sexta-feira, maio 24, 2019

A pregação que de fato abençoa

      “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão.Amós 8.11-12

      Como é triste ver pregador ao púlpito usando truques de oratória tentando achar unção, assim ele repete o que algum dia até deve ter sido ungido, mas para outros, não para ele, no final ele falou e falou e não disse nada, um vazio paira no templo. Só abençoa quem é abençoado, a melhor bênção é a última e para o cristão que de fato anda com Cristo sua última bênção foi experimentada nas últimas vinte e quatro horas de sua vida. 
      Pregador, não tente achar a unção nas palavras, na retórica, no discurso, na história bíblica bem contada e dramatizada. A unção de Deus acha naturalmente o coração do simples, do benignamente sincero, de maneira que as palavras revelem mistérios espirituais sem ousarem isso, liberem unção verdadeira, sem que qualquer espécie de manipulição humana seja utilizada. Vida, contudo, só é pregada por quem vive, e o evangelho genuíno não precisa mais do que isso, porque ele e só ele é isso, vida. 
      Só Jesus dá vida eterna, paz, salva, perdoa, cura, quem experimenta isso todos os dias terá uma palavra renovada para pregar todos os dias, sem inventar moda ao púlpito, sem fazer uso de ranços pentecostais, de clichês pseudo-espirituais, mesmo de sacadas de hermenêutica, históricas, teológicas ou das línguas originais do cânone bíblico. A pregação que de fato abençoa é feita por quem vive de fato o evangelho, esse não precisa procurar a unção, é ela quem o procura e o acha, para a glória de Deus. 
      Pregação ungida glorifica o Senhor, testemunha do Senhor, não celebra a fé, mas o Deus em que a fé é posta. Temo, contudo, que a profecia do texto inicial de Amós esteja se cumprindo nos dias de hoje, os dias finais, quando a verdadeira palavra de Deus seja difícil de ser achada nos púlpitos. Oremos pelas igrejas, oremos pelos pastores, oremos pelos pregadores, mas acima de tudo não aceitemos falsificações, nem nos iludamos com truques, busquemos a pura e viva palavra do Senhor.

quinta-feira, maio 23, 2019

Fazer porque sabemos ou porque vivemos?

      “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.Mateus 7.24-25

      O que é mais sábio para exercer ministérios em igreja, fazer porque se sabe ou fazer porque se vive? Muitas vezes queremos desempenhar certas tarefas na igreja porque sabemos fazer (ou achamos que sabemos), porque temos as habilidades intelectuais e mesmo os talentos espirituais. Mas no reino de Deus fins nunca justificam os meios, às vezes queremos ser vasos da sala de estar, aqueles que aparecem mais, que qualquer visita pode ver, contudo com limites emocionais e sociais que expostos escandalizam as pessoas. 
      Assim, queremos pregar porque temos conhecimento, estudo, mesmo discernimento espiritual, mas não temos paciência para tratar as pessoas depois que descemos do lugar onde o púlpito se encontra, dessa forma nossa falta de amor desacredita nossa palavra. O mais sábio seria só abrirmos nossas bocas para ensinar depois de conseguirmos praticar comprovadamente aquilo que queremos ensinar, não antes, e enquanto isso sermos vasos mais discretos. 
      Talvez eu esteja falando só para mim, se for isso, alguém já está aprendendo algo, mas você, que gosta de ser vaso da linha de frente das igrejas, de pregar, de cantar, de tocar, de pegar o microfone e ser visto pela congregação, tenha cuidado. Sejamos sábios, com um enorme temor de Deus, querer e mesmo saber não justifica fazer, a melhor apresentação no local mais alto e visto dos templos não confere legitimidade a uma prática de vida sem qualidade íntima e social, em nossos relacionamentos com nós mesmos e com os outros.
      Sim, Deus perdoa o que o busca e não joga na face do homem seu pecado, mas as pessoas não são assim, elas precisam ser convencidas de que somos cristãos de verdade. Caso contrário seremos apenas falastrões, falsos, hipócritas, que adoram ouvir os sons de suas próprias vozes, mas que só envergonham o evangelho, se você sabe e tem certeza disso, espere mais um pouco, viva o que sabe e permita que seus atos falem antes e mais alto que suas palavras. 

