segunda-feira, maio 25, 2020

Reavaliemos Política e Evangelho (25/30)

25. Política e Evangelho

O que o velho testamento fala do povo de Israel e seu governo político?

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti. Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.” I Samuel 8.4-9

      A vontade de Deus é clara no antigo testamento, teocracia, o próprio Deus governaria Israel, obviamente através de homens, esse foi o papel dos juízes durante um período aproximado de 410 anos. Além de Moisés e Josué fazem parte da lista de juízes, Otniel, Eúde, Sangar, Débora, Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão, registrados no livro de Juízes, e Samuel, registrado nos livros de I e II Samuel e I e II Crônicas. Samuel foi um juiz especial, o maior profeta depois de Moisés, um homem importantíssimo na história de Israel, desempenhou tanto as funções de profeta e sacerdote, quanto de líder político.
      Após isso, Israel pede um rei, conforme o sistema político de outras nações, e Deus dá, um rei conforme seus corações rebeldes, Saul. Mas depois Deus dá um novo rei, agora conforme o coração de Deus, Davi da tribo de Judá da qual nasceria o Cristo. Depois de Davi reina seu filho Salomão, que levaria Israel ao seu tempo áureo como nação, contudo, depois dele reinam seus filhos e uma infinidade de reis inconstantes que se afastam e se aproximam de Deus, ora servindo a Deus, ora aos falsos deuses, dividindo as tribos da nação de Israel que nunca mais provaria a grandeza que teve na época de Davi e Salomão. 
      É claro que teocracia era a vontade de Deus para um povo seu debaixo da velha aliança, a Lei de Moisés e o sistema de ofertas e sacrifícios no Templo de Jerusalém, onde tudo era relacionado, religião, política e mesmo orientações de saúde, de higiene, alimentação etc, eram tempos de um homem ainda em desenvolvimento social e espiritual. Para a nação Israel debaixo desse sistema havia deveres, mas também havia direitos, o ser humano, contudo, de qualquer maneira sempre se mostra inviável para ser feliz em harmonia com Deus neste mundo, por isso Jesus foi enviado, o rei eterno, de Israel e da Igreja. 

O que o novo testamento diz sobre a relação de cristãos, convertidos, novos nascidos em Cristo, com a política?

      “É-nos lícito dar tributo a César ou não? E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Lucas 20.22-25

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?” I Coríntios 6.1-4

      “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” II Coríntios 6.14-18

      O texto de Lucas se refere diretamente a pagamento de impostos, mas podemos usá-lo para entender com clareza as diferenças das relações e compromissos que podemos ter neste mundo, físicos ou espirituais, políticos ou religiosos, com os homens ou com Deus, e Deus não exime seus filhos de viverem neste mundo debaixo de leis físicas, políticas e humanas. O texto de I Timóteo nos orienta sobre o respeito que devemos ter com lideranças deste mundo, sejam na área profissional ou política, elas não devem ser desprezadas, mas protegidas por nós em oração, ainda que não sejam cristãs. Se todos os seres humanos precisam ser salvos, muitos mais os líderes, cujas diretrizes influenciam um número muito maior de pessoas, sejam ou não cristãs.
      As duas passagens de Paulo escrevendo aos coríntios precisam de um pouco mais de reflexão, mas penso que elas são importantes para entendemos as orientações bíblicas sobre a relação de cristãos com o mundo no tocante às leis e mesmo à política. Em primeiro lugar, usando ainda o texto de Lucas, “dai a César o que é de César”, desobediências às leis de homens, sejam civis, criminais, fiscais, devem ser tratadas com os homens. Nenhum cristão queira se esconder atrás de sua fé para fugir às consequências de seus atos, ainda que Deus o perdoe e lhe dê paz, cristão não é isento de pagar suas dívidas com as leis, ainda que em paz com Deus e que isso não o prejudique na eternidade.
      Contudo, Paulo se refere a outra coisa em I Coríntios 6, ele fala de problemas entre irmãos em Cristo e que, porventura, ainda não tenham ido para os tribunais humanos. Se esses problemas forem resolvidos só entre irmãos, e o mais rapidamente possível, escandalizará menos o evangelho, mas isso, repito, se a justiça dos homens ainda não tiver sido acionada. Isso é possível, “roupa suja ser lavada em casa”, se for uma questão entre cristãos, possível e recomendado. Essa passagem mostra o nível moral e ético que um cristão deve ter, que o coloca numa posição espiritual superior a de não cristãos, nível que lhe confere direitos? Sim, mas também deveres. 
      É baseado nessa qualidade moral, ética, social e espiritual, que um cristão genuíno tem (ou deveria ter), que podemos interpretar a Bíblia como orientando que o cristão não precisa se envolver com política, além do dever cívico de ir à sua zona eleitoral e votar, fazendo a melhor e mais consciente escolha. O texto de II Coríntios 6 vai mais a fundo sobre essa diferença quando questiona, “que comunhão tem a luz com as trevas?”. Se o sistema político, câmaras de vereadores, de deputados, de senadores, se cargos de prefeitos, governadores e presidentes, fossem de fato limpos, talvez o cristão pudesse se envolver sem se sujar, mas isso é impossível, não num mundo físico onde o próprio Deus dá livre arbítrio aos homens e onde os sistemas políticos existem para administrar esses homens, que fizeram escolhas morais, espirituais e sociais diferentes. 

O que muitos cristãos hoje em dia dizem sobre política?

      Não, cristão não deve se envolver com cargos políticos, principalmente se forem cristãos com cargos e funções dentro de igrejas. Se forem cristãos sem envolvimentos em ministérios, é menos ruim, pois escandalizam o evangelho em menor instância, contudo, o que ocorre é justamente o contrário. Ditos “evangélicos” com cargos, pastores, missionários, bispos, presbíteros, diáconos, pregadores (e como tem “evangélico” que adora título), são os que mais participam de eleições e mantém cargos políticos, usando justamente seus títulos para se elegerem, para convencerem uma grande maioria de crentes mal informados e imaturos, que eles têm legitimidade espiritual para exercerem tais cargos, quanto equívoco. Pior que isso, acumulam cargos, muitas vezes de pastores e de vereadores, por exemplo, para ganharem salário dobrado.
      Será que um pastor vereador merece ganhar como pastor em tempo integral, ou será que tem tempo para trabalhar como pastor sendo também vereador? Reavaliemos isso, nos revoltemos com isso, digamos não a isso, isso não é correto nem bonito, ainda que ter um cargo político possa acariciar o ego de muitos líderes evangélicos que querem ser, sem estudar e trabalhar por isso do jeito certo. Pastores e outros líderes, querem influenciar mais e melhor a sociedade? Preparem-se, façam uma boa faculdade (não qualquer uma, dessa “pagou passou”), adquiram conhecimento intelectual sério, sejam bons professores de Bíblia e de muito mais, revolucionem pela educação, imaginem só se a educação fosse ocupada por cristãos genuínos, fariam muito mais diferença no mundo que políticos.
      Um argumento muito usado por muitos cristãos que almejam cargos políticos, e concordo que muitos usam esse argumento até com boa sinceridade, ainda que com imaturidade, é que se os cristãos não ocuparem os cargos a política não melhorará, nunca será purificada. O primeiro engano que esses cometem é achar que é possível o céu, com luz moral e espiritual, no mundo, isso vai contra muitos ensinos bíblicos. “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno.”, ou o mundo jaz no maligno (I João 5.19), ponto! E a política jaz no íntimo do pior do maligno, porque ela mexe com o poder que domina o mundo, maior ainda que o dinheiro ou prazeres carnais, as pessoas fazem tudo para terem poder político e muito mais para se manterem nesse poder.

