sábado, abril 18, 2020

Loucura (parte 11) Processo da loucura

11. Processo da loucura

     “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti, porque ele confia em ti.” Isaías 26.3

      Seguindo na reflexão sobre o processo de desenvolvimento de doenças mentais, temos uma segunda fase, que se inicia com a fase adulta, após a adolescência física, eu disse física pois um doente mental pode seguir emocionalmente na adolescência (ou mesmo na infância) por muito tempo. Nessa segunda fase se está tão atordoado com o mal que se sofreu e que se reteve durante a primeira fase, que não se tem noção das coisas. Se vai sendo empurrado pela vida, machucando, se machucando e sendo machucado, sem referências, seja de tempo, de espaço ou de moral, essa é a pior fase. Alguém deveria perceber a condição do doente e tomar uma atitude, principalmente se estiver em idade física adulta incoerente com suas atitudes sociais. 
      “O louco sabe de tudo, menos que é louco”, e quando digo de tudo digo que ele pode achar mesmo que tem super poderes, que pode ver o universo com um olhar especial, que é alguma espécie de “escolhido”, enfim, mas que na verdade é apenas fantasia de sua mente doentia. O louco sofre? Conscientemente muitas vezes nem sofre, ele apenas existe, se ele não tem referência de nada, por que deveria ter de sua dor? Uma das características do doente mental é que ele não consegue se prender a alianças sociais, como empregos, estudos, igrejas ou casamentos. Na verdade ele está casado com sua insanidade, é fiel só a ela, quem o olha de fora vê uma face plastificada, como a de um boneco, sempre igual, sem emoção, fria, olhando para um mundo que só existe dentro de sua cabeça. 
      Na terceira fase começa-se a ter uma noção da situação, da vergonha que se está passando, então se quer achar alguém para se colocar a culpa. Nessa fase o doente se sente profundamente vitimizado e por isso ele pode somatizar doenças físicas, já que experimenta muita dor, em silêncio e na solidão, não compartilha isso com ninguém porque nem sabe ainda que isso é anormal, só sabe que dói. Sem válvula de escape, maus pensamentos viram tumores ou outros males. Essa fase pode durar muito tempo, mais até que as outras, e pode terminar em uma crise emocional grave, com um quadro depressivo sério, que tragicamente pode ser o que, enfim, revele aos outros que havia um doente grave próximo a eles e eles não sabiam. 
      Na quarta fase, que pode acontecer pela misericórdia de Deus, pelo caráter do doente e com a ajuda de profissionais da área médica, a ficha cai, a cura vem, para-se de jogar a culpa nos outros, assume-se a culpa por muitas coisas, e se é libertado do terrível complexo de vítima. Encontra-se a paz, contudo, pode-se entender quanto tempo foi perdido, uma juventude, uma maturidade que começou tardiamente colocando o ex-doente numa falta de sincronia entre idade física e idade emocional. É só nessa fase que o doente adquire referências, de certo e errado, de tempo, é só nessa fase que um ex-louco começa de fato a experimentar uma vida real, que valoriza e segura alianças, nessa fase um verdadeiro novo nascimento acontece.

      O texto inicial nos ensina um segredo que pode ser um remédio para o que experimenta feridas em sua mente. O que é ter a mente firme em Deus? O texto diz que quem tem isso tem uma paz mantida, não por ele, mas por Deus. Se entregamos a Deus nossa vida ele cuida dela, fiel à sua palavra e à nossa entrega. Entender isso pode ser a diferença entre ser curado e ficar ainda mais enfermo. Em poucas palavras ter a mente firme em Deus é descansar em Deus, e descansar não é fazer força, mas relaxar com segurança. Quem relaxa o faz não porque confia em sua capacidade de resolver um problema, mas na capacidade daquele no qual ele descansou para resolver. Quem nos faz descansar é Deus, não a fé que pomos nele para nos fazer descansar. 
      Quando nós sentamos num sofá, não ficamos apreensivos tentando manter a integridade do sofá através de nosso pensamento, não, nós sentamos e relaxamos, tranquilos sabendo que o sofá suportará nosso peso e nos permitirá descansar nele. Ocorre como uma integração, entre nós e o sofá, é como se ele fizesse parte de nosso corpo, acomodando nosso corpo, suportando o peso e se mantendo íntegro enquanto estamos sobre ele. Ocorre a mesma coisa quando firmamos nossa mente em Deus, não fazemos força porque a verdadeira fé não é a princípio convicção emocional e intelectual nossa, mas dom espiritual de Deus. Precisamos ao menos crer, mas nem isso é esforço nosso. 
      Se vêm de Deus e para ele retorna, não é mérito ou crédito nosso, assim não nos é pesado, se não pesa não pode nos enfraquecer e levar-nos a adoecer, mas nos renova e nos fortalece. Mas como saber quando estamos usando fé dom de Deus e quando estamos nos cansando com alguma energia de corpo e de alma nossa? O que é de Deus deixa paz que permanece, simples assim, Deus nunca exige de nós algo que não podemos fazer ou que vai nos trazer prejuízos, sejam físicos, emocionais ou espirituais. Para aquele que está com alguma problema mental, seja depressão, trauma ou algum transtorno, Deus só orienta que entregue a ele o problema e espere, mais nada.
      Assim, é de suma importância que a pessoa com algum problema mental pare de fazer tudo o que está fazendo, que tenha, daqueles que o cercam, a segurança de que eles vão ajudá-lo e que ela não precisa se preocupar com nada. Isso precisa ficar bem claro, caso contrário o doente não conseguirá descansar e se restabelecer, e creia, um descanso verdadeiro, profundo, continuado, cura ou ajuda a curar muitos males. Tarefas na igreja, mesmo que sejam “para Deus”, como dizem muitos, não nos descansam, é um trabalho como qualquer outro, nem podem ser trocadas por favores divinos, se estiver doente mentalmente dê um tempo com trabalhos em igrejas, siga orientação do médico, não do pastor, se tiverem opiniões distintas sobre isso.

sexta-feira, abril 17, 2020

Loucura (parte 10) Origem da loucura

10. Origem da loucura

      “Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?Jó 38.36

      Temos dentro de nós, no nosso íntimo, além do corpo e da alma, no espírito, um sopro de Deus, uma essência divina, um pedaço espiritual do pai das luzes e das almas, isso é o que nos diferencia de todas as demais criaturas e elementos da natureza, sejam do reino animal, do reino vegetal ou do reino mineral. Isso independe de nossa idade física, de nosso nível intelectual, de nossa classe financeira, de nossa nacionalidade, raça ou de nossa cor de pele. Essa essência tem um desejo intrínseco, comunhão espiritual com Deus, e para isso cada um de nós faz uso do que lhe está à mão, do que se adequa à sua visão de vida, assim, ainda que o “líquido” que se tome seja diferente, a sede é a mesma. 
     Obviamente, dependendo do líquido que se time, a sede será mais ou menos saciada, da mesma maneira como alguns líquidos materiais podem, ainda que saciem a sede do corpo, trazerem efeitos colaterais. O mesmo acontece quando ingerimos água limpa e fresca, suco de laranja ou cerveja para matar nossa sede física, a água mata a sede e não deixa efeitos colaterais, o suco mata a sede, não tão eficazmente como a água, mas além disso nos alimenta com vitaminas, por outro lado a cerveja pode até matar a sede, mas deixa o álcool em nosso organismo como um efeito colateral prejudicial. Mas cada indivíduo escolhe o que quer para matar a sede, assim como terá que conviver com os efeitos da escolha. 
      O melhor seria que todos bebessem da pura água do Espírito Santo para saciar suas sedes espirituais, de vez em quando algum suco natural de laranja para se fortalecer, que são as alegrias sadias da alma, e nunca bebidas alcoólicas, interação com espíritos malignos. Mas a vida real não é ideal, daí as doenças, que prejudicam tanto as pessoas quanto seus descendentes. Doenças mentais podem ser levadas de pais para filhos, assim como podem ser consequências mesmo de partos ruins, que tiveram alguma dificuldade médica ou da própria constituição física da mãe, eu disse podem, pois nem médicos têm certeza disso. O correto é saber que ainda que Deus tenha feito o ser humano original e espiritual perfeito, sua alma e seu corpo sofreram e adoeceram.

