quinta-feira, outubro 28, 2021

Judas e Pedro, inícios iguais, fins diferentes (28/31)

      “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.” 
Lucas 6.45
 
      Judas Iscariotes é um exemplo bíblico de quem milita por si mesmo, para ganhar algum dinheiro ele achou meio e incentivo nas intenções maliciosas de líderes religiosos judeus que tinham o objetivo de calar a militância do Cristo. Quando alguém tem os motivos errados sempre acha simpatizantes, que podem ter intenções muito piores que o usam como fantoche, Judas militou covardemente e só alcançou seu objetivo escondido no meio dos oficiais mandados para prender o salvador. Mas ele já tinha interesse em fazer parte de algo maior quando se tornou um dos doze apóstolos, ser do grupo seleto de discípulos de um mestre que se colocava contra a religião vigente revela sua face militante. Sua intenção desde o início era trair Jesus? Talvez não, e quando resolveu fazê-lo podia pensar que Jesus não saberia, mas Jesus sabia e penso que esperou até o fim que Judas mudasse de atitude, não consigo aceitar que o Cristo passivamente aguardasse que Iscariotes irrevogavelmente o traísse, o amor de Deus não funciona assim.
      Sob alguns aspectos Pedro era parecido com Judas, um deles era a necessidade de militar, o outro aspecto era uma agressividade não resolvida no coração. Contudo, enquanto Judas resolveu isso da pior maneira, entregando à morte aquele que talvez revelasse a ele seu lado pior e que ele não queria aceitar, Pedro tentou fazer justiça com as próprias mãos agredindo um daqueles que tentava prender o líder no qual acreditava. Ambos eram militantes, homens que não querem ser só mais um, mas que tomam partido e lutam por uma causa, ainda que por motivos e para fins distintos, ambos tiveram experiências ruins que revelaram o entendimento equivocado que tinham de suas ideologias. O final de Judas foi pior, o suicídio, proporcional a seu erro, o de Pedro foi parte do plano de Deus para discipliná-lo e melhorá-lo, mas foi amargo, negou por três vezes o Cristo que disse que seguiria até à morte.
      “Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Atos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações” (Fonte), eis outra semelhança entre Pedro e Judas Iscariotes? Pode ser. Todas as militâncias são provadas e só prevalecerão se forem aprovadas, assim, cuidado com o começo de certas lutas, um homem apaixonado munido de uma causa que parece legítima pode brilhar de maneira convincente. Contudo, é preciso mais que uma causa certa, é preciso lutar por ela com as ferramentas corretas e não ser seduzido por trocas que o mal possa apresentar. 
      O comunismo parecia uma causa boa, que tiraria o povo russo do despotismo do império Romanov que beneficiava alguns e fazia muitos sucumbirem na miséria. Contudo, milhões foram assassinados pelos bolcheviques e pelo partido comunista, para se impor uma causa. Será que se não fosse desse jeito o comunismo teria resistido por tanto tempo na União Soviética? Militância que vence pela violência não tem fundamento moral elevado, como tal só continuará existindo com mais violência, nunca tendo apoio de homens de bem e de Deus, é assim na China e na Coréia do Norte até hoje. Algumas militâncias são pesadas, podem sangrar as mãos enquanto são conduzidas, e colocá-las no cano de uma metralhadora pode torná-las aparentemente mais leves, mas aí serão só álibis para matar e destruir, tornando militantes originalmente vítimas que reagem a injustiças em agressores cruéis. Quem diz que décadas depois os que foram originalmente vítimas não se tornarão opressores piores que seus opressores originais? Quando algo começa com violência será mantido assim e assim existirá até o fim, não nos enganemos.  
      O final de Pedro foi dar a vida pela causa em que acreditou, mas antes ele cumpriu sua missão, pregou o evangelho de Cristo no mundo em que viveu, deixou frutos que atravessaram os séculos e que abençoaram milhões. “A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reforma, teólogos e historiadores protestantes afirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen. Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia. Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma. Sua vida continua sendo objeto de análise, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.” (Fonte). 

      “Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.

João 18.3-5
      “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.

Mateus 27.3-5
      “Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu? Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” “E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote. E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro. Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.

João 18.10-12, 15-17
      “Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.” “E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas

Atos 2.14, 40-41

Está é a 28ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, outubro 27, 2021

Jonas, profeta sem amor? (27/31)

      Jonas é o exemplo de um homem que recebeu de Deus uma causa para militar, mas que teimou em não aceitar. Qual o motivo principal que o levou a desobedecer a Deus? Muitos acham legitimidade em qualquer coisa, se empoderam e partem para a luta, mas justamente alguém, que tinha Deus ao seu lado, fugiu da luta, por quê? 

      “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.” Jonas 1.1-3

      O barco, fuga para dentro do mundo. 
      Um homem que foge de Deus pode equivocadamente procurar esconder-se em dois lugares, o primeiro deles é o mundo, o barco simboliza isso. O mundo é como as águas do mar, muitas possibilidades são apresentadas, simulando a liberdade que só existe na água viva do Espírito Santo, mas diferentemente do Espírito, que nos faz voar e subir, para mais perto da vida eterna, o mar do mundo é traiçoeiro, em algum momento nos submergirá, conduzindo-nos à morte. 
      Seremos lançados para as profundezas, traídos por aqueles falsos companheiros de viagem, maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17.5b), enquanto o homem ganha alguma coisa conosco, pode até dizer que é nosso amigo, mas quando o perigo se aproximar, ele nos lançará ao mar, para salvar a si mesmo. Pior ainda se aquele que foge no mundo dos homens for um chamado rebelde de Deus, por esse, menos respeito ainda terão aqueles que sempre caminharam longe do Senhor. 

      “E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” “Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.” Jonas 1.15, 17

      O peixe, fuga para dentro de si mesmo. 
      Quando o mundo desampara aquele que tenta, equivocadamente, fugir de Deus, como se isso fosse possível, o profeta rebelde tentará fugir para dentro de si mesmo, numa disposição de solidão e descrença de tudo, isso é o que o grande peixe simboliza. Se no mundo ainda existem fugas, prazeres, algum espaço para termos alguma liberdade, ainda que amarga, nas entranhas do peixe o espaço é restrito, o coração do que foge de Deus vai se apertando cada vez mais, deixando o rebelde mais e mais torturado. 
      Lugar terrível é esse, ninguém consegue ficar muito tempo nele, e os que insistem em fugir para dentro de si mesmos podem chegar à insanidade, onde não se tem mais luz moral e intelectual para existir, onde não se vê nada, nem a ninguém, só o próprio reflexo dizendo que se é covarde e medroso, que se está fugindo de sua principal razão de existir, da presença do Deus Altíssimo. 

      “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe.” “Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca.” “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que eu te digo. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho.” “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.” “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado” “E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires?”  Jonas 2.1, 10, 3.1-3, 10, 4.1, 4

      Obediência? Não. 
      Dentro do peixe o profeta rebelde ora, ele não tem outra saída, e um Deus sempre amoroso atende à oração e livra o profeta, então, quase que sem pensar direito, ainda com as lembranças das entranhas do peixe na cabeça, o profeta obedece a ordem inicial de Deus. Entretanto, se o coração não for transformado por amor, o medo não o mudará, ainda que o leve a fazer coisas certas permitindo que Deus cumpra sua vontade com os outros. Mas ordem obedecida com intenção errada não traz paz, logo o profeta rebelde se arrependerá do que fez, a bênção dos outros não sensibilizará seu coração sem amor. 
      Sem amor nada faz sentido, seja família, religião, caridade, amizade, sem amor tudo é desgosto, egoísmo, que exige mas não dá, que critica os outros mas não se avalia, que desobedece mesmo ao Deus Altíssimo. Não nos iludamos com certos cristãos, podem até serem usados por Deus para abençoar os outros, mas se tiverem no coração a intenção errada não abençoarão a si mesmos. No final poderão ser escândalo, para aqueles que falaram do amor de Deus, porque falaram, mas não praticaram. 