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gálatas 6.7

      Não posso deixar de falar sobre o fato de termos no momento um presidente da república apoiado por uma grande maioria de evangélicos, incluindo altas lideranças cristãs. Em primeiro lugar nem sabemos ao certo se a pessoa é de fato evangélica (talvez isso seja até melhor), esse presidente escolheu um bom ministério e está tentando fazer um governo sem “rabo preso” com “toma lá dá cá”, sem corrupção e venda de cargos? Aparentemente sim, e grande parte de seus ministros é de técnicos e pessoas idôneas. Mas tenhamos cuidado, não nos iludamos, não façamos com ele o que a ideologia política oposta e opositora a esse governo faz com seu maior líder, adorar homem. Esse presidente é honesto e o líder opositor é desonesto? Parece que sim, mas ainda assim, irmãos e irmãs, tenhamos cautela.
      O tal homem ocupa uma posição que não pode agradar só a cristãos, uma posição que precisa governar para todos, não para uma parte, ainda que ele esteja sendo fiel com suas promessas eleitorais e esteja tentando agradar ao seu eleitorado, ao meu ver de forma exagerada visto que não está mais em palanque eleitoral, está incentivando, dia a dia, uma situação beligerante e perigosa. Ele e seus filhos dizem coisas erradas todo o dia, ofendendo, provocando, enfim, agindo de uma maneira tanto desnecessária pela qualidade do governo que faz com seus ministros, quando inadequada pelo perfil que ele diz ter como alguém que respeita a tradição judaica-cristã, a família etc. Eu temo por esse presidente, pela vida dele, mas temo muito mais por uma igreja cristã evangélica que está colocando sua confiança em homem, e num homem estúpido e amargo. 

Esta é a 25ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

domingo, maio 24, 2020

Reavaliemos Chamadas (parte 2) (24/30)

24. Chamadas (parte 2)

      Segue a segunda e última parte da reflexão “Chamadas”, para melhor entendimento leia a primeira parte na postagem anterior.

     “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.” I Tessalonicenses 5.19-24

      Há riscos em liderança solitária, que se autodenomina pastor, sem que tenha certificado de meios legítimos, que se levanta contra tudo, alegando chamada “especial”, isso até pode ser de Deus, mas via de regra não é o que vemos atualmente. Vemos é rebelde usando sua não aceitação por outros como álibi para criar igreja mal estruturada, baseada em heresias, e no final, tornando-se pior que aqueles que ele “robinwoodiando” combatia no início de seu “ministério”. Maluco atrai maluco, assim muitos que começam errados terminam errados e grandes, multiplicando um mal pelo qual um dia terão que dar contas. “Muitos me dirão naquele dia: Senhor... em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mateus 7.22-23).
     Por outro lado, não devemos ser inocentes (ou puristas) a ponto de crermos que existam homens no mundo, suficientemente desapegados de outras ambições, que só queiram obedecer a Deus e honrar seu nome, sem qualquer outra intenção egoísta até o final de seus ministérios. Todos nós, todos, mesmo Paulo e Pedro, temos nossas vaidades e inseguranças, Deus não trabalha sem isso, mas apesar disso e com isso, contudo, as coisas têm limites. Como tentar não deixar que as coisas passem dos limites? “Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros“ (Provérbios 24.6), seguindo esse provérbio, usando o máximo possível de critérios, sejam doutrinários, intelectuais, psicológicos, espirituais, para verificarmos a legitimidade da chamada de alguém, ainda que ela seja muito sincera. 
      Em Jesus vemos um ensino claro sobre ministério, ele só o começou aos trinta anos, por que não fazer essa exigência para todos que almejam liderança pastoral? Autorização de profissional de confiança da área de psicologia ou de psiquiatria também deveria ser exigida para que alguém assumisse uma igreja como pastor ou mesmo grupos menores em igrejas, muitos não fazem ideia de como portadores de transtornos mentais tentam se engajar no “exército evangélico”. Estudo sério de teologia, onde a pessoa possa conhecer as ferramentas intelectuais disponíveis para uma interpretação bíblica respeitando ciência e tantos contextos, também deveria fazer parte dos pré-requisitos. Vida espiritual é de suma importância, mas confrontar isso com realidade científica é o que nos leva a amadurecer sem extremismos. 
      As orientações gerais que Paulo dá aos tessalonicenses no texto inicial, apresentam um equilíbrio necessário a quem se presta a cargos de lideranças nas igrejas cristãs, reflitamos sobre elas. Em primeiro lugar está o Espírito Santo, que está intrinsecamente ligado às palavras finais do texto, “fiel é o que vos chama, o qual também o fará“. A chamada verdadeira é feita pelo Espírito Santo e se é feita por ele ela se realiza, dá frutos, pois Deus não desampara os que chama, ele é fiel às alianças que faz com os homens. O que temos que saber é só se a chamada é de fato de Deus, e não só ilusão de nossas almas. Se é de Deus ainda que pareça não dar frutos, dará, no tempo de Deus, contudo, se não é de Deus ainda que pareça dar frutos, não são, não passarão pela prova do tempo. Nunca julguemos pela aparência presente. 
      Outra coisa que o texto nos ensina é sobre a análise racional que precisamos fazer para discernirmos se algo é de Deus, “examinai tudo, retende o bem, abstende-vos de toda a aparência do mal“, isso só é conseguido verificando com calma as coisas, não se deixando levar por uma impulsividade em nome de uma fé irresponsável, nem por uma falsa sabedoria que se acovarda diante de uma ordem espiritual urgente e clara de Deus (“não desprezeis as profecias”). “Todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis”, isso nos chama a atenção para a totalidade do homem, corpo, alma e espírito, físico, intelecto e sopro divino, sentimentos, pensamentos e percepção espiritual. Uma chamada deve ser analisada em todas essas áreas, na sua origem, na sua manutenção e em seus frutos.
      “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.... porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.“ (Mateus 11.29-30), uma chamada genuína, apesar de exigir consagração, atenção e pureza constantes, não é pesada, não demais. Quem tem chamada verdadeira a conseguirá desempenhar a tempo, se for humilde e se quiser agradar a Deus, não a homens. A principal virtude de um servo é a humildade, um chamado de Deus é chamado para servir, não para ser servido, seu objetivo é fortalecer ovelhas, e não o contrário, seu desejo é ver Deus aparecer, não ele. Coração de servo, como falta isso em tantos que hoje se autodenominam pastores, ainda que tenham um “jeitinho” tranquilo, uma fala “mansa”, têm corações  orgulhosos e gananciosos, seus frutos serão provados, o futuro esclarecerá. 
      “Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes“ (Romanos 12.16). Será que o que o mundo mais está precisando hoje em dia é de mais igrejas e pastores? Perdoe-me se você pensa diferente, mas eu creio que não. Desliguem o sistema de som, guardem os microfones, fechem os grandes templos, parem de entregar dízimos a empresas. Façamos grupos pequenos nos lares, oração, louvor e palavra, usemos dízimos para ajudar os necessitados, em primeiro lugar os irmãos e depois os outros, mostremos Cristo através de vidas simples. Quanto aos chamados, tenham serviços seculares e não pesem financeiramente a ninguém, busquem a Deus, com choro, não com alegria, não é tempo de celebração, mas de humilhação. A realidade grita aos nossos ouvidos, acordemos e façamos diferença nesses dias difíceis. 
      Cristãos melhores serão frutos de igrejas verdadeiras, lideradas por homens com chamadas genuínas, isso só existirá quando o homem sair do trono, quando o papa abrir mão do Vaticano, mas quando os pastores, “bispos” e  “apóstolos” atuais, fizerem voto de pobreza, mas não como referência humana de espiritualidade, isso também é vaidade. Quando a palavra for pregada por homens que amam a Deus mais que a “mamom” (Mateus 6.24), que preferem agradar a Deus mais que aos homens, que definitivamente não se preocupam com quantidade, mas com qualidade, aí teremos de fato uma igreja corpo de Cristo preparada para o arrebatamento. Sou sincero, não acho que isso ocorrerá a tempo, Jesus não profetizou isso sobre o fim dos tempos, mas é o que todo sincero filho de Deus deve buscar, até seu último dia neste mundo. 