      Mas sigamos com o tema desta reflexão, posso identificar fases na vida de quem passa por problemas mentais mais sérios, repetindo o que já disse, deixo bem claro que não sou profissional da área médica de doenças mentais, ou de qualquer outra especialidade, assim, se está precisando de ajuda nesse assunto, procure um médico, psiquiatra ou psicólogo competente, não use qualquer opinião ou declaração feitas aqui no blog como orientação de diagnóstico ou de tratamento de doenças mentais. Tome cuidado, também, com religioso, seja pastor, pregador, missionário, profeta, ou qualquer outro título que se dê nas igrejas evangélicas atuais, não confie em suas orientações sobre o assunto, pelo menos não em qualquer um, no que se refere a problemas mentais deixe a ciência cuidar daquilo que é dela. 
      A primeira fase de uma doença mental é a origem dela, é sobre ela que refletiremos nesta reflexão, na próxima reflexão sobre o tema “Loucura” refletiremos sobre as outras fases Nessa fase inicial é quando a enfermidade é criada, ou mal criada, que é pior. Algumas pessoas, por uma série de fatores, já nascem com disposição para transtornos mentais, se elas forem bem criadas desenvolverão a doença, mas terão mais condições de conviver socialmente, principalmente se a enfermidade for diagnosticada cedo. Infelizmente existe um preconceito com problemas mentais, muitos, mesmo com bom nível intelectual e financeiro, preferem nem saber se são ou se têm filhos doentes, por puro estigma social, por vergonha. Se juntar-se ao problema congênito uma criação familiar ruim, a coisa piora e muito, como veremos abaixo. 
      Alguns especialistas dizem que transtornos mentais podem a princípio ser somente uma deficiência química que se tem no organismo, no cérebro ou/e em outros órgãos, assim, talvez num futuro próximo, a utilização de medicamento, como é a insulina para o diabético, possa colocar a cabeça doente no lugar. Contudo, e essa é a maior e diferenciada dificuldade em doenças mentais, o mau funcionamento do cérebro não interfere só numa função física do indivíduo, mas na interação social e subjetiva desse com a vida. Outros órgãos com funcionamento ruim também podem interferir na vida social de alguém, mas de maneira indireta, um paraplégico terá dificuldades para se relacionar, mas a princípio é diferente da dificuldade que tem um esquizofrênico.
      Ter um problema mental não é como ter um problema nos pulmões, por exemplo, em primeiro lugar porque não se pode diagnosticar a doença com uma chapa de raio x ou com uma tomografia computadorizada. Não se pode tirar uma fotografia da cabeça e constatar transtorno bipolar ou esquizofrenia, ainda que se possa constatar a presença de tumor ou de outra deficiência física que também podem causar transtornos mentais. Muitas pessoas têm, pelo menos aparentemente e até onde a medicina sabe até o momento, órgãos e membros em perfeito funcionamento, e ainda assim sofrem com bipolaridade. Mas o que dificulta bastante a vida de doentes mentais é uma vida afetiva também ruim, que pode funcionar tanto como efeito, como causa de transtornos mentais.
      Nesse caso temos um paradoxo, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Transtornos mentais facilitam problemas afetivos e problemas afetivos pioram os problemas mentais se já existem ou mesmo criando-os se não existiam, assim se a criação familiar for ruim, o doente tem sua condição piorada. Infelizmente é isso o que ocorre com muitos bipolares e esquizofrênicos, ao menos as igrejas evangélicas deveriam ter condições de identificar pessoas com esses problemas e ajudá-las. Contudo, o que ocorre muitas vezes, é o oposto, doentes mentais podem ser obsessivos, trabalhadores perfeccionistas e terem um gosto especial por coisas espirituais e religiosas, o que os leva a serem ainda mais facilmente explorados em muitas igrejas por pastores, senão mal intencionados, mal informados. 
      Se normalmente a pessoa com transtornos mentais já é isolada da realidade, da sociedade, se tiver uma educação sem amor, sem respeito e com muita cobrança, onde a desobediência de regras injustas é punida com violência, seja verbal ou física, mais ainda o doente vai se isolar, mais terá medo das pessoas, mais vai buscar fuga da dor, o que pode escravizar o doente a vícios, de drogas, bebidas alcoólicas etc. Uma grande maioria de viciados em drogas e de sem-tetos, os mendigos que vemos pelas ruas, é de doentes mentais, que não teve uma base familiar mínima para dar a eles abrigo e auxílio. Sim, meus queridos e queridas, tem muito maluco no mundo, e isso não é um termo pejorativo, não é frescura nem engraçado, é doença mental que pode ser tratada. Quem se acha são que discirna quem não é e o ajude, urgentemente. 

quarta-feira, abril 15, 2020

Loucura (parte 9) Espírito Santo, o diabo e a mente

9. Espírito Santo, o diabo e a mente

      “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.” 
João 15.26

      É linda a maneira como Jesus denomina o Espírito Santo, o consolador (paracleto em grego), revela a essência do Espírito de Deus, alguém que veio para consolar os abatidos, um ajudador afetivo, antes mesmo que uma potência sobrenatural. Muitos cristãos não entendem o privilégio que possuem por terem o Espírito Santo habitando neles, não têm ideia de tudo que poderiam aprender diretamente de Deus se dessem mais liberdade a esse consolador. Contudo, espíritos malignos, assim como nossas mentes, também conversam com nossas consciências, então, como diferenciar a voz de Deus, da voz do diabo ou/e da voz de nossas próprias mentes nos falando de forma doentia? 
      É importante que entendamos que experiências espirituais não são para todos, é preciso que as queiramos e as aprovemos, enquanto que problemas mentais podem ocorrer por muitos motivos e mesmo que não os permitamos de forma consciente. Mas antes de tudo Deus sabe quem está e quem não está preparado para ter experiências espirituais mais profundas, quem tem emocional para isso, assim se Deus não quer nos dar, tenhamos a humildade para aceitar e sermos o nosso melhor na chamada legítima que recebemos do Senhor, nem mais, nem menos. Todos podem ser úteis de algum jeito nas mãos de Deus, não queiramos algo só por vaidade ou por curiosidade irresponsável.
       Todos podem ouvir a voz de Deus em alguma instância, mas só os novos nascidos por Jesus e selados com o Espírito Santo têm direito de ouvir a verdadeira voz de Deus de forma mais constante, assim como são protegidos de ataques espirituais do mal mais contundentes, ainda que o diabo sempre tenha a intenção de enganar a todos. A maneira sensata de se viver com Deus é pela fé, provando os frutos dessa fé sancionados pela doutrina cristã, isso nos protege de heresias e de mentiras do diabo, mas ainda assim não estamos livres de fraquezas mentais, e quando essas existem encontrarão em nossas próprias consciências álibis para que existam. 
      A loucura se instala e inventa razões para ficar em nossas mentes, o louco sempre encontrará motivos que justifiquem que ele continue louco ainda que não se ache assim, por quê? Porque o louco perde as referências da realidade. Os tijolos que a loucura usa para se construir são retirados de nossas realidades, eles não aparecem do nada, dessa forma se a pessoa tem um determinado viés religioso, a loucura encontrará nesse viés desculpas para existir e se manter existindo. Isso acontece em qualquer área, se alguém tem um viés político, a loucura achará na ideologia política da pessoa elementos para existir e desses elementos se alimentará para seguir existindo. 
      Armas importantes contra a loucura são a fuga do isolamento e a busca de informação de qualidade, isso é, compartilhar nossas vidas com pessoas sadias, ainda que nossas vidas sejam cavernas escuras que abriguem manias excêntricas e privacidades que queiramos esconder. Obviamente que não faremos isso com todo mundo, ou com qualquer pessoa, mas precisamos ter amigos com os quais possamos nos abrir. Bem, se não tivermos, é para isso que existem bons psiquiatras, psicólogos experientes e mesmo pastores lúcidos e de fato responsáveis. Mas o conselho é, cuidado com isolamento, a solidão pode ser condição necessária, e às vezes exigida, para nos aproximarmos mais de Deus, mas ainda assim é preciso ter limites.
      Mesmo um cristão com a vida em dia com Deus pode adoecer mentalmente, mas se for devidamente tratado, com descanso, medicação e acompanhamento psiquiátrico, ele achará paz. Contudo, se a loucura estiver criando delírios e alucinações na área religiosa, ele precisará também de um conselheiro cristão lúcido e preparado para ajudá-lo a equilibrar vida com Deus com sanidade mental. O perigo é um cristão com algum transtorno pedir auxílio a um pastor também desorientado, desses que veem demônios em tudo ou que acham que jejum e fé podem curar tudo, isso poderá colocar mais carga sobre o doente, já fragilizado, e acorrenta-lo ainda mais à insanidade, aos invés de cura-lo. 
      Quando um ataque mental é de fato de origem espiritual diabólica a pessoa tem mais que uma mente transtornada, tem toda uma vida entrevada, ainda que alguns possam ter uma ligação estreita com espíritos maus e mesmo assim terem vida social, física e mesmo moral equilibradas. Eu creio que Deus em sua misericórdia não permite que alguém com alguma doença de fato mental seja atacado de maneira devastadora por espíritos maus, eu penso que existe uma lei universal que equilibra as forças, a lei do amor de Deus, e não permite que ninguém sofra mal desproporcionalmente maior que suas capacidades. Os que provam problemas de fato desproporcionais escolheram isso, por vontade própria e insistentemente. 
      A verdade é que o ser humano é bem complexo, muitas coisas podem acontecer em muitas áreas diferentes, nem estudiosos sérios têm certeza sobre muitas coisas, e a guerra que existe entre os maus cientistas e a falsos religiosos não ajuda (a verdadeira ciência e a verdadeira religião nunca se chocam, se completam). Tentando refletir sobre muitos aspectos da loucura, a conclusão é: Deus é bom e não nega ajuda a quem lhe pede com humildade. Assim, confiemos em Deus, busquemos auxílio fora de nós, não levemos cargas que Deus não pede que levemos, não nós coloquemos debaixo de jugos de religiosos, e finalmente, a orientação que vem de fato de Deus sempre deixa paz que permanece e nunca pesa. 

