quarta-feira, abril 27, 2022

Deus é uma experiência pessoal (87/90)

      “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”
 Jeremias 31.33-34

      Em quase cinco décadas vivendo com evangélicos, vi gente diferente convivendo em igrejas diferentes por motivos diferentes. O motivo espiritual inicial, que podia até ter sido uma paixão pura pelo evangelho, e que como toda paixão, mesmo pelo evangelho, passou, deu lugar a um propósito social. Alguns permaneciam em igrejas porque suas famílias estavam lá, outros porque queriam que suas famílias estivessem lá, outros porque os irmãos das igrejas eram as únicas famílias que tinham. Eles concordavam com tudo que igrejas e pastores diziam e eram? Não, mas isso nem importava mais, uma experiência individual tinha dado lugar a uma vivência coletiva que lhes dava a aprovação que careciam. 
      Deus é uma experiência pessoal. Se todos os seres humanos se dessem ao direito de serem livres para buscarem, acharem, crerem e praticarem aquilo que de fato vem diretamente da boca do Deus vivo para eles, eles conseguiriam ser coerentes consigo mesmos, não viveriam hipocrisias e poderiam experimentar de fato verdades espirituais. Isso quer dizer que não haveria igrejas? Haveria, mas não como reguladoras, como limitadoras, como ditadoras, como julgadoras, mas só como espaços para que crentes com uma parte significativa de crenças em comum se reunissem, sempre respeitando o indivíduo e dando oportunidade para que ele compartilhasse o que estivesse sinceramente querendo viver e praticando. 
      Esse tipo de comunidade necessitaria de líderes? Sim, mas humildes, muito mais que muitos que se acham líderes hoje são, ainda que muitos outros líderes, mesmo em sistemas equivocados, sejam humildes. Mas num sistema mais espiritual, líderes seriam mais monitores que donos de empresas, mais gerentes de ordem social, necessária a todo convívio civilizado. Vejo Jesus homem ensinando seus discípulos assim, ainda que fosse espiritualmente superior, ainda que tivesse muita intimidade com Deus, ainda que conhecesse a verdade maior sobre tudo de forma diferenciada, não dava ordens, nada impunha, não julgava ninguém, por isso Judas Iscariotes e outros ficaram com ele até o fim, ainda que mal intencionados.
      Numa comunidade que respeitasse indivíduos que se respeitam como religiosos com direitos a terem experiências pessoais, a verdade seria mostrada pelas prática de vida, pelo amor que age, pela justiça que trata todos com igualdade, pela santidade sincera e interior. Esse testemunho levaria as pessoas a Deus, não qualquer tipo de coação por medo, por preconceitos, por regras. Quanto aos que estivessem no meio dessas pessoas e tivessem outros interesses, que não fosse conhecer de fato a Deus, naturalmente cairiam fora, sem que ninguém os mandasse embora. A mentira não resiste à verdade, nem as trevas à luz, e se ficassem seria porque verdadeiramente Deus teria um interesse nisso, como teve com Iscariotes e outros. 
      Estamos falando uma utopia? Talvez, mas do jeito que as lutas sociais se levantam, que as farsas das religiões estão sendo reveladas, que a hipocrisia está cansando e deixando de fazer adeptos, que o mundo está vendo o preço caro que pagou pelo fato do cristianismo de homens não ter cumprido sua missão, pode não ser utopia. O tempo urge, o universo clama por juízo, a injustiça não ficará impune para sempre, os poderosos, seja pelos motivos que foram que os levaram a serem poderosos, estão com dias contados. Papa, padres, pastores e outros, que talvez até tenham recebido esses cargos por motivos legítimos, mas que não os merecem mais por terem pensado mais em si mesmos que nos pobres, não amedrontam mais. 
      É para padronizar o homem e manipulá-lo, tentando recria-lo à imagem de outros homens, o que acaba glorificando aquilo que chamam ou que se coloca como “diabo”, e não dando ao homem o direito de ser único e diferente, como ele o é no espírito, como Deus, o criador e pai de todos os espíritos, o fez, é que religiões foram criadas e se mantêm. Isso não é culpa só de maus líderes, de donos de igrejas, se um produto é vendido é porque tem quem o compre. Homens escolhem submeterem-se a homens porque lhes é mais cômodo, deixam o Deus Espírito e se rebaixam a ídolos, feitos por homens, à imagem de homens, os próprios homens e suas ideologias, com isso, repito, só o “diabo” e tudo que ele representa lucra. 
      Na padronização não há liberdade e paz, só prisão e agonia, mas na prisão há uma sensação de proteção, de pertencimento, de proximidade de semelhantes, de comunidade, a linguagem é a mesma, as vestes são as mesmas, as identidades são as mesmas, por isso tantas igrejas, tantas religiões, tantas cadeias. Não é fácil ser livre, não é para qualquer um, o horizonte infinito, ilimitado, dá medo, o mistério amedronta, mas por isso o justo deve viver por fé, para crer mesmo que não veja. Mas que fé é preciso para se viver numa prisão? Nenhuma, tudo já está revelado, delimitado, tudo é conhecido, e o que não é conhecido simplesmente é proibido, as paredes estão bem construídas, solidamente enquadradas. 
      Deus é uma experiência pessoal. Por mais que as pessoas tentem se convencer dentro de igrejas que o melhor para elas é serem iguais às outras, por mais que elas achem em homens referências, no fundo elas sabem, só serão felizes quando forem elas mesmas. Só Deus pode atrair as pessoas para serem seus melhores! Meus queridos e minhas queridas, se as pessoas amassem a Deus mais que qualquer outra coisa ou ser, isso as conduziria à verdadeira espiritualidade, à verdadeira religião, ao céu. Para responder com uma única frase à pergunta, “quem você será na eternidade?”: ame a Deus. Faça isso de todo o teu coração, com todo o teu entendimento, se o amor for verdadeiro te conduzirá a Deus, te transformará e isso bastará.
      Todas as religiões, todas elas, enquanto instituições humanas, organizações oficiais no mundo, não devem ser levadas tão a sério, respeitadas, sim, utilizadas (e não usadas) para aprendermos coisas importantes sobre Deus, sim, mas nunca sendo posicionadas acima de Deus ou como vozes diretas do Altíssimo. Jesus é uma manifestação plena, única e muito especial de Deus, acima de qualquer outro personagem de qualquer religião, ele é a porta para o Altíssimo, e o Espírito Santo que enviou, sua presença viva em nós. Nessa iluminação podemos enxergar Deus em vivências espirituais de várias religiões, contudo, não temamos os homens, o diabo, ou o pecado, tenhamos uma experiência pessoal com Deus.  
      O texto bíblico inicial de Jeremias revela algo muito importante sobre os últimos dias, não do mundo, mas de uma era, uma era em que imperou religião de homens. “Porei a minha lei no seu interior… não ensinará mais cada um a seu próximo… todos me conhecerão, desde o menor até ao maior”, essas palavras são de uma clareza profética singular, elas não falam de outra coisa senão da presença do Espírito Santo no interior dos homens. Com essa iluminação a prioridade para se conhecer a Deus não está em acatar púlpitos e mesmo palavras registradas em livros sacros, mas em ouvir a voz viva de Deus que fala diretamente a todos, sem distinção, numa comunhão onde não existem maiores nem menores, isso é o céu. 

Esta é a 87ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, abril 26, 2022

Quem será Deus na eternidade? (86/90)