      “E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte.” “E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4.6-9, 10-11

      Falta de amor! 
      A hipocrisia pode levar o homem a levantar muitas bandeiras, a militar por muitas causas, pelo planeta, pelos animais, contra preconceitos e injustiças, Jonas, que não queria aceitar a ordem de Deus e militar por pessoas, caiu no ridículo, militou por uma aboboreira, é assim mesmo que pode acontecer com todos nós. Como existem pessoas, que teimando contra a vontade de Deus, que virando as costas para uma chamada verdadeira do Senhor, e toda chamada sempre existe pelo amor de Deus e deve ser realizada no amor de Deus, acabam lutando por qualquer coisa, militando por tolos e estúpidos, sendo manipulados por homens gananciosos e vaidosos. 
      Por que Jonas se negou a obedecer a Deus? Não foi por medo da missão que recebeu, mas foi simplesmente por falta de amor, ele não achou que os ninivitas merecessem seu esforço. Um coração que não aprende a amar e que não se permite ser amado, e Deus amou muito a Jonas, não se apaixonará pela causa maior, pela mais nobre das militâncias, levar a palavra de amor de Deus aos homens. Cuidado, não milite por aboboreiras, um pequeno verme, se for enviado por Deus, pode matá-las, por maior que elas sejam, por mais que elas pareçam dar ao rebelde proteção contra o Sol e o vento, não podem resistir à vontade maior de Deus. 
      O livro de Jonas termina com a pergunta que Deus faz no final do capítulo quatro, versículos dez e onze. Pelo registro bíblico, apesar da oração de arrependimento que Jonas fez no capítulo dois, não sabemos qual foi a posição do profeta depois que ele se revoltou pela aboboreira. Teria ele entendido porque lhe era difícil obedecer a Deus? De fato se tornou alguém melhor com a prova, mesmo que os ninivitas tenham recebido a palavra de Deus e mudado de vida? Não podemos dizer com certeza. Fica uma lição para todos nós, uma causa não é totalmente legítima por ser uma militância relevante, nem mesmo por ser aprovada e ordenada por Deus, mas por ser executada com amor.

Está é a 27ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, outubro 26, 2021

Daniel militou certo (26/31)

      “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei. 
      E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias; E o chefe dos eunucos lhes pós outros nomes, a saber: a Daniel pós o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego. E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar. Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.” 
Daniel 1.3-9

      Daniel foi o homem certo, ainda que num lugar errado, mas que sempre achava o tempo certo para militar não por ele, e mais até que por seu povo, mas por Deus. Daniel pode representar o arquétipo da militância mais coerente do cristão com o momento histórico atual, por ele entendemos que certas coisas no mundo externo não vão mudar, e nem precisam, não mais, o que deve ser transformado é o homem interior do ser humano. Daniel era acima de tudo um servo de Deus, não de militâncias, e se quisesse militar teria razões bem fortes para isso, por seu povo que estava sendo escravizado. Mas ele mantinha os olhos onde Deus queria que ele os mantivesse naquele momento, no futuro, por isso não sofria mais que o necessário, não lutava em guerras inúteis e era cuidado por Deus de forma especial. Segue texto extraído da reflexão “Três justos” aqui do blog, que avalia três personagens bíblicos em tempos internos diferentes.
      “Daniel era um escravo de luxo, digamos assim... nas sociedades clássicas, grega, romana, e nos tempos bíblicos, os escravos eram espólio de guerra, isso é, os perdedores nas mãos dos vencedores num embate, ou aqueles que se endividavam e não podiam mais pagar suas dívidas. Assim, eles não tinham certos direitos sociais, de ir e vir, de participação política, mas podiam desempenhar atividades em várias áreas profissionais, incluindo algumas bem nobres. Esse era o caso de Daniel, era escravo na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia, que havia vencido Judá em batalha e levado seu povo em cativeiro... (Vemos pelo texto inicial) que Daniel era um jovem especial que seria usado em tarefas especiais, que seria tratado de forma especial, mas que ainda assim era um escravo... Daniel estava numa situação ruim que não mudaria, seu cativeiro e de seu povo.  
      Ele seria provado várias vezes, seja com privilégios, seja com privações, seja com honras, seja com calúnias, para que não ficasse confortável com a situação de escravo de luxo e continuasse fiel a Deus. Daniel foi fiel, mas outro adjetivo que o define é sensível.... Sensível suficiente para desvendar mistérios espirituais, só João o evangelista recebeu de Deus (e registrou) mais revelações que Daniel, não só sobre seu povo, mas como sobre todo o mundo e para tempos futuros. Foi através de sua sensibilidade espiritual que Daniel foi ganhando a confiança da monarquia babilônica e conquistando posições políticas importantes. Com Daniel aprendemos que às vezes, o homem que Deus quer que sejamos, é alguém que mantenha-se fiel, vivo e sensível mesmo numa situação que temos certeza que não mudará para melhor a curto prazo, aliás, eis outra característica de Daniel, visão espiritual longa, por isso Deus revelou a ele tantos mistérios sobre o futuro.
      Militâncias por não ao racismo, ao trabalho infantil e ao feminicídio, pelos diretos da mulher e respeito às diversas expressões de sexualidade e às religiões, são legítimas, são causas do presente e de todos, mas é importante que entendamos o que Deus quer exatamente de nós como indivíduos, que pode não ser o geral que a maioria está fazendo. O que segue a Jesus deve enxergar a relevância de ser exceção, não regra, deve ser feliz em uma vocação pessoal, e deve entender quem é seu Senhor, Deus, não os homens. Mas não é fácil ser exceção, alguns até gostariam de ser, mas só se percebem assim por terem visões distorcidas de si mesmos e da realidade, causadas por doenças emocionais não curadas. Existe muito doente mental em igrejas evangélicas, pregando e profetizando, que na verdade precisariam de tratamento psiquiátrico, não de púlpitos. 
      Outros preferem ser regra, para fazerem parte de algo grande que lhes dê objetivo de vida e contrabalanceie seus recalques, mas tanto os que se acham especiais do jeito errado quanto os que querem ser regra por medo, precisam buscar a Deus e entender melhor suas chamadas, senão serão só manipuláveis por seus equívocos e por agendas alheias. Não pense que isso diminui seus “itinerários”, Deus tem tudo em suas mãos e de tudo sabe, algo que pode começar pequeno e desconhecido hoje pode se tornar no futuro algo importante no plano maior do Altíssimo, que abençoará mais que um indivíduo, mas muitos. Se formos fiéis e sensíveis, como foi Daniel, poderemos ter essa experiência, Daniel não devia saber que as orações, que fazia por si e pelo seu povo, conteriam, na resposta de Deus, profecias para o futuro da humanidade.

Está é a 26ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, outubro 25, 2021

Davi, paciência para militar (25/31)