segunda-feira, abril 13, 2020

Loucura (parte 8) Loucura de Deus

8. Loucura de Deus

     “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” 
I Coríntios 2.14-16

     Esta reflexão é uma introdução à 8ª parte do estudo sobre loucura, “Espírito Santo, o diabo e a mente”, que será compartilhada na próxima postagem aqui do blog. É de suma importância que se entenda que só podem provar a “loucura” espiritual de Deus, falada na passagem bíblica inicial, os que estão mentalmente sadios, caso contrário as coisas podem ficar confusas, pode-se perder o discernimento sobre o que é realidade, o que é ilusão, o que é verdade, o que é mentira, o que é de Deus e o que é do diabo. Assim, muitíssimo cuidado, não use o texto bíblico acima como álibi para fazer maluquices, e pior ainda, em nome de Deus. É delicado o limite entre uma experiência pela fé no Deus espiritual e a ilusão de quem acha que pode fazer coisas insanas porque uma voz mandou que fizesse. 
      Muitos matam em nome de Deus, violentam, manipulam, saqueiam, e muitos plenamente convencidos que são algum tipo singular de profeta, de pastor, de apóstolo, e isso não só no cristianismo. Por ser a religião que manda no mundo ocidental, a parte do planeta que tem mais poder econômico e político na Terra, é também no cristianismo, seja como catolicismo, protestantismo e tantos outros ismos auto-denominados cristãos, onde existe mais divisões, seitas, heresias, e consequentemente malucos, sempre prontos a se acharem “Deus” para explorarem a fé dos incautos. Mas existem loucos menores, que ainda que não prejudiquem os outros, prejudicam a si mesmos, são pessoas que precisariam de terapia, e não de fé e autofragelamento, para serem seres humanos que agradem a Deus, façam os outros felizes e sejam felizes. 
      Uma armadilha que muitos caem e que pode levar a loops mentais que não achando solução os frustram profundamente, se trata justamente de uma noção errada da relação entre fé e pecado. Pregadores inescrupulosos (visando explorar para obter lucros materiais) pregam que quem tem fé pode ofertar qualquer coisa a Deus (obviamente através da igreja do pregador) que Deus recompensará essa fé e nada faltará ao ofertante. O que ocorre em muitos casos é que a oferta é feita e faz muita falta ao ofertante, que fica frustrado, achando que não teve fé suficiente por isso fez falta o que ofertou, e que sua falta de fé é pecado. Essa armadilha enriquece a igreja e ao pregador, e deixa no ofertante um sentimento imenso de angústia.
      Em primeiro lugar temos que entender que a fé que é dom de Deus, é aquela que é essencial para nossa salvação eterna, para perdão de pecados, e para coisas específicas que Deus nos mostra. Todos temos momentos na vida quando verdadeiramente só um milagre de Deus para nos ajudar, e isso nunca envolve comprar o favor do Senhor com doações, ofertas e dízimos. Não ter uma fé que move montanhas não é pecado, Deus não exige isso de ninguém, assim quem sabe que não tem fé para entrar em certos desafios de púlpitos, principalmente envolvendo retornos financeiros, não peca, está num direito seu dado por Deus. Muitos colocando pastores na frente de Deus chegam a terríveis dilemas mentais por causa disso.
      Nossa fé deve ser medida por nossas obras, e nossas obras devem ser aprovadas por igrejas sensatas e pela doutrina, sim, ser cristão é ser louco para o mundo, como diz o texto, mas através de uma vida de virtudes, em paz e em humildade. Jesus foi o mais louco de todos, nesse aspecto, e nem para o mundo, mas para os religiosos de sua época, da mesma religião que a sua. Mas ele nunca fez maluquices, nem incentivou que nós as fizéssemos, ao contrário, teve uma vida simples de homem de bem, ensinou sobre temperança e amor, foi como homem, curado e equilibrado. Ter a mente de Cristo é experiência dos que de fato seguem a Jesus, não a fantasias da mente. Mas o que seria essa “loucura” de Deus? 
      Ela se evidencia quando o evangelho nos ensina que agradar a Deus, ser espiritual, seguir a Cristo, é agir muitas vezes do modo oposto a como agem os que não têm uma ligação de filhos com Deus. Essa atitude tem muito mais a ver com perder de que com ganhar, assim o que acha que é “louco” de Deus porque tem uma fé que pode fazer grandes coisas, cuidado, isso pode ser mais maluquice mental que de fato comunhão com Deus. Loucura para o mundo é dar a outra face, quando se é ofendido, é morrer para a ganância e não querer ser rico pelo fé, é dar, não receber. Loucura de Deus é fazer morrer o ego, para se nascer espiritualmente para a eternidade, mas com equilíbrio emocional, sem ter falta de auto-estima, que leva a uma atitude de “coitadinho” e que também pode ser ferida mental e não espiritualidade.

sábado, abril 11, 2020

Loucura (parte 7) Morte e espíritos

7. Morte e espíritos

      “E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
Jó 1.6-7

      “E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.
Lucas 8.30

      “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.
I Coríntios 15.51-52

      “Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu.” 
Mateus 22.30

      “E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco. E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles.” 
Lucas 24.36-43