      “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” 
João 4.24

      Vou iniciar com uma provocação: outro nome para esta reflexão seria “Mãe de amor”. Mas acalmem-se, evangélicos e protestantes, este texto não é uma apologia sobre colocar um ser, mesmo a mãe física de Jesus, em um nível espiritual semelhante (ou superior) ao de Deus. Por outro lado ele também não é uma crítica aos católicos e outros que aliam poderes especiais a Maria e “santos”, aliás, para entendermos melhor o que esses pensam sobre isso seria necessário um estudo profundo, que talvez escandalizasse muitos evangélicos e protestantes. Vamos refletir sobre a tradição que vê Deus, principalmente no cristianismo, como um ser masculino. Será que é assim, ou será que é necessário que seja assim? 
      O patriarcalismo predominou no mundo por séculos, em alguns países ainda predomina, no Brasil ainda existem fortes influências dele. Isso é parte do machismo que coloca o homem superior à mulher, que o vê como alguém com mais direitos e capacidades para dirigir sociedade e família. Nos tempos bíblicos isso até tinha certa legitimidade, naquele momento histórico a mão de obra humana era a força motriz da sociedade, tanto para produzir bens de subsistência, quanto para manter força militar, esse, um elemento importante na economia, nações cresciam em grande parte guerreando. Assim, o homem, fisicamente mais dotado, fazia o trabalho físico e externo, enquanto a mulher ficava em casa, cuidando do lar e criando filhos. 
      Uma cultura que dava esse valor ao homem não podia deixar de interpretar seu Deus como uma potência, ainda que espiritual, masculina, e mais que um homem, velho, para demonstrar não só força e autoridade como também sabedoria. Isso não significa que não havia religiões que relacionavam o divino com deusas, elas estavam presentes nas mitologias greco-romana, na egípcia, nas do oriente médio, nas africanas, nas europeias etc, e em algumas eram não só coadjuvantes, mas protagonistas. Em algumas vertentes da bruxaria, como a Wicca, as mulheres têm importância não só como sacerdotisas, mas sua deidade principal é feminina, sem falar em tantas entidades do afroespiritismo que são femininas.
      Foi justamente para manter essa tradição, que tanto agrada a pagãos, que o catolicismo, em sua origem mais política que religiosa, empoderou Maria para substituir na cabeça de muitos a deusa-mãe. O evangelho de Jesus ensinou um Deus espiritual, que o é pelas qualidades morais, que conduz o homem, não para vencer guerras físicas, mas interiores, que vencem a violência, a injustiça e o adultério, com amor, justiça e santidade. Um Deus espiritual não precisa ser “macho”, no sentido mais bruto do termo, ao contrário, é pacífico, ainda que poderoso. Na eternidade, onde e quando julgará os povos, Deus não prevalecerá pela força, mas por sua luz espiritual mais clara e alta, que vence pela virtude moral. 
      Na eternidade os vencidos o serão não por terem sido submetidos fisicamente, mas por serem rebeldes, se afastarem da luz de Deus, não se deixarem ser atraídos pelo amor do Altíssimo. Deus não afasta, são os seres humanos que fogem dele, Deus não obriga, são os homens que não o querem. O verdadeiro Deus espiritual não é homem, nem velho, ainda que a imagem mais humana que possamos ter dele seja a de Jesus homem, maduro, mas não velho, masculino no corpo, mas abrindo mão disso, vivendo só e satisfeito, sem praticar vida sexual, tratando todos com igualdade ainda que respeitando as diferenças. Mesmo hoje, quase dois mil anos depois, não entendemos todos os mistérios que Deus revelou no Cristo encarnado.
      Se analisarmos os conceitos feminino e masculino, tentando entender suas diferenças afetivas, e não capacidades intelectuais e morais de homem e mulher, que são as mesmas, e também não levando em conta características físicas originais, mas essência interior que nasce com o indivíduo e não é escolha dele, veremos que Deus tem os dois sexos em si, é homem e é mulher e ao mesmo tempo, assim é pai e é mãe. Contudo, podemos até dizer que à medida que a humanidade evolui, Deus se torna mais mãe que pai, diz-se que o pai cria para o mundo e a mãe cria para si. Pelo evangelho vemos um Deus recebendo de volta filhos que estavam perdidos e retornaram ao lar, se o masculino deixa partir é o feminino que espera em casa.
      Na vida dos seres humanos em família é preciso que um cuidado feminino, que pode ser exercido tanto pela mãe quanto pelo pai, ocorra na infância e na adolescência. Já o cuidado masculino, que também pode ser exercido por pai ou por mãe, prepara o jovem para ser independente no mundo, ter vida profissional, constituir família. Sei que esse assunto é polêmico, muitos cristãos ainda teimam em defender, ainda que só na teoria, a binariedade sexual da tradição judaica-cristã, enquanto o mundo abre demais para liberdade e não faz separação entre sexualidade verdadeira, seja ela qual for, e mera promiscuidade. Isso pode deixar crianças e adolescentes perdidos. São os extremos sempre fazendo estragos, mais prendendo que soltando.
      Não é fácil, mas é importante separarmos os conceitos masculino e feminino de sexo, a parte interior da exterior do ser humano, entender a essência afetiva e mesmo espiritual que existem nesses conceitos, sem entendermos isso sempre confundiremos as coisas. Espíritos não possuem sexo. Mas se na família primeiro vem a criação feminina e depois a masculina, com Deus e a humanidade parece acontecer o contrário, o homem antigo vivia mais para o mundo, o moderno passou a viver mais para si mesmo, isso requer uma presença mais feminina de Deus. No mundo atual, onde a ciência oferece meios para substituir mão de obra humana por máquinas, o ser humano pode ficar mais dentro de casa, mesmo que seja para trabalhar.
      Isso não é para todos, ainda existe muita injustiça social e desnível econômico, mas é uma tendência e realidade para os que podem se preparar melhor para a vida profissional. Além do diferencial na produção de meios de subsistência, que livrou o ser humano do trabalho braçal mais duro e deu a homem e mulher as mesmas possibilidades, outra tendência é o fato da civilização entender que pode crescer sem fazer guerras, assim o inimigo não é mais o outro ser humano, o inimigo do ser humano é ele próprio. Isso também não está acontecendo para a maioria rapidamente, o mundo ainda alimenta e cria conflitos o tempo todo, mas é a tendência. Penso que tudo isso conspira para que o ser humano interaja com a parte feminina de Deus. 
      Povos orientais têm uma experiência maior com o lado feminino do divino e há mais tempo, à medida que aliam alta espiritualidade com uma vida solitária de retiro para evolução pessoal, para negação dos prazeres do corpo, para uma viagem para dentro do indivíduo, abrindo mão da competitividade que a vida social incentiva. Um Deus mais masculino está ligado justamente à competitividade, principalmente em se tratando de ganhar uma competição material com elementos físicos num mundo material. Contudo, o evangelho ensina justamente o oposto, a perder para ganhar, a morrer para viver, a dar a outra face diante da injustiça, a valorizar o espírito, mais que o corpo físico, isso é uma visão espiritual feminina. 
      Muitos cristãos não vão aceitar isso, principalmente pentecostais, mas o cristianismo precisa se espiritualizar mais, deixar os rudimentos da tradição cristã, libertar-se do materialismo e dos antropomorfismos que veem o plano espiritual com formatos do plano físico, para de fato conhecer o mundo espiritual. Isso é possível, ainda no mundo, com oração que dá liberdade ao Espírito Santo. Quem será Deus na eternidade? Com quem seremos confrontados quando nosso corpo físico parar de funcionar e nosso espírito estiver livre? Será com um velho de barbas e cabelos longos e brancos num trono, será com a entidade que nossa religião nos ensinou ser o divino eterno, ou será com um ser espiritual puro de luz? 

Esta é a 86ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, abril 25, 2022

Justiça é eterna, misericórdia, não (85/90)

      “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado.” 
Deuteronômio 9.4-6

      Antropomorfismo é atribuir a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais, comportamentos e pensamentos humanos, mas além de características morais, atribuir também formas físicas. É com essa interpretação que escritores bíblicos, por exemplo, usaram termos como mãos de Deus, olhos de Deus, ouvidos de Deus, mas também, ira de Deus, arrependimento de Deus, vingança de Deus. Deus, contudo, é espírito, espírito não tem mãos, olhos ou ouvidos, não físicos, e não funcionando com as limitações que funcionam os membros do corpo físico do homem. Os olhos de Deus, por exemplo, veem tudo, em todos os lados e dimensões e ao mesmo tempo. A mesma coisa com características morais, Deus não se ira, não se arrepende ou se vinga.
      Essa ótica antropomórfica interpreta amor, misericórdia e justiça de Deus, de maneira no mínimo limitada, usando como referência o próprio homem, e ainda que suas virtudes, não as de Deus. Na verdade não podemos usar plenamente Deus como referência porque não o entendemos em sua totalidade, por isso a importância de Jesus. A encarnação do Cristo foi uma maneira de Deus nos ensinar sobre ele de um jeito que pudéssemos entender enquanto encarnados no mundo. Quer conhecer a Deus? Conheça Jesus, mas indo além do registrado na Bíblia, deixando que o Espírito Santo guie nesse entendimento, esclarecendo conceitos que escritores bíblicos registraram com os limites das óticas temporais de suas culturas.
      Justiça é instrumento de equilíbrio, recompensa o que é certo, pune o que é errado, dá para quem merece e tira de quem não merece, ela é universal, eterna e indiscriminada. A misericórdia é uma das faces do amor, beneficia, protege, perdoa, mesmo o que não está agindo de maneira totalmente correta. Por que Deus a usa? Porque ele nos conhece no tempo, sabe de nossa intenção, mas também de nossas ações, não só do passado como também do futuro. A misericórdia, sob o ponto de vista de Deus, também é justiça, só que exercida no tempo que sob o nosso ponto de vista não é o mais adequado. Assim Deus dá tanto para quem fez por merecer, quanto para quem fará por merecer, ainda que não faça por merecer no presente. 
      Misericórdia, entretanto, tem fim, Deus não pode nos enganar desequilibrando a balança da justiça, isso nos desviaria de persistirmos no único caminho que leva a ele, o caminho reto. Pode-se argumentar, “a Bíblia diz que as misericórdias de Deus não têm fim”. E não têm, ao justificado que anda em justiça, mas se cair e permanecer caído a justiça do universo, estabelecida por Deus, o cobrará. Nestes tempos de pandemia, atenção cristãos que não têm se cuidado, por se acharem protegidos pela fé e por negarem doença e vacinas, podem ter sido livrados até agora, pela misericórdia do Senhor, mas essa acaba. Temo que muitos ainda sofrerão com a Covid 19, daqui a um tempo, por não terem sido justos com eles mesmos.
      O texto bíblico inicial ensina sobre justiça, revela a condição que Deus usa para dar algo a alguém, ter que tirar de outro a mesma coisa e no mesmo tempo, para equilibrar as coisas. Nós, seres limitados, só vemos a nossa necessidade, mas Deus administra o mundo e seus sistemas, os bens e as terras do planeta, as hierarquias e posições sociais dos homens, tudo ao mesmo tempo. Por isso a passagem diz que Deus não estava dando terras a Israel porque a nação merecia, mas porque as outras nações não mereciam continuar possuindo essas terras, é claro o equilíbrio com o qual Deus zela o universo. Israel, ainda que pelo mínimo, obviamente também se colocou numa posição de obediência a Deus, que a fez digna da dádiva. 
      Deus não reage, mesmo com os que o rejeitam, que blasfemam seu nome e que o odeiam, com qualquer espécie de sentimento negativo, seja de rancor ou de agressividade, querendo dar algum troco, esse tipo de disposição vingativa não existe no Altíssimo. Ainda que Deus controle tudo, se existe inferno, sofrimento, derrota, perda de bens, de privilégios, de direitos, não existe como ação de contra-ataque de Deus, mas como efeito de escolha errada dos homens dentro deles, quando se colocam como inimigos da justiça e se afastam de Deus. O céu é perto do melhor de Deus, o inferno é longe, a bênção é próxima ao melhor de Deus, a maldição é distante, depende da escolha humana que coloca o homem perto ou longe de Deus.
      A expressão “o melhor de Deus” foi usada, porque o inferno não é um lugar onde Deus não está, Deus está em todos os lugares e tudo administra. Mas quem se afasta de Deus se coloca fora do melhor do Altíssimo, não tem direito às suas bênçãos, não porque está num lugar ruim, mas porque afasta sua consciência, seu espírito de Deus e por isso tem dentro de si um tormento. O plano espiritual é difícil de ser entendido com percepções do corpo físico, mas no Espírito Santo temos alguma iluminação para entendê-lo, ainda que no mundo e presos aos nossos corpos carnais. Assim, depende de cada um de nós buscarmos a Deus, nos libertando de tradições homens, quem buscar, achará, quem bater, lhe será aberta a porta. 
      Os escritores bíblicos, vivendo em civilizações bárbaras, que usavam guerras violentas como meio de existência, que buscavam o mundo espiritual para terem vitórias nessas guerras, obviamente viam Deus como o “Senhor dos Exércitos”, que destruía seus inimigos para beneficiá-los. Eles não tinham evolução moral e intelectual para entenderem a justiça divina do universo, e nem precisavam ter para que Deus os amasse e os ouvisse, mas hoje é diferente. Temos consciências evoluídas o suficiente para entendermos melhor como as coisas funcionam no plano espiritual, para interpretarmos a Bíblia com a ajuda do Esprito Santo, e para sabermos com mais precisão como Deus exerce misericórdia e sua eterna justiça.