Esta é a 24ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sábado, maio 23, 2020

Reavaliemos Chamadas (parte 1) (23/30)

 23. Chamadas (parte 1)

      Nesta reflexão, dividida em duas partes, pensemos sobre chamadas. Todos temos de alguma maneira vocações para servir a Deus neste mundo, seja na área afetiva, isso é, na família, seja na área profissional, na sociedade, ou na área espiritual, através das igrejas. O texto a seguir é a primeira parte da reflexão sobre vocação espiritual, nela somos chamados como indivíduos, como líderes de grupos e como líderes de grupos maiores, isso é, de igrejas, pensemos esse último tipo de chamada, a feita para pastores.

      “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” Marcos 16.15-16

      Deus age com inteligência, diferente do que o ditado “Deus não chama os preparados mas prepara os chamados” diz, ele chama espiritualmente os preparados intelectualmente, ainda que tenha que prepará-los espiritualmente. Exemplo disso é Paulo, mesmo preparado intelectualmente teve que ser preparado espiritualmente para se tornar um apóstolo. Já Pedro, estava preparado espiritualmente, foi apóstolo direto de Cristo, mas sem preparo intelectual teve um ministério mais restrito, seja na abrangência geográfica, seja como escritor dos fundamentos evangélicos. Paulo viajou mais como missionário e escreveu mais como teólogo, assim quem acha que cultura não importa, tem na chamada de um homem com passaporte romano, com formação acadêmica grega e com autoridade religiosa judaica, uma negativa (Atos 23.3). 
      Paulo foi o homem certo para desempenhar a vontade de Deus naquele tempo e naquele mundo, assim como foi Pedro. Contudo, ainda que para servirmos em e através de igrejas seja a vocação espiritual quem estabeleça a chamada, ninguém ache que basta fé e unção. Deus usa as duas coisas, aptidões humanas que nascem com a gente e que são aprimoradas por experiências intelectuais e profissionais seculares, somadas a dons e vocações espirituais, recebidos à medida que andamos com Deus. Paulo tinha o preparo intelectual para desempenhar a chamada que Deus tinha para ele, e Pedro o preparo intelectual para a chamada que Deus tinha para ele, Paulo não tinha que tentar fazer o trabalho de Pedro, nem o contrário, assim como Pedro não deveria se sentir melhor que Paulo pode ter uma chamada diferente, nem o contrário. 
      Deus chama todos para que reflitam sua luz no mundo, mas as chamadas são diferentes, tanto quanto as pessoas são. Uma chamada é mais importante que a outra? Uma tem um nível espiritual mais alto que o nível de outra? Não, todas são importantes e todos somos chamados para termos uma comunhão plena com Deus, o que difere são nossos dons, nossas habilidades e nossas experiências, que podem nos ajudar a compartilhar essa comunhão, seja com um grupo menor ou com um maior. Deus chama respeitando tudo isso, de modo que cada um dê o seu melhor no lugar e no tempo certo para abençoar melhor os outros. Obviamente o que tem um grupo maior sob liderança deverá ter o conhecimento adequado para além de servir espiritualmente, administrar áreas do mundo material, principalmente a financeira. 
      Muitos, contudo, pensam ter chamada espiritual de Deus, quando na verdade são só seres humanos carentes de atenção, tentando convencer a si mesmos que estão certos. Como aliamos a vontade maior de Deus para pregarmos o evangelho com palcos, ainda que o chamemos de altares e púlpitos, como acreditamos que ser espiritual é ser reconhecido publicamente. Essa é uma visão do cristianismo atual, não das religiões orientais, mas também não a de Cristo encarnado. O texto inicial cita o “ide” de Jesus, uma ordem que Cristo deu nas ultimas palavras à Igreja, querendo obedecê-lo com sinceridade muitos tentam ser Pedro ou Paulo, contudo, entendem só a parte da quantidade, de ter ministérios poderosos com templos cheios de membros, não entendem a espiritualidade melhor provada no solitário anonimato.
      Querendo quantidade, não qualidade, vemos hoje em dia um evangelho vendido barato, em todas as esquinas, oferecido fácil e sem obrigações, pérolas vendidas a porcos a troco de dízimos. Os “pastores“ que vendem esse “evangelho” sentem-se especiais, orgulhosos de suas chamadas, são esses, evangélicos? Sim, mas no fundo a grande maioria quer um ministério grande como o do Vaticano, deixou a Igreja Católica mas continua louca para ser igual a ela, com o mesmo poder. Na eternidade? Não, no mundo, e muitos Jovens que sentem chamada missionária atualmente também querem isso para si mesmos, não querem ser Pedros ou Paulos, muito menos como Cristo, só ambicionam ser outros “Macedos”, “Hernandes” e “Malafaias”. Por isso reavaliar chamada pastoral é uma necessidade tão urgente, identificar o erro na raiz. 
      Se um homem tivesse tido base familiar melhor, cuidado mais carinhoso de pais e próximos ou sofrido intervenção de amigos colocando-o sob cuidados psicológicos, milhões de vidas talvez não tivessem sido terrivelmente massacradas, o nome desse homem é Adolf Hitler. Sim, coisas importantes, sejam para o bem ou para o mal, foram feitas no mundo, deixando homens famosos, poderosos, ricos, só para satisfazerem uma necessidade de auto-afirmação ou compensarem inseguranças e falta de amor de um indivíduo. Se soubéssemos de detalhes sobre a vida, principalmente familiar, de muitos líderes, cientistas e empresários, faríamos essa constatação. Líderes religiosos não fogem disso, aliás, desbalanceados psicologicamente têm predileção especial por religião, principalmente por uma que se diz dona da verdade.
      Às vezes, após buscarmos a vontade de Deus com a igreja, em humildade e obediência, sem que tenhamos obtido uma certeza, uma busca solitária pode ser a saída. Em algumas situações a palavra final de Deus só conhecemos orando sozinhos. Homens usados de maneira diferenciada pelo Senhor, para missões decisivas, foram chamados na solidão, e assim foram seus ministérios, conduzidos exclusivamente sob a aprovação de Deus. Com Jacó foi assim, fugindo de seu irmão, com José foi assim, odiado por seus irmãos, com Moisés foi assim, exilado no deserto longe tanto da parentela egípcia de criação quanta da de sangue israelita. Interessante como familiares podem ser nossos maiores inimigos, os que menos entendem nossas chamadas, Jesus no final foi crucificado por escolha dos judeus, não dos romanos.
      A maioria de nós, todavia, hoje é chamada dentro de denominações evangélicas, sob lideranças estabelecidas, assim nos coloquemos debaixo de orientação dos mais experientes, isso é sábio e livra de armadilhas que podem ser armadas por nós mesmos. Para isso precisamos estar em igrejas idôneas, sob pastores sérios homens de Deus, que também achamos buscando no Senhor. O importante é não termos pressa para desempenhar nossas chamadas, não para aparecer diante de homens em igrejas, antes, sejamos diligentes, sim, para viver uma vida agradável diante de Deus, no dia a dia, como pessoas comuns. Não caiamos no engodo da vaidade de desejar títulos eclesiásticos, achando que isso nos torna especiais para Deus, o Senhor não se importa com isso, ele busca os que o obedecem mesmo que ninguém saiba ou veja.