quarta-feira, maio 22, 2019

Mentira

      “Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.João 8.42-45

      A mentira pode agradar nosso ego, nos proteger das realidades, da dor, mesmo nos dar alguma alegria por algum tempo, fazer com que nos sintamos importantes e donos da situação, mas ela é essencialmente, em todas as áreas e planos, uma ferramenta luciferiana, uma afronta a Deus, à medida que nega a verdade, relega-a a um segundo plano, rouba dela a importância. Deus é verdade, não religiões, não o cristianismo estabelecido no mundo, não os dogmas e doutrinas, por mais bem intencionados que sejam, dessa forma, negar a verdade, é negar a Deus.
      O “diabo”, seja ele quem for, e a que o aliemos, não é necessariamente o mal, no sentido de ser algo que prejudique alguém, seja no corpo, na alma ou no espírito, não de imediato, ele não é feio, nem burro, e seu plano mais alto é ajudar o homem a ser um ser humano melhor, justo com todos os outros homens, a ter um planeta melhor, sustentável e limpo. Contudo, o diabo é mentiroso à medida que quer fazer tudo isso do seu jeito, não sem Deus, não sem religião, visto que ele incentiva e respeita as religiões, o diabo é o pai das religiões, ele não as teme. 
      Para ele o ideal seria existir tantas religiões quanto são os seres humanos no planeta Terra, ainda que saiba que é muito mais fácil dominar manadas sem individualidades debaixo de uma mesma crença. Em última instância o diabo nega Jesus, pois Cristo, não o cristianismo ou as religiões, é o único que estabelece uma comunhão direta entre os homens e o Deus altíssimo. A essência da mentira está em negar a Jesus, não ensinos bíblicos, não as boas obras, não o amor, não a caridade, não a evolução espiritual humana, não um planeta melhor administrado.
      É justamente por isso que o Diabo tem levantado tanto atualmente a bandeira da ecologia, da proteção da vida natural, porque ele só tem um mundo em que possa interferir, este aqui, o do plano físico. O reino do Diabo só pode ser experimentado, ainda que só por um momento no tempo, no planeta Terra, isso só acontece porque o homen, em seu livre arbítrio permitido temporariamente por Deus, autoriza que o diabo tenha espaço. Quem dá poder para o diabo na Terra é o ser humano. É o homem, achando prazer na mentira e tentando se esconder da verdade, que permite que o plano original do diabo se realize. 
      Não nos iludamos com o Diabo, não nos enganemos com suas astúcias, seu plano maior foi colocado em prática ainda no jardim do Éden, ele se manteve focado nesse plano por toda a história da humanidade e o tem revelado em detalhes para um maior número de pessoas, e não só para iniciados em ordens secretas, desde o século XIX. A chamada nova era baseia-a mais do que tudo num ser humano equilibrado, tolerante e num planeta com mais qualidade de vida que perdure, o Diabo quer criar o paraíso na Terra e ser seu deus, quem tem olhos para ver sabe disso. 
      Assim, perseveremos na verdade, perseveremos em Deus, e em mais ninguém, tenhamos cuidado mesmo com religiões, igrejas e pastores, ainda que devamos perseverar em viver em igrejas e debaixo de pastores, mas olhemos para o alto. Que Jesus seja adorado e enfatizado, pregado e obedecido. Na Terra o Espírito Santo revela a verdade, revela Jesus, revela Deus. Que toda mentira seja tirada de nossos corações, mesmo que doa no início é o único jeito da verdade ser vivida, só na verdade existe vida, fora dela só existe morte e mentira. 

terça-feira, maio 21, 2019

Verbalize tua gratidão

      “E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” Colossenses 3.14-17

      Às vezes, tudo que alguém, bem próximo da gente, precisa ouvir é “muito obrigado”, muitas vezes até vivemos com gratidão, com respeito por aqueles que nos ajudam, mas por algum tipo de timidez, simplesmente não transformamos isso em palavras. Palavras podem ser vazias? Falsas? Sim, atitudes têm mais importância, contudo, como palavras podem abençoar, curar, entregar felicidade. Assim, principalmente para aqueles realmente próximos, para os quais a roda viva da vida pode nos levar a pensar que o que fazem por nós não é mais que mera obrigação, para esses paremos um momento e verbalizemos nossa gratidão. Digamos a esses em alto e bom som: muito obrigado por tudo o que você fez por mim, por tudo o que você é para mim, eu hoje sou melhor porque você escolheu entrar em minha vida e ficar, não por obrigação, não por favor, mas por amor. Um coração agradecido sempre encontra misericórdia, acha paz, ganha a atenção de Deus a tempo e com abundância.

segunda-feira, maio 20, 2019

A base de construção sustentável

       “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalteI Pedro 5.6

     É triste, mas certas pessoas, quando as vemos numa situação difícil, e queremos ajudar, o máximo que podemos fazer é ficar longe e orar por elas. Por causa do orgulho, elas constroem em volta de si mesmas muralhas, que nos impedem de nos aproximarmos delas em momentos assim. São pessoas até que boas, amigáveis, mas que se mantém assim baseadas em mentiras, assim quando a realidade mostra a verdade delas, elas se escondem. Sabemos que muitas vezes nós mesmos já passamos por situações assim, e que a duras penas aprendemos que uma vida íntegra que se mantém assim no tempo, forte e resistente às surpresas deste mundo, às instabilidades dos sistemas humanos, à injustiça do homem e às astúcias do diabo, é porque foi construída sobre uma base firme e incorruptível. 
      Que base é essa? Um coração quebrantado que se entrega a Deus sem mentiras, sem vaidades, e que mesmo pagando altos preços sociais, mesmo vergonha diante de amigos e familiares, escolheu o caminho da verdade, a verdade que coloca Deus e a nós mesmos nos lugares certos. Sempre há tempo de voltar e corrigir, ainda que mentiras mantidas por muito tempo criem estruturas tão grandes quanto falsas, e quanto maiores mais trabalho teremos para destruí-las para que o terreno seja limpo e uma nova, melhor e verdadeira construção, coerente com o que somos e com o que Deus quer de nós, seja então construída. Mas não há outro jeito para que sejamos felizes e tenhamos paz, quebrantamento é a única base para uma construção de vida sustentável e resistente ao tempo. 

      “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam, se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” Salmos 127.1

domingo, maio 19, 2019

Três justos

      “Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor Deus.

      Se eu fizer passar pela terra as feras selvagens, e elas a desfilharem de modo que fique desolada, e ninguém possa passar por ela por causa das feras; E estes três homens estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem a filhos nem a filhas livrariam; eles só ficariam livres, e a terra seria assolada. Ou, se eu trouxer a espada sobre aquela terra, e disser: Espada, passa pela terra; e eu cortar dela homens e animais; Ainda que aqueles três homens estivessem nela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem filhos nem filhas livrariam, mas somente eles ficariam livres.

      Ou, se eu enviar a peste sobre aquela terra, e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para cortar dela homens e animais, Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça. Porque assim diz o Senhor Deus: Quanto mais, se eu enviar os meus quatro maus juízos, a espada, a fome, as feras, e a peste, contra Jerusalém, para cortar dela homens e feras?” 