Esta é a 85ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, abril 24, 2022

Deus é justo! (84/90)

      “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações.
Isaías 61.10-11

      Deus é perfeitamente justo em todo o tempo! Isso é uma afirmação, mas que para que sejamos justos deverá ser seguida por outra: não existe justiça no mundo! Ambas as afirmações são verdadeiras? Sim, dependendo do ponto de vista, e temos dois pontos de vista, o ponto de vista de Deus e o do homem. O ponto de vista de Deus é alto, nele o Senhor vê tudo e nada lhe escapa, essa é a referência espacial, a outra é temporal, Deus usa o tempo sem se limitar a ele. O ponto de vista do homem é limitado ainda que o homem não admita que seja. Limitado no espaço, já que na maioria das vezes o homem não vê nem o que está à sua frente, enxerga só seu próprio umbigo. Mas também é limitado no tempo, já que ele colhe o que acontece agora, mas não relaciona isso como efeito de causa que plantou no passado, assim como não aceita que o que planta hoje pode dar frutos no futuro. 
      Mas o que tem a ver ponto de vista com justiça? Pensemos num exemplo, a luta contra o racismo que enfim tem ganhado a força que sempre deveria ter tido. Multidões têm protestado e uma vida não é só mais uma vida, mas “uma vida importa”, forçando a justiça dos homens a dar para negros e brancos os mesmos direitos. Ainda que essa bandeira seja mais que legítima, muitos acusam alguns que a levantam de serem vitimistas, isso não é verdade. Se a luta parece exagerada é porque é efeito de uma causa igualmente exagerada, a crueldade de uma escravidão de séculos que gerou o preconceito. Sim, é a justiça de Deus sendo executada, e a justiça sempre busca isso, o equilíbrio, dar para um o mesmo que dá para outro sem privar ninguém de nada. Mas, então, por que demorou tanto para acontecer? Se Deus é justo, por que a justiça não foi feita antes? Por causa do livre arbítrio. 
      O direito ao livre arbítrio que Deus dá ao homem é o que entrega ao ser humano tanto a oportunidade para ser justo quanto para ser injusto, por ele a injustiça foi feita e só por ele a justiça será restabelecida no mundo. Demora? Não pelo ponto de vista de um Deus que trabalha no tempo ainda que não se limite a ele. Eu e você só temos consciência do presente em que vivemos, mas Deus vê tudo e nada que se planta fica sem colheita, em tempo nenhum. Não pense o homem que o que faz o faz só porque escolheu fazer, tudo faz parte de um plano, e esse plano nada tem a ver com teorias de conspiração. O diabo não faz nada, só é uma possibilidade de escolha ruim na cabeça dos homens, são os homens que realizam, contudo, um ser maior, mais alto, eterno e perfeito, em todas as virtudes, tem o controle de tudo sempre, Deus. Deus nunca deixa de fazer justiça, ainda que os homens achem que deixa. 
      A visão mais lúcida que podemos ter da realidade atual é nada mais, nada menos, que a continuidade da justiça divina agindo, e sempre será assim, se o fruto é amargo é porque a semente plantada foi ruim. A humanidade não pode reclamar de nada, o que tomou com violência com violência será retomado, o agressor será agredido. Entretanto, tome cuidado o que foi agredido, aposse-se de seus justos direitos com equilíbrio, não use mágoa como álibi para vingança, toda vingança, mesmo a aparentemente legítima e contra um opressor, é semente ruim e gerará fruto amargo. A humanidade de fato evoluirá quando parar de plantar errado, quando deixar de ser cruel e egoísta tanto quanto vingativa e rancorosa, quando quebrar o loop, então, a justiça de Deus se cumprirá, o homem achará paz, então, nos novos céus e na nova Terra, haverá harmonia, equilíbrio e vida eterna para todos os seres. 
      Enquanto isso não acontece a Terra muda de era para era, quem estuda um pouco de história universal entende isso, e as mudanças nunca acontecem rapidamente, ainda que à medida que os séculos passem as eras sejam menores. É um movimento semelhante ao de um pêndulo pendendo para lados opostos cada vez mais depressa e mais próximo ao centro, até que atinja o descanso. O século XX foi especialmente rápido, a civilização evoluiu técnica e moralmente em cem anos o que não evoluiu nos quinhentos anos passados. Eu penso que no momento atual estamos no limiar de um novo tempo, mas como em toda passagem existe um caos, um momento de distúrbio onde parece que não há referências. Se é assim conosco como indivíduos, por que não seria com a humanidade como um todo? Quem não se sentiu, quando passava da infância para a adolescência, perdido, estranho, confuso, deslocado? 
      Quem tem certeza não muda, dúvidas são necessárias, elas nos tiram do comodismo, ainda que seja para que no final entendamos que tínhamos desde o início o melhor dentro de nós adormecido, e que precisamos ser provados para que esse melhor viesse à tona e se firmasse. Grandes dívidas estão sendo cobradas da humanidade, a cobrança é para que o homem acorde de séculos de injustiças, de explorar e inferiorizar seres humanos pelo nível financeiro, pela cor da pele, pela sexualidade, pela religião. A justiça procura pela igualdade de direitos para que cada um seja diferente à sua maneira, eis o desafio. Mas se as virtudes mais altas que há na luz do Altíssimo, para a qual todos somos atraídos pelo amor de Deus, se elas são iguais, onde está a diferença? Eis o mistério que nós seres humanos temos muita dificuldade para entender, e todos os seres são singulares e exclusivos. 
      A diferença não está em nossos corpos, em nossas sexualidades, nas famílias em que fomos criados, nas condições financeiras que adquirimos, nas capacidades intelectuais e emocionais que temos, em nossas aparências externas, nem nos círculos sociais em que vivemos ou nos bens que temos. A diferença está em nosso interior, ela é espiritual e iluminada por virtudes morais que praticamos. O mundo até o momento não consegue ver o potencial que cada ser humano tem por ser diferente, ele tem acordado para isso, isso é certo, mas ainda se equivoca em muitas coisas porque valoriza demais a matéria. Se conseguíssemos ver o ser espiritual que habita o interior de cada ser, se conseguíssemos ver a luz espiritual, sua beleza, entenderíamos de fato quem cada homem e cada mulher é, e consequentemente, a vocação de cada um, sua razão de existir eternamente, seu lugar especial no universo. 
      O que segue agora é uma espécie de diálogo, com perguntas e respostas, entre alguém, cristão ou não, mas informado pela tradição cristã, com alguém que entende um Deus justo além dessa tradição. “E quanto a tantos que sofrem hoje, deverão continuar assim, sofrendo? E outros, como esses, sofrerão por anos até que a justiça se faça valer?” Sim. “E onde está o Deus justo?” Onde sempre está, no alto, respeitando o livre arbítrio. “Ele não faz nada por tantos que são injustiçados?” Faz, através de homens, Deus é espírito, não desce à Terra, mas age pelos homens. “Então Deus não é justo!”. Deus é justo, quem não é justo é o falso deus em que muitos cristãos dizem crer, se esse deus existisse não haveria injustiçados, a não ser quem escolhesse isso, mas como existem injustiçados que não escolhem isso, não é Deus quem está errado, mas está errado o que muitos creem que seja Deus. 
      Muitos cristãos, se avaliassem com sensatez o que dizem, não creriam no que dizem, mas mantendo uma espécie de insanidade conveniente, dizem que creem para agradarem a homens e por terem medo do “diabo” e do “inferno”, não por conseguirem praticar o que dizem. Eles não põem em prática porque é impossível de ser posto, é só superstição, que mantém templos lotados e gazofilácios cheios, será que isso será suficiente para encher o “céu”? Deus é justo, o homem não é e paga caro por isso, assim como pagam caro outros sem merecerem. Mas todos serão saciados pela justiça, se não aqui na eternidade, os exploradores serão julgados, os explorados serão consolados, nenhuma lágrima será esquecida assim como nenhum mal, ainda que feito na calada da noite, será olvidado. Deus é Senhor dos Exércitos que luta pela justiça e a faz prevalecer, seu justo reino é para sempre!