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. 
I Samuel 24.17

      Quando muitos verificam uma causa que precisa ser defendida, uma necessidade de militância, isso parece já ser tudo que precisam para saírem militando, a existência do problema é suficiente para que se dê uma solução, imediatamente, mas nem sempre deve ser assim. A história de Davi é bem conhecida, um exemplo de que saber-se a vontade de Deus para sua vida, mesmo ter recebido desse uma palavra profética clara de que se tem algo a fazer, pode não ser o suficiente para que se desempenhe uma missão apressadamente. 
      A lição do início da história de Davi é sobre paciência, do homem e de Deus. Deus é paciente com todos, foi com Davi, mas também foi com Saul, esse não foi retirado do trono logo após ter pecado e perdido o direito a ele, ele teve um tempo, para quê? Para se arrepender? Isso seria possível? Deus sempre espera o arrependimento do homem, sempre, isso é o amor mostrando sua principal característica. Deus é paciente e não guarda mágoas, ainda que nos sujemos e nos sujemos ele sempre nos recebe e torna a nos limpar.  
      Mas para Davi, esperar tinha um objetivo, mesmo sabendo que aquele que ocupava um lugar que Deus já havia lhe dado estava em pecado e numa frágil posição, onde ele poderia resolver o problema imediatamente e do seu jeito. A bênção pode estar lá no fundo, exigindo que nós cavemos com esforço e por um bom tempo para alcançá-la, por quê? Porque o objetivo principal de Deus não está no final, mas no processo, no final recebemos algo e pronto, mas no processo nosso caráter é moldado com trabalho. 
      É o que aprendemos no processo que irá conosco para a eternidade e fará diferença, não a bênção que recebemos no final de um processo no mundo. No final pode haver, por mais maravilhoso que seja entre os homens, só algo material e passageiro, no caso de Davi um reinado, mas no processo há virtudes morais que fazem o nosso espírito mais iluminado, e isso é para sempre. Quando você acha que Davi mais cresceu como ser humano, quando assentou-se no trono pela primeira vez ou quando se negou a matar Saul? 
      A bênção maior neste mundo não está no usufruto da vida, mas na negação da morte, e a morte nos confronta o tempo todo, seja em nossa vida ou nas vidas dos outros. Negar a morte é negar o que conduz à segunda morte, a morte do espírito e das virtudes morais. Isso não é fácil, principalmente na situação de Davi, que tinha motivos legítimos para matar alguém. Dois pontos sobre a passagem bíblica (no fim da reflexão) a serem ressaltados, o primeiro é sobre o termo ungido do Senhor e o segundo sobre o temor ao Senhor e a confiança em Deus de Davi.   
      O que muitos não se dão conta, quando usam a passagem para dizerem que é errado revelarmos líderes em pecado, é que o líder ao qual a Bíblia se refere como ungido do Senhor é alguém em pecado e com dias contados para ser julgado publicamente. A lição é que de fato não temos que pesar a mão sobre alguém que recebeu de Deus uma posição na igreja e está em pecado, Deus faz isso, do jeito e no tempo certo. O termo não é orientação para que pastor nunca seja repreendido, mas só para que esperemos a repreensão de Deus.
      Mas isso não significa que nós não possamos ser usados por Deus para repreender alguém em posição de liderança, podemos, sim, mas se for o caso deverá ser feito com temor a Deus, amor e do jeito correto, como orientado em Mateus 18.15-17. O mais sábio é levarmos a questão à liderança e não sairmos falando do assunto por aí, um líder precisa ser protegido, e não por ele mesmo, ele tem responsabilidades que serão cobradas, mas pelos outros, principalmente pelos novos na fé que são alimentados por ele e veem nele um exemplo. 
      Interessante como homens sem amor e sem sabedoria gostam de colocar palavras na boca de ninguém menos que o próprio Deus, “então os homens de Davi lhe disseram, eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz, eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos”. Esses são os que militam errado e pior, que tentam achar legitimidade para suas causas em Deus. Que pecado terrível é esse, se não estivermos vigilantes poderemos ser levados por esses a grandes e estúpidos erros. 
      O segundo ponto que ressaltamos da passagem bíblica são as virtudes de Davi, a primeira é seu temor a Deus, ele chora por ter humilhado Saul diante de seus homens quando cortou a orla de seu vestido, num impulso ele até fez o que estava fácil para fazer, mas depois se arrependeu. Será que eu e você choramos por vermos humilhado alguém que nos odeia e que ocupa um lugar que deveria ser nosso? É por isso que Davi foi o maior líder de Israel, que colocou o povo de Deus como uma nação forte no mundo, e que é a raiz do próprio Cristo. 
      Confiança em Deus é a segunda virtude de Davi, fica clara quando ele diz, “julgue o Senhor entre mim e ti e vingue-me o Senhor de ti”. Temos tal confiança para deixarmos que Deus seja nosso árbitro, escolha entre nós e um rei em uma nação como Saul? Davi conhecia o Deus em quem cria, conhecia a legitimidade de sua chamada, mas temia a Deus o suficiente para esperar, quando desempenharia um papel único na história. Davi teve paciência e fez a mais excelente das militâncias, cumprir uma missão de Deus. 

      “Então tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre os cumes das penhas das cabras montesas. E chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a cobrir seus pés; e Davi e os seus homens estavam nos fundos da caverna. Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que depois o coração doeu a Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul. E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do Senhor.
      “Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna, e gritou por detrás de Saul, dizendo: Rei, meu senhor! E, olhando Saul para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou. E disse Davi a Saul: Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o Senhor hoje te pós em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do Senhor. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Sabe, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti.
      “E sucedeu que, acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul levantou a sua voz e chorou. E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste. Porque, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixaria ir por bom caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, por isso que hoje me fizeste.

I Samuel 24.2-6, 8-12, 16-19
 
Está é a 25ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, outubro 24, 2021

Josué, escolheu o lado vencedor (24/31)

      “E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais.” 
Números 14.7-9

      Ninguém vive sem lutar por uma causa, causas na verdade têm essências religiosas, não no sentido de nos religar ao divino, mas em nos fornecerem valores para respeitarmos e pelos quais militarmos. Podem ser militâncias mais pessoais, mais privadas, ou mais coletivas, religiosas, políticas, científicas, enfim, ninguém enfrenta a realidade da existência neste mundo sem ter na mão alguma bandeira. Ela é mais que uma capa, é uma consciência, que nos dá a convicção interior de não estarmos aqui sem motivos, ou só para sofrer, mas por uma missão útil. 
      Uns correm atrás de suas profissões, estudam, estudam mais, mudam de empresa, de cidade, até de país, em busca de evolução em sua área, melhores salários, promoções. Outros correm atrás de um amor, passam a vida procurando um relacionamento afetivo satisfatório, isso parece que é mais importante que qualquer outra coisa para eles. Alguns escolhem uma causa e vão com ela até o final, e isso não significa que essa causa seja a melhor ou a melhor para eles, outros demoram para escolher a causa certa, mudam de bandeira por muito tempo até acharem uma que seja sua. 
      Outros, contudo, escolhem a militância correta, para eles e para as pessoas com as quais convivem, e ainda que muitos se coloquem contra, que muitos revezes ocorram, permanecem firmes. Josué é um exemplo bíblico de alguém assim. Ele não era qualquer um em Israel, quando Moisés mandou espias olharem a terra que a nação de Israel possuiria, ele foi escolhido como representante da tribo de Efraim (Números 13.8, 16), mas junto de Calebe, representante da tribo de Judá, foram os únicos espias que não temeram o que viram e confiaram que Deus conduziria Israel em vitória. 
      A conduta incrédula da maioria dos espias deve servir-nos de alerta, caso sejamos escolhidos como representantes de Deus em uma causa, não usemos isso para contrariarmos a causa ou invés de defendê-la. Os espias rebeldes, ao invés de incentivarem a nação de Israel e de compartilharem com ela as virtudes do que Deus estava lhe dando, mostraram as dificuldades e as exacerbaram. Viram gigantes mas não viram o Deus que é maior que tudo, isso inflamou Israel e levou a nação a receber uma terrível punição de Deus, que às portas de Canaã deu meia volta e andou em círculo por décadas. 
      Nem o pedido de Moisés fez Deus mudar de ideia, nem o próprio Moisés deixou de ser punido, só Calebe e Josué foram salvos e entraram em Canaã, de todos os de sua geração, os demais morreram no deserto sem ver a terra prometida. Mas não foi Deus que foi duro e inflexível, foi o povo que foi teimoso e incrédulo por quarenta anos, a palavra de Deus não foi uma determinação, mas uma profecia, assim creio. Como deve ter sido a vida de Josué tendo que pagar um preço por algo que ele não merecia, sabendo que o melhor existia mas que tinha que esperar para usufruir? 
      A história de Josué ensina que escolher a militância certa tem um preço alto, mas que vale a pena se nosso objetivo é agradar a Deus e não aos homens. Josué teve sua recompensa, se tornou o primeiro juiz de Israel em Canaã, substituiu o líder Moisés. Isso é glorioso? Mas caro, ninguém queira lutar por uma causa, principalmente se envolver de forma direta o nome de Deus, sem estar pronto para pagar um preço caro. A Bíblia ensina em mais de um exemplo que a coisa funciona assim no plano de Deus, Josué escolheu o lado vencedor mas teve que esperar o tempo de Deus.

      “E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na terra do Egito! ou, mesmo neste deserto! E por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito?” 
      “E Josué, filho de Num, e Calebe filho de Jefoné, dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes. E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais. 
      Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo? e até quando não crerá em mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele? 
      E disse Moisés ao Senhor: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles.” “E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: Porquanto o Senhor não podia por este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto. Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui. 
      E disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá toda a terra. E que todos os homens que viram a minha glória e os meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e me tentaram estas dez vezes, e não obedeceram à minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que me provocaram a verá.” “Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.
      “Então disse o Senhor a Moisés: Toma a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e impõe a tua mão sobre ele. E apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação, e dá-lhe as tuas ordens na presença deles. E põe sobre ele da tua glória, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel.