      “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”
João 17.21

      Após a morte do corpo físico, nossa mente continua viva, nossa identidade existe na eternidade, e ela se torna mais intimamente espiritual, livre de interferências e limites do corpo material (I Coríntios 15.51-52). Quando a Bíblia diz que na eternidade seremos como anjos (Mateus 22.30) ela se refere às nossas funções sexuais, por isso lá não haverá casamentos, nem reprodução física, mas penso que nossas identidades masculinas, femininas e demais, serão mantidas, e de um jeito muito mais puro, assim como as características físicas. Penso mais, que teremos a aparência do nosso melhor aqui, na faixa do trinta anos, tanto para os que morrerem com idade menor quanto maior que isso, estaremos com todos os membros do corpo e tão belos quanto for nossa luz espiritual, que em Jesus é sempre a mais pura (Lucas 24.36-43).
      Talvez só na eternidade é que muitos entenderão a relevância da sexualidade, perderão preconceitos e saberão que as coisas não são tão físicas como muitos interpretam o macho e a fêmea no Adão e na Eva míticos. Na eternidade, ainda que os que tenham alcançado iluminação mais alta em Deus (salvação eterna evangélica) através de Jesus experimentem uma comunhão plena com o Deus altíssimo, o pai das luzes (João 17.21), nossas identidades continuarão existindo, assim José ainda será José, Maria ainda será Maria, José Maria e Maria José ainda serão José Maria e Maria José (os que querem entenderão). 
      Isso é diferente nos demônios, os seres espirituais mais inferiores, eles não têm identidade pessoal, funcionam em comunidades (em legiões), suas características são as de seus grupos, têm consciências coletivas, não possuem gostos e preferências pessoais, mas a função ditada por seus líderes (Lucas 8.30), com legiões específicas dedicadas a pecados específicos (com por exemplo a denominada “pombagira” dos afro-espiritismos e kardecismo, para a prostituição, não é um espírito, mas um grupo). Isso nos faz pensar sobre pessoas que fazem parte de certos ajuntamentos, em torno de ideologias religiosas ou políticas, por exemplo, parecem legiões de demônios, sem identidade individual que obedecem cegamente a líderes. 
      Os líderes são os príncipes angelicais, diabos, anjos, arcanjos e outros seres espirituais, caídos ou não, mas de grau superior, esses exercem liderança sobre os inferiores, os principados, potestades etc. Debaixo da permissão de Deus, esses líderes têm alguma autonomia, já que suas vontades são obedecidas pelos seres abaixo deles (Jó 1.6-7), mas mesmo esses não têm a identidade que nós humanos, encarnados ou não, temos. Ocultistas dizem que os espíritos perdem suas identidades individuas nos dois extremos, quanto mais inferior, se parecem com seus líderes baixos, os grandes seres espirituais caídos, e quanto mais superiores se parecem com Deus, assim, nesse entendimento, há uma comunhão com os superiores nos dois lados e uma perda de identidade individual.
      Toda comunicação no plano espiritual é mental, “telepática” (ainda que seres espirituais não tenham cérebros físicos), se um ser pensa, seus subalternos entendem e obedecem. Só Deus, contudo, é onisciente, sabe de tudo e pode se comunicar com todos, bem, esse é o meu entendimento sobre comunicação espiritual, se algumas coisas não estão claras na Bíblia também não estão claras que não são assim, ainda que possamos subentender por muitos textos. Mas isso fica mais claro quando temos experiência profundas de oração com Deus e de discernimento de espíritos, isso, contudo, é só para os que querem ter e saber, repetindo, o mundo espiritual é trancado com chaves, que as ganham os que as buscam, senão o caos universal seria geral. 
      Uma reflexão final, quem sabe uma parte da verdade sabe mais que quem diz que sabe toda a verdade, ninguém sabe tudo, mas quem diz que sabe, mente, e não sabe nada, nada é menos que uma parte. A verdade é que quanto mais sabemos, menos achamos que sabemos, e em se tratando de verdades sobre o mundo espiritual, sobre Deus, sobre a eternidade, sobre anjos caídos e sobre vida pós-morte, sabemos só o que queremos saber. Quem acha que sabe tudo, que tem toda a verdade sobre Deus e mundo espiritual, sabe só o que quis saber, assim esse pode até estacionar nesse limite, é um direito seu, mas não diga que sabe tudo, que tem a verdade, não arrogue isso. 

sexta-feira, abril 10, 2020

Loucura (parte 6) Podemos saber?

6. Podemos saber?

      “Multiplicando-se dentro de mim os meus cuidados, as tuas consolações reanimaram a minha alma.” 
Salmos 94.19

      Na 6ª parte do estudo sobre loucura, que será compartilhada na próxima postagem do blog, faremos uma reflexão sobre o mundo espiritual, esse assunto é bastante pensado aqui no blog, veja por exemplo o estudo “Desvendando o mundo espiritual”. Desta vez tentaremos entender algo impossível de ser provado pela ciência, a existência pós-morte, mas antes faremos uma reflexão introdutória sobre o porquê de levantarmos esse tema neste estudo sobre loucura.
      Conhecimento sobre a morte é algo que só podemos obter pela fé? Bem, pela fé se obtém bem mais que doutrinas teóricas, antes experiências fortes e claras, e que não deixam dúvidas aos que as têm, são provadas sobre muitas coisas do mundo espiritual e por muita gente. Essas coisas são loucuras ou de fato é possível comunicação com os mortos, com os espíritos, com anjos e outros seres espirituais? Isso fica com a fé de cada um, mas qual a relevância disso para o tema loucura? Muita relevância.
      Nas experiências envolvendo mediunidade, necromancia, possessão demoníaca, dons espirituais cristãos etc, a comunicação, ou suposta comunicação, é feita através de nossas mentes, é por ela que entidades, espíritos, humanos desencarnados, ou o Espírito Santo de Deus, se comunicam com os seres humanos. Não estou fazendo juízo de valor, pondo todas essas experiências no mesmo nível, seja doutrinário, espiritual ou moral, nem estou dizendo que isso é verdade ou mentira, contudo todas essas “experiências”, legítimas ou não, podem ser confundidas com alucinações auditivas ou visuais, que são psicopatologias, doenças, não experiências espirituais. 
      Sob o ponto de vista da doutrina protestante evangélica tradicional, experiências de comunicação espiritual podem ter três origens e meios, e em alguns casos fins, ou elas vêm de Deus, ou vêm de espíritos malignos ou são invenções de nossas mentes. O cristianismo tradicional não contempla comunicação com espíritos de homens desencantados e mesmo com anjos, e com demônios só na expulsão e em algumas situações (Jesus conversou com a “legião” em Marcos 5.9). Essa é outra abordagem que precisamos fazer para entender eventos subjetivos que se passam, pelo menos a princípio, só em nossas cabeças, para então podermos identificar a loucura. 
      Alguém pode dizer, “minha experiência é espiritual, não é mental”, mas o espírito precisa de um instrumento para ser entendido por nossas consciências. Antes que nosso corpo reaja e aja, se mova, sinta, é em nossas mentes, com visões e audições mentais (e às vezes com outros sentidos mentais como cheiro e paladar) onde a experiência “espiritual” se passa. Nossa mente é quem recebe o primeiro contato que nosso espírito faz com o mundo espiritual, e é ela quem passará ou não essa informação para o nosso corpo. Discernir de onde vem é importante, para decidirmos se uma experiência possa ser passada para frente ou ser anulada ali, na origem.

      Preciso também compartilhar mais uma coisa, antes de seguir o estudo sobre “Loucura”, aproveitando essa reflexão introdutória, o entendimento que tenho sobre muitas coisas do mundo espiritual é fruto de várias experiências. A primeira delas é conhecimento bíblico, graças a Deus posso ter várias versões de Bíblias e de comentários de Bíblias a mão, também, aos sessenta anos, sou de uma época que a maioria das igrejas Batistas tradicionais (CBB) tinham ótimas E.B.D.s, minha base de conhecimento bíblico é antiga, fundamentada assim como eclética. 
      Tive a oportunidade também de estudar teologia em seminário, assim possuo uma biblioteca extensa de livros técnicos, ainda que atualmente tenhamos excelentes materiais disponíveis gratuitamente na internet, para quem quiser ler e aprender. Infelizmente a disponibilidade de material cresce em relação inversa ao interesse que as pessoas têm nos últimos anos por adquirirem boa informação, que requer estudo e tempo, muitos preferem informações rápidas ainda que falsas. 
      Não expus tudo isso por vaidade, Deus sabe, não tenho em mim motivos para me exaltar, meu orgulho é poder provar de uma imensa misericórdia de Deus, mas ainda com todo o conhecimento que tenho de terceiros, meu entendimento também é baseado em experiências de primeira mão com o Senhor, na oração e através dos dons espirituais. Não, nem tudo é claro pelo cânone bíblico, e o que tenta se basear só nele ficará preso à palavra morta e perderá muito da palavra viva do Espírito Santo.
      Precisamos buscar em Deus o discernimento, mas precisamos aceitar que Deus é muito mais que as experiências registradas na Bíblia de homens antigos com ele. Não estou incentivando ninguém a crer em coisas que não estão claras na considerada palavra escrita de Deus, assim se o que é compartilhado aqui te escandaliza, procure outro espaço, fale com o seu pastor, ore a Deus, se informe mais, mas faça tudo isso com mente e coração abertos. 
      Ainda existe um senso comum entre os cristãos que não se deve tecer teorias sobre certos assuntos, e pior ainda, que não se deve nem pensar neles, sempre usando o texto de Apocalipse 22.18-19 para alegar como pecado qualquer adição ou subtração a qualquer doutrina bíblica. Penso que isso é mais uma ideologia católica que protestante, também creio que isso mais atrapalha que ajuda, não deixa as pessoas mais praticantes do que sabem, ainda que saibam com restrições, mas deixa os hipócritas mais ignorantes, condição conveniente para os manipuladores. 
      Repetindo sempre o que dizemos aqui, a palavra de Deus é o vivo Espírito Santo, e ele está sempre aberto a diálogo com os que temem o altíssimo através do nome de Jesus. Todavia, a conversão de muitos ocultistas ao evangelho (principalmente os da “mão esquerda”) tem trazido informações certificadas pelo Espírito Santo, para quem está, repetindo, aberto para o verdade. Sejamos mais aplicados em conhecer o mundo espiritual, os inimigos de Cristo têm se aprimorado, enquanto muitos cristãos continuam católicos, ainda que se denominem protestantes evangélicos.

