palavra para cumprirem seus propósitos egoístas e malévolos. Nestes tempos finais, o maior inimigo dos que seguem a Jesus são os religiosos que seguem homens, cumpri-se a palavra que diz que não é o servo maior que seu senhor, a perseguição que Jesus teve, terão seus fiéis seguidores também (João 15.20).
      No segundo texto o contexto é outro, aqui Jesus não fala sobre fazer o bem, mas sobre a importância de seu ministério, do valor da nova aliança, muito mais eficiente que a velha aliança. Eis um ensinamento seríssimo, uma palavra dura, pois Cristo diz que obedecer o evangelho é obedecer toda a lei, mas quem é espiritual o suficiente para isso? Não façamos, todavia, uma interpretação distorcida, não é para sairmos obedecendo toda a lei e mandamentos do antigo testamento, guardar sábados etc, pensando que isso é ordem de Jesus, o raciocínio é inverso. Se obedecermos o evangelho, e isso é feito seguindo o Espírito Santo, interpretando de forma correta o novo testamento, se isso for feito, naturalmente toda a lei será obedecida. Por quê? Porque Jesus é maior que Moisés e o evangelho é superior à lei. 
      A verdade é que o cristianismo de Cristo, não da igreja Católica, dos protestantes e dos evangélicos, é muito mais que obedecer uma coleção de regras morais e espirituais, fazer isso é ser religioso como os fariseus, não seguir a voz do Espírito Santo que habita os novos nascidos. Como se vive o evangelho? Vivendo com Jesus, dia a dia, conversando com Deus, perguntando, respondendo, falando e ouvindo, numa relação viva de questionamentos e descobertas. Quem quer preguiça espiritual não viverá o cristianismo real, só mais uma religião. A Bíblia não se contradiz, assim como pode orientar homens de todos os lugares, tempos e culturas, mas só se for seguida debaixo da voz do Espírito Santo, caso contrário seremos apenas fariseus que fatalmente, em algum momento, perseguirão os realmente justos. 

terça-feira, novembro 19, 2019

Esperar para esperar

      “Esperei com paciência no Senhor e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.Salmos 40.1

      Quando somos jovens não queremos esperar, queremos algo e queremos receber imediatamente. Depois, quando começamos a amadurecer, aceitamos que temos que esperar, ao menos um pouco, para receber algo. À medida que o tempo passa aprendemos que temos que esperar muito para receber as melhores coisas. Contudo, no final do amadurecimento, entendemos que a vida não são momentos de recebimentos de coisas, intercalados por tempos de espera, a vida é toda um único tempo de espera. É isso porque vemos que a melhor coisa não receberemos neste mundo, mas só no outro, isso para muitos é o final do crescimento, muitos param aí, e muitos, ainda que não assumindo, ficam amargos por causa disso.
      Todavia, quando não sofremos mais com a espera, quando parece até que desistimos de esperar, mas sem amargura por isso, quando andamos pelo caminho da humildade e deixamos de ser crianças mimadas, ainda que disfarçadas de adultos, que só querem receber o que pedem, ganhamos então o melhor dos conhecimentos. Aquilo que tanto precisamos, o que de melhor temos para receber e que podemos pedir, nós já recebemos, totalmente de Deus em Jesus, recebemos lá no início de nossa caminhada com o Senhor, e já podemos desfrutar aqui mesmo, neste mundo. Que bem tão precioso é esse, que supera a tudo? É a paz, com Deus, que permite que tenhamos paz com nós mesmos, para enfim termos paz com todos os homens. 
      Quem tem paz com Deus não precisa esperar, não anda ansioso para receber coisas, pois sabe que já tem tudo em Deus. Isso não nos faz passivos ou ociosos, mas fortes, para lutarmos, trabalharmos, agradarmos a Deus, amarmos os homens, e deixarmos que o caráter de Cristo brilhe em nós. Em paz temos calma, somos tranquilos, não atraímos enfermidades, sejam físicas ou emocionais, e nos tornamos pessoas realmente de bem. Em paz temos um escudo espiritual impenetrável que nos protege das setas dos acusadores, sejam homens invejosos ou diabos ardilosos, em paz somos invencíveis porque não lutamos, deixamos que Deus lute por nós. Em paz somos a melhor versão de nós mesmos. 

