sábado, novembro 11, 2023

Nele o sim, por meio dele o amém (1/2)

      “Porque todas as promessas de Deus têm nele o "sim". Por isso, também por meio dele se diz o "amém" para glória de Deus, por meio de nós. Mas aquele que nos confirma juntamente com vocês em Cristo e que nos ungiu é Deus, que também pôs o seu selo em nós e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.II Coríntios 1.20-22

      Não há palavra de acusação, de reprovação, de negação no Espírito de Deus, só palavra de iluminação, de aprovação e de afirmação. Posto essa afirmativa vamos entendê-la melhor. Se um cruel assassino, um ladrão, um ser humano sem respeito à vida alheia, que faz qualquer coisa para ter um desejo seu satisfeito, se esse parar e buscar ouvir a palavra de Deus, o que Deus lhe dirá? O Espírito Santo não dirá você é um assassino, mas dirá você pode não ser um assassino, o Espírito Santo não dirá você será condenado por roubar, mas o Espírito Santo dirá se você trabalhar honestamente poderá ter o que precisa, o Espírito de Deus não dirá você é mal e merece o tormento, mas você pode ser um homem de bem e gozar paz e honra.
      Isso não significa que Deus seja irresponsável com o mal cometido pelos homens, que esqueça dos pecados e livre os homens das consequências de seus erros. Isso significa que Deus sempre vai direto ao ponto com o ser humano, mostra-lhe uma saída para o acerto, uma oportunidade para ser melhor, uma chance de fazer diferente e mudar de vida. Na iluminação do Altíssimo, se for aceita com humildade, o homem saberá que terá que arcar com as consequências dos erros que cometeu no mundo dos homens, mas será fortalecido para seguir pela paz do perdão de Deus, ainda que outros, mesmo depois que o tempo passar e o homem tiver pago os preços, o cobrem, o acusem, não se esqueçam do mal que cometido dia.
      A ideia que muitos fazem de Deus, e que foi calcada em nossas mentes pelo cristianismo do mundo, é de um Deus bipolar, que dá com uma mão e tira com a outra, que abençoa com um olho e amaldiçoa com o outro, que ama com uma parte de seu coração e se ira com a outra parte. Nós podemos nos esquizofrenizar, somos seres partidos e em conflito, mas o Deus espírito da luz mais alta não pode, ele é uma coisa só e sempre. Vou repetir o que tanto digo aqui: o homem se afasta de Deus quando não quer viver a verdade e nesse afastamento se pune, Deus não toma a iniciativa de punir ninguém. Se a ira de Deus, se seu juízo, se a condenação do Senhor parecem enormes, é porque nós mantemos isso em nós. 
      A afirmação feita nesta reflexão pode não ser entendida por dois tipos opostos de pessoas. Muitos não cristãos dizem que o Deus de amor a ninguém julga ou condena e dá direito a todos de serem e fazerem o que querem. Muitos cristãos vão usar um argumento, muito usado atualmente por eles, que utilizar o amor de Deus como desculpa para se sentir aprovado fazendo coisas erradas é blasfêmia. Não é uma coisa nem outra. Os cristãos erram achando que o amor de Deus abre mão de santidade, ao contrário, ele atrai o ser humano para ela, confronta-o com a luz moral mais alta, sem aceitar e querer praticar a santidade de Deus não se pode provar seu amor. Os não cristãos erram por não conhecerem a Deus e dizerem que conhecem. 
      Mas existe um efeito muito ruim no equívoco cometido pelos dois lados, cristãos afastam não cristãos do verdadeiro Cristo. Quando a falsa moralidade de uns e a imoralidade de outros se confrontam, usando o nome de Deus em vão, quem deixa de ser mostrado é o Deus verdadeiro. Ainda que os cristãos tenham experiências inequívocas com o verdadeiro Cristo, a maneira imatura como eles compartilham esse Cristo faz com que não cristãos creiam num falso Cristo. Todos buscam a Deus e ao plano espiritual, de alguma maneira, mas só acham o Altíssimo os que querem, se não quiserem suas buscas serão limitadas a “espíritos” mais baixos, e esses costumam identificar-se mentirosamente, para terem atenção e glória. 
      Não provamos amor de Deus sem santidade, se alguns dizem que provam e não vivem e persistem na santidade, provam o “afeto” de outro espírito, não de Deus. Ninguém se engane achando que engana os outros, quem vive moralmente errado e se diz aprovado pelo amor do evangelho, dentro de seu coração sabe se de fato possui uma conexão íntima com o Espírito Santo do Altíssimo. Ainda que a mídia e os poderes desse mundo digam que Deus está em toda religião e espiritualidade, os frutos que cada um dá e que permanecem no tempo, provam se isso é ou não verdade. Por outro lado, cristãos, Deus ouve a todos e em todas as religiões, mas só o que de fato obedece a Deus prova de seu amor e tem um coração limpo. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

sexta-feira, novembro 10, 2023

Ao limite e além?