Números 14.2-3, 6-11, 13, 15-23, 29-30, 27.18-20

Está é a 24ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, outubro 23, 2021

Moisés, tempo certo para militar (23/31)

      “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra. E em toda a mão forte, e em todo o grande espanto, que praticou Moisés aos olhos de todo o Israel.” 
Deuteronômio 34.10-12

      Enquanto existem pessoas que inventam causas para militar para terem identidade que não precisam ter, e outras que militam por causas equivocadas, temos um exemplo bíblico de homem que tinha uma causa legítima para militar, com autorização de Deus, mas que tentou fazer isso no tempo errado. Moisés era israelita de nascimento, mas por causa da perseguição do faraó contra seu povo, foi lançado num rio ainda bebê por sua mãe de sangue para protegê-lo. Depois foi achado pela filha do faraó que o criou com a formação intelectual e religiosa, mais os luxos, da corte egípcia. 
      “O nome Moisés é tradicionalmente traduzido como "tirado das águas", embora um estudo linguístico aponte que tenha origem egípcia e signifique simplesmente "filho", já que o fonema "séis" é a representação de "filho de" em egípcio, assim como Ramessés” (Fonte). Irônico como quando alguém tenta com violência fazer fracassar o plano de Deus, poder ser usado pela própria providência divina para que o plano original tenha sucesso. O faraó, achando que matando mais um bebê enfraqueceria um povo, acabou fortalecendo um líder que comandaria todo o povo para libertar-se dele. 
      Eis uma lição para todos que se sentem injustiçados, se confiamos em Deus ele cumpre seu plano maior, de um jeito ou de outro. Ninguém pode frustrar os planos de Deus, se ele quer usar, mesmo um frágil bebê condenado à morte como líder de um povo, ele usará. Para isso Deus fará o impossível diante dos homens, mesmo criar um filho de escravo como filho de um rei. Deus faz isso no tempo certo, o conceito de tempo certo, contudo, era algo que um Moisés, já na faixa dos quarenta anos, idade que um homem já pode estar maduro e saber discernir as coisas, não entendia. 
      Moisés achou-se preparado porque tinha a intenção certa, a sensibilidade de perceber o sofrimento do oprimido, e tinha também um meio poderoso, a posição privilegiada de príncipe egípcio, mas na verdade não tinha ainda noção de qual eram os meios divinos para executar sua intenção. Que lição essa para todos nós e para tantos militantes, que acham que podem fazer qualquer coisa pelo fato de lutarem por uma causa legítima. A coisa não funciona assim, não se quisermos agir sincronizados com Deus, a única coisa que nos dá direito de termos a proteção, a capacitação e ao aval de Deus. 
      Se Moisés tinha quarenta, teve que esperar mais quarenta anos, para que sua impulsividade de querer fazer justiça com as próprias mãos desse lugar à mão de Deus, e que mão poderosa de Deus provou Moisés depois de amansado por quarenta anos pastoreando ovelhas no deserto, longe da luxuosa corte egípcia. O que Deus fez na vida de Moises foi desconstruir uma identidade e reconstruir a original, aquela que ele já possuía quando bebê e que tinha sido esquecida, quando viveu como privilegiado com os opressores. Moisés precisava de identidade de oprimido, sentir na pele o sofrimento alheio. 
      Essa é a história de todo servo genuíno de Deus, não dos que acham serem servos, mas dos que são em verdade, esses precisam sofrer para entenderem e executarem suas chamadas adequadamente. Por isso não podemos aliar sucesso com quantidade, com tempo neste mundo, se forem necessárias décadas de preparo para um ano de execução da chamada de Deus, que seja, em primeiro lugar o homem deve salvar a si, para depois salvar os outros. Infelizmente muitos constróem reputações, profissionais e ministeriais, como o Moises de só quarenta anos de idade, com imposição humana. 
      O que é imposto pelo homem, mesmo que não seja por violência, mas com algum artifício de falsidade, boa lábia, como se costuma dizer, não permanece de pé. Quando os próprios israelitas disseram a Moisés, “quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós? pensas matar-me, como mataste o egípcio?, penso que ele se sentiu muito humilhado. Mas aquilo não foi seta de inimigo, foi a disciplina de Deus mostrando ao homem que a força do homem de nada vale, aquilo foi o bofetão não cara que Moisés precisava para acordar para a importante chamada divina que tinha a desempenhar. 
      Cuidado, não interprete as coisas erradamente, você pode estar achando que está sendo desrespeitado pelos homens, que não estão reconhecendo tua chamada, quando na verdade é Deus mostrando que é você que não está reconhecendo a importância de tua chamada, e a está tentando desempenhar do jeito errado, no lugar errado ou no tempo errado. Precisamos dar o devido valor à chamada que Deus nos dá, até Jesus só começou seu ministério após seus trinta anos de idade. Por que muitos, às vezes recém formados, querem já desempenhar e colher frutos de algo que ainda nem sabem bem o que é? 
      Por outro lado, e foi o caso de Moisés, estarmos amadurecidos em muitas áreas, pode não conferir legitimidade à nossa chamada, principalmente se for ministerial, basicamente espiritual, e não na área secular ou profissional. Amadurecimento espiritual se ganha com muita oração, depois com prática de amor em humildade, e depois com muito mais oração, que vence o protocolo de pedir e agradecer pelo que se recebeu na área material e se aventura na luz do Altíssimo para conhecer os mistérios do plano espiritual. Será que queremos de fato exercer chamadas de Deus ou só matar uns egípcios? 

      “E aconteceu naqueles dias que, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos, e atentou para as suas cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos. E olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia. E tornou a sair no dia seguinte, e eis que dois homens hebreus contendiam; e disse ao injusto: Por que feres a teu próximo? O qual disse: Quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Então temeu Moisés, e disse: Certamente este negócio foi descoberto. Ouvindo, pois, Faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e assentou-se junto a um poço.” 
Êxodo 2.11-15 

      “E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos, os filhos de Israel.” “E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo no meio de uma sarça.” 
Atos 7.23, 30

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José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, outubro 22, 2021

José: sonhos, tempo e destino (22/31)

      “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.Jó 42.2

      Algumas pessoas fazem de tudo para aparecerem como militantes, principalmente nos dias de hoje, quando causas estão em moda, celebradas pela mídia, contudo, talvez a militância mais verdadeira seja aquela que se faz, não porque se quer, porque se escolhe, mesmo por se gostar ou por se estar preparado para fazê-la. A melhor e mais eficiente luta por uma causa é aquela que nos é imposta pelo destino, mas mais ainda que isso, vocacionada por Deus, é algo que nasce conosco, ainda que não saibamos a princípio e que tudo o mais tente conspirar contra por muito tempo. A Bíblia relata várias histórias com características de sofisticadas obras de ficção, verdadeiros romances literários, mas não é assim toda mitologia? Trabalhada por anos nas cabeças das pessoas que ouvem e recontam até que se transformem em contos épicos? Mas a Bíblia é bem mais que mitologia. 
      Moisés, Davi e Daniel têm histórias assim, mas a de José, em minha opinião, é a mais esplêndida, além de ter suma importância na transformação de um simples clã familiar num povo, pronto para ser uma nação. Há algo interessante na história de José, não é que o pressentimento, ainda que maldoso de seus irmãos lá no início, de que esse queria escravizá-los, acabou se realizando? Depois de José ter sido invejado pelos irmãos, vendido por esses aos ismaelitas, levado ao Egito, comprado e já honrado por um homem rico, mas cobiçado pela mulher desse homem que o caluniou, então preso por isso, decifrado o sonho do faraó egípcio, ganhado desse um cargo de muita importância, e por ter essa posição podido trazer sua família ao Egito num momento de fome na região, e finalmente morrido, depois de tudo isso os descendentes dos irmãos de José se tornaram escravos. 
      A primeira lição da história de José é sobre o tempo, cuidado com ele, ele pode surpreender. O que parece uma coisa no início lá na frente pode se mostrar outra totalmente diferente, ou não, a mesma coisa, só que com proporções maravilhosamente maiores. A segunda lição é sobre o destino, que a princípio pode parecer de tragédia, José parecia alguém que não era nem para ter nascido. Foi o último filho de Jacó já na sua velhice, depois parecia ser uma criança que não era para continuar viva, odiado e invejado por nada menos que pelos próprios irmãos. Depois, ainda que recebendo alguma honra e em terra estrangeira, longe da família, foi novamente cobiçado e injustiçado, sua sina parecia ser morte e prisão no esquecimento. Ah, meus caros, o homem pode ser injusto e se esquecer, mas Deus não se esquece de alguém, muito menos de honra-lo. Deus pode virar a história de cabeça para baixo. 
      Parece até que alguém sabia do final de José e queria de todo jeito impedi-lo. Seria o “diabo” ou só provações para evoluí-lo? Mas há uma terceira lição dessa história, é a importância de se sonhar em Deus, de se ter uma vida espiritual além da realidade física (refletimos sobre isso em “O que há em nossas cabeças?”). José foi, desde o início, um sonhador, não alguém embriagado por ilusões, mas com uma comunhão íntima e especial com Deus, que permitiu a ele ver além do tempo e além de um falso e trágico destino. Deus sempre nos equilibra, se experimentamos algo muito duro, muito cruel, muito injusto, ele nos dá algo especial que nos consola, que nos protege e nos dá condições de seguirmos vivos e com determinação rumo ao melhor de seu plano. José acabou protegendo toda a sua família, fez isso só sendo ele mesmo e pagando os preços por isso. Deus sonha o homem e o realiza. 
      Quem pode impedir as intenções divinas? Ninguém, e acima da inveja dos irmãos e de uma trajetória em que José parecia não escolher, não ser seu próprio protagonista, mas só ir colhendo as escolhas, ruins e boas, que outros faziam por ele, Deus cumpre um plano muito mais alto, transformar uma família numa nação. Israel foi moldada no trabalho duro, servindo os outros, pagando preços altos, Deus em sua onisciente sabedoria sabia que esse era o único jeito, e acreditem, quando Deus faz de um jeito, ainda que pareça difícil, é porque é o único jeito para que no final nós colhamos o melhor. Tempo, destino, sonhos? Deus é mais, nele nossas existências lutarão por militâncias que valham a pena, que terão um objetivo que podemos nem imaginar qual será, mas que será especial, e que ninguém mais poderá executar, só nós, os Josés amados de Deus. Testemunho que tem sido assim comigo. 