Esta é a 23ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sexta-feira, maio 22, 2020

Reavaliemos Pastores (22/30)

22. Pastores

      Nesta reflexão, reavaliemos os pastores, não poderia deixar passar esse estudo sem pensar sobre eles, líderes das igrejas que tanto reavaliamos nessa série de reflexões, os maiores responsáveis pelo que o cristianismo representa no mundo hoje. Bem, o “Como o ar que respiro” já fez muitas reflexões sobre o assunto, mas desta vez senti que seria mais construtivo, ao invés de listar defeitos de muitos, estudar as virtudes de um, Paulo, o teólogo-apóstolo-missionário-evangelista e pastor. Depois do próprio Cristo, Paulo é nosso melhor exemplo sobre o que deve ser um pastor de acordo com o coração de Deus. Para isso vários textos me vieram à mente, principalmente aqueles que Paulo dá orientações diretas a pastores. 
      O capítulo 18 do livro de Atos dos Apóstolos (se possível leia-o na íntegra), por exemplo, relata a vida corrida de Paulo atrás de um único objetivo, pregar a palavra de Deus. Nessa passagem nos é informado que Paulo tinha um ofício secular, fazia tendas, outro exemplo da qualidade de homem de Deus que era, ainda que missionário em tempo integral não queria pesar para os outros, financeiramente (Atos 18.3). Contudo, o texto que ficou em meu coração são treze versículos de II Timóteo 4, uma verdadeira carta de despedida do apóstolo, que revela a humanidade desse excepcional homem de Deus, um registro não só do que ele orienta a outros fazerem, mas que revela como ele era, o que sentia, o que fazia. 
      Dizem que o estudo bíblico mais técnico é o que é feito seguindo os fundamentos da exegese, sim, somos gratos a homens estudiosos que usam princípios científicos para nos esclarecerem a Bíblia, que conhecem com profundidade história, geografia, línguas antigas etc, e nos permitem saber de detalhes que uma leitura mais leiga não permitiria. Contudo, será que o Espírito Santo inspirou homens a escreverem os livros bíblicos para que só os teólogos conseguissem entender? Não. A Bíblia foi escrita para que mesmo uma leitura descompromissada com princípios de hermenêutica pudesse abençoar qualquer um. A Bíblia original não é comentada, o Espírito Santo e um pouco de sensatez bastam para qualquer um entendê-la. 
      Darei, todavia, alguns dados históricos sobre a segunda carta de Paulo a Timóteo: Paulo escreveu em Roma, estando em sua segunda prisão aguardando sua execução, provavelmente em 64 d.C., Timóteo estaria em Éfeso e viria a Roma. Apesar de Paulo ser um fundador itinerante de igrejas, não um pastor fixo numa congregação, numa cidade, as orientações que ele dá nas epístolas são ensinos pastorais, visam a vida diária das ovelhas nas igrejas e no mundo, e alertam bastante sobre ensinos errados do evangelho. As duas cartas a Timóteo e a carta a Tito são especialmente chamadas de cartas pastorais pois dão orientações, não a grupos de pessoas, como as demais de Paulo, mas a líderes com responsabilidades pastorais.

      “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.II Timóteo 4.6-8

      Para um homem que fez tanto pelo evangelho, deveria haver nele desejo de ter alguma recompensa, mas a conclusão de Paulo ao sentir que sua carreira estava terminando é, “estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício”. Que diferença de tantos pastores que com quarenta e poucos anos se acham no direito de terem uma vida mais tranquila financeiramente, uma casa boa, um carro mais caro, um salário alto, direito de fazerem boas viagens de férias, enfim, direitos de colherem neste mundo frutos materiais. Do quê? De uma obra que deveria ser puramente espiritual, pastoreio de ovelhas, pregação do evangelho que salva e cura almas.
      Paulo chegou ao final de seu combate com a fé guardada, não vendida, não adaptada ao mundo, não desviada da pura doutrina de Cristo. Paulo só via a coroa da justiça que receberia no céu, não queria outra coisa, não almejava mais nada. Um homem sem ilusões? Sim. Sem bens? Sim. Mas em paz por saber que fez o que Deus queria que ele fizesse. Paulo, não “bispos”, não “donos de ministérios poderosos”, não “pastores com posicionamentos políticos”, mas alguém que obedeceu a Deus até o fim, esse sim é alguém que devemos “invejar” (usando a melhor interpretação dessa palavra), alguém que devemos ter como modelo, alguém a ser imitado. 