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos
Mateus 5.6

Esta é a 84ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, abril 23, 2022

Quando voltaremos ao normal? (83/90)

      “E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto.” 
Números 14.15-16

      Médicos e economistas dizem que demorará para que o mundo volte àquilo que nós chamamos de normal e que mudou por causa da pandemia da Covid 19. O uso de máscaras persistirá por anos, e mesmo assim se as vacinas acompanharem as mutações do corona vírus, dessa forma a aplicação de todas as doses em toda a população brasileira demorará algum tempo. A recuperação da economia também levará algumas décadas, e do mal psicológico, advindo da perda de tão grande número de vidas, não nos recuperaremos faciomente. De fato estávamos mal acostumados, pelo menos a grande maioria da classe média, que não vivia em luxo, mas tinha o suficiente para uma vida digna e que é grande parte da população no Brasil.
      A pergunta que fazemos é: por que isso nos surpreendeu tanto? Como indivíduos temos provações o tempo todo, que nos confrontam com zonas de conforto que precisamos deixar para crescermos, contudo, de tempos em tempos, a providência divina permite provações coletivas, que confrontam países e até o planeta como um todo, com a finalidade de acordar a humanidade para a necessidade de evolução moral e espiritual. Em situações assim, nossas provações pessoais são atropeladas, uma catástrofe climática, uma guerra ou uma pandemia, nivelam todos igualmente e pedem de todos novos posicionamentos para poderem sobreviver num novo normal, que não pode ser disfarçado, nem relativizado, só aceito. 
      O diferencial nessa pandemia é que o inimigo é desconhecido, invisível, pelo menos para quem não é profissional da área biológica, e diferente de uma guerra ou de um tsunami, que são terríveis mas terminam, uma nova doença contagiosa pode demorar muito tempo para ser controlada, se é que um dia poderá ser. Amantes do apocalipse não previram isso, esperando guerras épicas e anticristos não entenderam que um organismo microscópico pode ser instrumento do universo para uma provação coletiva. Isso nos surpreendeu porque arrogantemente nos achávamos uma civilização mais evoluída que as anteriores, mesmo com tanta injustiça social pensávamos ter uma ciência capaz de nos proteger de certas coisas. 
      A covid 19 feriu toda a humanidade como a um só homem, com uma pedrada certeira, bem na fronte, o gigante veio ao chão e não achou quem o erguesse. Morrem no deserto os que não estão preparados para a terra prometida, usando um exemplo bíblico, Deus precisa disciplinar para que o homem não siga enganado, mas toda disciplina não é para a perdição, é para salvação, ainda que tenha um preço tão caro para o disciplinado. Os que escapam, contudo, que por algum motivo são poupados, devem temer a Deus, adquirirem lucidez, deixarem a embriaguez de um cotidiano onde talvez até fossem religiosos, mas superficiais. Quem tem olhos deve ver e entender, não estamos no mundo para perder tempo. 
      Quando voltaremos ao normal? O que é o normal? Muitos se equivocaram com relação a o que pensavam ser o normal, “porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mateus 24.38-39). Como será essa vinda do Filho do homem? Talvez bem diferente daquilo que a tradição cristã protestante acredita que será, mas o que importa não é a forma externa, o onde e o como, se será no mundo ou no plano espiritual, importa é estarmos preparados por dentro, o tempo todo, sermos nossa melhor versão possível. 
      Nosso normal neste mundo nunca deveria ter sido só acordar para trabalhar para ter dinheiro para pagar boletos, passear no centro da cidade num sábado de manhã para trocar o celular que temos e que nem é tão velho assim. Sei que muitos não têm o básico para uma vida digna, mas não têm justamente porque outros têm o que não precisam ter, e isso não ocorre só com as classes altas, não, a culpa não é só dos ricos. Quantos, andando com carros caros, que pagarão por anos em longos finaciamentos, sem que tenham necessidade disso, só para aparentarem status quo, enquanto não possuem plano médico decente e filhos estudando em escola melhor. A morte nos confrontará com como investimos nosso dinheiro.
      Sabe aquele pedido de desculpas que sentimos que devemos pedir, mas que nunca achamos tempo para pedir, aquele telefonema que gostaríamos de fazer para dizer a alguém que ele é importante para nós, mas que não achamos espaço numa agenda sempre tão cheia, aquele padrão melhor de santidade que sabemos que seria bom que tivéssemos, mas que sempre trocamos por algum prazer físico que console nosso coração angustiado? Uma morte iminente pode nos fazer partir para a eternidade com essas pendências. É esse o tipo de confronto que uma pandemia permite, com um tempo que achamos que temos e que podemos não ter, que nos faz pensar sobre o que de fato foram e são nossas prioridades morais. 

Esta é a 83ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, abril 22, 2022

Iluminado (82/90)

      “No semblante iluminado do rei está a vida, e a sua benevolência é como a nuvem da chuva seródia. Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! e quão mais excelente é adquirir a prudência do que a prata!” 
Provérbios 16.15-16

      Iluminado não é um termo que o cristianismo usa com frequência, ele está presente na Bíblia, mas justo e salvo são mais populares, um no antigo testamento e outro no novo. Justo e salvo estão ligados à ideia de se ter virtudes, sejam por mérito próprio ou mérito alheio, o justo o é pelas obras que pratica para obedecer a velha aliança, o salvo o é pela fé na salvação que Jesus dá na nova aliança. Ter implica em algo externo, que é agregado, mas que não faz parte, e que portanto pode também ser desagregado, perdido. Iluminado tem a ver com ser, quem se torna algo o torna para sempre, não muda. Isso não significa que o iluminado não possa melhorar, e melhorar não significa abandonar certas coisas, mas só descobrir coisas mais relevantes. 
      O iluminado recebe uma luz diferente, que o torna mais esclarecido, e em se tratando de iluminação de Deus existe uma peculiaridade, quem é iluminado pelo Altíssimo posiciona-se numa disposição espiritual superior que não pode mais ser mudada, é para sempre. Deus não volta atrás em sua dádiva, o que sabe mais nunca mais será o mesmo, conhecimento é algo que não se pode esquecer, ou fazer de conta que não se sabe. Quem é iluminado por Deus verá tudo com um esclarecimento maior, seus olhos espirituais foram abertos, nunca mais será cego. Se ainda assim tentar viver o estilo de vida que tinha quando era cego, será um homem insatisfeito, já que não sente mais em certas coisas a relevância que sentia antes de ser iluminado. 
      Mas nisso está a sabedoria e o amor de Deus, o Altíssimo só ilumina quem está preparado, de forma que o conhecimento não o escandalize nem a outros, a verdade de Deus nunca é para a perdição, mas para a evolução. Muitos querem insistentemente iluminação e nunca a encontram, o Pai de amor sabe que se esses souberem certas coisas não terão inteligência emocional e moral para administrarem certos conhecimentos, melhor serem crianças felizes que adultos suicidas. Para o pentecostal, iluminação pode ser o dom de profecias, para o protestante tradicional pode ser um estudo mais científico dos textos originais da Bíblia e do processo histórico de como o cânone bíblico atual foi construído. Será que estamos de fato preparados para a verdade? 
      Muitos, querendo iluminação, acabaram em profunda treva, tinham uma lâmpada numa pequena sala e por se acharem preparados para o Sol fora da casa, acabaram voltando ao quarto escuro (lembrando das duas últimas reflexões), aterrorizados pelos conhecimentos que receberam. Esses são os que amam teorias da conspiração, que tentam achar o anti-cristo e o apocalipse em tudo, creem em OVNIs e veem comunismo e globalização como armas do diabo, mas não tiveram fê e humildade suficientes para buscarem a verdade. Tornam-se presas fáceis de homens e seres espirituais enganadores, que têm nas trevas seus domínios, que usam superstições e misticismos como meios de manipular os tolos e obterem alguma vantagem no mundo.
      A maioria dos cristãos não experimenta iluminação espiritual porque insiste em ver coisas espirituais com olhos carnais, ainda que seja de forma racional. Coisas espirituais se entendem com ferramentas espirituais e são aplicadas de maneira espiritual. Coisas carnais são as ferramentas que os homens podem manipular nas religiões, esses homens não têm poder sobre coisas espirituais altas, porque essas não podem ser usadas nem limitadas. Ser iluminado é acima de tudo ser livre espiritualmente, contudo, isso requer coragem e abrir mão de vaidades, para escolher viver para e em Deus. Jesus encarnado fez essa escolha, por isso sua passagem por este planeta foi única e decisiva para toda a humanidade, mas mesmo ele não dizia tudo que sabia. 
      Um esclarecimento sobre o termo espiritual, sê-lo não é necessariamente ser moral, ainda que os cristãos tenham se acostumado a usarem o termo espiritual para denominarem alguém que consideram santo e ungido, e eis aí outros conceitos que precisam ser reavaliados. Há religiosos e espiritualistas que vivenciam, por evocações e outros protocolos mágicos, experiências espirituais profundas e verdadeiras, mas não têm e nem buscam qualidade moral. Por outro lado os cristãos podem ter virtudes morais altas, mas terem pouca experiência com dons do Espírito e o plano espiritual. No mundo atual essas áreas ainda podem andar desagregadas, pela misericórdia de Deus, mas penso que no futuro será diferente, pelo plano maior de Deus. 
      Não creio que todos os seres humanos devam ter o mesmo nível de iluminação espiritual, mas creio que todos precisem e possam ter as mesmos qualidades morais que Jesus nos ensinou, como perdão, amor, misericórdia, caridade, humildade, libertar-se de referências materiais passageiras e buscar as virtudes espirituais eternas. O juízo não será um exame de vestibular, onde serão aprovados os que souberem mais, o juízo será a revelação da luz que cada ser humano construiu em seu homem interior. Nenhuma pergunta será feita, pois os preparados já possuirão a resposta e a praticaram enquanto no mundo. Esses, Jesus conhece profundamente, pois sempre caminharam com ele em intimidade, para esses não haverá surpresas, só luz, amor, paz e céu. 