      “E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores. Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente. Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais. E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras.” 
Gênesis 37.3-8

      “Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pós na mão de José, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pós um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pós sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito.” 
Gênesis 41.39-44

      “Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José; o qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra. E puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas. Porque edificaram a Faraó cidades-armazéns, Pitom e Ramessés.
Êxodo 1.6-11

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José Osório de Souza, março de 2021

quinta-feira, outubro 21, 2021

Micaías: coragem para militar só (21/31)

      “Disse mais Jeosafá ao rei de Israel: Peço-te, consulta hoje a palavra do Senhor. Então o rei de Israel reuniu os profetas, quatrocentos homens, e disse-lhes: Iremos à guerra contra Ramote de Gileade, ou deixarei de ir? E eles disseram: Sobe; porque Deus a entregará na mão do rei. Disse, porém, Jeosafá: Não há ainda aqui algum profeta do Senhor, para que o consultemos? Então o rei de Israel disse a Jeosafá: Ainda há um homem por quem podemos consultar ao Senhor; porém eu o odeio, porque nunca profetiza de mim o que é bom, senão sempre o mal; este é Micaías, filho de Inlá. E disse Jeosafá: Não fale o rei assim.” 
      “E o mensageiro, que foi chamar a Micaías, falou-lhe, dizendo: Eis que as palavras dos profetas, a uma voz, predizem coisas boas para o rei; seja, pois, também a tua palavra como a de um deles, e fala o que é bom. Porém Micaías disse: Vive o Senhor, que o que meu Deus me disser, isso falarei.” “Então disse ele: Vi a todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: Estes não têm senhor; torne cada um em paz para sua casa. Então o rei de Israel disse a Jeosafá: Não te disse eu, que ele não profetizaria de mim o que é bom, porém sempre o mal?
II Crônicas 18.4-7, 12-13, 16-17

      Quem está certo? A mídia, os políticos ou os cristãos? A mídia não é nem de esquerda, nem de direita, apesar de muitos de direita acharem que ela é de esquerda e muitos de esquerda já terem achado que ela era de direita. Apesar da mídia estar se opondo a um presidente de direita, a própria Rede Globo apoiou o golpe de 1964 e nunca apoiou o líder mais proeminente de esquerda que o Brasil teve. Mas hoje ela é humanista, diz estar do lado do povo, saída esperta, governos mudam, mas sempre haverá seres humanos para consumirem novelas, futebol, carnaval, fast-food e refrigerantes.
      A direita, que se manteve calada sob o remorso da ditadura militar, acordou, mas está mal representada hoje no Brasil, isso estabeleceu um embate que vai continuar. Já a esquerda, de mais cinquenta anos de luta e de três mandatos e meio de presidentes (sem contar dois centro-esquerda), se calou por causa da corrupção, mas ela tem um passado histórico anticristão. Isso leva muitos cristãos a se posicionarem contra a esquerda e a favor de qualquer direita, mesmo de uma extrema. A pandemia da Covid 19 é uma terrível realidade, e quem está certo é a ciência, a única que poderá curá-la. 
      Quanto a eu e você não podemos ser manipulados por ninguém, mesmo que muitos cristãos achem legitimidade na fala de um presidente que se diz contra a globalização, a China e a mídia, porque diz que essas são ferramentas nas mãos do anticristianismo preparando um golpe apocalíptico contra os cristãos. Não, meus queridos, repito, precisamos reavaliar apocalipse e final dos tempos, as coisas não acontecerão como muitos acham que acontecerão, ainda que muitos poderão ser enganados por falsos cristos. O humilde achará na luz mais alta de Deus o discernimento para seguir.
      Uma coisa é certa, haverá um grande engano no final, e nem digo no final do mundo, mas no final de uma fase do mundo. Muitos cristãos acham saber o que será esse engano, mas se soubessem ou não seria um engano ou estariam prontos para ele, mas não estão, e se preparam para a guerra errada. Que profeta estava certo no antigo testamento, quando a nação de Israel tinha se afastado de Deus e por isso estava sendo disciplinada em um cativeiro, o profeta que dizia que Israel teria vitória se fosse à guerra ou o que dizia, ainda que temendo pela própria vida, que Israel seria derrotada e humilhada?
      O Brasil já vinha numa situação de queda moral, de corrupção política, de guerra do tráfico e de milícias, assim, apesar da grande quantidade de cristãos nos templos, o país não estava agradando a Deus. Com o agravante da pandemia não pode haver vitória, não quando muitos cristãos escolheram como líder alguém que representa, não a vontade de Deus, mas a intenção desviada de seus corações, que quer um reino de Deus no mundo e não no céu. Não, meus queridos, esse presidente não conduziu um exército à vitória, mas à derrota, isso já está claro desde o início de seu mandato. 
      Precisamos de coragem para militar por Deus e em Deus, como o profeta Micaías. Esse, a princípio até tentou enganar o rei Jeosafá (II Crônicas 18.14-15), deu a profecia que o rei queria ouvir com medo de morrer e de ir contra a opinião de tão grande maioria de homens que se diziam profetas. Mas sua reputação o precedia, o rei sabia que Micaías era profeta de verdade, mas penso que o rei também não havia crido nos quatrocentos, já devia ter sentido que por não andar certo não tinha aprovação de Deus e não seria vitorioso. Então Micaías disse a dura verdade, Israel não venceria a peleja. 
      Talvez, como nunca antes tenha acontecido, vivamos um momento em que temos que ajudar os outros, não podemos depender só de planos do governo. Muitos, ainda que numa situação difícil, estão com mais condições de viverem vidas mais controladas para poderem ajudar quem não tem nem o que comer. Não tem outro jeito de sairmos da situação, em que a pandemia nos levou, com alguma dignidade. Mas também precisamos nos posicionar, não a favor de políticos, mas do bom senso, mostrando com amor que o problema é sério e que o governo precisa parar de militar errado! 

Está é a 21ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, outubro 20, 2021

Deus não está nos extremos (20/31)

      “A minha alma espera somente em Deus; dele vem a minha salvação. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei grandemente abalado.” 
Salmos 62.1-2