Ezequiel 14.13-21


     No post de ontem refletimos sobre os quatro juízos da passagem de Ezequiel, pensemos agora sobre os três nomes citados, Noé, Daniel e Jó, o que tem de especial esses três homens para aparecerem no texto? Sem fazermos os chamados estudos bíblicos tradicionais que não representam estilo deste espaço, o que nos vem rapidamente à cabeça quando pensamos nesses homens? Noé foi primeiramente símbolo de um homem fiel e obstinado, em seu tempo, sem a unção da nova aliança, sem o Espírito de amor do evangelho, não vejo Noé como um homen afável, misericordioso, um homem prático e focado não podia ser assim. Fiel porque se manteve obediente a Deus mesmo quando ninguém mais era, obstinado porque mesmo consciente do juízo de Deus que viria sobre a sua terra, não olhou ao redor, mas manteve-se fiel ao seu chamado, construir a arca. Mas para aquela missão Deus não precisava de um servo afável, misericordioso ou mesmo evangelizador, os homens já tinham tido oportunidade de arrependimento, agora seriam punidos, sem dó. Noé era o homem que Deus precisava em seu tempo, pronto para um propósito que Deus tinha que realizar naquele momento, duro, mas fiel, atento à voz de Deus, mas pragmático com relação aos homens, se não fosse assim não teria “estômago” para suportar dentro da arca o sofrimento que a humanidade estava passando do lado de fora. Será que Deus acha em nós os homens que ele precisa pra o momento em que vivemos? Ou estamos deslocados no tempo, vivendo de passado ou sonhando com futuros ilusórios? Deus também achou em Daniel o homem que precisava para o momento, numa condição diferente da de Noé. 


      Daniel era um escravo de luxo, digamos assim, e é preciso ressaltar um ponto, geralmente quando vemos sobre escravos na Bíblia temos a tendência de aliar a ideia da escravatura de africanos, que foi usada em larga escala para suprir mão de obra na lavoura do Brasil e do mundo. Esses conceitos de escravo não são iguais, no caso do Brasil, mais moderno, os escravos faziam, via de regra, o serviço mais braçal e duro na terra, ainda que alguns fossem usados dentro das casas dos senhores de engenho para trabalhos domésticos. Esses escravos não tinham nenhum direito, eram coisas, posses que podiam ser usadas em transações comerciais e outros usos sem nenhum escrúpulo. Importante dizer também que a sociedade da época e mesmo a religião, consideravam o negro “menos” humano, por isso havia legitimidade de tratá-lo como coisa. Já nas sociedades clássicas, grega, romana, e nos tempos bíblicos, os escravos eram espólio de guerra, isso é, os perdedores nas mãos dos vencedores num embate, ou aqueles que se endividavam e não podiam mais pagar suas dívidas. Assim, eles não tinham certos direitos sociais, de ir e vir, de participação política, mas podiam desempenhar atividades em várias áreas profissionais, incluindo algumas bem nobres.

      Esse era o caso de Daniel, era escravo na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia, que havia vencido Judá em batalha e levado seu povo em cativeiro. Lemos em Daniel 1, versos 3 ao 6, “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias”, assim Daniel era um jovem especial que seria usado em tarefas especiais, que seria tratado de forma especial, mas que ainda assim era um escravo. Diferente de Noé, que recebeu um missão de Deus e só precisou manter-se fiel a Deus para cumprir a missão, sem ter que dar muita atenção aos homens, e não estou dizendo com isso que a missão de Noé foi menos difícil, Daniel estava numa situação ruim que não mudaria, seu cativeiro e de seu povo. 

     Ele seria provado várias vezes, seja com privilégios, seja com privações, seja com honras, seja com calúnias, para que não ficasse confortável com a situação de escravo de luxo e continuasse fiel a Deus. Daniel foi fiel, mas outro adjetivo que o define é sensível, diferente da obstinação dura de Noé. Sensível suficiente para desvendar mistérios espirituais, só João o evangelista recebeu de Deus mais revelações que Daniel, não só sobre seu povo, mas como sobre todo o mundo e para tempos futuros. Foi através de sua sensibilidade espiritual que Daniel foi ganhando a confiança da monarquia babilônica e conquistando posições políticas importantes. Com Daniel aprendemos que às vezes, o homem que Deus quer que sejamos, é alguém que mantenha-se fiel, vivo e sensível mesmo numa situação que temos certeza que não mudará para melhor a curto prazo, aliás, eis outra característica de Daniel, visão espiritual longa, por isso Deus revelou a ele tantos mistérios sobre o futuro. Enquanto Noé foi o homem do presente, Daniel foi o homem do futuro, e Jó, o terceiro nome do texto inicial, quem foi ele? Para fecharmos a simbologia com perfeição, Jó foi o homem do passado, e isso por vários motivos, e num bom sentido.


      Estudiosos dizem que o personagem Jó é muito antigo, e que seu livro pode ter sido escrito por Moisés, antes mesmo de Gênesis, eis uma característica que faz de Jó um homem do passado. Contudo, o passado vitorioso e próspero com certeza foi o que mais foi revivido por Jó durante sua tentação, uma situação onde perdeu tudo, e que uma pergunta lhe era feita constantemente: o que ele fez de errado para estar naquela terrível situação? Ele buscava respostas no passado e lá ele não achava motivos para ter recebido da vida uma mão tão pesada. A mesma coisa ocorre com qualquer um de nós quando passamos um sofrimento ou temos uma surpresa ruim, seja num acidente, numa enfermidade, numa grande perda, nos perguntamos, o que fizemos de errado no passado para estarmos colhendo no presente mal tão terrível? Onde estava a resposta para Jó?

      A resposta seria dada, mas não à pergunta feita inicialmente por Jó e por seus amigos, Deus muitas vezes não nos responde, não porque ele não tem resposta ou porque não estamos preparados para ela, mas porque estamos fazendo a pergunta errada. A pergunta que Deus queria responder não era, “por que sofremos?”, mas, “quem nós somos de verdade?”, com ou sem sofrimento. A resposta para essa questão também está no passado, o homem que Deus quer achar em nós é o homem que teme não as dificuldades e surpresas do futuro, ou que confia no que é e possui no presente, mas no Deus poderoso e mais que antigo que tudo, infinito na verdade, que a tudo criou e sustenta aqueles que confiam nele. 