      “Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso.” “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.” II Timóteo 4.9-12, 14-16

      Paulo era um ser humano e precisava de seres humanos para realizar a obra de Deus, bem, todos que precisam, de alguma maneira, de seres humanos, padecerão decepções, Paulo não foi isentado disso. Paulo abre o coração para Timóteo, reclama de alguns que o abandonaram, solicita que o discípulo venha o quanto antes vê-lo. Paulo está preso aguardando a morte, mas seu coração vive o evangelho. Atualmente, somos ensinados de púlpito por muitos pregadores, que buscam referência para espiritualidade em anulação emocional, um princípio tão católico, e que postam-se, ainda que muitos com sinceridade, como super-homens, que estão bem com todos e não se importam com os que lhes fazem mal. Isso só gera hipocrisia, e achando-se curados muitos nem buscam cura.
      Paulo dá nome aos bois, “Demas me desamparou, amando o presente século”, “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males”, “ninguém me assistiu na minha primeira defesa”, parece que só Lucas estava com ele naquele terrível momento. De fato, quando estamos no alto da aprovação pública, muitos nos acompanham, mas quando as injustiças do mundo nos aprisionam e tentam nos matar, muitos nos abandonam, chegam mesmo a dar razão aos injustos por nos fazerem mal, mentindo dizem que se estamos sofrendo é porque merecemos, ainda que nunca tenham se aproximado de nós para saberem de fato a verdade, ou ao menos a noção versão. Não sabemos o certo de porque tantos deixaram Paulo só, mas ele demonstra claramente que sofria com isso.

      “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém.II Timóteo 4.17-18

      Deus nunca nos abandona! Nunca!! Mas isso é para os que sabem que a companhia de Deus basta, já que para muitos, ainda que Jesus esteja ao lado deles, eles se desesperam, se fazem de vítimas, culpam os homens. Quem odeia demais é porque buscou amor demais nas pessoas erradas, o amor se transforma em ódio com facilidade. Só se desilude quem se ilude, mas quem tem os olhos firmes em Deus, aprendeu que ele tem o principal para que estejamos em paz sempre, em qualquer situação. Paulo sabia disso, estava preparado para seu fim, o fim de um genuíno seguidor de Cristo. Muitos conseguem trilhar um longo caminho com Deus, mas quando chegam no final, na última prova, desistem, negam tudo, e deixam de conhecer o melhor de Deus. 
      O objetivo de Deus é sempre se mostrar através de nossas vidas, muitas vezes ele faz isso nos dando vitória e livramento, mas nosso maior testemunho de Deus pode pedir de nós um grande sacrifício, de Jesus foi a crucificação, de Paulo a condenação à prisão e à morte. Estamos preparados para obedecer a Deus até as piores consequências? De verdade? Cuidado, não nos iludamos com este mundo, mas não nos iludamos com um falso evangelho tão pregado atualmente, que ensina que Deus sempre dá o melhor para seus filhos neste mundo em todas as circunstâncias. Sim, eu creio que ainda que condenado à morte de alguma maneira Deus livrou Paulo de uma morte pior, de alguma maneira Deus deu forças a ele para passar por aquilo com dignidade. 

      “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.” II Timóteo 4.13

      A Bíblia não especifica como Paulo morreu, há outros relatos de que ele teria sido decaptado e não crucificado de cabeça para baixo como Pedro, teria recebido um tratamento “melhor” por causa de sua cidadania romana. Final trágico para um homem tão importante? Pois é, isso é a realidade do verdadeiro evangelho, não a posição de imperador em meio a luxos que têm papas do Vaticano, nem a prosperidade material que tantos donos de ministérios evangélicos têm ou gostariam muito de ter atualmente. Que bens Paulo queria perto de si em seus últimos dias? O versículo 13 de II Timóteo 4 fala a respeito, que eu deixei por último porque para mim é um dos registros mais lindos e reveladores da Bíblia.
      Livros, registros de outros autores pelos quais Paulo tinha alguma afeição? (Uma versão do Antigo Testamento?). Pergaminhos, anotações feitas por ele? (Ou outros textos como dicionários?) Não sabemos, mas eram importantes para ele. Mas tinha um peça de roupa, uma capa (alguns estudiosos dizem que podia ser uma capa de livro), lembrando que Atos 16.8-11 registra que Paulo saiu meio às pressas de Trôade. Se for uma roupa podemos achar justificação no fato de Paulo poder estar preso num cárcere úmido e frio. Sejam o que forem, são poucos bens, poucas necessidades, simples urgências do plano físico para um homem que viveu a espiritualidade cristã em seu nível mais alto, o verdadeiro pai da igreja cristã.

Esta é a 22ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quinta-feira, maio 21, 2020

Reavaliemos Igrejas (21/30)

21. Igrejas

       Muitos, de início, podem fazer uma pergunta: por que devo reavaliar minha igreja, ela está fazendo tudo certo? Pois é, o primeiro problema que enfrentamos para reavaliar igrejas e pastores é o fato de muitos cristãos hoje em dia não terem a mínima ideia do que deve ser uma igreja e um pastor, segundo a vontade de Deus, que deem a eles o alimento espiritual verdadeiramente do Espírito Santo, e isso acontece mesmo que muitos acreditem ser ungidos, íntimos de Deus, aliás isso ocorre mesmo com pregadores e líderes. Por que as pessoas não têm noção? 
      Porque há algum tempo, mesmo a doutrina bíblica tradicional protestante, deixou de ser ensinada na maioria das igrejas, principalmente nas mais frequentadas no Brasil, assim, sem Bíblia, não se tem informação sobre o que é igreja e o que é pastor. Esses ensinos foram substituídos por música e heresias, por longos períodos de “adoração”, por cultos ao dízimo e por discursos sobre prosperidade material e milagres. Enfim, tudo o que refletimos até aqui nessa série de reflexões “Reavaliemos nossas crenças”, tomou o lugar da orientação que levaria cristãos a entenderem o que é de fato uma igreja. 
      As palavras finais de Jesus antes de ser preso, em João 17, texto também conhecido como “oração do adeus” ou “oração sacerdotal de Cristo”, definem os cristãos, como nascem, como vivem no mundo e para onde irão após a morte, estabelecem a doutrina fundamental da igreja cristã e a sua missão, vou recortar da passagem alguns versículos (mas se possível leia todo o capítulo).