quarta-feira, abril 08, 2020

Loucura (parte 5) Ciência e religião

5. Ciência e religião

       Nesta 4ª parte do estudo sobre loucura, uma reflexão sobre o antagonismo que muitos criam entre ciência e fé. O que precisa ser acreditado para existir é o que não pode ser provado pelo menos antes que passe a existir, a ciência prova que coisas existirão mesmo antes de existirem. Por exemplo, sabemos que surgirá fumaça se um material for queimado, a fumaça ainda não existe, mas sabemos que existirá não só pelas nossas observações, mas porque a ciência provou que uma transformação ocorre quando um material é submetido à alta temperatura. Se há conhecimento, não se precisa de fé, se há comprovação científica, temos que aceitar, simples assim. 
      Mas a existência humana vai muito além do plano físico e de coisas que podem ser comprovadas, ainda que funcionem mesmo sem que saibamos bem o porquê. Ter certeza que algo improvável e mesmo impossível fisicamente vai acontecer, antes de acontecer, por crermos nisso, é experiência do plano espiritual, assim tudo que é crença pessoal e não pode ser provado cientificamente pode de alguma maneira em algum momento ser considerado loucura. Contudo, mesmo as coisas que não são explicadas pela ciência, podem ser submetidas a algum tipo de aprovação de legitimidade, isso para sabermos se elas vêm daquilo que cremos como ser o nosso Deus ou de outros lugares. Deus também é uma experiência que se tem por fé, não pode ser provado, mas ter essa experiência por anos a fio nos ensina o que é o “nosso” Deus, o que vem dele e o que podemos ter dele através de fé. 
      As religiões estabelecem limites para uma experiência espiritual, entregam caixas, nós homens aceitamos religiões como nossas verdades espirituais porque achamos nelas algo que nos toca de maneira pessoal, nos sentimos partes delas, conseguimos encaixar nelas nossos limites de subjetividade. Mas isso, como foi dito, é pessoal, a religião adequada para um não é para outro, aquela na qual alguém pode se sentir confortável para exercer fé pode não ser confortável para outro. Isso varia de acordo com uma série de coisas, desde a personalidade de cada ser humano, do lado emocional de cada um, assim como de acordo com o nível intelectual, e é claro, social e cultural de cada ser humano. 
      Sabemos que algo vem de Deus (ou do “nosso” Deus pessoal) quando encontramos aprovação para isso em nossa religião, e o ser humano é tanto complexo para ter visões religiosas diferentes, quanto limitado para se fechar numa visão e achar que ela é a verdade e as outras são falsas, ela é do bem e as outras são do mal, ela é de Deus e as outras são do diabo. Talvez esse limite, essa caixa, que nos prende a uma verdade, seja o que nos proteja da loucura, pois nele tentamos achar coerência, exercemos fé e esperamos resultados, provamos para ver a qualidade dos resultados e aprendemos para exercer fé numa próxima vez, dessa forma a fé também pode ser racional.
      Religião é construção humana, é aplicação de fé numa verdade individual, e ninguém arrogue achar que é aberto e esclarecido o suficiente para aceitar muitas religiões ao mesmo tempo, a caixa por maior que seja tem paredes. Não que ter essa iluminação seja errado ou impossível, mas não tê-la talvez seja o jeito de não enlouquecermos, de nos mantermos na caixa onde podemos viver como seres humanos minimamente lúcidos. Alguns, todavia, não muitos, conseguem ir além, terem uma visão mais alta do divino, casar muitas crenças, achar o elo perdido, isso não é a visão de um homem, curta e rasa, mas a visão de Deus, altíssimo, eterno e profundo (mas na verdade essa é a vontade ideal do divino para todos). 
      “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?” (Eclesiastes 7.16-17), esse texto nos dá uma lição de equilíbrio. Por que o ele diz que ser sábio demais pode nos destruir? Porque podemos ter tantos cuidados, querer controlar sozinhos tantas coisas, nos prendendo a tantos conhecimentos, que acabamos nos matando em vida, tendo uma existência sem alegria, sem aventura. Por outro lado, se nos desligarmos demais da realidade, sendo egoístas ou loucos, acreditando em ilusões, viveremos uma vida irresponsável que pode nos por em risco de morte antes do tempo, e de uma morte violenta. 
      Veja que aqui o termo louco foi interpretado como quem crê em fantasias, assim o crente religioso, apesar de pretender o bem, foi colocado junto do ímpio, que faz maldades, não pelos fins que desejam, que são opostos, mas pelos meios que usam, que são os mesmos. Aqui estamos analisando os meios, não os fins. Se obras demais podem nos enfraquecer, fé demais pode nos matar, umas pelo excesso de responsabilidades e outra pelo excesso de irresponsabilidade, o problema não está na fé nem nas obras, mas nos excessos delas. A loucura pode estar nos extremos, mesmo querer ser complacente demais, científico demais, zeloso demais, pode ser loucura tanto quanto ser crente demais. O ser humano é complexo demais para ser escravo de extremos, assim, o que acha equilíbrio encontra uma harmonia que pode livrá-lo da insanidade, seja ela qual for. 

segunda-feira, abril 06, 2020

Loucura (parte 4) Deuses e monstros

4. Deuses e monstros

      Nesta 3ª parte do estudo sobre loucura refletiremos mais sobre os textos citados na 2ª parte com os entendimentos de antigos gregos e outros estudiosos sobre o assunto, as passagens bíblicas a seguir serão citadas nesta reflexão, direta ou indiretamente.