      Alguns instantes antes da tribulação de Jó, talvez ele achasse que sua vida já estava completa, que já era momento de um descanso final, ele já era velho e tinha uma vida e uma família bem estabelecidas. Mas ainda não era o momento de usufruir de uma velhice em Deus, sua pior luta ainda seria experimentada, e ele sairia dela finalmente um homem não só envelhecido, mas amadurecido. Enquanto a luta de Noé era só com ele mesmo, visto que sabia o que Deus queria dele e como deveria agir com as pessoas, a luta de Daniel era com os homens, com seus deuses e maldades, mas a luta de Jó era diretamente com Deus, conhecer melhor o Deus que ele achava que conhecia, como consequência desse conhecimento ele se conheceria melhor também. Noé, fiel e obstinado, o homem do presente, Daniel, fiel e sensível, o homem do futuro, e Jó, fiel mas ainda uma criança na sabedoria, diante da antiguidade infinidade de Deus, Jó o homem que devia entender melhor o passado. 

      É importante que saibamos que homem Deus quer que sejamos no tempo em que estamos vivendo, se é o homem o do presente, o do futuro ou o do passado, todos são adequados, se estiverem vivendo no momento certo. O do presente obedece prontamente sem perder tempo. O do futuro sabe que muitos problemas não serão resolvidos aqui e agora, mas ainda assim permanece fiel e é sensível para saber e entender os mistérios do futuro. O do passado olha para Deus, conhece-o em profundidade e assim se conhece melhor também, não se fiando no tempo, em sua criancice, mas no altíssimo, o velho de muitos dias sobre o qual só conhecemos a face direita. A outra face permanece sempre misteriosa, para nos mostrar que sempre seremos menos que Deus e nunca saberemos tudo sobre ele, como dizem estudiosos de mistérios ocultos.

sábado, maio 18, 2019

Quatro juízos

      “Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor Deus.

      Se eu fizer passar pela terra as feras selvagens, e elas a desfilharem de modo que fique desolada, e ninguém possa passar por ela por causa das feras; E estes três homens estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem a filhos nem a filhas livrariam; eles só ficariam livres, e a terra seria assolada. Ou, se eu trouxer a espada sobre aquela terra, e disser: Espada, passa pela terra; e eu cortar dela homens e animais; Ainda que aqueles três homens estivessem nela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem filhos nem filhas livrariam, mas somente eles ficariam livres.

      Ou, se eu enviar a peste sobre aquela terra, e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para cortar dela homens e animais, Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça. Porque assim diz o Senhor Deus: Quanto mais, se eu enviar os meus quatro maus juízos, a espada, a fome, as feras, e a peste, contra Jerusalém, para cortar dela homens e feras?” 

Ezequiel 14.13-21

 

      Esta reflexão se divide em duas partes, em primeiro lugar vamos pensar um pouco sobre os quatros juízos que Deus lançava sobre um povo que se rebelava contra ele: fome, feras, espada e peste. Em segundo lugar, no post de amanhã, refletiremos sobre os três homens citados, Noé, Daniel e Jó, os três justos. Na ordem do texto, os juízos começam pela fome, bem, ela acontece na falta de alimentos, alimentos faltam quando a natureza deixa de colaborar com a agricultura e com a pecuária, assim se falta chuva, se há seca, ou se chove demais ou há muito frio, a plantação e os animais sofrem, consequentemente o alimento para os seres humanos também ficará escasso. No contexto histórico do texto bíblico, naquela geografia, onde havia muitos animais selvagens livres, se faltasse alimento para os homens, faltaria também para eles, suas presas naturais poderiam ter sucumbido, assim, atacar os seres humanos, seria uma opção para encontrar alimentação, pelo menos para os animais carnívoros. Um povo fraco, sem alimentação e atacado por feras, seria presa fácil da espada de nações inimigas, que se aproveitariam da situação. Por último, mais enfraquecido ainda, depois de estarem mal alimentados e cercados e assolados por animais e inimigos, o povo poderia adoecer facilmente devido à sua debilidade e ser afligido por pestes. 

      Não sabemos se as coisas poderiam acontecer assim, mas existe uma probabilidade bem grande de que o colapso que um povo rebelde podia experimentar ser nada mais que uma reação em cadeia, que teve início no desequilíbrio das estações, da chuva e da temperatura. Contra animais, inimigos ou doenças, o povo até podia ter se livrado, pelo menos se acontecesse um de cada vez, mas quem pode lutar contra condições climáticas? Hoje sabemos que a natureza não se desequilibra por nada, isso acontece quando o homem desrespeita terras e águas, um povo que se rebela contra Deus, perde o respeito pelo Altíssimo, perde o respeito pelos seus semelhantes como também perde o respeito pela natureza, assim todos os juízos de Deus poderiam ter sido consequências de um desrespeito do homem pela natureza, que acabou desestruturando toda a sociedade, seja na área climática, humana, econômica ou política.

      Acredito que o raciocínio acima seja bem pertinente para os tempos em que vivemos, e mesmo que alguns não creiam em Deus ou nos seus juízos, poderão ser convencidos pelo caos que pode se instalar quando simplesmente o homem desrespeita a natureza. Esta reflexão não um discurso ateu e materialista disfarçado, não estou querendo dizer que as coisas podem ter causas naturais sem que exista uma força espiritual superior do bem que aja e que conduza o universo a sua vontade. Também não defendo que Deus é uma força espiritual superior independente que faz isso ou aquilo, sempre de forma sobrenatural e milagrosa, desrespeitando a natureza. O sábio entenderá que é isso tudo junto, Deus é superior, criador e Senhor, ele manifestou o universo e estabeleceu suas leis, físicas e espirituais, mas ele não pode ir contra si mesmo, da mesma forma que os eventos universais não ocorrem do nada e em pouco tempo. Se o homem está vivendo uma fase ruim é porque desobedeceu um lei criada por Deus no início dos tempos mais antigos, lei imutável.