      “Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.“ (1-3): Jesus declara a legitimidade de sua obra, foi iniciativa de Deus, realizada por Deus em Cristo homem na Terra e entregando homens a Deus, começando por ele, que voltou ao céu como Cristo Deus. Jesus mostra a autoridade ímpar que a religião que ele fundou tem (o versículo tema do “Como o ar que respiro” está contido nessa passagem).
      “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” (6-9, 14-17): Jesus afirma que suas palavras foram dadas a ele por Deus e ele as dá aos homens, deu em pessoa enquanto encarnado, e depois de ressuscitado dadas pelo Espírito Santo. Jesus ensina que existe uma diferença clara entre os que recebem sua obra e os que não recebem, entre os salvos e os do mundo, Jesus divide a humanidade em dois grupos, mas Jesus revela que os do mundo odiariam os da igreja, como a ele odiaram. 
      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.“ (20-21): Jesus revela que sua obra não se encerraria no primeiro século, nas vidas de seus contemporâneos, mas estaria disponível a todos, através da igreja e pelo Espírito Santo, mas Jesus dá uma característica singular de seus seguidores, que os diferenciaria dos não salvos, a união.

     Diante do 17º capítulo de João chegamos a três perguntas que precisamos fazer ao cristianismo atual: 
- ele tem a autoridade exclusiva da única religião fundada na terra pelo próprio Deus? 
- ele de fato se diferencia do mundo e das outras religiões, correndo mesmo o risco de ser odiado? 
- ele une os cristãos?

      As respostas às três perguntas, infelizmente, nos conduzirão à necessidade de fazermos reavaliações sobre nossas igrejas, responsáveis pelo atual cristianismo no mundo. O cristianismo se adaptou demais, e tudo que se adapta se altera para sobreviver, mas será que o verdadeiro cristianismo de Cristo precisaria se adaptar? Jesus disse, “não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”, esse é o mistério que só a verdadeira igreja de Cristo pode viver, ser pura no meio do impuro, fazer diferença sem se adaptar, ainda que entregando uma maneira única de transformação. 
      Mas muitos se desviaram do verdadeiro cristianismo, ainda nos primeiros séculos, quiseram o mundo e seus valores, seu poder, sua aprovação, e não os valores do Deus altíssimo ensinados pelo Espírito Santo. Assim, para terem o que não precisariam ter, ser o que não precisariam ser, se adaptaram e nisso perderam a autoridade do evangelho puro. Esconderam-se debaixo do manto da autoridade humana, de poderes humanos, que ainda que usassem ícones do verdadeiro cristianismo, passaram a cultuar só a forma, a cruz, a palavra morta, as figuras dos apóstolos, os lugares históricos onde os cristãos primitivos viveram. 
      Contudo, a mentira nunca se basta, precisa de mais e novas mentiras para continuar existindo, assim nasceu e se estabeleceu a Igreja Católica, sobre a qual o protestantismo fez uma reforma, mas ainda mantendo em suas doutrinas muitas das mentiras. O cristianismo primitivo, da primeira igreja, de Pedro, de João, de Paulo, foi esquecido. A autoridade, a diferença e a união, se perderam, ainda que tantos cristãos hoje em dia tentem reivindicar essas virtudes que Cristo disse que seriam as de sua genuína igreja.
      Autoridade espiritual se tem quando se recebe, não de homens, mas de Jesus que a recebeu de Deus, “porque lhes dei as palavras que tu me deste”, disse Cristo. Essa palavra pura é a que salva, cura e pode fazer o que tantos chamam de milagres, contudo, só tem direito a essa palavra quem é de fato diferente do mundo, não diferente de acordo com referências humanas, sejam religiosas, sejam em costumes externos ou culturais. Alienação social pode ser insanidade, não reflexo de uma vida diferente em Cristo, seja como for o diferente em Cristo não é apreciado pelo mundo. 
      Nesse ponto algo precisa ficar bem claro, diferente em Cristo é ser como Cristo era, e Cristo não era odiado por ser escandaloso, inacessível, por dizer o que pensava sempre, para todos, querendo sempre gritar a última palavra como dono da verdade, se mostrando como “santarrão”. Jesus muitas vezes se calava e se retirava, Jesus era acessível e não tinha preconceitos, Jesus andava com pecadores e participava de festas (e bebia vinho, diferente de João batista, Lucas 7.33-34). Jesus era na aparência comum e não fazia nenhuma questão de ser diferente, mas era diferente no coração e nos frutos, por isso tinha autoridade.
      E sobre união? “Que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”? Talvez a característica mais conhecida do cristianismo hoje seja a desunião, quantas denominações, quantas igrejas, quantos ministérios, quantas seitas, quantas cisões, e ainda assim todos dizem ter a autoridade do Espírito Santo. Por que tantas diferenças? Bem, as pessoas são diferentes, fazer caber todas, com diferenças de cultura, de nível financeiro, de nível intelectual, de características emocionais (introvertidas, extrovertidas, centradas), num só lugar, numa só igreja, é de fato impossível. 