      Eu poderia listar aqui dezenas de nomes de especialistas em suas áreas científicas, gente bem graduada, reconhecida no Brasil e no mundo, que tem uma posição comum sobre a pandemia da Covid 19, homens e mulheres, muitos deles, sem posicionamento político para direita ou para esquerda, pessoas de todas as religiões. Contudo, muitos ainda escolhem duvidar desses especialistas e acreditarem em mentiras, apoiadas tanto por gente sem conhecimento, como por gente, que ainda que tenha conhecimento, tem posições influenciadas não pela ciência, mas por ideologias políticas e religiosas. 
      Nesse contrassenso incentiva-se o negacionismo científico, que sempre foi danoso, mas que assume proporções trágicas nos dias atuais da pandemia causada pelo Corona vírus, pondo vidas em risco e sendo responsável por tantas mortes no Brasil. Triste é ver cristãos, principalmente evangélicos e protestantes, que deveriam ser e se dizem ser mais esclarecidos espiritualmente, sendo uma parte significativa desse “exército” que apoia o negacionismo científico. Muitos cristãos se acham mais preparados para os últimos tempos crendo dessa maneira, mas até quando militarão por uma causa insana? 
      Quem não é sensato para achar a solução no equilíbrio, deita-se num polo e coloca aqueles que têm opiniões diferentes no outro polo, não querendo ver que é possível se colocar no meio, que há quem não concorde inteiramente consigo, mas também não tem posição totalmente oposta. Com relação ao lockdown, por exemplo, extremistas do negacionismo dizem, “lockdown leva um país à falência econômica e traz caos à sociedade”, mas isso é necessário, e se tivesse começado antes teríamos tido condições de liberar o confinamento para que muitas coisas voltassem a funcionar antes.  
      Todos podem parar de trabalhar e ficarem em casa? Não, nem precisam, o que é necessário é que seja feita uma orientação equilibrada pelo governo federal, ao invés de ficar posicionando-se num extremo. Contudo, pessoas mal intencionadas, querendo só destruir o lado oposto, exageram em considerar seus argumentos e em desconsiderar os argumentos dos opositores. A mídia, tradicionalmente de esquerda, querendo destruir um governo de direita, toca o terror, é certo que nesse caso ela tem fatos e ciência a seu favor, mas quem quer, vê, o ranço ideológico por trás de muitos telejornalistas. 
      Já o governo de direita pousa-se de vítima, tendo como álibi uma mídia que sempre foi criadora de um tipo muito sútil de fake news, que ainda que não diga algo notadamente mentiroso, faz as pontuações nos lugares errados, conta as notícias em ordens diferentes, para que o bom pareça mau e o mau, bom. Sempre houve parcialidade na mídia, ocorre que agora, antagonista de um governo equivocado, ela tenta pousar-se de imparcial, mas isso não  é verdade. Será que é tão difícil entender que tem gente que não acredita na Globo tanto quanto não crê no atual presidente e que não é de esquerda? 
      Parece que o mundo atual obriga-nos a sermos extremistas, parece que não existe lugar para o meio termo, isso ficou fora de moda, ser equilibrado tornou-se sinônimo de se isentar. Mas não podemos ser acuados dessa maneira, principalmente se somos verdadeiros amigos do Altíssimo. Temos que ter coragem e ficar do lado de Deus, de ninguém mais, mesmo que signifique não termos apoio de nenhum dos extremos, mesmo que signifique ficarmos sozinhos. Muitos cristãos não percebem que querendo fazer parte de “exércitos” só se acovardam, é mais fácil gritar e bater em grupo que sozinho. 
      O pior é que muitos cristãos estão tendo como correligionários neo-nazistas, orgulho branco, anti-semitas e outras porcarias extremistas e violentas, não aceitam que o mesmo presidente que apoiam administra um governo, não para beneficiar o Brasil, mas para agradar a esses brasileiros insanos e poder ter um eleitorado que o mantenha no poder na próxima eleição. Essa escolha de posicionamento do atual presidente é antes de tudo burra, ele poderia ter continuado defendendo certas causas, mas não negar a ciência num momento onde a única salvação que Deus está dando é pela ciência. 

Está é a 20ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, outubro 19, 2021

“Meu exército”? (19/31)

      “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo.” 
Salmos 27.3-4

      “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?” “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” 
II Coríntios 6.14 e  Gálatas 5.1

      Este texto é uma reflexão sobre a atualidade social e política de nosso país, não é uma crítica à classe militar. Não é preciso dizer que para se chegar a cargos de oficiais, seja no exército, na marinha ou na aeronáutica, homens e mulheres se preparam muito. Líderes militares de alta patente são brasileiros estudados e experientes, com visões lúcidas sobre várias áreas da sociedade, preparados para manterem a democracia, a autonomia e a paz da nação. Isso não significa que não existam nesse meio seres humanos “humanos”, como existem em qualquer meio, contudo, pela importância estratégica que têm na manutenção da ordem pública, militares são decisivos em certas situações. 
      Ao meu ver, a função de militares na nação pode ser definida assim: pertencem à nação, servem ao povo, podem interferir, mas em relação ao povo que servem sem violência e para dar liberdade, não representam um poder como os três que compõem a república. Também não são posse de políticos, que são inquilinos do poder, não donos dele, que não possuem nada a não ser um período de tempo para servirem o melhor possível à nação. Dessa forma, a frase “meu exército”, dita por um presidente da república, achando-se dono da classe militar, é inapropriada e deplorável, deve ser combatida, em nome da democracia, do povo e de uma classe militar legítima. 
      Que insanidade pode existir na afirmação “meu exército”? Eis um tema relevante à reflexão “Militou errado!”. O que nos vem à mente quando pensamos no termo exército, não necessariamente relacionando-o às forças armadas? Um poder que se prevalece pela quantidade, onde não existem iniciativas individuais, cuja força está na união de muitos conduzidos pela autoridade de um para se impor sobre outros. Um exército pode ser usado para fins equivocados? Sim, isso ocorre quando identidades pessoais são anuladas, não em prol das necessidades de muitos, mas no interesse de um líder, que seduz muitos por carisma estúpido e por argumentos rasos para exaltar seu ego. 
      Nesse caso, os que não se deixarem ser manipulados pelo líder serão seus inimigos, esses só devem ser derrotados, a qualquer custo, esses também não são respeitados como indivíduos, mas como um exército, o exército inimigo. Irônico nisso tudo é que muitos, acreditando estarem lutando por liberdade e direitos, não percebem que quando se colocam debaixo de alguém que os chama de “meu exército”, perdem justamente a liberdade e os direitos. A missão de vida desses passa a ser a visão de mundo, de sociedade e de homem do “dono” do exército, não discernirão luz de trevas, e farão qualquer coisa para obedecerem aquele que pode até se dizer enviado de Deus. 
      Cuidado com o homem que se diz profeta de Deus, isso é a porta que conduz ao maior dos enganos, a um homem que se acha um deus. O Deus de verdade não usa profetas, não mais, e muito menos tornará a encarnar como homem, os tempos estão muito mais para falsos profetas e anticristos, e esses não virão de meio religioso qualquer, mas do meio cristão para enganar principalmente a cristãos. O engano não vem para ludibriar os que já estão ludibriados, mas para enganar aqueles que tendo a luz preferiram as trevas, tendo o Espírito de Deus, preferiram um ídolo ideológico construído até com conceitos bíblicos da tradição religiosa cristã, mas ainda um falso deus. 
      Usando o termo exército não estou me referindo necessariamente aos fardados, existem outros grupos sociais que se portam assim, principalmente na religião, e muito num cristianismo desviado que se baseia equivocadamente nos conceitos do velho testamento para empoderar sua causa. Cristãos, conforme o evangelho do Cristo, vocês não são um exército, nem de Deus, não para imporem sua verdade no mundo. A verdade não se impõe, muito menos com apoio de uma classe tão corrupta como a política. Somos uma irmandade, sim, de amor e de luz, para humildemente fazermos diferença no mundo como indivíduos, não como coletivo, e isso basta ao evangelho de Jesus. 
      Jesus e tantos outros personagens do novo testamento não precisaram de um exército para fazerem diferença, militaram sozinhos e muitos sozinhos morreram, incluindo o Cristo. Para que somos chamados: para imitar e obedecer um líder político ou a Jesus? Quem se coloca em jugo desigual com homem, de homem se faz escravo, e meus queridos, isso não é de Deus, Deus nos chama para a liberdade. Não tenhamos medo do mundo e de homens, nem se muitos que se dizem cristãos se colocarem como exército do engano, nos refugiemos no templo de Deus, que não é igreja física, mas a posição espiritual mais alta em Cristo, nesse lugar estamos protegidos. 
      Quem pela violência prevalece por ela será destruído, insanos atraem insanos, se Deus estivesse do lado de exércitos a igreja católica teria prevalecido, nem Israel, o povo com o plano mais antigo de Deus para mostrá-lo ao mundo, prevalece pela guerra, não mais. Sim, existe um combate, mas não é mais de homens contra homens no plano físico, os que creem nisso serão presas do engano e perderão a guerra inútil que travam, sendo humilhados no final. O combate é espiritual, virtudes morais contra o materialismo, seja o científico mal usado, seja o dos prazeres do corpo, e isso é responsabilidade pessoal, ninguém queira se esconder em fileiras de exércitos deste mundo. 