Esta é a 82ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quinta-feira, abril 21, 2022

De olhos bem abertos (81/90)

      “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.Amós 3.7 

      Enquanto orava, já no período após pedidos e adoração, quando em silêncio permanecia em comunhão com Deus, uma visão foi mostrada a um homem. À medida que ele via, o Espírito explicava a ele o que era apresentado, antecipando respostas a perguntas que mal tinham acabado de serem mentalmente feitas pelo homem. 
      O homem se viu no topo de um monte muito alto, ele entendia que fazia frio e ventava forte, mas ele se via de bermuda de linho branco, descalço e sem camisa, e não sentia frio. Se via com o corpo de um jovem maduro, apesar de ser velho, mas sentia-se dono de um espírito muito antigo, mais velho que seu corpo físico.
      Ele olhou para baixo e viu florestas e campos verdes, com um rio passando no meio, e lá longe, à frente, o mar. A paisagem passou a ele um sentimento de vida e de liberdade, como se não houvesse morte nem sofrimento. Então, ele voltou o olhar e viu embaixo, não a natureza, mas uma cidade com muitas casas. 
      Na velocidade do pensamento, sem que percebesse como foi ou que algum tempo tenha passado, se viu flutuando sobre uma casa. Existiam teto e paredes, mas para ele eram transparentes, assim ele podia ver as pessoas dentro da casa. Na casa sobre a qual ele pairava viu uma mulher, recebendo suas filhas com muita alegria. 
      Ele olhou para os lados e viu sob outras casas seres como ele, de vestes brancas, alguns de vestidos, outros de calças compridas, que sem palavras, só com olhares, lhe faziam entender que estavam felizes por seres vigilantes luzeiros de Deus sobre outras vidas. Ele viu até sua mãe, sobre outra casa, em uma cidade distante.
      Então, olhou para cima e maravilhou-se. No céu, viu cidades cercadas flutuando, como castelos, muito iluminadas, paralelas e também acima, ficando menores à sua visão, conforme subiam. Ele entendeu que os castelos estavam sob mundos, mais escuros, cada castelo para um mundo. Depois, sem que pedisse, começou a ser elevado. 
      Rapidamente passou por todos os mundos e castelos, então, viu algo que lhe pareceu um lugar especial. Era cercado por muros e tinha uma porta de grades de ouro, que impedia-lhe a entrada. Se aproximou e parou à porta, olhando via lá longe pelas grades, uma luz mais forte que as dos seres como ele e dos castelos.
      Um ser de luz, então, se aproximou, pelo lado de dentro do lugar cercado, e lhe disse: “você não pode entrar, ainda não está preparado para este lugar, sinta-se muito feliz por ter sido revelada a você esta visão, volte ao teu lugar de vigilância”. Imediatamente se viu sobre o topo do monte inicial, sentindo o forte vento.
      Ele temeu, achou que a visão revelava-lhe experiências que teria após a morte, que sua morte estivesse próxima, mas entendeu pelo Espírito que aquilo era sua situação em vida. Ele e os outros seres de branco são luzeiros, que o Senhor tem chamado nos últimos tempos para vigiarem no mundo e orarem pelos santos. 
      Esteja à vontade para aceitar este texto, para interpretá-lo como achar melhor, conforme tua experiência com Deus e teu entendimento bíblico. Contudo, creia, o homem que teve a experiência tem vida séria com Deus, busca consagração inteligente, ainda que tenha se sentido mais humilde e mais responsável após a visão.

      “Não apaguem o Espírito. Não desprezem as profecias. Examinem todas as coisas, retenham o que é bom. I Tessalonicenses 5.19-21

Esta é a 81ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, 21/11/2021

quarta-feira, abril 20, 2022

Saia para o Sol (80/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia a reflexão anterior.

      “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre.” 
Apocalipse 22.5

      Por que as pessoas ficam com conhecimentos limitados e com liberdades cerceadas? Porque temem um passado real e um falso futuro. Na parábola das lâmpadas, apresentada antes, o passado é o quarto mantido escuro por problemas não resolvidos, que na sala iluminada lhes é ensinado como sendo o inferno. Quem sempre esteve no inferno não sabe que está nele, mas a maioria das pessoas, de alguma maneira, um dia teve alguma iluminação. 
      No quarto escuro não se entende que inferno no mundo é só o distanciamento da luz do Altíssimo, negação do amor de Deus. Quem está num inferno ainda no mundo, tem a ilusão de estar num paraíso, senão não permaneceria nele desfrutando prazeres físicos e a falsa segurança que materialismo e irresponsabilidade oferecem. Mas no inferno vivem também os que o escolheram há mais tempo, e esses fazem companhia aos novos inquilinos. 
      Religiões são necessárias como são as salas iluminadas, lugares temporários para crianças espirituais, que ainda não têm maturidade para viverem sem tutores, e que por isso são protegidas e restringidas. Há salas iluminadas diferentes em casas diferentes, algumas até possuem lâmpadas com iluminação bem semelhante à luz do Sol, mas em outras, as luzes podem ser tão fracas que dificultam a visão, só permitem que se veja os contornos. 
      As casas são construções aprovadas pelo criador, Deus permite que religiões se ergam e se mantenham, são administradas por homens que um dia saíram de suas outras casas e, por terem algum conhecimento do Sol, receberam autorização para administrarem casas. Mas essa posição de administrador também deveria ser temporária, mas que pela covardia dos inquilinos que não saem ao Sol, acaba durando mais que deveria. 
      Permanecendo tempo demais onde não deveriam, as pessoas acabam achando que as lâmpadas são o Sol, e que confusão farão quando saírem de suas casas. A princípio entrarão em discussões com pessoas de outras casas, defendendo as lâmpadas de suas casas como mais legítimas que as outras, como mais próximas à iluminação do Sol. Mas isso dura pouco, quem sai para o Sol é iluminado por ele e compreende a verdade.
      Na Terra debaixo do Sol, fora de paredes, teto e portas da casa, está aberto o céu espiritual, essa é uma posição espiritual que permite às pessoas conhecerem a verdade, fora do antolhos das instituições religiosas e de seus líderes. Sob o Sol os seres humanos experimentam um prazer singular, o prazer espiritual de estarem mais perto de Deus, e após o momento inicial de adaptação vivem uma satisfação que nunca provaram. 
      A luz de Deus está por toda a parte na Terra e fora das casas, nada a prende ou submete-a, ela está por fora e por dentro dos seres livres, cabe ao indivíduo, e só a ele, administrá-la. Nessa liberdade o ser se relaciona diretamente com Deus, sem intermediários, sem vigários ou sacerdotes, ele é seu próprio pastor e só tem um professor, o Sol, que é forte e ilumina, mas não queima nem fere, ele é Deus e seu conhecimento é santidade e amor.
      As casas não têm janelas, quem está dentro só sabe do Sol o que lhe é passado pelos que administram as casas. São maus administradores que criam falsos futuros que devem ser temidos, mas esses terão juízo mais severo, quando as luzes das casas apagarem. Quando isso ocorrer, todos, administradores, inquilinos e os livres pela Terra, terão entendimentos iguais sob o Sol, ainda que uns para salvação e outros para danação. 
      No juízo o que mudará não será o ambiente que está fora, a luz de Deus impera por todos os universos e seu amor atrai a todos, indiscriminadamente. Todos estarão sob a luz de Deus e o amor continuará disponível a todos. O que vai definir os destinos está no interior dos seres humanos. Muitos ainda terão dentro de si as trevas, escolheram continuar assim, amaram mais as trevas que a luz, fizeram alianças com os seres das trevas.
      Os que mantiveram um inferno dentro de si não foram humildes para se deixarem conhecer, e assim serem conhecidos e conhecerem a si mesmos, aos outros, a Deus e a tudo o mais. O que pode iluminar um homem com o coração entrevado? Nem se estivesse na superfície de um sol em chamas teria a luz, pois ele não olha para fora e para o alto, mas só para dentro de si mesmo, para sua culpa, e para outros seres de trevas como ele. 
      Quem são os seres das trevas que fazem alianças com os homens que ficam nos quartos escuros? Quando as lâmpadas se apagam um ciclo se encerra e um novo se inicia, os que tiverem a luz dentro deles serão levados para uma nova Terra, onde o mesmo Sol brilha. Contudo, os que tiverem as trevas em seus interiores permanecerão na Terra antiga, presos nos quartos escuros, isso não é feito como castigo, mas por misericórdia. 
      Para o que só acha sentido nas trevas, as trevas lhes serão dadas, mas num novo ciclo terão novamente oportunidade para saírem do quarto escuro, virem para a sala iluminada, se acostumarem com a iluminação, aprenderem a gostar dela, para então escolherem sair da casa e enfrentarem a luz maior do Sol que está lá fora. O que é o inferno? Perda de tempo, ilusão, solidão, ignorância, que se não for desconsiderado poderá ser duradouro. 

Esta é a 80ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, abril 19, 2022

Parábola das lâmpadas (79/90)

      Nesta parte e na próxima, do estudo “Quem você será na eternidade?”, uma parábola que me foi apresentada pelo Espírito Santo com imagens, só tive o trabalho de ver e registrar. Esteja à vontade para entendê-la, existem bem mais mistérios que são revelados nela que aqueles que coloquei no texto, mas esteja também à vontade para discordar dela assim como para confrontá-la com aquilo que você entende que a Bíblia fala sobre assuntos semelhantes. Que a voz final que te fale seja a do Espírito Santo de Deus, essa quando fala e quando é acatada sempre deixa nos corações uma paz imperecível.

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.
  Salmos 84.11

      Quem está à luz de uma sala dentro de uma casa, quando sai da casa e vai para a luz do Sol, não se incomoda, até senti-se melhor, numa luminosidade mais natural. Mas quem está num quarto escuro e vai para uma sala iluminada, ainda que na mesma casa, sente-se desconfortável, a iluminação fere seus olhos, sua tendência é voltar para o quarto escuro, precisa se esforçar para se acostumar. 
      Nenhum de nós começa sua jornada espiritual neste mundo como um iluminado, quando cometemos o primeiro pecado somos lançados em trevas, saímos da infância e nos tornamos adultos, responsáveis pelos erros que escolhemos fazer. Se permitirmos, pouco a pouco Deus vai nos iluminando, nos ensinando, nos curando, assim aprendemos que estar na luz é melhor, ainda que doa no início. 
      Se formos humildes, de um quarto escuro iremos para uma sala iluminada, e quando amadurecermos o suficiente, poderemos sair da casa e nos expormos à luz forte do Sol. Lá, não somos limitados por cômodos e paredes, a iluminação não é restringida, mas temos liberdade para caminharmos pela Terra, conhecermos os moradores de outras casas, compartilharmos com eles o Sol que é para todos. 
      Alguns até iniciam esse processo, saem de seus quartos escuros e entram na sala mais clara, mas não se adaptam, sentem-se desconfortáveis por saberem que sob a luz eles podem ser vistos, do jeito que são. Se eles têm qualidades, elas são reveladas, se têm defeitos, eles também são exibidos, todavia, orgulhosos, não querem ser totalmente vistos, não são humildes para se aceitarem como são. 
      Ainda que esses tenham entrado numa sala iluminada, seus corações continuaram em trevas, e sendo assim sentem saudades do velho quarto escuro, lá eles não se viam, não se conheciam, por isso se iludiam. No quarto escuro podiam achar que eram quem desejassem ser, e ainda que não fossem, tinham prazer na ilusão da mentira e dos estranhos companheiros escuros que com eles viviam.
      Assim, ao invés de saírem para fora da casa e conhecerem o Sol, ao invés de desfrutarem da liberdade que amadurece à medida que se caminha pela Terra e se conhece outros, forasteiros pares, buscando crescer e entender  a verdade que só a luz do Sol revela, se fecham mais ainda no interior da casa, no quarto mais entrevado, se refugiam nele, trancam a porta e constróem lá seu universo.