      Tudo é efeito de uma causa, tanto o mal quanto o bem, se há harmonia com aquilo que Deus nos revela pelo seu Espírito Santo e pela sua palavra escrita, ou pelo menos aquilo que a tradição judaica-cristã considera palavra escrita legítima, tudo correrá bem, natureza, universo e seres espirituais colaborarão para que o homem que está sincronizado com Deus ande em liberdade e prosperidade. O texto revela isso, quem de fato quer entender os mistérios e ver mais que a superfície, mas a profundidade dos universos, verá um Deus incognoscível na essência mas percebido na beleza da criação material, ainda que um manifesto do divino só numa fina camada perecível e ilusória. Ah, se o cristão fosse além do catolicismo que o protestante evangélico insiste em dizer que não participa, mas que ainda lhe serve de amarras, não na forma da construção, mas no material que serve de fundamento. A cela católica é mais sofisticada, cheia de símbolos, de detalhes barrocos e clássicos, a cela protestante é mais moderna, minimalista, sem tantos enfeites ou memórias, mas ainda assim ambas são celas construídas basicamente dos mesmos materiais, tijolos e cimento, ou tradições e medo. 

sexta-feira, maio 17, 2019

As pessoas mudam, sim!

      “E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar. E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.” Lucas 15.25-32

      As pessoas mudam, e para melhor, se como cristãos não acreditarmos nisso, principalmente em se tratando de pessoas convertidas, estamos negando a principal intenção do evangelho. Se há o Espírito Santo no homem interior, a mudança é intrínseca, mas mudança nem sempre é rápida, na verdade não é, as que parecem ser eram só o final de um processo que se concluiu num evento, que o desinformado pode achar que foi um milagre, mas não foi. Enquanto libertações espirituais ocorrem no momento da oração, nas áreas moral e emocional, as mudanças sempre levam anos, mesmo com a presença do Espírito Santo ensinando, e o perdão sendo experimentado no nome de Jesus. Os que não mudam é porque nunca se converteram de verdade.
      Muitos, contudo, podem dizer, “mas eu vi um sujeito caso perdido entrar numa igreja e sair nova criatura, transformado, depois que se decidiu no altar”, talvez o momento da decisão desse sujeito tenha sido o final de um longo processo, que Deus acompanhou em seu amor, permitindo que o sujeito entrasse numa igreja no exato momento em que ele estava preparado para se converter, eu creio assim. Por outro lado, alguns se decidem em igrejas cristãs, principalmente quando são muito jovens, mas trazendo consigo dores e rancores, vícios e prisões, dos quais levarão muito tempo para se libertarem. Mesmo vivendo dentro de igrejas, poderão ainda errar muito, antes de serem libertos, mas ainda assim salvos, poderão mesmo aparentemente se desviar do evangelho. 
      Alguns olharão para esses e os acusarão, os odiarão, mas Deus os segue com misericórdia para que no momento certo eles vivam a plena liberdade emocional e moral que o evangelho tem para eles. Assim, não julguemos, mas acreditemos, as pessoas podem mudar para melhor, com Deus isso é possível, até o fim dessa vida muita coisa acontece. Os que condenam alguém a um momento passado ruim, escravizam aqueles que Deus quer curar, se fazem acusadores, não salvadores, se fazem demônios, não Jesus, tenham cuidado esses falsos cristãos, muitos últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, quem é quem só sabe Deus (Mateus 20.16).
      Infelizmente muitos cristãos que começaram bem e mesmo foram fiéis em muitos anos obedecendo o evangelho, servindo nas igrejas, agem como o irmão do filho pródigo, se escandalizam quando há alegria na volta de um desviado, mantém cadeias em seus corações aprisionando aqueles que Deus liberta com festa. Talvez esses irmãos de pródigos precisem de uma conversão mais profunda, de um quebrantamento verdadeiro, assim se conhecerão melhor e a Deus, para então terem misericórdia dos outros, só dá misericórdia quem de fato ganhou, só acredita que as pessoas mudam para melhor, os que de fato mudaram. 

quinta-feira, maio 16, 2019

A bênção está na obediência

      “Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos.” Provérbios 16.3

      A bênção não está em fazer algo aparentemente bom, em estar num lugar ou com pessoas boas, mesmo numa igreja, mesmo num culto. Por outro lado, também não está em estar presente em situações difíceis, com gente complicada, presenciando coisas que não nos agradam, não, a bênção não está necessariamente em nenhum desses casos. A bênção de Deus, a aprovação de Deus, a vitória de Deus, a paz de Deus, existe quando nós o obedecemos, seja não indo a um lugar aparentemente bom, nem deixando de ir a um lugar aparentemente ruim. Deus nos fortalece para fazermos a sua vontade, enquanto que longe de sua vontade estaremos desprotegidos e fracos. 
      A bênção está na obediência, assim precisamos saber onde ir, com quem estar, o que fazer, assim como onde não ir, com quem não estar, o que não fazer ou dizer. Mesmo um culto numa igreja evangélica decente pode ser peso, só enfado, perda de tempo, se não for a vontade de Deus que participemos dele, saber onde ir e onde não ir, orando antes e não tomando uma atitude só porque é um costume, e o que sempre fazemos ou é o que todos fazem, é um segredo de vida feliz, de tempo bem usado, de saúde e de paz. Na obediência estamos sempre fortes no Senhor, protegidos das astutas ciladas do diabo e dos enganos e vaidades dos homens insensatos e imaturos. 
      Não façamos do nosso jeito, nem para agradar os homens, se agirmos assim, por mais que nos preparemos usaremos um tempo de espera que é pra nos fortalecer do jeito errado. Queremos ver o sonho de Deus para nós realizado? Aquele sonho que está claro em nossos pensamentos, que temos certeza que é a vontade do Senhor para nós? Não tentemos realizar esse sonho com pressa, no lugar errado, com as pessoas erradas, com obras erradas, com palavras erradas, isso só nos enfraquecerá. Por isso, principalmente no final de uma fase, quando estamos prestes a viver uma nova realidade de Deus, é preciso cautela e obediência, até o fim. 