Está é a 19ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, outubro 18, 2021

Golpe de direita? (18/31)

      “Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los.” 
Provérbios 20.5

      Vi recentemente, no programa #Provoca do genial Marcelo Tas na TV Cultura, uma entrevista com o fotógrafo e correspondente de guerra André Liohn que me chamou a atenção, que estava no momento da entrevista no Brasil fotografando a pandemia. Um profissional acostumado com cenário de guerra documentando uma doença no Brasil, por quê? Uma pandemia não deveria ser uma guerra, o corona vírus não é um ser inteligente, não pode escolher lutar, não faz decisões morais, ele age por instinto.
      Contudo, um presidente com uma má formação militar, e isso precisa ser dito para não generalizarmos os militares nivelando-os por esse “capitão”, é insensível com a morte de tantos, opinou o fotógrafo, deixando que pessoas morram quando não dá orientações para conter a pandemia, como uso de máscara e isolamento social, e não decide a tempo pela compra de vacinas. Parece que ele intencionalmente quer levar o país ao caos, decretar um estado de guerra, para poder agir como se pode agir nesse estado. 
      O presidente se isenta das mortes quando diz que existe uma pandemia, que não adianta fazer lockdown porque muitos morrerão de um jeito ou outro, e que a culpa é do vírus, não dele. Mas seria isso para que o país se desestabilizasse e ele pudesse agir, como algumas vezes já ameaçou fazer dizendo “tudo tem limite” e com o que ele chama de “meu exército”, com o argumento que não está fazendo o que quer, mas o que precisa fazer, para controlar o caos social provocado pelo desemprego e crise econômica? 
      Não é justo afirmarmos sem termos mais conhecimento que algo é intencional, e muito mais sério é julgarmos o presidente da república de nosso país, seu cargo merece de todo brasileiro pleno respeito. Contudo, como se diz, quando algo cheira como um gambá, tem cor de gambá, se move como um gambá, tem tamanho de gambá, é muito provável que seja um gambá. Tomara que não seja isso que esteja acontecendo em nosso país, tudo já está sendo muito triste e não tem que ficar pior ainda. 
      Sabemos que grande parte da mídia é contra o atual presidente, sabemos que muitas de suas militâncias são bandeiras de evangélicos e esses sempre são odiados por muitos, sabemos que de um jeito ou de outro ele teria dificuldades, principalmente propondo-se fazer uma administração sem corrupção. Nem vou fazer a narrativa se ele é ou não corrupto, mas pergunto, por que ele tem tanta necessidade de ser beligerante? E sua violência não é só deselegância ou falta de educação, mas conduta inapropriada ao cargo. 
      Mas ainda que estivesse pensando na economia do país, por que é tão negacionista com relação à ciência? Para agradar seus eleitores? Mas ainda assim ele podia ter levado mais a sério a pandemia, principalmente em seu início, enquanto que o que ele faz é profetizar o caos. Mas ele quer evitar o caos ou incita-lo? Contudo ele não nega só a ciência, se põe também contra a ecologia, populações indígenas, importantes parceiros econômicos do Brasil, como a China por causa do sistema político dela.
      O que nos deixa estarrecidos são os movimentos que o atual presidente faz colocando militares em muitos cargos, assim como sua militância a favor de porte generalizado de armas e dos CACs. Nunca houve dúvidas que a eleição desse presidente era agenda de militares, que estavam com direitos relegados a segundo plano nos últimos governos de esquerda. Isso foi feito de forma democrática? Sim. Mas quando tentamos entender tudo isso não podemos negar que nos vem à mente um cenário de golpe de direita. 
      Essa teoria diz que pode haver uma intenção por parte do atual presidente, de levar o país ao caos, para que ele tenha um álibi para um golpe militar como único jeito de se controlar esse caos, onde, então, o atual presidente poderia permanecer no cargo por tempo indeterminado. Isso interessa a alguém? Infelizmente interessa a muitos brasileiros. São maioria? Não, e depois de muitos, que até votaram nele, terem visto o que ele fez em seu mandato essa quantidade diminuiu, mas poucos podem fazer muito barulho. 
      Mas como opinou o corresponde de guerra citado no início dessa reflexão, a solução é não permitirmos o caos, fazemos isso sendo cristãos verdadeiros, ajudando os necessitados e não sendo “exército” de ditador. Contudo, se nós permitirmos sermos envolvidos nessa militância estúpida que está ocorrendo principalmente nas redes sociais, correremos o sério risco de sermos manipulados e concorrermos para o caos. Eu não posso dizer com certeza qual é a intenção do atual presidente, você pode? 
      A verdade é que sabemos que existem muitos interesses que se opõem a muitos outros interesses, de todos os lados, quem está sendo, ou não, manipulado por quem é difícil dizer. Mas cristãos, isso nem nos interessa, é coisa do mundo, só serão enganados os que escolherem fazer parte desse jogo sujo. Eu não quero fazer parte, meu lado não é na esquerda e nem na direita, mas em Deus, Deus sempre tem o melhor para nós e da melhor forma, sem confusão, quanto à intenção no coração do homem, Deus sabe.   

Está é a 18ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

domingo, outubro 17, 2021

Batalha mental do diabo (17/31)

      “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?
  Jeremias 17.9

      O mal não tem poder, afirmar isso não é dizer que não existam seres espirituais que não se aproveitam do marketing diabo, do que foi aliado por mitologias, misticismos e superstições no decorrer das histórias de vários povos a esse título. O próprio homem se aproveita disso, usa para amedrontar, se promover, vender filmes e livros, para criar religiões, que ficam mais atraentes com o diabo no enredo. Contudo, na maioria das vezes, o efeito final da atuação desse ser limita-se à mente do homem, influenciando-o na tomada de decisões, ainda que em situações especiais o mal possa provocar até sinais físicos. 
      Diante das negativas feitas sobre o diabo, alguém pode perguntar: “e os textos bíblicos que falam sobre uma batalha final do diabo, dele levantar personagens do mal de liderança mundial, como o anticristo, a besta, o falso profeta, e dele finalmente ser lançado num inferno?” Em primeiro lugar, seres espirituais serão julgados no plano espiritual, em segundo lugar muitas coisas citadas na Bíblia são metáforas, não devem ser interpretadas ao pé da letra. Por último a nova aliança do evangelho não nos autoriza a fazer qualquer tipo de militância contra homens que escolhem o mal, a nós compete só dar bom testemunho.
      Alguém também pode dizer: “você diz isso porque não viu endemoniado rolando no chão, derrubando tudo e falando com uma voz horrorosa”. A resposta está em outra pergunta: por que uma simples palavra de autoridade, dita por alguém com vida correta, pode libertar um possuído? O homem pode criar personagens bem convincentes, motivado por transtornos mentais e mesmo por sintonia com seres espirituais do mal. Mas ainda isso, não é o diabo exercendo ativamente um poder, é só o homem permitindo-se ser usado como “cavalo” de entidades espirituais externas, o poder é do homem, ainda que mal usado.  
      Mas alguém também pode argumentar: “em rituais mágicos, objetos se movem e o pensamento humano pode desencadear eventos à distância”. Saiba que os que usam de protocolos mágicos e ocultistas, buscam controle sobre seres espirituais inferiores, que atendem pelos nomes de suas coletividades (legiões). Sinais no plano físico podem ser feitos com o auxílio desses seres, mas são os homens, por meio de “trocas” nada recomendáveis (pactos) que “controlam” esses espíritos, não o contrário. Quem se presta a essas práticas acaba tendo uma relação simbiótica com o diabo, assim ambos são usados por ambos. 
      Uma das coisas mais poderosas no homem é sua imaginação, com ela ele cria arte, escreve livros, produz filmes, compõe músicas, pinta quadros, esculpe estátuas, cria coreografias de danças, e faz tantas outras expressões artísticas. O imaginário humano cria coisas onde não existem e o homem faz isso porque é prazeroso, mesmo assistir filmes de terror, levar sustos, sentir a adrenalina lançada na corrente sanguínea, pode ser divertido. Assim, muito do que se pensa e se acredita sobre o diabo é pura ficção, obviamente incentivada pelo próprio, já que para um mentiroso mesmo propaganda enganosa interessa.  
      Para um ser cujo principal campo de batalha é a mente humana, nada mais interessante que a imaginação potencializada pela arte. Quando alguém se fecha num quarto escuro, desenha um pentagrama dentro de um círculo no chão, coloca símbolos dos quatro elementos em quatro pontas, se coloca na quinta ponta (éter) e por meio de evocações imagina um ser vermelho, de chifres, rabo e pés de bode, o diabo aparecerá? O que vai aparecer é o que ele imaginou, obviamente seres espirituais do mal, que por milênios têm conseguido alguma atenção dos homens por esse meio, se aproveitarão do terrível ritual.
      Mas cuidado, se o conceito Deus é único e claro, o diabo é tão abrangente quanto a humanidade, tudo cabe nele, e ele abraça a todos que não quiserem seguir pelo estreito caminho de Jesus Cristo. Muitos, que se consideram cristãos e acham que lutam por Deus, estão lutando pelo mal, primeiro porque Deus não precisa que ninguém lute por ele, não no plano físico, aqui Deus só chama testemunhas, não advogados. Em segundo lugar porque o que muitos consideram militância, na verdade é derrota, visto que se colocam, ainda que no polo oposto, iguais a seus oponentes. Deus está muito acima disso, dos dois polos. 