      “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós.I Coríntios 12.14-21

      Contudo, é justamente essa vontade de viver só com quem pensa igual, uma escolha com certeza mais fácil, é que leva as igrejas a serem corpos deformados, monstros, não organismos completos e aptos a viverem bem. Mãos gostam de mãos porque é mais fácil viver com iguais, assim mãos formam uma igreja de mãos, de fato uma igreja especialista, em mãos, mas eu pergunto, um corpo só com mãos pode andar, ou pode andar bem? Não, lhe faltam pés. Mas os pés, por sua vez, fazem a mesma coisa, formam um corpo só de pés, especialista em pés, que podem andar, mas que não conseguem manusear bem as coisas, lhe falta mãos para pegar.
      Assim, temos igrejas com excelentes teólogos, mas que desprezam os dons espirituais e a palavra revelada, temos igrejas cheias de dons, mas que não conhecem com profundidade a palavra escrita na Bíblia, por quê? Porque teólogos protestantes, em muitos casos, não conseguem conviver com os pentecostais, que falam em línguas espirituais estranhas. Organismos completos e unidos? Não, guetos de monstros, corpos desfigurados, desequilibrados, nos quais o Espírito Santo clama com gemidos inexprimíveis e não é ouvido. 
      É importante que entendamos que conviver juntos como um corpo não é só fazer parte da mesma igreja e se respeitar educadamente, é preciso que de fato ideias, doutrinas, atitudes, sejam compartilhadas e inter-relacionadas. Uma mão não funciona sozinha, ela precisa de sangue que vêm do coração, de comandos que vêm do cérebro, e de um braço para ligá-la ao corpo. Espiritualmente entendemos isso tendo teólogos estudando a Bíblia racionalmente, mas atentos às profecias, que são entregues por profetas que buscam aprovação delas pela Bíblia estudada pelos teólogos. 
      Todos têm que ouvir todos e aprender com todos, ainda que tendo cada um chamadas vocacionais, dons espirituais, aptidões humanas, experiências e formações diferentes. Viver como corpo de Cristo, a metáfora perfeita nos ensinada por Paulo sobre a igreja, não é fácil, para ninguém, é preciso temor a Deus e humildade, para se saber que por mais que nos apliquemos em nosso trabalho, o outro também faz o mesmo. Dessa forma ninguém deve se julgar melhor ou maior que o outro, mas todos membros, diferentes, mas importantes, do mesmo corpo cuja cabeça é Cristo. 
      Contudo, além da desunião que prefere viver só com pares, ênfases doutrinárias divergentes, onde mandam as heresias, também dividem igrejas. A prioridade da igreja cristã, dada por Cristo, é uma, salvar gente, pregar o evangelho que muda vidas. Mas quantos batismos a grande maioria das igrejas faz atualmente por mês? Hoje em dia muitas nem têm batistério, mas um grande palco para músicos e pregadores itinerantes, em templos que são mais salas de espetáculos que locais santos onde o Cristo que salva é pregado, são só teatros onde se paga shows com dízimos. 
      A igreja que tem a autoridade dada por Cristo, que é diferente e que é unida, virou só mais uma empresa de homem querendo morder um pedaço do mercado que são os corações de homens que só querem uma religião para se livrarem de culpas e fugirem do diabo. Mal sabem que o diabo está no meio deles, sentado na cadeira ao lado, cantando, batendo palmas, satisfeito por não precisar mais tirar as pessoas dos templos para que se desviem.
      Ter uma igreja com real autoridade de Jesus, a dada a ele pelo próprio Deus, uma igreja de fato diferente de tudo que o mundo e o diabo representam, uma igreja que une todo tipo de ser humano, do intelectual ao de serviço braçal, do hétero ao homoafetivo, do branco ao negro, do pobre ao rico, ter essa igreja que estava no coração de Jesus quando ele fez a oração sacerdotal, só depende de mim e de você. Orar por isso, cobrar isso de líderes e de demais irmãos, não aceitar heresias e manipulações, e acima de tudo, buscar uma vida cristã que dê frutos, de santidade, de libertação, isso, muito mais que dízimos e música, entrega ao Deus altíssimo uma adoração agradável. 

      Igrejas evangélicas atuais e seus pastores pode ser o ponto mais importante que devemos reavaliar, já refletimos bastante sobre isso aqui no “Como o ar que respiro”, seguem links de algumas reflexões:
Esta é a 21ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020


quarta-feira, maio 20, 2020

Reavaliemos Dízimos (20/30)

20. Dízimos

      Esta é a terceira parte da reflexão sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos de Israel para a cristã, continuando sobre a religião hebraica. Pensaremos agora sobre um tema polêmico, dízimos, uma lei da velha aliança, que não é para a igreja cristã do novo testamento.

      O tema dízimos é uma consequência do que refletimos sobre a religião de Israel no antigo testamento até agora, sobre a tribo sacerdotal de Levi, e sobre sua função exclusiva de administrar o templo e os sacrifícios dos israelitas. Uma tribo que se dedicava a esse trabalho não teria tempo para outras atividades, assim, Deus ordenou que as outras tribos a sustentassem. “Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.” (Números 18.24). O costume de dizimar como oferta de louvor, contudo, era costume anterior à lei de Moisés, “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gênesis 14.18-20). 
      Hoje o Espírito Santo habita nossos corações, o templo de Deus somos nós, o lugar onde fazemos os cultos são só locais para reuniões, e a parte na frente e mais alta dos templos não é um altar, é só um palco, ainda que consagrado. Solicitação de dinheiro na igreja cristã deveria ser só para ajuda de custo de pastores e missionários, e principalmente, para auxílio aos necessitados, primeiro os da igreja e depois os outros. A área financeira é uma necessidade secundária, não um objetivo primário, a igreja usa o dinheiro, não é usada por ele, uma igreja não é uma empresa com fins lucrativos, isso parece óbvio, mas não é o que acontece em muitos ajuntamentos religiosos cristãos. Uma igreja de fato de Deus deveria ter total transparência na maneira como administra ofertas e dízimos, movimentações financeiras e de bens deveria estar num balancete visível a todos no templo. 
      Não posso encerrar essa reflexão sem pensar sobre um texto tão usado na “dizimolatria”, heresia cometida num falso culto, dentro do culto principal, que muitas vezes é mais importante que o próprio culto em muitas igrejas evangélicas. “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 3.10-11). Essa palavra é dura, mas é para o contexto da nação de Israel dentro da antiga aliança. Podemos aprender algo com esse texto hoje? Sim, com certeza, mas de maneira alguma interpretando-o ao pé da letra. 
      A não entrega de dízimos no antigo testamento, para uma religião que necessitava deles para existir, já que os levitas e todo o serviço religioso dependiam dele, era negar a própria religião, era impedi-la de funcionar, e sem ela, naquele tempo, Deus não poderia se reconciliar com os homens. Assim, o jeito certo de aprender com o texto de Malaquias é fazendo-nos a seguinte pergunta: o que eu devo fazer para que o cristianismo continue vivo dentro de mim, já que eu sou o templo de Deus, não o prédio da igreja e o pastor? O texto a seguir é claro sobre quem é o templo de Deus no novo testamento, “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” (II Coríntios 6.16-18). 
      O mesmo egoísmo materialista e adoração a falsos deuses que levaram Israel a pecar deixando de dizimar, também podem nos desviar, isso acontece quando não nos humilhamos diante de Deus, quando desejamos coisas materiais ou mesmo religiosas só para nos exibirmos diante dos homens, quando buscamos, mesmo em igrejas e lideranças de ministérios, poder no mundo e aprovação humana, quando adorando um”Deus” falso obedecendo heresias. Em tudo isso deixamos de adorar e servir a Deus, e por causa isso, sim, o “devorador” destrói nossas famílias, na área financeira? Sim, mas principalmente na área moral, e aí toda a sociedade sofre, a criminalidade aumenta, o tráfego de drogas seduz, os maus políticos roubam e tudo vai mal. Isso por que não demos o dízimo? Não! Não e não! O evangelho não funciona assim, a nova aliança de Cristo não é isso, é muito mais que isso.
      O “devorador” nos afligi quando não entregamos a Deus nosso coração, a parte mais íntima do nosso ser, aquela que ninguém conhece, só o Senhor. Sim, a consequência final dessa entrega é uma vida material digna, e nessa vida ajudamos financeiramente igreja e necessitados com alegria, sem peso e com absoluta pureza de intenção. Isso, sim, é um louvor perfumado e suave que sob ao trono de Deus de maneira agradável, esse é o melhor “dízimo”. Contudo, de forma alguma fazemos essa entrega financeira para fins materialistas, para obter créditos de Deus para que ele nos faça prosperar materialmente. A nova aliança ensinada no novo testamento é baseada em fundamentos espirituais, ela prepara o homem para a eternidade espiritual, não para esse mundo, esse Deus espiritual não precisa de dízimos, os pobres nesse mundo sim, muito mais que falso Israel, falso templo e falso levita. 