      Quem somos nós nessa parábola? Estamos na Terra, debaixo do Sol, caminhando, descobrindo, conhecendo e sendo conhecidos? Ainda estamos dentro de casa, seguros numa sala iluminada, com algum conhecimento das coisas, de nós mesmos, mas limitados a quatro paredes e a uma luz menor? Ou somos o que se trancou no quarto escuro, que não quer a verdade por medo, que acha que é o que não é?
      No quarto escuro estão os que fogem de Deus, por isso fogem deles mesmos, não se conhecem, ainda que possam construir todo um mundo dentro desse quarto. Nesse lugar escuro eles não estão sozinhos, existem seres com eles, que eles chamam de amigos, mas que não sabem de verdade quem são, que no final pularão sobre eles e canibalizarão seus seres para poderem sobreviver, são espíritos vampiros. 
      Na sala iluminada estão os religiosos, sob eles existe alguma luz, mas limitada, assim como é limitado o espaço em que podem se mover. Eles temem a Deus, mas só sabem de Deus aquilo que os homens os deixam saber, os administradores da sala e da luz da sala. Eles são mantidos lá por medo, dos perigos do quarto escuro, e do desconhecido que há fora da casa, que os administradores dizem ser perigoso. 
      Mas fora da casa estão os realmente livres, que não dão satisfação de suas vidas a homens, os donos das casas com salas iluminadas e quartos escuros, mas só ao Senhor da Terra e do Sol. Esses entenderam que não existe só uma casa, só uma sala iluminada, nem só um quarto escuro, mas muitas casas, com muitos quartos e muitas salas, assim como muitos forasteiros, aventurando-se para saber mais sobre tudo. 
      Onde existem mais pessoas? Não é fora das casas, lá existem poucos, a maioria está escondida, dentro das casas. Muitos estão nas salas iluminadas, isso é certo, e em menor quantidade outros, dentro dos quartos escuros. O Sol segue brilhando, forte e eterno, à espera de todos. Entretanto, o que os que estão nas casas não querem saber, é que o tempo se aproxima, quando as lâmpadas das casas se apagarão. 
      O tempo final se aproxima, as luzes já estão fracas, porque elas não eram para estarem acesas por tanto tempo, eram para brilhar só enquanto os homens se acostumassem com a iluminação, depois todos deveriam sair para fora de suas casas e enfrentarem o Sol. Existem muitas casas, muitos quartos e muitas salas, e nas salas lâmpadas diversa e distintas, contudo, só existe um Sol, para todos os homens, Deus. 
      Interessante que só existem locais escuros dentro das casas, assim os mesmos que administram as luzes limitadas, também administram a ausência dessas luzes. Fora das casas, na Terra, não há locais entrevados, porque o dono da Terra e do Sol é luz plena e eterna, impossível para ele gerar trevas. As trevas são construções de homens escolhidas por homens para estarem nelas pelo tempo que quiserem estar. 

Esta é a 79ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, abril 18, 2022

Parábola dos vasos (78/90)

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
Gênesis 12.1

      Como fazia todos os dias, a mulher levantou-se cedo, pegou seu vaso em forma de cilindro, caminhou até o centro da cidade, chegou ao poço e colheu água. Seria o suficiente para sua família passar o dia, ela sabia que no dia seguinte teria que fazer a mesma coisa, foi ensinada a fazer isso por sua mãe, que fez isso durante sua vida. O vaso cilíndrico que a mulher usava tinha sido passado a ela pela mãe, essa o tinha recebido também de sua mãe, a mulher não tinha ideia da idade do vaso, só o mantinha com muito cuidado, sabia que não poderia quebrá-lo. O vaso era uma tradição, todas as famílias na cidade tinham vasos semelhantes, o poço não podia ser usado sem que fosse com aquele tipo de vaso. 
      Um dia um viajante chegou à cidade, com sede ele perguntou onde poderia pegar água e as pessoas indicaram o poço. Quando ele se aproximou do poço a mulher lá estava, com seu vaso em forma de cilindro, sozinha colhendo água. Enquanto esperava ela terminar outras mulheres chegaram e formaram uma fila. Uma mulher cochichou, “o que faz um homem aqui no poço? a responsabilidade de colher água é de mulheres”, outra mulher respondeu, “ele é um estranho, deve estar esperando para que alguma mulher lhe dê agua”. Outra mulher cochichou, “que ele peça à sua mulher que venha aqui e pegue água para ele, o que colhemos mal dá para nós, quanto mais darmos a desconhecidos”.
      Quando a mulher acabou de colher água ela se afastou um pouco do poço, o homem, então, tirou de sua mochila um vaso, curiosa a mulher não foi embora, ficou olhando. Contudo, as outras mulheres se surpreenderam quando viram que o homem queria colher água, e mais quando viram que o vaso que ele tinha não era no formato cilíndrico, mas em forma de cubo. Nisso começaram a gritar, “não está certo, já não basta um homem estranho querer colher água em nossa fonte e ainda usando um vaso desses? vai ver nem foi passado a ele por seus pais, ele mesmo deve tê-lo feito, esse não é o costume no mundo, ele deve ser um ladrão, um adúltero que traiu a esposa, um endemoniado fugindo de seus crimes”. 
      Discretamente a mulher observou e foi embora, contudo, no meio do caminho, entre o poço e sua casa, incomodada deu meia volta e retornou. Chegando ao poço viu as mulheres colhendo água, mas o homem, cansado e sedento que estava, não teve forças para sair de lá, ficou rendido no chão, ele tinha viajado muito. Ela então se aproximou e de seu vaso deu água ao homem, com as forças recobradas ele começou a contar sobre suas viagens. “Sou comerciante, vendo e compro coisas, mas não faço isso só em minha cidade, visito outras cidades e levo coisas de um lugar para o outro, assim entrego novidades que aqueles que nunca saíram de suas cidades não conhecem, o trabalho é bom, mas cansativo”. 
      A mulher perguntou-lhe, “por que seu vaso é diferente?”, o homem respondeu, “é como os fazemos em minha cidade, nas cidades que conheci, em todas havia um poço, mas os vasos tinham formatos diferentes, alguns eram iguais aos nossos, outros eram em forma de pirâmide e outros em formatos bem complexos; também não eram só mulheres que colhiam água, em algumas cidades eram os homens e em outras, crianças, de ambos os sexos, faziam isso ainda que com vasos menores, adequados às suas forças”. A mulher, caindo em si, disse, “o que matou tua sede não foi o vaso, mas a água, que importa o vaso, seu formato ou mesmo quem colhe a água? contanto que a sede seja saciada?”. 
      A isso o homem respondeu, “está certa, mas não escandalize tuas amigas, elas nunca saíram desta cidade, acham que o costume aqui é o de todo mundo, quanto a mim tomarei mais cuidado, evitarei essa cidade, pelo menos enquanto o costume aqui for tão restrito”. O homem se levantou e partiu, quando saiu da cidade avisou os outros viajantes como ele, pediu-lhes que evitassem aquela cidade por enquanto, ele não tinha a intenção de ofender ninguém, nem de mudar costumes, apenas queria fazer seu trabalho. Qua cada cidade mantivesse sua tradição no tempo necessário, o mais importante é que os poços de água não secassem, afinal, o que importava eram as pessoas terem água limpa e fresca para beberem.