segunda-feira, novembro 18, 2019

Provérbios 3.5

      “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” Provérbios 3.5 

      Nós somos escravos acima de tudo de nós mesmos. De nossos corações, de nossas paixões, de nossos sentimentos sempre obsessivos por prazeres? Sim, mas também de nossos pensamentos, nossos raciocínios, o entendimento que temos das coisas, onde estabelecemos medidas para que possamos ter controle. Essas construções intelectuais complexas podem ser baseadas em muitas referências, inclusive em muitas que parecem agradáveis a Deus, construídas de passagens bíblicas, de interpretações religiosas que adquirimos e que pensamos serem o raciocínio de Deus. Contudo, quantas vezes estamos enganados, pensamos e pensamos, entendemos, avaliamos, e ainda assim, depois de todo esse trabalho mental, é apenas o nosso jeito de ver as coisas, o jeito do homem, não de Deus. 
      O segredo para entendermos o texto inicial está na palavra “estribes”, estribar significa, “firmar(-se), sustentar(-se) em estribos, um pé de cada vez, apoiar (algo) sobre, assentar(-se)”. Mas quando vejo essa palavra me lembro mais de estribo, que é uma “espécie de aro de metal, madeira ou sola que pende de cada lado da sela e é usada como ponto de apoio para o pé do cavaleiro, degrau que serve de apoio para o embarque e/ou desembarque de passageiros em veículos como carro, trem etc”. Enfim, “não te estribes no teu próprio entendimento” significa não te apoies no teu pensamento, nos teus raciocínios, nas tuas conclusões mentais. Ao invés disso, “confia no Senhor de todo o teu coração”, vemos que o centro das emoções se opõe ao centro dos pensamentos, coração e mente se opondo. 
      Como dito no início, o homem pode se enganar tanto nas emoções quanto nos pensamentos, contudo, se na mente é preciso entender, no coração basta sentir, mesmo sem saber. Fé é mente ou é coração? É mente porque se decide acreditar mesmo com as emoções dizendo o contrário, fé se decide independente de qualquer coisa, como escolha, e nos mantemos nela, ainda que tudo que vemos e entendemos diga que não, que não vai dar certo, que é impossível. Mas a fé nos leva a uma experiência emocional, passional, a ter uma boa expectativa, um sentimento forte que nos dá forças para crer, experiência que vai muito, mas muito além do entendimento. Cremos porque decidimos crer, mas continuamos crendo porque sentimos que isso é bom e nos dará um retorno grandioso. 
      Não tenho nenhuma pretensão de definir fé e todo o seu processo, fé não se define, se for definida não será mais fé, mas entendimento, e se sabemos não precisamos crer. O que sabemos é que quando cremos no Deus absoluto experimentamos algo único que nos coloca em contato com o mundo eterno, invisível e fantástico do sobrenatural, um mundo onde leis naturais não funcionam. Por outro lado tudo se torna natural para os que andam com Deus, mundo material e espiritual entram numa harmonia onde o impossível é possível, onde se vê o que ainda não foi fisicamente manifestado, mas só entende isso quem tem uma experiência real de fé com o verdadeiro Deus. O texto inicial apenas nos aconselha a confiarmos no Senhor com convicção, e não nos perdermos no que sabemos ou que achamos que sabemos.
      Por que isso? Porque uma experiência de fé em Deus sempre nos surpreende, vai muito além do nosso entendimento e toca nossos sentimentos de maneira especial. Essa é a aventura única que o evangelho nos oferece, por isso ele é exclusivo, mais que qualquer religião, esoterismo ou espiritualismo, a orientação do texto inicial é: pare de pensar e creia, simples assim. Nesse mundo atual tão materialista e racional, onde a ciência é uma religião, e é bom que seja assim, precisamos aprender não a demonizar a ciência, mas sabermos o momento certo de a deixarmos de lado e simplesmente crermos. Deus surpreende os que creem com inteligência, os que amam com sabedoria, os que adoram com frutos de justiça, os que se deixam levar pelo vento do Espírito Santo e voam nas asas da fé. Fé genuína no Deus verdadeiro nunca decepciona. 

domingo, novembro 17, 2019

“É cedo ou tarde demais” ?

      “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.” Isaías 54.4

      Quem reconhece a tempo o momento que está vivendo? Quem sabe quando é cedo demais ou quando é tarde demais? Somos seres mortais querendo ser imortais, assim nos iludimos e tentamos nos esquecer do tempo. A verdade é que somos ambos simultaneamente, matéria finita e espírito infinito, e é exatamente esse antagonismo que cria em nós tantas batalhas, tantas incoerências, tantos questionamentos.
      Vergonha e opróbio (humilhação), existe desonra nos dois tempos, na mocidade e na velhice, mas enquanto em uma existe na busca de companhia na outra existe na solidão (viuvez). Querendo satisfazer o desejo, não escolhemos certo na juventude, estamos cegos e nos falta responsabilidade, contudo, no final da vida, contemplamos nosso intrínseca solidão, a viuvez não necessariamente de corpo, mas de alma. 
      Desonra pelo que se fez sem saber crendo na mentira ou por descobrir a verdade de todos nós? A vida nos confronta com a culpa, pelo menos confronta os com alguma lucidez e sanidade. Os loucos e doentes não sentem culpa, não têm vergonha, esses tentam viver na carne uma existência sem tempo. Os que têm os olhos abertos, contudo, conhecem que são pecadores e que o tempo passa e não volta. 
      Mas quem sabe quando está amando alguém de maneira única e que por isso deveria estar focado no amor ao invés de preocupado com bobagens irremediáveis? Por outro lado quem foge a tempo de uma armadilha, dessas que o mundo e o inimigo armam para prender a almas novas e incautas que buscam obsessivamente saciar seus instintos muitas vezes absolutamente desenfreados? 
      O tempo que a gente sente não é o tempo, é só o que a gente sente, uma hora pode parecer um dia e um dia, só uma hora. Outras vezes, contudo, o tempo para, de tão intenso que é o sentimento, seja ruim ou bom. Em nossas mentes, então, o tempo é transformado, nas lembranças alguns momentos nos marcam para sempre e de outros nos esquecemos, ainda que tenham sido importantes para outras pessoas. 
      A falta de noção do tempo é cruel, não damos importância a algo bom e exclusivo que não se repetirá e damos importância a coisas que não podemos mudar ou delas escapar, e que justamente por serem comuns e inevitáveis não deveriam ter relevância. A imortalidade de nossos espíritos pode nos conduzir tanto pelos piores caminhos quanto pelo melhor, a salvação eterna que existe só em Cristo. 
      Andar com o Deus eterno é consolo e esperança, seja qual for o tempo, só o Espírito Santo para nos fazer esquecer o passado da mocidade e aguardar uma novidade incrível ainda que na velhice. “É cedo ou tarde demais” ? (Como diz a canção). É tempo de Deus, e com Deus é sempre presente, Deus não envelhece, e ainda que nossos corpos se enfraqueçam, nossos espíritos acham renovação e alegria nele.