      “Porque a ira destrói o louco; e o zelo mata o tolo.” 
Jó 5.2
      “Lembra-te disto: que o inimigo afrontou ao Senhor e que um povo louco blasfemou o teu nome.” 
Salmos 74.18
      “Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.” 
I Coríntios 3.18

      Como em outras áreas, em eventos climáticos, por exemplo, os povos mais antigos aliavam aos deuses a loucura, esses possuindo a consciência dos seres humanos, não só nas experiências religiosas (nos oráculos, os médiuns espíritas atuais ou os profetas cristãos), mas mesmo na arte, nos artistas criando sob influências de musas. Os gregos viam deuses em tudo, mas será que isso é diferente em muitos evangélicos pentecostais atuais que veem demônios em tudo? Seguindo na evolução do pensar humano sobre loucura, aliou-se loucura à maldade, se alguém fazia atrocidades era controlado pela loucura, e esse devia pagar por isso, muitos ainda pensam assim. Na Bíblia a palavra louco é usada com intenções distintas, às vezes indicando um homem violento, às vezes um incrédulo, e às vezes até ensina que ser “louco de Deus” é algo bom, veja textos acima.
      A humanidade evoluiu mais no entendimento da loucura quando separou-a da moral e da criminalidade, assim, por ser louco, alguém não deveria ser condenado pelo mal que fizesse, já que não poderia responder pelos seus atos, o louco não era malvado, mas alienado. Durante um período, contudo, os considerados loucos eram isolados, muitas vezes em ambientes nada melhores que as prisões para criminosos. Com o desenvolvimento da farmacêutica e de outras ciências isso mudou, loucos passaram a ser doentes que podem ser tratados com remédios, terapia e outros métodos não desumanos, não precisam ser necessariamente isolados da sociedade. É importante que saibamos que num momento histórico homossexualidade era considerada doença mental, esse não é hoje o entendimento oficial da psiquiatria, por isso “cura gay” não é aceita pelos profissionais da área médica.
      Todavia, uma mudança maior veio no entendimento de Hegel e Freud, que pensaram loucura como algo comum a todos os seres humanos, de acordo com eles doentes são só os que não conseguem viver na realidade com essa loucura latente. Os cristãos carismáticos e espíritas precisam saber que para muitos psiquiatras suas experiências com dons espirituais e com mediunidade são consideradas sintomas de loucura, visto que a consciência individual é tomada por uma entidade externa ou uma identidade diferente da considerada normal. É claro que se isso não impedir a pessoa de conviver com sua realidade, na sociedade, tendo uma vida produtiva e organizada, é uma loucura controlada (ou nem é).
      Essas considerações e definições são variáveis, existem níveis diferentes de doenças mentais ou psicopatologias, que ainda que prejudiquem menos o humor ou o senso de realidade da pessoa, podem ser diagnosticadas e devem ser tratadas. Com certeza todos nós, de alguma maneira, seremos considerados, por alguém em alguma instância, loucos. Hoje em dia esse termo nem é mais ofensivo, depois da revolução cultural dos anos 1960, louco virou sinônimo de gente independente que não se deixa levar pelas tradições sociais humanas, ser louco passou a ser chique. Mas é na área espiritual ou religiosa, por ser um campo onde as coisas são mais subjetivas, relativas às percepções de cada pessoa, de acordo com a fé de cada um, onde mais se taxa as pessoas de malucas, e é, conforme alguns estudos sérios, onde de fato existe muita gente com transtornos mentais, é muito importante que os crentes evangélicos tenham ciência disso. 

sábado, abril 04, 2020

Loucura (parte 3) Os gregos e os psiquiatras

3. Os gregos e os psiquiatras

      O louco sabe tudo menos que é louco. Se você achar que está passando do limite daquilo que pode ser e ter, procure ajuda de outra pessoa, não confie só em sua própria noção de consciência. O outro extremo, contudo, achar que não pode nada, também pode ser sintoma de alguma doença mental, mas seja megalomaníaco ou persecutório, um adicionando e o outro subtraindo, ambos os delírios podem indicar algum nível de insanidade. Existem várias espécies de loucura no ser humano, afetando áreas diferentes de sua vida, mas ainda que se iniciem em uma área, a loucura sempre acaba afetando todo o nosso ser, em todas as áreas, física, mental e espiritual. Nessa segunda parte do estudo sobre loucura, conheceremos um pouco sobre o que pensavam os antigos gregos e estudiosos como os do século XIX sobre o assunto. 

      “A loucura ou insanidade é segundo a psicologia uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psicopatologia. Algumas visões sobre loucura defendem que o sujeito não está doente da mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade. 
      Na visão da lei civil, a insanidade revoga obrigações legais e até atos cometidos contra a sociedade civil com diagnóstico prévio de psicólogos, julgados então como insanidade mental. Na profissão médica, o termo (loucura) é agora evitado em favor de diagnósticos específicos de perturbações mentais, a presença de delírios ou alucinações é amplamente referida como a psicose. Quando se discute a doença mental, em termos gerais, psicopatologia é considerada uma designação preferida.
      As significações da loucura mudaram ao longo da história. Na visão de Homero, os homens não passariam de bonecos à mercê dos deuses e teriam, por isso, seu destino conduzido pelas "moiras", o que criava uma aparência de estarem possuídos, ao qual os gregos chamaram "mania". Para Sócrates, este fato geraria quatro tipos de loucuras: a profética, em que os deuses se comunicariam com os homens possuindo o corpo de um deles, o oráculo. O ritual, em que o louco se via conduzido ao êxtase através de danças e rituais, ao fim dos quais seria possuído por uma força exterior. A loucura amorosa, produzida por Afrodite, e a loucura poética, produzida pelas musas.
      Philippe Pinel alterou significativamente a noção de loucura ao anexá-la à razão. Ao separar o louco do criminoso, afastou o aspecto de julgamento moral que constituía até então o principal parâmetro da definição da loucura. Hegel afirmou que a loucura não seria a perda abstrata da razão: "A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente". A loucura deixou de ser o oposto à razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como "dentro do sujeito", a loucura de cada um, possuidora de uma lógica própria. Hegel tornou possível pensar a loucura como pertinente e necessária à dimensão humana, e afirmou que só seria humano quem tivesse a virtualidade da loucura, pois a razão humana só se realizaria através dela.” Fonte Wikipedia
      A loucura está inconsciente e existe em todos nós, loucos seriam os que sucumbiram à luta constante na sua relação com esse inconsciente, isso é o que diz Freud, pai da psicanálise, em outras palavras, de perto todo mundo é louco.

      Essas visões sobre loucura são mutuamente exclusivas? Penso que não, não pense que no século XXI a significação que usamos é a última, a mais recente, não, ainda podemos ler as loucuras mesmo conforme conceitos antigos. Penso que loucura é tudo isso que é citado nesse texto inicial e mais alguma coisa, assim vou usar as citações neste estudo (na 3ª parte), que não são de qualquer pessoas, são filósofos, estudiosos eruditos, cientistas da medicina e da psiquiatria, são conceitos que devemos considerar. “Se clamares por conhecimento e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus, porque o Senhor dá a sabedoria, da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.” (Provérbios 2.3-6).
      Muitos clamam por sabedoria, oram, jejuam, mas não se dão ao trabalho de estudar, de fazer uma faculdade, de ler bons livros. A boca de Deus não fala só pela Bíblia ou pela voz direta do Espírito Santo, seja em nossos corações ou pelas vidas de outras pessoas cristãs, Deus usa muitos homens sábios neste mundo para nos ensinar sua sabedoria. Principalmente na ciência, podemos aprender mesmo com homens que nem tenham entendimento ou que não assumam que a sabedoria que possuem é verdade de Deus, no caso deles não do mundo espiritual, mas do mundo material. Assim estejamos abertos, com temor e devidos filtros, para aprendermos com médicos, psiquiatras, assim como com químicos, físicos, matemáticos e tantos outros estudiosos sábios de suas áreas.

sexta-feira, abril 03, 2020

Loucura (parte 2) Nem tudo que parece é

2. Nem tudo que parece é

       “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” 
Jeremias 17.9-10

      Iniciando o estudo sobre loucura, uma reflexão sobre dois fenômenos psicológicos, entendimento interessante para quem quer conhecer mais a mente humana, uma parte do nosso ser que vai além de nosso cérebro físico, interface que liga nosso espírito ao nosso corpo. Seguem duas definições sobres esses fenômenos.