      “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.II Coríntios 12.10

      “Não há limites para os teus sonhos, corra atrás deles e se realizarão”. É por acreditar em afirmações como essas que muitos jovens estão doentes atualmente, deprimidos e infelizes, ainda que com boas formações acadêmicas e até bem remunerados profissionalmente. O que ocorre é que muitos atingem seus limites e não querem parar, assim tentam seguir numa jornada impossível. No desperdício de energia podem perder o que tinham conquistado até então, e ao invés de se manterem na boa posição conquistada, retrocedem a posições mais baixas, humilhados e desfalecidos. Aceitar limites não é covardia de fraco, é decisão inteligente do forte, e é preciso ser muito forte para assumir diante de outros homens um limite. 
      Por várias vezes já refleti aqui na passagem sobre o espinho na carne de Paulo, registrada em II Coríntios 12, não farei isso novamente, mas vou frisar uma frase desse texto, sinto prazer nas fraquezas. Isso é dizer “não estou deprimido porque tenho barreiras, porque nem tudo que sonhei se realizou, mas sou feliz por reconhecer e respeitar meus limites”. Mas é ainda mais que isso, é sentir prazer nas fraquezas, isso não é masoquismo ou alguma doença emocional, é efeito de quem prova a segunda parte do mistério. Quem assume sua fraqueza depende da fortaleza de Deus, e nessa parceria pode-se ser feliz, útil, vencedor, não só na área material, mas na moral, a que constrói o céu no homem interior e leva o espírito a superar limites. 
      Que fique claro, achar o limite pode não ser fácil e rápido, precisamos tentar muito, trabalhar bastante, nos esforçar o máximo, para termos certeza que fizemos tudo que podíamos. Ainda assim alcançar o limite não é parar, é só conhecer o que se é e ser, em paz, sem a ganância e a vaidade de querer fazer o que não se é para fazer. Deus vai conosco até nosso limite, respeita-nos e nos protege, mas depois somos nós que temos que ir com ele, priorizando vida espiritual sobre a material. Muitos, contudo, não querendo assumir seus limites, largam Deus e seguem sozinhos, perdem o melhor da vida, a amizade do Altíssimo. É preciso ser humilde para saber quando ir e quando parar, e assim provar um Deus de luz e paz sempre por perto.
      Limite não é restrição, é proteção, entender isso é crescer no melhor plano de Deus. O Senhor não precisa de nossas capacidades para nos usar e nos ensinar, precisa de nós, obedientes e simples. Pela visão material dos homens, muitos acham que estão melhor preparados para serem mais eficientes tendo mais informação, mais experiência, mais bens, mais amigos, mas muitas vezes o mais atrapalha, não ajuda, exalta o ego e afasta o ser do Espírito de Deus. O propósito mais alto de Deus é nos aproximar dele, não das riquezas do mundo ou da aprovação de homens. Limites nos protegem de nós, criam delimitadores para que não nos percamos e foquemos no que importa. Assumir limites é ir direto ao ponto, a glória de Deus. 

quinta-feira, novembro 09, 2023

Paixão, bom ou ruim?

      “Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus.I Tessalonicenses 4.4-5

      Quando eu era jovem, tentando viver um evangelho utópico em igreja protestante tradicional, achava que espiritualidade era vencer as paixões e viver sem elas, mas só pensava assim porque estava apaixonado por uma utopia. Depois, quando amadureci um pouco, bem casado e com filhos, achava que ser maduro era manter paixões vivas, descobrir novas e manter as antigas, isso coincidiu com minha fase pentecostal. Se tem algo que pentecostal prova é emoção, na adoração e nas manifestações dos dons, vendo no êxtase das primeiras experiências com dons a espiritualidade maior e mais madura, e não só mais uma paixão.
      Contudo, finalmente, mais velho, e após ter experiências passionais em muitas áreas, percebo que a verdadeira maturidade espiritual é estar em paz e ser santo ainda que não se esteja apaixonado. Não porque não existam coisas e gente pelas quais podemos nos apaixonar, mas porque nossa alma não se apaixona mais, pelo menos não com a mesma extensão de tempo e de intensidade. Paixão é bom ou é ruim? É bom, claro que é, e podemos, sim, nos apaixonar sempre. O que não podemos é confiar na paixão, ela é efeito emocional de algo, não causa racional para nos manter sendo e fazendo algo. Paixão sempre termina. 
      Não percebemos, ou percebemos e não admitimos, mas somos viciados em paixão. O lado bom disso é que somos levados a começar algo novo e acreditar que será melhor, mas o lado ruim é que podemos ver a paixão como fim em si mesma. Muitos querem se apaixonar, não importa pelo que ou por quem, não importa os preços pagos, os corações machucados, o dinheiro perdido. Amadurecer é poder dizer não a uma nova e vã paixão para manter uma antiga e madura, e não é fácil negar prazer novo e fácil. Na força da paixão adquirimos super poderes, mas o que parece construir no início depois se mostra frio destruidor.
      Mas preciso confessar algumas coisas. Estou casado há mais de vinte e cinco anos e sou apaixonado pela minha esposa tanto quanto era no início, nunca foi assim com alguém. Contudo, minha paixão maior sempre é Deus, desde que tenho noção que existo há algo que me instiga para ver o invisível e ouvir os mistérios do Espírito Santo. Buscar a Deus para receber dele uma palavra nova é meu principal motivo de vida, aventurar-me em oração é apaixonante, nunca é igual e é sempre melhor. Meu corpo envelheceu, meus sentimentos não são mais tão impressionáveis, mas meu espírito ainda sente algo único pelo Senhor. 

quarta-feira, novembro 08, 2023

Já abençoou um inimigo hoje?

      “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.Mateus 5.44-45

      Você já abençoou um inimigo hoje? Em primeiro lugar temos que entender que como amigos de Deus não podemos fazer e nem manter inimigos. A palavra inimigo também é um pouco forte, no dia a dia não nos confrontamos com inimigos explícitos, com gente má e que quer nos destruir, mas muitas vezes só com indisposições, de pessoas com as quais temos certos desconfortos, que agem e falam e nos incomodam por razões que conscientemente nem sabemos quais são. Mas são essas indisposições menores que são mais constantes, que nos roubam a paz e que podem nos levar a conflitos mais sérios, por isso precisamos ser rápidos para assim que sentirmos o desconforto abençoarmos quem nos fez senti-lo. 
      Verbalizar de forma clara e objetiva “eu abençoo essa pessoa, desejo de todo o coração o bem para ela, em todas as áreas de sua vida, afetiva, profissional, espiritual”, converte “energia ruim” em “energia boa”. Precisamos entender que sentimentos ruins não somem por nada, se estivermos vazios eles continuarão em nós, precisamos invocar coisas boas para que os substituam. O problema é que muitas vezes não damos a certos problemas a importância que eles têm, principalmente se já nos acostumamos a pensar que certas pessoas são chatas, nos incomodam e nós simplesmente temos que conviver com isso. Nessa disposição até não queremos o mal de alguém, mas não tomamos a iniciativa para querer o bem.
      Pensamento positivo, crer que vai dar certo, sem Deus são ineficientes, vazios, de curta duração, mas são ferramentas úteis para manter-nos construtivos e fortes. Esse é o espírito de Deus, sempre amor que atrai à luz, sempre nova oportunidade para fazer certo, sempre vendo o lado bom, e quase todos, mesmo quem te faz sentir-se mal por algum motivo, têm um lado bom. Por isso o texto bíblico inicial completa a exortação bendizei os que vos maldizem com vosso Pai que está nos céus faz que o seu sol se levante sobre maus e bons. Deus não te ama mais que aquele que você sente como teu opositor, e muitas vezes o sentimento teu é baseado num engano teu, a pessoa na verdade nada tem contra você. 