      O mundo físico é uma expressão artística de Deus, como um quadro realisticamente bem pintado não é a realidade, mas uma ótica belíssima dela. O plano material não é a realidade, ele é passageiro, a realidade é o plano espiritual, esse é eterno, o que temos na Terra são meros esboços, metáforas, do céu. Parábola é uma expressão artística literária do homem, é a descrição de coisas e fatos do mundo para explicar conceitos espirituais, quando ela é inspirada pelo Espírito Santo revela mistérios cada vez mais profundos à medida que refletimos nela. Na parábola inicial os vasos são as religiões, a água é o Espírito de Deus, as mulheres são os religiosos, o homem é aquele que foi além de sua cidade, de um vaso, de tradições humanas. 
      Religião é a mãe do preconceito. Veja como as mulheres interpretaram o estranho, equivocaram-se sobre o que não conheciam porque eram equivocadas sobre o que achavam conhecer, seus vasos, sua cidade, sua tradição. O problema principal de uma tradição não é ela ser diferente e se achar com um entendimento melhor de Deus, mas é o fato dela demonizar quem tem uma crença diferente. As mulheres chamaram o homem de ladrão, adúltero, endemoniado, por acaso não é assim que muitos cristãos veem os que têm uma tradição religiosa diferente da deles? A religião limita o amor e  acirra o ódio, usando como álibi a pretenção de ser a única representante de Deus e dona da verdade, é assim enquanto humana e não divina. 
      Ser bom em uma religião é uma escolha, mas é melhor quem respeita a livre escolha do outro. O ser humano e principalmente o cristão, não faz ideia de como Deus respeita as preferências religiosas dos homens, simplesmente porque Deus avalia pelo interior, não pela aparência, assim como considera os limites de fé de cada pessoa. A mulher tinha sido criada numa tradição, que valorizava mais o vaso que a água, mas bastou uma nova experiência para que caísse em si. Ela não mudou de tradição depois de receber do homem informações sobre o mundo, seguiu colhendo água em seu vaso, mas entendendo o que era mais importante. Deus não pede que alguém mude de religião, não a princípio, mas que o conheça com mais profundidade.
      Há outras cidades, outras pessoas, outros vasos, mas a água mais pura é sempre a mesma. Meus caros irmãos protestantes e evangélicos, a água não é Maomé, Buda, Krishna, Nossa Senhora, alguma entidade espiritual ou divindade, mas Jesus, ainda que muitos não saibam disso. Quando o Deus verdadeiro é invocado não há outro meio pelo qual alguém tenha sucesso nisso que não seja pela porta que é o Cristo, esse emana sua dádiva mais alta até o ser humano pelo Espírito Santo. Ocorre que muitos idolatram o vaso e seu formato, afinal é mais fácil crer em algo que se vê, que se toca, que pode ser guardado, que a água, que some dos olhos após ser bebida, que precisa ser colhida todos os dias, tão líquida, como é o Espírito de Deus.
      Os viajantes devem respeitar mesmo os que não querem viajar. A atitude de amor e humildade do viajante, ainda que soubesse mais, tivesse mais experiências, tivesse mais quantidade e qualidade de vida, é a que Deus espera dos maduros, dos que realmente seguem a Jesus e não ficam aprisionados a religiões. Tantos no mundo se acham “iluminados”, com mais conhecimentos sobre o mundo espiritual que os cristãos, mas se há alguma espécie de orgulho, de sentir-se melhor que os outros por se saber mais disso ou daquilo, então, de nada vale a iluminação. A mulher que caiu em si ganhou sabedoria semelhante a que tinha o viajante, não se tornou igual a ele, mas se tornou a melhor em sua cidade, candidata à viajante, ela foi iluminada. 
      Ser viajante tem sua recompensa, assim como seu preço. Por mais que o viajante se abrisse para novos conhecimentos algo continuava igual, algo que o colocava no mesmo nível das outras pessoas, mesmo daquelas que nunca saíram de suas cidades e que consideravam o mundo todo igual. O homem ainda precisava de água para matar sua sede, e ela não estava fora das cidades, assim ele deveria ter a humildade de entrar numa cidade, enfrentar os limites das tradições, interagir com as pessoas, então, ser saciado. Deus é a constante, religiões são as variáveis, a água não muda porque o formato do vaso muda, crescemos convivendo com as diferenças, todos precisamos de Deus, Deus irá conosco à eternidade, o resto fica no mundo.
      Não é fácil nos livrarmos de tradições, elas nos abrigam tanto quanto nos permitem agradar os que nos iniciaram nelas, mas muitos de nós, em algum momento, terão que se livrar delas para se aproximarem mais da verdade de Deus. Isso não é para todos, para muitos pode bastar o bom senso da mulher, entender a relevância da água sobre o vaso, ainda que continuasse usando o vaso e permanecendo em sua cidade. Talvez a decisão mais difícil que podemos tomar nesta vida seja lançar o vaso ao chão e quebrá-lo. Como beberemos água depois? Fazendo nós mesmos nossos próprios vasos, com o formato que acharmos melhor, às vezes em dias diferentes com formatos diferentes, mas sempre priorizando enchê-lo com a água mais pura. 

Esta é a 78ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, abril 17, 2022

Parábola das casas (77/90)

      “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
João 10.9

      Três homens viviam felizes na terra natal com um pai, era um lugar onde o clima era equilibrado, nem era quente demais, nem era frio demais. Um dia o pai lhes deu uma tarefa, irem até três terras distantes, lá deveriam trabalhar por algum tempo, conhecerem os habitantes e depois retornarem à casa paterna. O pai conhecia bem os filhos, assim como conhecia as terras para as quais os estava enviando, dessa forma escolheu um lugar diferente para cada um. O primeiro filho enviou a uma terra com clima quente, o terceiro filho enviou a uma terra com clima frio, essas terras eram mais próximas. Já o segundo filho enviou para uma terra com clima semelhante ao da terra natal, essa terra, contudo, era mais distante. 
      Algum tempo depois, dando o prazo que o pai orientou para que ficassem longe, os três filhos retornaram para a terra de origem. O primeiro filho, acostumado ao calor do lugar onde tinha passado os últimos tempos, entrou na primeira casa que achou na terra do pai, mas sentiu que ela era muito fria, depois entrou em outra e em outra, até achar uma casa mais quente. O terceiro filho, também acostumado ao clima do lugar onde tinha passado os últimos tempos, procurou uma casa mais fria, achou na primeira que entrou e nela ficou. Esses nem esperaram chegar à casa do pai, estranharam o clima de sua terra e só queriam uma casa, o mais rapidamente possível, com climas semelhantes aos das terras onde estiveram. 
      Dando o prazo o segundo filho também voltou, mas entrou na terra natal e caminhou até achar a casa do pai, abraçou o pai e logo foi trabalhar. Como os outros dois demoravam, o pai esperou, mas após aguardar um tempo perguntou ao segundo filho, “e teus irmãos, não vão retornar?”. O segundo filho respondeu, “se o Senhor autorizar vou procurar por eles, podem estar em algum perigo”, “vá”, respondeu o pai. Não demorou muito para que o segundo filho voltasse com os irmãos. O pai lhe perguntou, “já voltou?”, “sim, eles estavam perto, aqui em nossa terra, mas em outras casas”. Entristecido, o pai disse, “eu os enviei para aprenderem uma lição, contudo, vejo que a viagem fui inútil, não entenderam o principal”. 
      O primeiro e o terceiro filho responderam, “pai, as terras para as quais nos enviou eram muito diferentes desta aqui, nos acostumamos com o calor e o frio, por isso nos abrigamos nas primeiras casas que achamos com climas semelhantes”. O pai respondeu, “e ficaram dentro delas? se ao menos tivessem saído para trabalhar, ainda que depois retornassem a elas, poderiam ter usado melhor o tempo, o irmão de vocês voltou para a nossa casa e logo saiu para trabalhar”. Os filhos responderam, “mas o lugar para o qual o senhor o enviou tinha um clima melhor”, o pai respondeu, “eu o mandei para lá porque antes, quando ele estava aqui, trabalhava bastante, não ficava em casa, enquanto vocês só descansavam”.
      Os filhos responderam, “mas nós obedecemos o senhor, trabalhamos e voltamos”, o pai respondeu, “mas não para esta casa, o irmão de vocês foi para uma terra mais distante, esforçou-se mais para chegar lá e para voltar, ainda assim chegou antes de vocês, se pôs a trabalhar e achou forças para voltar e procurá-los; se ficassem tempo suficiente trabalhando fora das casas, teriam se lembrado do clima da terra que de fato é de vocês, mas ficaram presos às terras nas quais eram para viverem só temporariamente, não sentiram saudades da casa do pai, cuja temperatura é equilibrada, o lugar onde foram criados, assim, que voltem às casas nas quais estavam e fiquem, até que se lembrem quem são e qual é a terra de vocês”.

      Deus, nosso pai espiritual, nos conhece, sabe de nossas lutas, de nossos esforços, que muitas vezes nada têm a ver com prosperidade material ou com reconhecimento no mundo. Nosso maior trabalho é vencermos a nós mesmos, nossas fraquezas, nossas carências, para entendermos e praticarmos virtudes morais. Assim, o que o Senhor permite que aconteça conosco nesta vida, nos movimentos do mundo, nos jogos do universo, nos sistemas humanos, é o que podemos suportar para sermos melhores, para construirmos o homem interior melhor que levaremos à eternidade.
      Três homens diferentes, três provas distintas, todas autorizadas por um pai justo que conhece o passado, o presente e o futuro de cada um. O que é prova para um por ser quente, pode não ser prova para o outro, mas para esse outro a prova é o frio, que não é prova para o primeiro. Um outro homem, contudo, que já foi provado no quente e no frio, será provado não pela novidade da prova, mas pelo tempo. O segundo filho foi para uma terra com clima mais fácil de suportar, mas passou mais tempo indo e vindo, distante da posição onde já tinha estabelecido suas referências. 
      Se as provas do primeiro e do terceiro filho foram amadurecer experimentando coisas novas e diferentes, a do segundo filho foi manter o amadurecimento  mesmo com tudo igual. O prazer novo prova tanto quanto o velho tédio. As provas do primeiro e do terceiro filho foram externas, do mundo contra o homem à medida que esse põe em prática o que crê, mas a do terceiro filho foi interna, do homem contra ele mesmo, quando ele não terá mais novidades, mas ainda assim deverá manter-se fiel ao que crê e é. Quando tempo demais passa, mesmo que tudo esteja bem, podemos nos perder. 
      Depois de nascermos no mundo aprendemos do zero a nos adaptar a ele, para conseguirmos sobreviver dignamente no corpo físico, mas trouxemos conosco um espírito, essa é a referência de algo maior, do que realmente somos, de onde viemos e para onde voltaremos, a eternidade espiritual perto do pai. Ainda que existir fisicamente tome muito do nosso tempo aqui, nosso trabalho principal é espiritual, devemos suportar o mundo, sermos felizes nele, vencê-lo, mas não nos convencermos que somos parte dele, que ele é o melhor para nós, no mundo estamos de passagem. 
      A prova maior na parábola inicial não estava nas terras distantes, nas quais os três homens teriam que passar um tempo. Cada um de nós tem provas diferentes, e ninguém é melhor que ninguém pelo tipo de prova que passa. Mas a prova estava na volta à terra de origem, qual seria a reação de cada homem. Muitos ganham o mundo, mas se esquecem do céu, até procuram uma religião, mas mais adequada à visão que eles têm do que é melhor no mundo, assim escolhem uma casa, uma crença, e se prendem a ela, sem voltarem à casa do pai. A prova maior estava nas casas. 
      Não podemos evitar sermos enviados pela vida a lugares distantes, para exercermos tarefas na área profissional, para nos relacionarmos com pessoas diferentes e conhecermos coisas em tantas áreas, isso teremos que viver de um jeito ou de outro. Contudo, podemos evitar o pior no final, quando enfrentaremos a morte e a eternidade, para isso podemos nos preparar, pois sabemos que é inevitável. Que no final, depois de termos feito tudo e mantido o que conquistamos, possamos ter o amor que teve o segundo filho, que voltou para ajudar os dois irmãos, ele trabalhou e até o fim. 