      “pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares. Ela também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo. A palavra pareidolia vem do grego para, que é junto de ou ao lado de, e eidolon, imagem, figura ou forma. Pareidolia é um tipo de apofenia.” Fonte Wikipedia 

      “Apofenia é um termo proposto em 1959 por Klaus Conrad para o fenômeno cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios. É um importante fator na criação de crenças supersticiosas, da crença no paranormal e em ilusão de ótica. Inicialmente descrita como sintoma de psicose, a apofenia ocorre no entanto em indivíduos perfeitamente saudáveis mentalmente. Do ponto de vista da estatística é um Erro do tipo I, ou seja, tirar conclusões de dados inconclusivos. Em um exame pode levar a um resultado falso positivo. Psicologicamente é um exemplo de viés cognitivo. Ocorrências de apofenia frequentemente são investidas de significado religioso e/ou paranormal ocasionalmente ganhando atenção da mídia como a impressão de ver Jesus em uma torrada.“ Fonte Wikipedia 

      Experimentar os fenômenos acima não é sinal de psicose, ou necessariamente de algum transtorno psiquiátrico, é na verdade algo comum e útil. Revela a capacidade que o cérebro humano tem de “arredondar”, digamos assim, a interpretação de certas informações para chegar a conclusões de percepção mais rapidamente economizando tempo e energia. Mas essa capacidade precisa de cuidado, há de se ter discernimento para saber quando estamos vendo, ouvindo ou sentindo, coisas que na verdade não existem ou que não condizem com a realidade. Conclusões precipitadas podem levar a grandes enganos, e crer nesses enganos pode levar, sim, à instalação de doenças mentais, algumas de difícil reversão.
      Por que levantei esse tema aqui no blog? Porque em assuntos religiosos e na vida espiritual, que viajam em planos ainda não comprovados cientificamente e que são deveras subjetivos, variam de interpretação de pessoa para pessoa, é onde mais podemos provar pareidolias e apofenias (acho que muitos nunca tinham ouvido falar desses termos antes de ler aqui no “Como o ar...”, ainda que provem esses eventos o tempo todo). Sempre acredito num homem em harmonia com todos as suas áreas, física, emocional e racional, e espiritual, enfim, ter corpo, alma e espírito equilibrados, um ajudando o outro a entender e praticar o que é real de acordo com cada plano, creio que essa é a plena vontade de Deus para nós.
      As coisas na vida não são tão claras, como quer nos fazer crer a ciência, e nem tão relativas e infinitas, como quer nos fazer aceitar sem discussão as metafísicas (ainda que sejam, sim, relativas e infinitas). Na harmonia entre corpo, alma e espírito, achamos o equilíbrio, escapando da insanidade, evitando as diabrices, e nos libertando dos vícios, ou qualquer extremos que nos conduzam a alucinações. Se admitirmos que nós somos mais que matéria e mente, acharemos essa harmonia e seremos equilibrados, como sempre o critério de avaliação para isso é checar os frutos, plante certo e colherá bem. Chegaremos a nada delirando, assim conhecer a Deus, a nós mesmos e ao resto, é caminho que nos livra da ignorância e da loucura.

quarta-feira, abril 01, 2020

Loucura (parte 1) Introdução

      A partir de hoje e indo até o final deste mês, às segundas, quartas, sextas-feiras e aos sábados, o “Como o ar que respiro” estará compartilhando uma série de dezesseis reflexões sobre o tema “Loucura”. Segue hoje uma introdução, se puder, acompanhe este estudo, considero o texto mais profundo e verdadeiro (como testemunho pessoal) que já compartilhei aqui no blog, além de ser um assunto para lá de relevante a todos. 

1. Introdução

      Este é um estudo especial comemorando a entrada do blog “Como o ar que respiro” em seu 10º ano de existência, pela graça do Deus altíssimo. É uma série de dezesseis reflexões sobre o tema “Loucura”, ou Transtornos Mentais, o termo mais técnico, várias discussões serão feitas, abrangendo vários aspectos da insanidade, em várias áreas. Não é para esgotar o assunto, mas para nos ajudar a pensar mais nele. Se você acha loucura falar nesse assunto, saiba que ele está mais próximo de todos nós que achamos ou que queremos assumir que está, e se não de nós, de pessoas próximas a nós, que podem estar sofrendo numa enorme e injusta solidão.

1. Introdução 
2. Nem tudo que parece é
3. Os gregos e os psiquiatras
4. Deuses e monstros 
5. Ciência e religião 
6. Podemos saber? 
7. Morte e espíritos 
8. Loucura de Deus
9. Espírito Santo, o diabo e a mente
10. Origem da loucura
11. Processo da loucura
12. Podemos escolher?  
13. Sobre medo
14. O mal não entrará em ti
15. Informações de profissionais 
16. Conclusão 

      Não quero de maneira alguma tratar este tema de forma leviana, contudo, ele também não precisa nos assustar, ninguém necessariamente precisa, nos dias de hoje, ser internado e estigmatizado, por ter algum transtorno mental, com descanso, medicação e aconselhamento de profissionais sérios, todos podemos conviver com nossas características não normais. Alguns de nós passam a vida flertando com a insanidade, admirando-a, falando com ela, e às vezes até permitindo que ela domine, ainda que seja só nós pensamentos, mas todos nós temos algum nível de anormalidade. Isso na verdade talvez seja o que mais nos faz normais, ou mais semelhantes a todos os demais seres humanos. 
    O termo loucura, que usarei neste estudo, não é tecnicamente o mais correto, mas é um jeito de chamar a atenção da maioria para o tema. O que precisamos aceitar é que nossa existência é muito mais mental que física, nossa vida real se passa muito em nossas cabeças, às vezes mais até que no mundo físico. Já se deu conta em tudo o que você pensa e sente, mas não realiza? Isso também é sua vida, e uma parte muito importante dela, consome tempo e energia, assim como cria registros de sua existência. Saúde mental pode ser mais importante que física, já que ela pode influenciar todo o nosso corpo, assim como distorcer as informações que recebemos em nossa comunhão espiritual com Deus. 
      Sempre que compartilho reflexões sobre este assunto, por responsabilidade, gosto de deixar bem claro que eu não sou profissional da área médica de doenças mentais, ou de qualquer outra especialidade, assim, se está precisando de ajuda nesse assunto, para você ou para alguém que conhece, procure um médico, neurologista, psiquiatra ou psicólogo competente, não use qualquer opinião ou declaração feitas aqui no blog como orientação de diagnóstico ou de tratamento. Mais uma coisa, não confie mesmo em religioso, seja pastor, pregador, missionário, profeta, ou qualquer outro título que se dê nas igrejas evangélicas atuais, não em qualquer um, no que se refere a problemas mentais deixe a ciência cuidar daquilo que é dela. 
       Repetindo, alguns termos usados neste estudo não tiveram o compromisso de estarem tecnicamente 100% adequados à psiquiatria, à psicologia ou à neurologia, o estudo não é feito por um profissional da medicina, assim termos mais simples e de uso mais popular foram preteridos, ainda que se tenha pretendido ser claro e correto. Dediquei, contudo, a reflexão “Informações de profissionais”, para compartilhar textos com informações profissionais sobre o tema, que nos dizem, por exemplo, que médicos não chamam pessoas com transtornos mentais de doentes, mas de portadores de certas características mentais consideradas não normais. Seja como for minha intenção é ajudar, sem mistificações mas com seriedade. 

José Osório de Souza, 08/03/20

segunda-feira, março 30, 2020

Solidariedade

      “Solidariedade: caráter, condição ou estado de solidário; compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas.”, “solidário: em que há responsabilidade recíproca ou interesse comum; que depende um do outro; interdependente, recíproco.” 
Fonte Dicionário Google

      “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade“ 
Romanos 12.9-13

      “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
  Filipenses 2.4-8

      Solidariedade, talvez seja o que o ser humano, enfim, aprenda a ter, numa situação de pandemia como esta, quando ninguém é intocável ou invencível, quando a Covid19 pode atingir a qualquer um. Mas isso pode ser a única salvação para a maioria, não só as orientações dos profissionais da medicina, não só as medidas econômicas dos governos, principalmente para os menos favorecidos financeiramente, mas a ajuda que cada um possa dar a seu próximo. Esse próximo não precisa ser conhecido, ligado à você de alguma maneira, seja como família, amigo ou irmão em Cristo, mas é simplesmente aquele que podemos ajudar agora. Você conhece seu vizinho de rua, de condomínio ou de andar de prédio? Sabe se ele está bem? Se não está precisando de nada? Se está tendo o mínimo para sobreviver? Se não sabe, informe-se e faça algo, o momento é aqui e agora! 
      “Não sejais vagarosos no cuidado”, seja rápido no amor, e no amor prático. Precisamos orar pelo mundo? Sempre, mas pare de orar e faça, doe alimento, ajude com algum dinheiro, faça compras de mercado e de farmácia para idosos e pessoas de grupos de risco, enfim, mostre que é cristão, não seja tímido nem lento para isso. Atentemos para o que é dos outros, pensemos nos outros, começando com isolamento social que não permite que a doença chegue aos outros. Sejamos solidários e entendamos, isso é bem mais que obrigação religiosa, é entendimento do funcionamento do universo. Como o universo funciona? Com tudo e todos numa interação de troca, assim o mal de um, é o mal de outro, o bem de um, é o bem de outro, somos todos interdependentes, ligados, física e espiritualmente. Por quê? Porque estamos todos em Deus e Deus está em todos, sempre.