terça-feira, novembro 07, 2023

Peça perdão

      “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.I João 1.8-9

      Se magoamos alguém e pedimos perdão exercemos duas restaurações de paz, a nossa e a do outro. Se pedimos perdão é porque reconhecemos nosso erro e não queremos cometê-lo mais, assim restauramos a nossa paz, mas se pedimos perdão damos oportunidade para o outro restaurar a paz que ele pode ter perdido quando ficou magoado. Contudo, se não pedimos perdão, continuamos sem paz e jogamos para o magoado um trabalho que deveria ser prioritariamente nosso, o outro terá que tomar a iniciativa que não tomamos e nos perdoar, ainda que não tenhamos solicitado seu perdão. Nesse caso além de magoarmos alguém ainda exigiremos dele a grandeza de nos perdoar, o prejudicaremos duplamente.
      Quem é maduro espiritualmente não necessitará nem que o outro peça perdão por ter-lhe magoado para perdoar, e se for ainda mais gracioso procurará quem o magoou e buscará restaurar a paz do agressor. Isso não é tão fácil de ser feito, temos a tendência de nos acomodar na posição de vítima e achar que por sermos vítimas a responsabilidade de acertar as coisas é do agressor, não nossa como agredido. É claro que existe a possibilidade de pedirmos perdão e não sermos perdoados, mas aí o problema não está mais em nossas mãos, fizemos a nossa parte e podemos seguir em paz, ainda que sem o perdão do magoado. O humilde confia que o perdão de Deus está acima de tudo, não se faz presa de mal alheio. 
      Contudo, existe uma outra situação, magoarmos alguém e nem termos noção que magoamos, estarmos endurecidos de tal forma que achamos que o que fizemos era nosso direito, que o outro merecia nossa atitude dura e que é ele quem deve administrar a questão, não nós. Já tive oportunidade de conviver com gente assim, que diz o que pensa, quando quer, magoa-nos, mas não volta para pedir perdão, ao contrário, segue convivendo conosco como se nada tivesse ocorrido. Pessoas assim devemos perdoar, com toda nossa alma, não maquinar nem a mais sutil vingança, entregá-las nas mãos de Deus e pedir a ele orientação para conviver com elas com sabedoria, sem mágoa, mas com educada distância. 

segunda-feira, novembro 06, 2023

O que é para você o bom combate?

      “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.II Timóteo 4.7-8

      O que é o bom combate para você? No fim, o que te deixará em paz ter vivido? Não queiramos nos apropriar do texto bíblico inicial no contexto que o apóstolo-teólogo Paulo usou, não temos a espiritualidade, a capacidade nem a chamada dele. Paulo se referia à sua missão como pregador e fundador de igrejas, num momento que o cristianismo era novidade e perigosamente confrontado, tanto que ele acabou preso e morto. Hoje os tempos são outros, somos seres humanos diferentes, cristãos diferentes, com problemas e metas diferentes. Ainda assim Deus pede de nós, ao menos no final de nossas vidas, o sentimento que houve em Paulo no final de sua vida, consciência tranquila de quem fez o que devia fazer.
      Só faz o que devia quem faz a vontade de Deus, para fazê-la é preciso conhecê-la e ter coragem de executa-la, ainda que homens se oponham. As pessoas, e nós também, gostam de dizer aos outros como devem viver suas vidas, cobrar os outros faz com que se sintam menos cobradas, dá-lhes um álibi para serem o que são, as faz pensar assim, “não fiz tudo certo, mas quem faz? muitos erram até mais que eu”. Devemos atentar a conselhos sábios, e muitas vezes, se formos muito teimosos, Deus usa até “inimigos” para nos acordarem e fazermos o que precisamos fazer. Mas o que busca a Deus com humildade será orientado pelo Espírito Santo e não será humilhado, saberá o que, onde e quando fazer, para que tenha paz. 
      Muitas vezes somos desconfiados, invejosos, irados, não gostamos de ser confrontados, que vejam nossas fragilidades. Contudo, devemos lutar contra tendências vaidosas e egoístas até o fim, senão acabaremos possuídos pelo mal, e ainda que nossos corpos estejam envelhecidos e nossas mentes lentas para reagirem, nossos corações permanecerão atormentados. Pois bem, eis o combate que todos temos que fazer, contra nós mesmos, para que nosso ego seja diminuído e Deus, em seu amor, em sua justiça e em sua santidade, seja exaltado. Amar a vinda do Senhor é estar pronto para a morte, onde seremos confrontados pela luz do Altíssimo, avaliados e revelados, o que for revelado dirá se estaremos num céu ou num inferno.

domingo, novembro 05, 2023

Fim ou só outro início?