Esta é a 77ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, abril 16, 2022

Viva mais com menos (76/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia as duas reflexões anteriores. 

      “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.
João 14.2

      Na ”Parábola das mochilas”, que também pode receber o nome de “O ciclo da vida”, são revelados mistérios profundos em seu final, durante o diálogo que o filho tem com o pai dentro da casa. Algumas perguntas são feitas. “Que trabalho é esse que o senhor faz, que precisa ficar tão longe de mim?”, sim, Deus de fato está muito longe de nós, ainda que pelo seu Espírito tenhamos acesso a ele, e esse é só uma emanação, não Deus em sua plenitude, dessa plenitude só faremos parte na eternidade. Mas não devemos nos revoltar, antes aceitarmos em humildade o propósito maior do Senhor.
      “O senhor nunca fica com a mãe?”, no mundo físico matéria e espírito se integram em nós como um só ser, mas são coisas diferentes que devem ser entendidas diferentemente. Por não entenderem o equilíbrio que isso requer, é que tantos se perdem nos extremos, seja no materialismo, seja nas superstições. Experimentar equilíbrio não é fácil, existir no mundo é conviver com uma angústia constante, que não pode ser curada, só administrada. Na simbologia da parábola, a mãe mora num lugar e o pai em outro, um lugar distante, quem faz a união de ambos é o filho. Equilibrar-nos é nossa vocação. 
      “Quem é o dono das estalagens?”, pode representar mais de um ser, escolha quem você preferir. Pode ser o “diabo”, um ser espiritual decaído irremediavelmente, mas pode ser um ser humano que desistiu de seguir para Deus e parou no meio do caminho. “O senhor não é dono de tudo?”, o velho da parábola também representa mais de um simbolismo, a princípio é Jesus, mas também podem ser seus co-herdeiros, seres humanos já aprovados nas provações iniciais, que não vivem mais só para si mesmos, que deixaram de ser filhos e passaram a ser pais, cuja missão é cuidar de outros, ainda filhos. 
      Todos podemos chegar à posição de velhos sábios, não necessariamente no corpo, mas no espírito, todos podemos amadurecer para ajudar os outros. “Fará isso para sempre?”, posições espirituais são definitivas? Ou o ser humano pode mudar, o viajante pode se tornar escravo, depois dono de escravos, então, arrependendo-se, voltar a ser um viajante, amadurecer, para tornar-se pai, cuidar de filhos, e finalmente achar descanso junto ao Altíssimo, o dono de tudo. Agora se mudanças podem ocorrer, não só no mundo, mas também na eternidade, isso fica para cada um crer conforme puder crer. 
      Podemos achar que quando confessamos o pecado no nome de Jesus somos transformados num passe de mágica, que isso faz desaparecer pecado e culpa. Mas não existe mágica na verdade, o trabalho para que a culpa se vá é nosso e realizado por obras, não só por fé. A culpa desaparece quando seu lugar dentro de nós é ocupado pelo desejo de não errarmos mais. Isso, contudo, é só o primeiro passo no processo de anular o pecado. Seguido a isso devemos dizer não quando formos tentados de novo pelo pecado, agindo diferentemente e realizando boas obras, é aí que somos aprovados e mudamos. 
      Qual o papel único de Jesus? Dar-nos uma posição espiritual acima de tudo, do homem, do pecado, do “diabo”, nisso temos libertação da carne e fortalecimento no espírito, que funciona como uma chavinha em nossos pensamentos e sentimentos. Nesse aspecto a coisa parece “mágica”, no sentido de ser algo sobrenatural, que não entendemos racionalmente, que muda nossa mente em um instante, para isso a fé é necessária. Mas essa experiência é só o primeiro passo, os sábios vigiarão e permanecerão nessa altíssima posição espiritual e terão forças para serem aprovados em suas obras no mundo. 
      A melhor qualidade de vida está na resignação que entende que a nossa passagem neste mundo nunca será totalmente satisfatória, nunca teremos tudo o que gostaríamos de ter, nunca seremos plenamente felizes. Nossa atividade profissional, que pode começar como um sonho, nos cansa, nosso casamento, que podemos ter procurado por tanto tempo e que começa como uma paixão poderosa, se transforma em amor, mas também nunca será perfeito. Nossos filhos não serão o que achamos melhor, ainda que nos deem orgulho, igrejas e pastores nos desapontarão, enfim, só Deus é perfeito. 
      Usando as figuras da ”Parábola das mochilas”, o “mantimento” que precisamos para passar pela vida com paz está numa “pequena mochila”, essa é leve. Mas o alimento deve ser aceito com humildade à medida que administramos nosso tempo diligentemente, para que não nos entediemos buscando satisfação nos “pratos das estalagens” que só trazem peso de culpa. No inferno um minuto parece mil anos, mas no céu se vive mil anos em um minuto, assim, o sábio viverá de tal maneira que sua passagem no mundo o canse o menos possível, para que parta para a eternidade do jeito e no tempo certo. 

Esta é a 76ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, abril 15, 2022

Siga leve, Deus está perto (75/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia a reflexão anterior. 

      “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
  Mateus 11.28-30
     
      Vamos entender melhor a “parábola das mochilas”, descrita na reflexão anterior. A mãe é a vida, o pai é Deus, os viajantes somos nós, o caminho é o mundo, o estalajadeiro é o mal, as mochilas pesadas são culpas. Temos um pai, mas ele é espiritual, por isso está longe e só o veremos de fato no final, quando passarmos do mundo para a eternidade. Essa é a interpretação de uma primeira camada da parábola, representa o conhecimento básico para que possamos ter uma vida de comunhão com Deus, isso é o que basta para iniciarmos nossas jornadas, focados no objetivo e em paz. 
      Viemos a este mundo com uma missão, percorrermos um caminho, para isso recebemos aptidões naturais, formação familiar, informação moral, intelectual, material, religiosa, suficientes para percorrermos o caminho. Esses mantimentos estão conosco o tempo todo quando iniciamos a caminhada como adultos. Já água e descanso, também necessários para a nossa jornada, devemos administrar à medida que caminhamos, não descansarmos demais e bebermos sempre água limpa e fresca do Espírito. Vida de oração séria e profunda é onde recebamos a água espiritual que nos vivifica. 
      Quando não nos satisfazemos com Deus e fugimos de nossa missão, nos sentimos vazios. Vazios não veremos alimento no que é mais correto, assim acharemos nas opções da desobediência pratos de comida mais saborosos que o alimento de sabedoria que há numa vida de vigilância moral. Mas esses prazeres são armadilhas para nos escravizar, por isso nos enchem de culpas, se fossem coisas de fato benignas não nos deixariam pesados. A culpa dificulta o caminho, pesa em nossas costas, porque nos faz levar algo que não precisamos levar, algo que não pertence à nossa chamada espiritual.  
      Nas primeiras vezes que o provamos, até achamos o pecado saboroso, interessante, mesmo uma saída para conseguirmos suportar a vida e seguirmos caminhando, contudo, com o tempo e em sua reincidência ele torna a vida insuportável. Podemos chegar a um ponto onde nos tornamos só escravos de vícios numa condição de morte. Estagnados no caminho não temos forças para voltar, muito menos para seguirmos em frente, perdemos a fé, as referências, nos esquecemos da mãe vida, e do pai, Deus. Quantas vezes trocamos o mais importante por um prato de comida, por um curto prazer?
      O mal, “diabo”, ou seja lá o que isso represente e use para nos impedir de seguirmos para Deus, é o mesmo, disfarçado com rostos diferentes, ainda que possua lojas diferentes vendendo produtos diferentes. Ele tem sempre o produto certo para tentar a cada indivíduo em cada momento de vida desse. Seu objetivo é um só, nos matar aos poucos, nos cansando, fisicamente, mentalmente, até que morramos moralmente. Mortos glorificamos o “diabo” em nós servindo-lhe de escravos. Nossa mente é o lugar onde ele pode ter inicialmente alguma honra, existência e guerra espiritual são mentais.
      A culpa é um peso. Como nos livramos dela? Largando-a, como uma mochila pesada que se tira das costas e se deixa no chão. Depois disso seguindo em frente com a vontade de fazer diferente e de não mais gerarmos culpas para carregarmos. Não, não é preciso sacrifício para sermos libertos de culpa, rituais, promessas, obedecermos complicados protocolos religiosos, assistirmos liturgias e passarmos por ritos de iniciação. Basta que tenhamos consciência dela, entendamos porque ela se instalou em nós, e depois a deixemos. Deixar é se levantar, seguir em frente e praticar a mudança. 
      Deus não é um ser superior que manda, dá-nos alguma provisão e deixa o resto conosco. Ele mandou Jesus como exemplo de vida e porta para sua espiritualidade mais alta. Pela porta obtemos perdão, que nos cura da culpa e nos dá a paz que nos fortalece para colocarmos em prática o que aprendemos com o exemplo do Cristo. Podemos achar o Senhor a cada passo que damos, se formos simples e humildes, acalmarmos nossas almas e buscarmos experiências profundas de oração pelo Espírito Santo. Não complique a culpa, deixe-a como um mochila pesada e siga leve. 
      Não temos ideia de quantas vezes e por quantas maneiras Deus esteve pertinho de nós, às vezes como um velho de barbas e cabelos longos e brancos, às vezes como um anjo, às vezes como um ser espiritual de luz invisível aos olhos físicos, mas às vezes como um amigo ou mesmo como um estranho, que só queria “fazer o bem sem importar a quem”. Deus está muito perto de nós, o tempo todo, aconselhando-nos, protegendo-nos, com muito amor, bem-aventurados os que não se escandalizarem com ele na eternidade, mas só reconhecerem um rosto amigo que sempre esteve próximo.

Esta é a 75ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021