sábado, março 28, 2020

O justo sempre se levanta

      “Não armes ciladas contra a habitação do justo, ó ímpio, nem assoles o seu lugar de repouso, Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal. Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem se regozije o teu coração quando ele tropeçar; Para que, vendo-o o Senhor, seja isso mau aos seus olhos, e desvie dele a sua ira.Provérbios 24.15-18

      Esse trecho maravilhoso da Bíblia fala sobre quedas, não necessariamente físicas, mas morais e espirituais. Em quatro versos Salomão nos dá várias lições sobre vários aspectos de quedas que os homens podem ter na vida. O primeiro ensino é que tentar provocar a queda de alguém é trabalho inútil, o ímpio anda em trevas, não sabe para onde vai, assim, mesmo sem querer, tropeça no mal, esse não precisa que homem lhe faça armadilha ou que o empurre, seu estado normal já é tragicamente caído. Já o justo sempre se levanta, e se alguém intenta derruba-lo terá que dar contas a Jesus, o cordeiro de Deus que justifica aqueles que confiam em Deus e fazem dele seu prazer, assim não ouse atentar contra ele.
      A queda do justo é por escolha, até isso é um privilégio que só o justificado em Cristo tem, sua queda não é acidental, quem anda na luz sabe para onde vai, se cai é por rebeldia ou displicência sua, não porque sucumbiu a mal de homem ou do diabo. A diferença é que o estado natural do justo é de pé, é nisso que ele se sente bem, ele não tem prazer em ficar caído, assim será levantado, pelo Espírito Santo de Deus que o habita e o sustenta. Salomão dá ênfase a isso, ainda que caia por sete vezes, um número que na Bíblia significa uma quantidade indefinida ou infinita, o justo sempre, sempre se levanta, a tempo de estar de pé para se encontrar com seu Senhor na eternidade. 
      Mas me chama a atenção o início da passagem, que cita habitação e lugar de repouso do justo, interessante que não diz ciladas contra a vida do justo, contra sua pessoa física, mas contra sua residência. Isso mostra a importância e a necessidade de orarmos de forma especial por nossas casas. Muitas vezes oramos na igreja, pelos ministérios, pelas pessoas, mas não damos a ênfase necessária para que haja cobertura espiritual sobre nossos lares. Se nosso lugar de descanso maior, de harmonia, de proteção, nosso “castelo”, onde habita as pessoas mais importantes de nossas vidas, nossas famílias, não está devidamente protegido, nossa paz maior está desguarnecida, seremos enfraquecidos em nossa base para enfrentar a vida.
      Orar pela casa é mais que orar pelas vidas de cônjuges, filhos e outros que moram conosco, o que é a primeira intercessão a fazer. Mas depois temos que orar pelo espaço físico de nossas residências, sala, cozinha, quartos, banheiros, área de serviço, garagem, quintal e outros lugares e cômodos. Não, isso não é exagero, mas é tomada de posse espiritual de toda a extensão geográfica de nossas casas. Depois de expulsar o mal desses locais, peça proteção para que o mal não volte e não entre, seja pelas portas, janelas e qualquer outros espaços, seja por cima, por baixo, pelos lados etc. Visualize os lugares da casa em sua mente, enquanto intercede com fé e convicção emocional, sempre pelo poder do nome de Jesus.
       A passagem nos dá também um último ensino, não nos alegremos com a queda de alguém que se posta como nosso inimigo, eu digo alguém que se posta, assim a inimizade ainda que venha da outra parte não deve ser recebida pelo justo, o justo, nele mesmo, não tem inimigos. A orientação de Salomão revela um segredo, "para que, vendo-o o Senhor, seja isso mau aos seus olhos, e desvie dele a sua ira", quando se zomba do que cai, se a queda for por disciplina de Deus, a disciplina sai do que caiu e passa para quem zombou, sim, é isso que diz o texto. A queda de alguém, mesmo de quem nos quer mal, não nos dá direito de satisfação, ou de qualquer espécie de sentimento de vingança. Andemos em temor a Deus sempre!

sexta-feira, março 27, 2020

CORONA VÍRUS e COVID 19 (3)

      “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor.Mateus 24.37-42

      Algo que me chamou a atenção neste gravíssimo problema que o Brasil e o mundo está enfrentando, é a postura de incredulidade de alguns, e não me refiro a gente sem cultura e sem religião, mas pessoas de classe média, bem educadas e bons religiosos, mas que trataram, e alguns ainda tratam, o problema com desdém. Isso nos leva a concluir o que já tantas vezes já refletimos aqui, as pessoas têm muita dificuldade para sair de suas zonas de conforto, e a pior zona de confronto é aquela que cria na mente da pessoa um conforto, parece óbvio? Mas é isso, principalmente o conforto que diz que elas estão protegidas em seus lares, com suas rendas financeiras, em seus empregos e mesmo com suas religiões, pessoas acostumadas e cercadas por décadas de tradições e de facilidades econômicas inerentes a quem nasce em berços privilegiados. 
      Muitas pessoas, boas cidadãs, boas religiosas, boas cristãs, no fundo pensam, “estamos protegidas com o que temos, somos e cremos, nada pode nos atingir”, mas pensam mais, “essa coisa de crise mundial, de fim do mundo, de diabo, é bobagem, coisa de gente ignorante”, e por incrível que pareça ouvimos isso de religiosos cristãos, principalmente de católicos de classe média e sem dificuldades financeiras. Aqui não vai qualquer declaração preconceituosa contra alguém, mas é uma constatação no Brasil, onde uma grande maioria da classe média tem as características que citei, principalmente nas regiões sul e sudeste. Essas se dizem seguidoras do evangelho, mas são absolutamente incrédulas com relação ao mundo espiritual, ao diabo, ao juízo se Deus, ao apocalipse, tive experiência com esse tipo de gente bem proximamente a mim, infelizmente.
      Entenda certo, também não estou querendo defender o outro extremo, acreditando em teorias de conspiração, apenas estou dizendo que nós seres humanos somos frágeis criaturas neste mundo e estamos sujeitos, sim, a muitos e surpreendentes males, como o Corona vírus e a Covid 19. O texto inicial descreve bem essa zona de conforto, na qual as pessoas sempre buscam estar, foi assim no tempo de Noé e Jesus diz que será assim no final, antes da vinda de Cristo, que teologicamente podemos entender como sendo, a do texto acima, aquela que ocorrerá no arrebatamento, não sendo ainda a volta antes do milênio nem a do juízo final (já refletimos aqui sobre os eventos dos últimos tempos em postagens como “Você será arrebatado?”). Mas descanse, esta pandemia que estamos enfrentando ainda não representa diretamente nenhum evento escatológico, contudo, pode ser um “ensaio” interessante.
      Se não é um ensaio, é um tapa na cara de muitos que insistem em dormir em suas zonas de conforto, acordemos! Busquemos a Deus, busquemos a Deus, nas igrejas? Sim, os templos cristãos ainda são os locais físicos mais adequados para buscarmos a Deus, e estarmos com pares nos fortalece, nos conforta, nos alegra, assim, se você frequenta uma igreja, firme-se mais ainda nela e leve toda sua família. Mas como sempre digo aqui, os melhores encontros com Deus fazemos nas madrugadas, sozinhos em nossos lares, é quando conseguimos nos livrar de todo tipo de vaidade religiosa e levados pela intenção mais pura buscamos ao Senhor, colocamos nossas vidas em ordem com Deus, e entregamos família e próximos no altar do Senhor. É tempo de levarmos a vida com Deus com aquela qualidade que sempre soubemos que devia ter, mas que dizíamos a nós mesmos, “deixa pra depois”, bem, o depois chegou.

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