      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.João 14.26

      Naquilo que muitos veem o fim do mundo, o apocalipse, a perdição, um anti-cristianismo, vejo só o cristianismo do mundo sendo desafiado a ser o cristianismo do Cristo. Vejo tradicionais religiões cristãs sendo confrontadas com aquilo que Jesus ensinou lá no primeiro século, mas que lideranças religiosas inescrupulosas, apoiadas por leigos acomodados, esqueceram ou esconderam, por medo de perderem poder no mundo. Desculpe-me se você não concorda, mas pense melhor em tantos ensinamentos do Cristo, que sempre estiveram na Bíblia e que muitos cristãos até entenderam do jeito certo, mas que não viveram porque se acostumaram a pensar que as igrejas não precisam ser perfeitas, que nem tudo pode-se pôr em prática, assim tomando o anormal como normal.
      Agora, para quem é conservador, e em conservador entenda-se manter tradição religiosa não a palavra original de Jesus, para esse as mudanças sociais que estão ocorrendo, principalmente nas áreas da família e da sexualidade, não são libertação, mas libertinagem, não são abertura e iluminação, entendendo mais a fundo a verdade, mas desobediência e trevas, desprezando a verdade. O conservador nega a característica da humanidade que faz o planeta se manter e evoluir, o aprendizado de novos conhecimentos que permitem uma existência de melhor qualidade, tanto na área material quanto na moral, tanto na área científica quanto na social. Quem não crê em evolução amarra Deus a uma visão antiga e menor de Deus, a ótica de homens do passado, que não representa o Deus eterno. 
      Não é Deus quem muda, é o homem e sua visão de Deus. Sabendo disso Deus, em seu amor paciente, revelou ao homem mistérios verdadeiros e eternos, mas do jeito que o homem antigo podia entender. Os fatos descritos em Gênesis não são científicos, mas também não são fantasiosos, são alegóricos, quem for humilde, lúcido e temente a Deus, verá em Gênesis assim como em tantos outros mitos e textos sagrados, seja do cristianismo ou fora dele, verdades eternas. Não negará a ciência assim como não desdenhará de doutrinas religiosas, mas achará o conhecimento maior de Deus. Agora, se um fim de mundo ocorrerá, será o fim do mundo conservador, e graças a Deus por isso, para dar lugar a uma profundidade maior sobre a verdade que o Espírito Santo pode nos entregar. 
      Um argumento conservador para muitos se manterem conservadores é “isso não está na Bíblia”, e na verdade não está mesmo, aliás, muita coisa relevante para nós hoje não está na Bíblia. Direito de mulher trabalhar, estudar e ser ativa em cultos, não está na Bíblia, oposição a trabalho escravo não existe na Bíblia, assim como a Bíblia não fala de doenças psicológicas, transtornos psiquiátricos, depressão, bipolaridade. Talvez isso explique porque Jesus ordenava e muitas pessoas eram libertadas, e registros de tais acontecimentos eram feitos identificando as pessoas como endemoniadas, não como doentes. O que o homem do século um não entendia como doença mental, algo subjetivo e que interfere na interação com a realidade, era chamado de obsessão espiritual.
      Mas o que conservadores não aceitam é que a Bíblia não é o fim, é o início, ela não delimita a verdade, não fecha-a, mas dá noções básicas e primárias dela, para um homem antigo que não podia entender mais que isso, e isso bastava para Deus abençoá-los. O início, o meio e o fim são o Espírito Santo, estava nas vidas de escritores bíblicos, do antigo e do novo testamento, e está presente hoje, eis a terceira dádiva que Jesus entregou. A primeira dádiva foi seu exemplo de vida no mundo como homem, a segunda é sua presença espiritual nas alturas nos conduzindo ao perdão de Deus, e a terceira é a liberação do consolador e professor Espírito Santo. Obras, fé e conhecimento, três experiências que o Cristo nos permite ter, viver como Jesus, crer em Deus e conhecer pelo Espírito Santo. 
      Não é o fim, só novo começo, a humanidade ainda precisa digerir liberdade, ampliá-la, torná-la não exceção, mas regra e normalidade, liberdade roubada pelas trevas e muitas vezes usando ferramentas veiculadas por quem deveria promover a luz, refiro-me a igreja católica, protestantismo e outras denominações cristãs. Só depois do ser humano se entediar com liberdade, com sexo, com prazeres, é que entenderá que a prioridade é espiritual, não material. É sempre assim a evolução do ser na Terra, numa onda senoidal, onde existe subida até o ponto mais alto e depois queda até o ponto mais baixo, num processo lento em repetidos ciclos. O ser humano só escolhe certo depois que enjoa do errado, e mesmo liberdade, sem Deus, é ilusão, que ele precisará enjoar para ser livre em Deus.

sábado, novembro 04, 2023

Siga o rio

      “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.Salmos 46.4

      Um homem segue pela margem de um rio, sente-se cansado e às vezes tem vontade de parar, mas persiste na caminhada. O rio está num vale com montanhas em ambos os lados, o rio é estreito, mas sua água é limpa e fresca. Nas margens do rio, nas montanhas, não existe vegetação ou qualquer espécie de vida. Tudo está sob terra vermelha, sem árvores, gramas, matos, flores ou qualquer tipo de flora, também não há vida animal. No alto das montanhas há homens e mulheres, procurando lugares melhores, se achando melhores que os que estão no vale, mas onde estão não há água, não há vida, só morte.
      De vez em quando o homem para, estende o braço, com a mão pega um pouco de água e leva à boca, é tudo que ele precisa para se manter vivo, mas logo segue seu caminho. A água desce, o caminho sobe, mas não para uma montanha, para um lugar alto, coberto por nuvens, parece que o rio nasce no céu. O homem olha para trás e vez sua família, mulher, filhas, elas não estão andando, mas permanecem próximas ao rio, alimentam-se dele e perto dele constróem suas vidas. O homem não tem mais nada a construir, assim deve seguir o rio, chegar ao lugar onde ele nasce, escondido nas nuvens. 