quarta-feira, maio 15, 2019

Gratidão

      “Mas eu sou pobre e necessitado, contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador, não te detenhas, ó meu Deus.” Salmos 40.17

      Eis meu testemunho pessoal, não sei se é assim com você, mas sei que é assim comigo, e eu preciso testemunhar a respeito. 
      Se eu fosse um ser humano melhor com certeza seria um cidadão melhor, um profissional melhor, mesmo um homem de família melhor, e teria talvez uma saúde, mental e física, melhor. Mas na minha fraqueza, na minha insegurança, nas minhas carência, na minha falta de fé, eu sou obrigado a confiar em Deus, isso os anos já me ensinaram. Eu tenho que pedir a ele milagres onde outros não pedem porque sei que se os outros podem confiar neles mesmos, eu não posso, assim busco a Deus e experimento seu agir em coisas que para outros são pequenas, dependo em coisas que outras acham bobagem depender, peço coisas que muitos nem perdem tempo de pedir.
      Essa experiência de eu ser humano, de eu ser eu, pessoal e intransferível, me leva a adorar a Deus sempre, a agradecer em todo o tempo, pois eu sei que sem ele nada posso, nada sou, nada faço. A minha fraqueza não faz de mim o homem que eu gostaria de ser, mas enche o meu coração de temor a Deus e me faz um adorador legítimo, de fato sincero. Minha adoração não é escolha, é necessidade, é clareza mínima que tenho que ter consciente do que sou e do que Deus é. Talvez você seja mais forte que eu, talvez seja um ser humano melhor, um profissional melhor, um pai melhor, um filho melhor, um amigo melhor, e até um religioso melhor. 
      Eu sou um ser humano menor, mas como provo o Deus maior por causa disso, como experimento milagres, como Deus é real para mim, meu amigo, meu Senhor, meu salvador, fiel e espantosamente fantástico. Meu coração se enche de louvor, palavras de adoração saem de minha boca naturalmente, as línguas estranhas tomam conta do ar e eu me vejo à vontade na presença de Deus, como consequência de provar o cuidado e a fidelidade do Senhor. Isso é assim há muito tempo, e sei que será assim para sempre, até meu último suspiro neste mundo, quando então habitarei com ele sem véus e sem mistérios. Eu não escolhi adorar, eu preciso adorar, se não o fizer, desfaleço. 
      Muitos dos púlpitos, enquanto eu discretamente tento permanecer nos bancos, lutando com minha realidade, pedem de mim um louvor com palmas, com gritos, com danças, em manifestações públicas, com o pentecostalismo clichezado tão comum nos dias de hoje. Eu não tenho esse desprendimento emocional, e Deus sabe, Deus sabe da minha dor. Mas na privacidade de meu lar, quando estou só, eu adoro a Deus, sem medo, sem vergonha, sem limites, e sei que Deus se agrada da minha adoração. Sinto grandes anjos de luz se colocando com espadas desembainhadas ao meu redor e tenho convicção de que minha intenção sob até a presença mais plena de Deus de forma direta, pelo nome de Jesus, através do Santo Espírito. 
      Obrigado meu Deus por eu ser assim tão humano, assim posso temer o Senhor e te dar um louvor verdadeiro.

terça-feira, maio 14, 2019

Se Deus manda, não seja tímido

      “E Eliseu estava doente da enfermidade de que morreu, e Jeoás, rei de Israel, desceu a ele, e chorou sobre o seu rosto, e disse: Meu pai, meu pai, o carro de Israel, e seus cavaleiros! E Eliseu lhe disse: Toma um arco e flechas. E tomou um arco e flechas. Então disse ao rei de Israel: Põe a tua mão sobre o arco. E pós sobre ele a sua mão; e Eliseu pós as suas mãos sobre as do rei. E disse: Abre a janela para o oriente. E abriu-a. Então disse Eliseu: Atira. E atirou; e disse: A flecha do livramento do Senhor é a flecha do livramento contra os sírios; porque ferirás os sírios; em Afeque, até os consumir. Disse mais: Toma as flechas. E tomou-as. Então disse ao rei de Israel: Fere a terra. E feriu-a três vezes, e cessou. Então o homem de Deus se indignou muito contra ele, e disse: Cinco ou seis vezes a deverias ter ferido; então feririas os sírios até os consumir; porém agora só três vezes ferirás os sírios.” II Reis 13.14-19