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José Osório de Souza, março de 2021

sábado, outubro 16, 2021

O mal não tem poder (16/31)

      “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” 
João 8.44

      O mal não tem poder! Começo esta reflexão com essa primeira afirmação, assim, diabo, demônios, espíritos inferiores, não podem, por eles mesmos, prejudicarem ninguém, muito menos armarem um grande complô mundial para vencerem o cristianismo. Quem deseja, autoriza e executa o mal são os seres humanos! Com essa segunda afirmação deixo claro que o homem, pelo livre arbítrio, é senhor do início e do fim de seu destino, planta as causas e colhe os efeitos. Onde seres espirituais das trevas atuam? No meio disso, mediante legalidade do ser humano no mundo. Posto isso, vamos esmiuçar o assunto. 
      Para entender o que foi dito mais facilmente, é só colocar o raciocínio no sentido contrário, se o homem viver na Terra com temor a Deus, humildemente colocando Deus em seu caminho, em suas decisões, respeitando o planeta, seu corpo físico, suas alianças, os outros homens, em amor e justiça, o mal desaparecerá. Isso é possível? Sim, em Jesus, adquirindo-se a paz que existe em seu perdão e depois praticando boas obras, conduzindo a civilização com as prioridades corretas, primeiro a prática de boa moral, depois respeitando a ciência e por último interagindo com equilíbrio com os apetites físicos. 
      Nesse mundo ideal o mal não agiria? Agiria, na instância que sempre age, tentando os homens, uma guerra que ocorre no campo mental do ser humano, que se o homem vencer em sua origem, acabará aí, sem outras consequências. Eis o único poder do mal, oferecer uma opção errada em muitas questões, opções que tendem à matéria, ao ego, à injustiça, à violência, a manipular semelhantes para benefício próprio. Contudo, se o ser humano fizer outra escolha, anulado está o mal. Mas e se a opção do mal for escolhida? O ser humano colherá as consequências, os seres espirituais que fizeram a tentação seguirão ocultos. 
      Essa ótica precisa ensinar algo a muitos cristãos, a luta deles não é contra seres espirituais do mal, contra o diabo, mas contra escolhas erradas de outros seres humanos, não adianta só orar expulsando demônios, é preciso mudar o homem. Como o homem é mudado? Conhecendo a luz mais alta de Deus. Como isso é feito? Em primeiro lugar vendo o testemunho de outros que tiveram essa experiência e mudaram de vida. Mas por que muitos não querem Deus? Porque não querem, de um jeito ou de outro, mas também porque não veem nas vidas de autodenominados cristãos testemunhos verdadeiros da luz de Deus.
      O equivocado poder, que os próprios cristãos dão ao diabo, tem uma consequência ainda pior, a criação de uma teoria da conspiração que vê um plano sendo arquitetado pelo diabo, usando pessoas, instituições, corporações, governos, para dominar o mundo e destruir as religiões cristãs. Muitos não percebem, mas muitas das linhas satanistas, principalmente as mais explícitas, são o outro lado da moeda do cristianismo tradicional, elas creem nas mesmas teologias que os cristãos, definem um diabo com as mesmas características, a única diferença é que no ponto de vista delas, no confronto final, o diabo sai vencedor. 
      Uma estratégia comum em ideologias extremistas é criar um inimigo, diretamente oposto às suas ideologias, para arregimentar homens sempre seduzidos por confrontos entre polos, que não admitem um Deus de luz sem que haja um diabo de trevas. Assim, bem e mal ficam do lado de fora, o homem não tem responsabilidade por suas ações, não precisa pensar e fazer balanços para conhecer e se decidir, só precisa escolher um lado para amar e outro lado para odiar. Quem ganha com isso? Justamente o diabo empoderado pelo equívoco, não necessariamente por ganhar o confronto, mas por empatar com Deus.
       O que é mais fácil, orar com fé expulsando demônio ou viver uma prática constante de amor, principalmente com antagonistas, dando testemunho de Deus, o único de fato que tem poder, criou todas as coisas e cuida daqueles que o temem? Prática de amor não é fácil, mas é o único jeito de Deus ser vencedor no mundo, isso quem escolhe sou eu e é você. Mas Deus não age só porque o homem escolhe, Deus age em todo o tempo, livrando-o de perigos que ele não tem noção que existem, acreditando sempre que o homem pode melhorar, sendo fiel quando ele não é, perdoando-o sempre e atraindo-o para o seu amor eterno. 

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José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, outubro 15, 2021

“Não é problema meu”? (15/31)

      “Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se.
Mateus 10.26
      “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.
Apocalipse 21.8

      Se muitos querem militar, mesmo sem saber, alguns preferem se ausentar, a bandeira desses é, “não é problema meu”. O que é pior, ser impulsivo ou ser tímido? O impulsivo, num golpe de sorte, em algum momento pode até acertar, e saberá disso, mas o tímido, ainda que acerte, não saberá. Quem tenta sabe onde chega, sai da zona de conforto, e pode ir para a luz, mas quem se esconde, ainda que num momento essa seja um boa opção, não saberá, quem se esconde sempre está em trevas. 
      O tímido tem motivos para ser assim, timidez é medo, mas o que é o medo? Receio de ser machucado por algo ou receio de mostrar para os outros que errou? Num medo existe covardia, no outro, orgulho, mas todo covarde é orgulhoso, tem medo de perder, por isso não se arrisca, seja a vida, seja a reputação. O ser humano, contudo, não é simples, não tem só uma coisa dentro de si, é um emaranhado de sentimentos e pensamentos, a diferença é que alguns conseguem esconder melhor a confusão. 
      Violência gera violência, o que sofreu violência será violento, ele, porém, tem uma escolha: ser violento com os outros ou consigo mesmo? O que é violento consigo vive com medo, não acha que tenha direitos, não acha que tenha forças, mas também não quer que os outros saibam disso, por isso se torna covarde e orgulhoso, ainda que introspectivo e discreto. O que é violento com os outros desabafa suas dores, coloca-as para fora, só que do jeito errado, para seguir forte se torna insensível. 
      O tímido pode convencer muitos que é sábio, mesmo humilde e pacífico, pois não reage à violência, entretanto, mata-se por dentro, pode construir sérias enfermidades, tanto físicas quanto psicológicas. Ele pode ser um bom religioso por muitos anos, enganar a muitos, mas principalmente a si mesmo, reprimindo sua dor faz sacrifícios pelos outros, o que lhe dá a impressão de ser caridoso, abnegado. Mas nada que é ruim se esconde para sempre, um dia dor não resolvida vem à tona de algum jeito. 
      O violento pode passar a impressão de ser corajoso, empreendedor, de fato dor gera energia que conduz a vitórias materiais, afinal, o mundo é cruel, só é conquistado à força. Contudo, violência é mãe da solidão, o violento tem servos que o temem, não amigos que o amam, não morrerá de enfermidades, hienas não sobrevivem em quartos vazios, mas sucumbirá à violência. O violento sempre acha alguém mais violento que ele, que ainda que a princípio diga que é seu companheiro, no final o trairá. 
      Um tímido mais um violento constituem uma relação fatal, mas comum por ser útil a ambos, quem gosta de sofrer sem reclamar é atraído por quem gosta de fazer sofrer e não se sente mal por isso e vice-versa, isso é uma doentia aliança sadomasoquista. Mas ainda que não seja numa relação afetiva, a sociedade sofre com esses dois tipos de doentes emocionais. Quando o violento machuca alguém e é visto por um tímido, o tímido tem a tendência de dizer, “não é problema meu”, esse é o ponto deste texto.  
      Por covardia ou orgulho podemos encobrir erros alheios, que se fossem coibidos a tempo não se tornariam erros ainda maiores. Isso não é tomar conta da vida alheia mas é impedir que inocentes ou que outros, reprimidos por algum motivo, sofram. Quando assistimos na TV uma reportagem sobre um adulto que espancou uma criança até morrer, precisamos entender que algo assim não acontece da noite para o dia, violência pode ser algo que ocorre há muito tempo e de forma gradativa. 
      Quantos já não viram, não souberam e mesmo experimentaram atitudes violentas de alguém que hoje está assassinando outro alguém? Muitos sabiam e nada fizeram porque disseram, “não é problema meu”, ou se calaram por outro motivo. Violências, assim como preconceitos, são problemas nossos, sim, não podemos nos abster só para não nos indispormos com alguém ou para não mancharmos nossa reputação, isso também é pecado que nos será cobrado, quem cala consente e torna-se cúmplice. 

Está é a 15ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021