      Muitas vezes, depois de orar, no escuro e no silêncio da sala, eu abro os olhos, relaxo e simplesmente vejo cenas. Não me esforço para inventar nada, não é uma história fantasiosa que minha mente inventa, é como um filme, que se passa diante de mim sem que eu me esforce, só preciso descansar em Deus e focar no Espírito Santo. A história acima é mais que uma fantasia, é uma alegoria que o Espírito Santo, para facilitar meu entendimento sobre minha vida, meu passado, meu futuro, o plano espiritual e a vontade do Senhor para mim, me permite conhecer. Quando uma experiência assim nasce em Deus ela é viva, quanto mais refletimos nela, mais nos é mostrado e com mais clareza.
      Três tipos de pessoas são exibidos na história acima: as que estão longe do rio, as que estão perto do rio, mas paradas, e o homem, perto do rio e seguindo em frente. O rio é o Espírito Santo de Deus, estamos no mundo para trabalhar, nos mantermos vivos fisicamente, mas também para aprendermos que vida espiritual só há perto de Deus. Essa posição pode parecer menor para aqueles que vivem sem Deus, esses escalam montanhas, aparecem mais, parecem mais poderosos e sábios, mas ainda que tenham muito no mundo estão mortos espiritualmente. Só o rio que vem de Deus pode alimentar os espíritos humanos, mas ter esse privilégio é ser humilde, limitando-se ao vale onde passa o rio. 
      Muitos desprezam o rio, outros fazem moradas às suas margens, mas alguns devem caminhar perto do rio. Todos que amam a Deus não se sintam menos por habitarem às margens do rio, mas o chamado para seguir pelo rio também não se ache mais por isso. O caminho do homem que segue o rio, em direção à sua nascente é solitário, se no vale há humildade, do que caminha pelo rio mais humildade é pedida. Mas ele deve seguir, nada mais lhe resta a fazer no plano físico, deve dedicar-se às coisas espirituais, preparar-se para a passagem. Todos deveriam fazer esse caminho no final de suas vidas, mas muitos não fazem, ficam parados onde viviam e nada tendo para fazer desfalecem de tristeza.
      De uma pessoa que exalta a ciência e leva uma vida com saúde de qualidade, e entendamos que nada há de errado nisso, ouvi o seguinte: “quando envelhecer vou dedicar-me à natação”. Sim, é sábio cuidarmos bem de nossos corpos e acatarmos a ciência, mas priorizar a matéria na velhice é fazer uma morada no alto da montanha, longe do rio, e querer morrer lá. Essa morte não é feliz, nem a melhor de Deus, a melhor é nos aproximarmos mais de Deus em nossas vidas, nos achegarmos ao rio e pagarmos os preços para vivermos perto dele. Mas é na velhice que o rio ganha sua maior relevância, quando se torna não só alimento em alguns momentos do dia ao orarmos, mas razão de viver. 
      Convém a todos se aproximarem de Deus, mas ao velho isso é mais importante, não só parar de vez em quando para beber a água do rio, para ter forças para trabalhar no mundo mantendo sua excelência moral. Ao velho compete seguir pelo rio, ter mais experiências espirituais, manifestar os dons do Espírito, conhecer os mistérios e as verdades de Deus, santificar-se, acostumando-se com o céu e sendo libertado do mundo. No final isso não é só escolha, é missão, para quem quer a melhor eternidade. Quem segue pelo rio ao morrer no mundo se elevará ao céu sem grandes dificuldades, já estava acostumado com esse caminho no mundo, construiu a melhor eternidade em seu homem interior, salvou-se. 
      Mas quem para no mundo e estaciona mesmo às margens do rio, desfalecerá ainda com o corpo vivo, não terá forças nem para tomar a água do rio. Se enquanto temos que trabalhar no mundo o universo nos dá forças para isso, ainda que bebendo de Deus só de vez em quando, quando temos que parar de trabalhar no mundo e seguir o rio só teremos forças numa comunhão mais íntima e constante com Deus. Felizes os que vivem bem cada tempo de suas existências aqui, trabalha quando precisa, cuida de sua saúde física o quanto precisa, ama quando precisa, ora quando precisa, para de empreender no mundo quando precisa, se consagra quando precisa e se prepara mais para o céu quando precisa. 

sexta-feira, novembro 03, 2023

Resposta certa vem do silêncio (2/2)

      “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram.” Daniel 7.15

      Todos somos dissimulados e orgulhosos, não admitimos tudo que somos e sentimos, assim, não confiemos nos posicionamentos, nas palavras, nos semblantes de muitos que dizem que não precisam de Deus e de religião para terem paz. Todos têm em si espíritos e esses têm sede do grande Espírito, sem saciar essa sede não há paz, ainda que a mente esteja lotada de informação intelectual, da ciência e de todos os seus cuidados. Muitos possuem para cada ensino espiritual que compartilhamos um questionamento, mas não para se aproximarem mais da verdade mais alta, para se distanciarem dela. Muitos não querem Deus pois teriam que assumir humildade que acham que os inferiorizaria diante de pares, puro orgulho.
      Entretanto, mesmo quem crê em Deus, muitas vezes mesmo depois de pôr perdão em ordem pela oração, de receber de Deus e de si mesmo, e de dar aos outros, ainda está sem paz. Esse tenta exercer fé, clamar por necessidades que acha que Deus pode e quer resolver, mas ainda assim não acha consolo. São nesses momentos que a alma deve calar, parar de perguntar e só ouvir. No silêncio do invisível ouvimos o Espírito de Deus nos dizendo pelo que devemos orar, o que temos que pedir, que perguntas podemos fazer. Isso não é um todo-poderoso prepotente tentando forçar sua vontade, mas a luz mais alta nos abraçando em amor e nos pondo como parte de algo maior. Nessa elevada posição há a causa maior e todas as respostas. 
      Daniel sofria por seu povo, pelo cativeiro de Israel, por isso se pôs a buscar a Deus. Muitas vezes Deus permite uma dor, não por ser nosso problema principal, mas para nos levar a buscá-lo, isso é só uma desculpa, que nossas almas facilmente acomodadas a zonas de conforto onde Deus não é buscado, precisam para buscarem o Senhor com mais profundidade. Contudo, nessa busca Daniel recebeu muito mais que respostas para o problema de Israel naquele momento histórico, Deus revelou a seu amigo acontecimentos futuros e sobre toda a humanidade. Por isso ele diz no texto bíblico inicial, “meu espírito foi abatido dentro do corpo e as visões da minha cabeça me perturbaram”, a pergunta que Deus tinha para ele era muito, muito maior. 
      Ah, se conseguíssemos nos desprender de nossos mundinhos, de comer, beber, namorar e pagar boletos, se de fato colocássemos em prática Mateus 6.33-34a, “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas; não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”. Se isso acontecesse seríamos levados a servir a Deus em causas muito maiores que as nossas vidas pessoais, então, seríamos cuidado por Deus de forma maravilhosamente natural, ainda que aparentemente milagrosa para muitos. Mas enquanto estivermos ocupados em fazer perguntas mesquinhas, para responder curiosidades infantis, seguiremos insatisfeitos, aquém do melhor do plano de Deus para nossas vidas. 
      A verdade é que falamos demais e vivemos pouco, e muito que fazemos é para nossa própria glória neste mundo e diante dos homens, não é parte da glória de Deus manifestada através de nós e que fará diferença na eternidade. Deus não chama escravos que o adorem de baixo para cima, ainda que o processo de conhecimento de Deus do ser inicie-se assim, com humildade que reconhece um poder maior que tem o melhor para si. Deus quer nos elevar espiritualmente para sermos seus amigos, parte de sua glória, assim sua luz emanará aos outros seres, no plano físico e no espiritual, através de nós. Nessa íntima conexão sabemos as perguntas que devem ser feitas que terão respostas, na tua luz veremos a luz (Salmos 36.9b). 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

quinta-feira, novembro 02, 2023

Pare de fazer pergunta errada (1/2)