      A Bíblia é uma grande coleção de parábolas, quantas e quantas metáforas, que se tornam simbologias eternas para o homem, nas histórias, estórias e mistérios dos personagens bíblicos. Quem tiver olhos para ver que veja, e aprenda o que Espírito Santo quer nos ensinar com o livro mais esplêndido escrito, o mais importante, o mais lindo. Nossos inimigos hoje não são vencidos com guerras, com matança, mas com virtudes, à medida que andamos como Jesus encarnado andava, mas Deus ainda nos livra como livrou o rei de Israel na passagem acima. 
      Eliseu, em seus últimos dias de vida, recebe a visita do rei de Israel, que respeito esse monarca tinha pelo profeta, o rei sabia quem era ele, reconhecia a unção de Eliseu, que poder um homem mesmo debilitado por uma enfermidade mortal mostrava. Penso em mim, em nós, que deixamos nossa fé se abalar às vezes por coisas tão pequenas. Antes mesmo de entender a simbologia que o profeta começava a lhe mostrar quando lhe pediu para tomar o arco e as flechas, o rei já solicitou ao profeta que pussesse sua mão no arco, ele queria o poder de Deus que estava sobre Eliseu.
      Mas talvez isso já revelasse a timidez do rei, talvez mostrasse a confiança do rei mais no profeta que em Deus, talvez... Seja como for, de nada valem armas se Deus não as autorizar, orientar e usar, a flecha de livramento contra os inimigos e empecilhos é a flecha do Senhor, e nenhum outra, essa foi a primeira lição que Eliseu ensinou, é Deus quem livra, a ele pois a glória e a mais ninguém. Por mais ungido que seja o homem, é Deus quem nos livra, o profeta morreria, mas Deus é eterno. 
      Mas a simbologia profética tinha uma segunda parte, Eliseu pediu ao rei que ferisse a terra com as flechas, isso na verdade era um teste para ver até onde ia a fé e a coragem do rei. Deus não precisa ser provado, o homem, sim, Deus sempre faz o melhor, mas será que o homem tem fé e discernimento para entender o agir do Senhor em cada situação? O rei feriu a terra três vezes, era pouco, Deus tinha autorizado mais, Deus tinha uma bênção maior que exigiria do rei mais força, mais iniciativa. 
      Eliseu ficou indignado e então explicou a metáfora, o rei tinha sido tímido, covarde, se ele tivesse entendido a vontade de Deus teria ferido a terra cinco, seis vezes, pois assim o Senhor lhe daria vitória sobre seus inimigos, os sírios, em uma proporção maior. A vontade do rei, todavia, era pequena, ele teria vitória, mas menor que aquela que Deus queria lhe dar, não porque o poder do Senhor era menor naquele livramento, mas porque a vontade do rei era pouca. 
      Pouca fé manifesta, pouco poder, eis a lição que Eliseu nos ensina nesses seus últimos momentos de vida. Se Deus mandar esteja certo de entender até onde deve ir, não mais, com estupidez, mas também não menos, com timidez. Se Deus mandar, abra a porta na direção certa, como a janel para o oriente do rei, entre marchando e adorando, com convicção, sem medo dos homens, mas certo de que Deus mandou e lhe dará livramento. 

segunda-feira, maio 13, 2019

O que devemos, o que queremos, o que podemos fazer

      “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, Remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.Efésios 5.15-17

      Algumas coisas fazemos porque precisamos fazer, e não temos escolha, são deveres de homens e mulheres responsáveis que querem independência. Nossa sobrevivência física neste mundo, nosso trabalho, estudo, sustentar filhos, acordar cedo e ser produtivo, são necessidades materiais, podemos até fazer outras coisas, mas o mais conveniente, o mais sábio, é nos esforçarmos. Façamos isso principalmente na mocidade e na maturidade, para que na velhice tenhamos descanso e colheita daquilo que já não teremos condições de plantar. Deveres nunca são totalmente agradáveis, doem e cansam, além de nos confrontar com as injustiças desse mundo, mas sempre serão deveres de homens de bem.
      Algumas coisas queremos fazer, simplesmente porque nos dão prazer. Feliz o homem que gosta do que faz e faz o que gosta, para esse a vida será mais leve, ele achará alegria mais facilmente, mesmo na labuta diária pela vida. Contudo, muitas coisas nos dão prazer e fazemos sem esforço, e é muito importante que descubramos essas coisas e as usufruamos, para equilibrar a vida e achar sentido neste mundo. Quem não acha prazer nesta vida como poderá achar na outra? O prazer mais puro, contudo, satisfaz-nos por inteiros, no corpo, na alma e no espírito, e nunca é fruto de egoísmo cruel, visto que não machuca os outros em nenhuma instância. O prazer mais puro alegra todo o universo.
      Outras coisas contudo, podemos fazer por escolha, não são fáceis e muitos vivem, até que bem, pelo menos neste mundo, não as escolhendo. Os que fazem certas escolhas aringirão um nível diferenciado na existência, serão mais que seres humanos sobrevivendo no planeta e usufruindo prazeres. Andar com Jesus é a escolha principal que podemos fazer, ela muda a ótica de deveres e prazeres, muda as prioridades e conseguimos entender e fazer o que Deus quer que façamos. Saber escolher uma boa profissão e depois um bom companheiro ou companheira para se viver até o fim, são segundas escolhas importantes, fundamentos que nos facilitam nos deveres e nos prazeres.
      A palavra remir significa livrar, libertar, resgatar, assim remindo o tempo significa resgatando o tempo, livrando-o de um uso errado, ou pelo menos inadequado para um momento. Os momentos da vida não são sempre os mesmos, existe tempo para deveres, tempo para prazeres e tempo para prioridades, acima de tudo, espirituais. Descobrir em que momento estamos e ter coragem de vivenciar esse momento sem medo e a tempo, é prudência, é sabedoria, é experimentar uma vida abundante. Assim, entendamos que a vontade de Deus é que tenhamos vidas plenas, completas, com todos os momentos, desde que vividos do jeito certo e no momento mais adequado. 

domingo, maio 12, 2019

A igreja e os doentes psiquiátricos

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27

      Algumas coisas não devem ser testemunhadas, mesmo que sejam grandiosas bênçãos para nós, é melhor que fiquem em segredo, entre nós e Deus, e talvez compartilhadas com mais algumas pouquíssimas pessoas. Isso por vários motivos, um deles é que certos pecados, mesmo deixados e perdoados, podem jogar estigmas sobre que os experimentou, muitos não têm maturidade para saber sobre eles, poderão julgar mal as pessoas quem os viveu, assim não é conveniente. 
      Contudo, preciso deixar aqui uma orientação, tenhamos cuidado com o julgamento que fazemos de quem comete alguns pecados na igreja, mesmo depois de convertidos, e que chegam até a escandalizar muitos com isso. Eu não penso que uma pessoa com boa saúde mental e convertida de verdade chegue a pecar de um jeito que escandalize a igreja, se nos dermos ao trabalho em misericórdia de nos aproximarmos de quem erra, para ajudar não para condenar, saberemos a verdade.
      Os que caem, caem por dois motivos, ou porque nunca foram salvos, mesmo que encenem personagens religiosos bem convincentes, chegando mesmo a terem cargos e posições em ministérios, ou porque talvez tenham problemas mentais sérios. Se existe uma doença psiquiátrica, a pessoa pode ser salva, e se tiver alguma maturidade emocional terá responsabilidades sobre seus erros, mas ainda poderá ter dificuldades com vida social e civilizada por causa da enfermidade. 
      Podemos culpar um deficiente físico por não poder correr? Não. Da mesma maneira temos que ter mais cuidado em culpar, como se fosse uma pessoa sadia, alguém por exemplo com transtornos psicológicos como bipolaridade, esquizofrenia, depressão profunda etc. Ignorância científica existiu  e ainda existe, principalmente com relação a doenças mentais, mas falta de amor não deve haver num lugar que se diz corpo de Cristo, grupo de pessoas sobre o qual Espírito Santo de Deus tem  autoridade.
      Estejamos mais atentos, na família, principalmente na igreja, às pessoas, existe muita gente com problemas psiquiátricos que nós não damos o devido respeito, antes entregamos cargos e exigimos atitudes de pessoas com saúde. Se alguma delas peca, não consegue ser fiel num casamento ou cai num vício qualquer, simplesmente a julgamos como adúltero e viciado, quando na verdade nem sabia que era doente. Não estou dizendo que uma coisa justifica a outra, mas que devemos ter mais cuidado. 
       Doenças mentais não são facilmente averiguadas, principalmente pelos doentes, não é um rim que dói, um pulmão que não funciona bem, quando o mal é na mente as referências de normalidade são desajustadas justamente no local usado para verificar a normalidade. Um esquizofrênico não sabe que é esquizofrênico no início de sua doença e muitos vivem por anos doentes, errando, sentindo-se culpados, sem que ninguém de fora os ajude. Alguns não suportam tanta dor e se matam, mesmo em igrejas. 
      Somos “nós”, que nos achamos “normais”, que devemos perceber essas deficiências e proteger as pessoas, em primeiro lugar delas mesmas. Sim, existem pessoas que persistem no erro, que têm condições de serem normais mas escolhem o erro vez após vez, e se há alguma consciência de maturidade, pecado será cobrado como tal, com todas as implicações sociais e espirituais dele. Mas doenças emocionais e psiquiátricas são dura realidade, que infelizmente muitas igrejas cristãs insistem em menosprezar. 

      “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Romanos 8.1

sábado, maio 11, 2019

Andai - Temor - Tempo - Peregrinação

      “andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinaçãoI Pedro 1.17b

      A Bíblia é maravilhosa, incrivel como num pedaço de versículo, já que só citei a parte b de I Pedro 1.17, pode haver sabedoria tão simples quanto profunda, reflitamos sobre quatro palavras do texto, que ensinam princípios importantes sobre andar com Deus. A primeira é andai, na vida não é sábio parar, diminua a velocidade, mas continue pedalando, para frente, o equilíbrio está em se manter em movimento, quem para, cai, para um lado ou para o outro, como quando andamos de bicicleta. A vida é se mover sobre um veículo de duas rodas, não de quatro, assim entendemos que tudo tem sempre dois lados, dois extremos, sabedoria e a felicidade existem em não se acomadar em nenhum lado, mas seguir no centro estreito e reto.
      A segunda palavra é temor, temor a Deus, o que é isso? Não é ter medo de Deus, como o horror que sentimos de algo desconhecido e que pode nos fazer mal, ainda que a santidade de Deus possa nos amedrontar. Temor a Deus é saber que o Senhor tudo vê e tudo conhece, nada pode ser escondido dele, assim quem tem essa atitude não faz o que quer, para qualquer um, mas age com responsabilidade sabendo que somos pesados por um Deus justo e bom para todos. Contudo, não nos enganemos, muitos ateus e materialista agem, na prática, com mais temor que muito cristão, ainda que a sabedoria deles não adore ao Senhor nem os salve.
      Tempo é a terceira palavra, viver é administrar o tempo, conhecer os momentos, fazer a coisa adequada no tempo certo. Tempo é uma consequência do pecado, se não houvesse pecado não haveria tempo, envelhecemos porque o tempo passa e passa porque pecamos. O plano original de Deus era diferente, o homem teria muito tempo sobre a terra, mas quando o pecado foi escolhido isso mudou, ainda assim as gerações pré-diluvianas viviam mais tempo, centenas de anos. O pecado nos rouba o tempo, envelhece mais depressa, mas quando estamos felizes parece que o tempo não passa, por outro lado todo o tempo do mundo parece pouco quando estamos com quem amamos. Somos escravos do tempo, do relógio, e quando vamos ver a vida passou e nosso tempo aqui já se foi.
      A quarta palavra é peregrinação, somos peregrinos neste mundo, andarilhos numa jornada finita. O termo peregrino é poético, mostra que não devemos nos achar donos de nada, que tudo é passageiro, mas que a vida também pode ser uma aventura à medida que caminhamos com pureza achando prazer e alegria nas novas e boas descobertas. O peregrino doma o tempo, envelhece devagar, pois não se acomoda com a morte desse mundo, não morre no tédio da matéria, ainda que caminhe com responsabilidade (com temor). O cristão peregrino acha alegria sempre, novidade sempre, se renova no Espírito do Altíssimo e ainda que sinta atrás de si um vento forte, não cai, atravessa a brisa leve que vem da frente e que bate em sua face lhe dando um frescor gostoso de vida nova e limpa, à medida que peregrina por esta caminhada terrena.