      “E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles!Salmos 139.17

      O mundo atual diz que todos têm direito de saber de tudo, todos podem questionar todas as coisas e nada precisa ser aceito de qualquer jeito. As perguntas são valorizadas mais que as respostas, para o mundo atual responder é estacionar, saber é aprisionar, a liberdade está no confrontamento, na não concordância. Mas será que mesmo após gerações, que tinham que aceitar tudo e de nada duvidar, jovens hoje querem direitos ou querem revanche? Para onde tanta liberdade, tantas perguntas, tanto orgulho de se ter dúvidas, está conduzindo as novas gerações? Perguntas erradas têm respostas erradas, na quantidade de perguntas pode não haver conhecimento, mas só ceticismo. O que pode responder pede fé e fé foca, não se perde.
      Quem pensa que fé é aceitar qualquer coisa sem duvidar não entendeu o que é a verdadeira fé, o que ela busca e o que ela pode achar. Para sabermos sem questionar não precisamos de fé, basta nos acomodarmos com o que sabemos ou com o que os outros sabem. Se precisamos crer é porque queremos ousar, ir além das próprias certezas, saber o que não sabemos e que muitas vezes nem queremos saber, mas que precisamos saber. Fé só tem certeza que será respondida e que a resposta será maravilhosa, mas o resto será surpresa, algo que nem se imagina. Muitos acham que creem, mas no fundo só buscam confirmações de zonas de conforto, do que são e sabem, até serão beneficiados, mas não crescerão tudo que podem crescer.
      A resposta maior, contudo, só achamos quando paramos de perguntar, quando nos calamos e ouvimos a pergunta. A pergunta certa vem do alto, quem a conhece faz a pergunta certa e recebe a resposta certa, que também vem do alto. “Mas como assim, não podemos sequer perguntar, temos que deixar Deus perguntar por nós?” Quem não ama a Deus, quem acha que Deus está no engano do cristianismo do mundo, nas tradições religiosas que só querem controlar os homens para dar poder a homens, não entenderá esse mistério. Materialistas, que não creem sequer que Deus exista, muito menos que colocou o ser no mundo e o atrai para ele, num processo existencial que evolui o ser moralmente, não aceitarão esse lindo mistério. 
      Solitários não entenderão o grande mistério, acham na ciência respostas para suas mentes, cura para seus corpos, soluções para o planeta, mas não acham amor, carregam espíritos frios e vazios. Arrogam saber tudo, pensam poder fazer as perguntas mais lúcidas, mas questionam só a si mesmos, não creem para saberem a melhor pergunta e terem a melhor resposta. Paremos de perguntar que a resposta vem, paremos de explicar, de nos justificar, de nos acharmos deuses, somos só seres criados, a resposta está no incriado. Uma palavra define espiritualidade, não é religiosidade, nem cristandade, é humildade, só o humilde olha para o alto e se coloca como menor, como dependente, como incompetente para fazer qualquer pergunta.
      Ateu não prova a sabedoria mais alta, não usa fé para acessar Deus, é presa de sua arrogante teimosia. É importante dizer que ciência é bênção de Deus, deve ser aprofundada e acatada, mas ela também é efeito da sabedoria mais alta, não causa das outras sabedorias, ainda que experimentada por muitos que nem admitam existir sabedoria mais alta. Mas apesar do Espírito de Deus estar entre nós desde o primeiro ser humano, experimentá-lo é escolha dada ao homem. Quem entra na mente de Deus ouve além e vê o invisível, quem escolhe compartilhar a mente espiritual de Cristo (I Coríntios 2.16), aliando a isso lucidez intelectual, não fazendo ciência e fé como opositoras, saberá mais que a ciência atual sabe na área espiritual.

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a 2ª parte desta reflexão

quarta-feira, novembro 01, 2023

Só sabemos o fim

      “O seu Deus o ensina, e o instrui acerca do que há de fazer.Isaías 28.26 

      Nós sabemos como todas as coisas vão acabar, mas não sabemos como as boas coisas podem começar, por isso temos que começar todos os dias. Quem para de começar, acaba, e pode morrer antes do tempo. Começar é acreditar sem saber no que vai dar e esperar o melhor, é plantar escondendo uma pequena semente no fundo da terra para colher tempos depois, começar é nascer, é viver. 
      Na luz de Deus mesmo nossa chama mais pequena é forte e útil, e Deus não precisa mais do que uma pequena e pura chama para usar. Cuidado com os que parecem brilhar muito, com uma luminosidade estranha, um azul neon que aparece nas trevas, mas que não vem de Deu, nem para ele retorna. No mundo há muitas luzes, de todas as cores, mas só o Espírito Santo acende em nós a luz mais alta. 
      É essa luz, que acende todos os dias, que nos dá forças para começarmos, recomeçarmos e seguirmos nos transformando. Ela se apagará no final? Não, só será libertada para voltar a ser parte da luz maior do Altíssimo. Sua qualidade é definida nos persistentes começos que executamos no mundo, quando deixamos morrer vaidades e egoísmos e fazemos nascer amor puro e corações limpos.
      Não tenha medo de começar, muitos por orgulho, por não quererem mostrar para os homens o pouco e o pequeno que há no início, viram aquilo que tinham nas mãos, que até era grande, diminuir até sumir, depois disso foram envergonhados. Eternos só os valores morais que anexamos a nossos homens interiores para levarmos à eternidade, o resto é do mundo, aqui nasce, aqui morre, aqui fica. 
      Dois de novembro, dia para lembrar-nos dos mortos, é respeitoso honrá-los, mais útil que muitos acham que é, contudo, importante é avaliarmos suas trajetórias, aprendermos com suas boas verdades, mas também com suas mentiras. A verdade é terra fértil, a única em que a vida eterna cresce. Teremos tempo de ver o fruto do que plantamos, acabar o que começamos? Deus sabe. Será necessário? 
      Talvez não, talvez baste que comecemos, Deus pode estar só esperando que coloquemos o primeiro tijolo na construção, para avaliar, não a construção, mas nossa obediência. Obedecer não mostra que somos servos diligentes, que obedecem cegamente uma ordem, mas que somos amigos que sabem onde a ordem de Deus vai nos levar, pela fé. No final, Deus crê em nós à medida que cremos nele. 

terça-feira, outubro 31, 2023

Trabalho eterno (2/2)

      “E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” João 5.16-17

      O texto de Mateus 25.31-34, 41 expressa a ideia básica que os protestantes têm tradicionalmente do juízo, do céu e do inferno: “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo,” “então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.
      Contudo, Apocalipse 2.26 revela algo que passa batido na leitura que muitos evangélicos fazem da Bíblia. Esse texto pode mudar um pouco a ideia de um céu só contemplativo que normalmente muitos têm: “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações”. Por que os salvos teriam poder sobre as nações no céu? Para que teriam esse poder, com que propósito? Se os salvos estiverem isolados numa região externa denominada “céu”, se nesse lugar, de ruas e construções de pedras e metais preciosos, só haverá salvos, por que salvos teriam direito de dominar pares, de subjuga-los, de controlar nações? Isso nos faz pensar que o céu talvez não vá ser lugar para ociosidade, mas para trabalho.
      Não podemos deixar de considerar que as palavras escritas no livro Apocalipse são de um homem do passado. Ainda que tenha tido uma genuína e poderosa experiência com Deus, João o evangelista registrou o que viu de acordo com o entendimento intelectual e as referências espirituais de um ser humano do primeiro século d.C.. Talvez, na concepção dele, ter poder sobre as nações era a mesma capacidade que tinham vencedores numa guerra física sobre os derrotados, uns tomando outros como escravos, ou, então, João pode só ter entendido que o salvo teria uma posição política superior, como a de governador ou de rei. Lembremos que essa não é a visão do evangelho, que diz que temos que amar e abençoar os inimigos. 
      Nem João o evangelista, que foi mais que um discípulo de Jesus, mas um dos amigos mais próximos do Cristo, pôde entender a profundidade da verdade entregue pelas boas novas do evangelho, sua superioridade sobre a velha aliança de Moisés, senão teria usado palavras diferentes no livro Apocalipse. Deus é perfeito, há um motivo de Jesus ter vindo no século I, mas na verdade isso não faz diferença naquilo que Deus objetivou mostrar à humanidade de todos os tempos pelos textos do novo testamento. Aqueles que de fato querem conhecer a Deus, e não só serem adeptos de religiões, buscarão o Altíssimo e receberão de seu Santo Espírito para saberem o que de fato João viu em suas visões quando preso na ilha de Patmos. 
      Levantemos uma conjectura: será que o trabalho dos que estão no céu não será recuperar os que estão no outro lugar? Para que viemos ao mundo? Não é para acumularmos riquezas materiais, nem para administrarmos o planeta ou nos desenvolvermos cientificamente. Deus nos permite fazer tudo isso, contudo, não para estabelecermos um reino na Terra, mas para conservarmos adequadamente a sala de aula ou o quarto de hospital, que é o plano material, o lugar que Deus usa para conhecermos a Jesus, nos aperfeiçoarmos moralmente e ajudarmos os outros a terem experiências iguais. Estamos no mundo para nos livrar de infernos e ajudar os outros no mesmo propósito, trabalhando para construir o céu dentro de todos. 
      Será que o plano espiritual mudará tanto em relação ao material? Será que tudo que fazemos e cremos aqui bastará para não fazermos mais nada lá? Será que todos que irão ao céu morrerão no mundo no mesmo nível de espiritualidade, assim como todos que forem ao inferno serão igualmente merecedores da mesma e extrema pena? Será que uma passagem neste mundo é suficiente para uns sofrerem terrivelmente para sempre e outros nada fazerem eternamente? Ou será que o amor de Deus seguirá trabalhando em suas criaturas, permitindo que os que já estão próximos dele como amigos ajudem os que estão distantes, mas que também são seus filhos? Tais questões são muito sérias, não vou respondê-las por você, se buscar achará as respostas. (Leia mais sobre esse tema em “Poder sobre as nações (46/90)).

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a 1ª parte desta reflexão

segunda-feira, outubro 30, 2023

O que será o céu? (1/2)

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.I Coríntios 2.9-10

      Alguns dizem, quando morre alguém, “parou de brilhar aqui e foi brilhar lá em cima”, se é músico falam, “não canta mais na terra, foi cantar no coral celestial”, mas se o falecido era um ator dizem que foi brilhar nos palcos superiores, se era carnavalesco dizem que foi sambar no céu. Na verdade a ideia que muitos fazem do céu é aquilo que eles consideram prazeroso, grandioso, valoroso na Terra, mas com proporções maiores no outro plano. Se ser rico é bom no mundo, no céu seremos milionários, algumas religiões até dizem que no paraíso os santos terão direito a se relacionarem com muitas virgens, já que consideram casamento e vida sexual o prazer maior da vida aqui. 
      Mas será que temos capacidade, inteligência, ciência, para entender o que é o céu? A igreja católica construiu uma ideia equivocada de santidade assim como de excelência espiritual, essa ideia vê nos apetites do corpo físico o pecado, o mal, o inferno, assim vê céu como oposição a isso. Tentando estabelecer esse céu na Terra criaram-se as ordens religiosas de monges, frades, freiras, irmãs etc, que usam isolamento e abnegação extrema para serem santos. Talvez para muitos católicos o céu será isso, um convento, um mosteiro, um monastério, onde as tendências pecaminosas estarão dominadas e a existência será só para venerar a Deus. Mas será isso o céu, um lugar só para contemplação? 
      Para tentarmos entender o mais proximamente possível o que é o céu temos que entender qual é o centro da vontade de Deus para os seres humanos no mundo, quem não entende ou não aceita o que de fato Deus quer dele aqui, não conseguirá entender e aceitar o que Deus tem para ele lá. Desculpe-me se for duro, mas tem uma palavra que define nossa existência no mundo, e entendemos isso desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, a palavra é trabalho (Gênesis 3.17-19). Muitos aliam o céu ao sétimo dia da semana, o dia de descanso, mas céu pode estar mais relacionado aos outros seis dias, dias de trabalho, e mais, a sete dias de trabalho, já que no céu não precisaremos descansar.
      O que cansa, adoece, desgata-se, falece, é nosso corpo físico, bem, no céu não teremos um envólucro material aprisionando nosso espírito, esse estará livre e esse não se cansa, não adoece, não desgasta-se e não falece, pelo menos não em sua composição. Contudo, aqueles que tiverem construído infernos dentro deles, estarão cansados, desanimados, amarrados, insatisfeitos, isso não matará o espírito, mas causará um sofrimento terrível e bem duradouro, por isso inferno. No inferno não poderemos trabalhar, mas talvez daremos trabalho aos outros, eis um mistério. Mas que trabalho faremos no céu? A melhor adoração que podemos dar a Deus não é através de palavras e canções, mas por ações.
      Sim, a ideia que muitos evangélicos têm do céu é válida, lá os salvos louvarão a Deus, mas será que isso não será feito com obras, seguindo num eterno trabalho de servir os outros em amor? Sei que estou entrando numa maneira de entender o céu que escapa um pouco da teologia protestante tradicional, assim de agora em diante sinta-se à vontade para entender o que será dito como suposição, ainda que eu, pessoalmente, tenha certeza que não é suposição. Caminhe conforme tua fé, não conforme a minha fé ou de quem quer que seja, contudo, não tenha medo de pensar um pouco mais fundo sobre as doutrinas cristãs em que acredita, depois ore e peça que Deus e só ele te mostre a verdade. 
      Haverá prazeres sem iguais no céu, ninguém duvide disso, não será só exaltação do melhor que temos no mundo. O melhor que tivemos aqui será visto como pequeno, tolo, inútil, no céu. Entenderemos como somos mesquinhos, egoístas, vaidosos, que mesmo em nossas crenças religiosas, que procuramos guardar com tanta fidelidade e sinceridade, havia prisões, medos, superstições, não a liberdade que o Espírito Santo, ainda no mundo, tentava nos fazer conhecer. Se aqui nos encantamos com arte, com música, com louvores cristãos, isso tudo lá será tão menor que nem saudades teremos, só sentirá saudades do mundo quem estiver num inferno. Mas a esses, será que não poderemos ajudar lá com trabalho? 

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domingo, outubro 29, 2023

Provando a glória de Deus

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Se conhecer a Deus fosse ler a Bíblia e aprender com personagens antigos que vale a pena ser amigo de Deus como foi Abraão, que vale a pena superar a própria natureza má e ser um vencedor como foi Jacó, que vale a pena vencer a inveja dos irmãos e as prisões do mundo para ser a salvação da família como foi José, que vale a pena esperar trinta anos no deserto para ser manso para conduzir um povo à terra prometida como foi Moisés, que vale a pena suportar a perseguição de um líder deposto, não se vingar dele e ainda chorar sua morte para enfim ser rei, só isso já compensaria o que sofri pelos erros que cometi. 
      Se conhecer a Deus fosse estudar os evangelhos e conhecer, não as religiões cristãs, mas o próprio Cristo, quando ele foi santo, mas foi amigo dos homens sem importar-se com seus níveis morais, quando ele, ainda que conhecendo a incredulidade e a superficialidade dos seres humanos, os curou, os alimentou, seus corpos e suas almas, sabendo que no final ninguém lhe faria companhia em sua maior prova, quando ele, ainda que de uma espiritualidade de nível superior a qualquer um que pisou este planeta, foi humilde, manso, calado, não se defendeu, só amou, só isso valeria à pena ter perseverado para ser alguém melhor. 
      Se conhecer a Deus fosse trabalhar em igrejas, tocar em vários cultos por semana, pilotando tantos instrumentos de teclas, dos velhos harmônios, que nos deixavam sem fôlego quando tínhamos que pressionar pedais para manter os foles cheios de ar, até lindos pianos de cauda, passando por sintetizadores dos anos 1970 até os atuais, sentindo o louvor maravilhoso de centenas de vozes, unidas só para adorar, mas também orando em tantas vigílias, clamando pela liderança, pelos ministérios, para que o nome de Cristo fosse pregado, só isso valeria a pena ter sido injustiçado muitas vezes pelos que cantavam comigo. 
      Hoje faço sessenta e quatro anos, quarenta e oito anos de conversão em igreja protestante, mas com uma necessidade intrínseca e misteriosa de Deus desde que tenho consciência que existo. Não foi fácil, minha libertação foi lenta, deixei baixas no caminho que só pela misericórdia de Deus se restabeleceram após minha passagem em suas vidas, mas o final tem sido iluminado, e o que deixo aqui faz com que me sinta satisfeito por ter cumprido minha expiação. Contudo, minha experiência foi mais que conhecimento bíblico, encantamento com a vida de Jesus e ministração de louvor, provei a glória de Deus de perto. 
      Sinto pena dos fortes, inveja, não, pelo menos, não mais, mas me entristeço por saber que eles podem ter conhecido profundamente doutrinas de religiões cristãs, mas por se acharem capazes o suficiente para agradarem a Deus só tiveram experiências intelectuais com Deus. Tentaram fazer o melhor, mas com as próprias forças, nunca precisaram se levantar do fundo do poço escuro dos próprios fracassos e só acharem forças para isso na glória de Deus. Minha experiência não foi teoria fria, mas vivida com um sentimento maravilhoso, um êxtase que nenhum prazer deste mundo se compara, o dom do vivo Espírito Santo.
      Ainda que devamos tomar a iniciativa de falar com o Senhor todos os dias, Deus nos chama para orar, quando isso ocorre sentimos algo diferente. Nessa chamada a presença de Deus é poderosa, para quem já manifestou dom de línguas a boca se enche de palavras ininteligíveis e nos sentimos puxados como que por um choque elétrico, nosso espírito é arrebatado num instante a elevadas regiões espirituais. Nessa posição o Espírito Santo nos fala, são frases curtas e diretas, mas são mais que semântica, é a glória de Deus nos tocando. É essa experiência sobrenatural que tem me mantido firme no caminho que Deus me vocacionou.