Esta é a 20ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

terça-feira, maio 19, 2020

Reavaliemos Altar, sacrifício e levita (19/30)

19. Altar, sacrifício e levita

      Esta é a segunda parte da reflexão sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos de Israel para a igreja cristã, refletiremos agora sobre a religião hebraica, o templo, o altar, os sacrifícios e a tribo sacerdotal de Levi. 

      “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando algum de vós oferecer oferta ao Senhor, oferecerá a sua oferta de gado, isto é, de gado vacum e de ovelha. Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o Senhor. E porá a sua mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação. Depois degolará o bezerro perante o Senhor; e os filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o sangue, e espargirão o sangue em redor sobre o altar que está diante da porta da tenda da congregação. Então esfolará o holocausto, e o partirá nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o sacerdote, porão fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo.” 
Levítico 1.2-7

      O altar era parte do Templo de Jerusalém, o templo de Jerusalém não era uma igreja, nem uma sinagoga, era um local único e exclusivo para que a religião israelita fosse realizada. Abraão e seus descendentes ofereceram a Deus sacrifícios em outros lugares, em montes, em pedras empilhadas, que não no tabernáculo itinerante de Moisés ou no Templo fixo, construído por Davi e Salomão. As sinagogas surgiram durante os cativeiros e exílios de Israel, quando não podiam exercer sua religião no Templo, eram locais para estudo dos textos sagrados judeus, da Torá, essas talvez se aproximem mais do conceito igreja cristã. Mas o que precisamos entender é principalmente o conceito do altar dentro do Templo, existente não só na religião israelita como também nas pagãs, esse era um local para matar e queimar animais. Interessante que no caso da religião israelita, a carne dos animais era queimada, não era oferecida crua, assim o cheiro era agradável, como de um churrasco, isso é diferente de animais mortos em rituais, por exemplo, nas religiões afro-espíritas. Até nisso há diferença, entre uma religião oficial do Deus verdadeiro e as de entidades espirituais. 
      Usar o termo altar em igreja cristã é um erro doutrinário, no mínimo uma comparação inexata, mas pode ser até um sacrilégio, pelo menos para a teologia protestante tradicional, por quê? “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pedro 3.18), para o cristianismo esse sacrifício foi único, suficiente e para todos os homens de todos os tempos e nações. O altar foi a cruz no calvário, um evento histórico singular, não há mais necessidade de novos sacrifícios nem de outros altares. O altar que Deus construiu no século I d.C. na Palestina nunca mais se repetirá! Por que esse sacrifício foi especial, melhor e mais eficiente que os de animais? Porque foi o de um cordeiro perfeito, do qual os outros eram só símbolos, o filho de Deus encarnado. Contudo, algo é de suma importância para conferir ao sacrifício de Cristo o autoridade que tem, é a santidade, o sacrifício tinha que ser de um homem santo, por isso Jesus nasceu do Espírito Santo, cresceu e viveu sem pecar, morreu santo e ressuscitou, vencendo a morte, todas essas etapas tinham quem ser cumpridas. 
      Se Jesus tivesse vindo ao mundo, feito tudo isso, sem ter realizado um milagre ou sem ter deixado um registro escrito de seus ensino, sua obra já teria sido completa. Mas ainda assim ele fez milagres, para que homens incrédulos vissem para crer, como também suas palavras foram registradas no novo testamento, para que homens, também incrédulos, tivessem como conferir o ensino vivo e em primeira mão que o Espírito Santo pode dar a cada um de nós. O que Jesus fez foi muito mais importante que o que ele disse, ainda que tenha deixado palavras singulares, que nenhuma outra religião possui, e ainda que tenhamos palavras de excelente sabedoria registradas por outros fundadores de religiões, nenhum desses, todavia, fez o que Jesus fez, oferecer-se como puro cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Essa é a grande diferença do cristianismo, é algo que NÃO precisamos reavaliar em nossas crenças, mas que devemos nos focar mais para crer, conhecer, viver e compartilhar com o mundo. Jesus é único, especial, suficiente, digno de toda confiança, adoração e sob todo poder, seja na terra, seja no céu, desde o início dos tempos, hoje e para sempre!

      “Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança com Israel; das ofertas queimadas do Senhor e da sua herança comerão. Por isso não terão herança no meio de seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhes tem dito. Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que oferecerem sacrifício, seja boi ou gado miúdo; que darão ao sacerdote a espádua e as queixadas e o bucho. Dar-lhe-ás as primícias do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e as primícias da tosquia das tuas ovelhas. Porque o Senhor teu Deus o escolheu de todas as tuas tribos, para que assista e sirva no nome do Senhor, ele e seus filhos, todos os dias.” 
Deuteronômio 18.1-5

      “E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério” “Todos estes estavam sob a direção de seu pai, para a música da casa do Senhor, com saltérios, címbalos e harpas, para o ministério da casa de Deus; e Asafe, Jedutum, e Hemã, estavam sob as ordens do rei.
I Crônicas 25.1, 6

      Levitas eram israelitas de uma tribo específica, a tribo de Levi, separados para fazer exclusivamente a manutenção dos serviços religiosos, entre eles, os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, eram responsáveis pela música (I Crônicas 25.1-7). É correto usar o termo levita hoje em dia para identificar obreiros ou mesmo músicos que tocam em igrejas? Não! Jesus, já realizou toda a obra de salvação, bastando aos homens que aceitem isso pela fé em seus corações, então, não existe mais Israel, muito menos levitas, pessoas sem as quais os sacrifícios não eram feitos para que a reconciliação com Deus fosse acessada. Na verdade, na nova aliança, não precisamos nem de pastores, de obreiros, de diáconos, de presbíteros, de missionários ou ministros, e nem dos músicos, para termos uma comunhão com Deus. Sim, eles nos auxiliam, são de grande importância, devem ser honrados e Deus os guarda de um jeito especial, mas eles não são levitas. Para cada um de nós basta fé no nome de Jesus e a presença do Espírito Santo, essa é toda a religião cristã, o resto é conveniência social, necessidade que se tem quando comungando em grupo. O cristianismo verdadeiro é basicamente uma religião individual, não coletiva ou de nacional, a responsabilidade é pessoal e não se ganha privilégios só por ser de um povo ou de uma nação deste mundo. 
      Pastores ou líderes de ministérios não têm qualquer dever, assim como qualquer direito, que tinha a tribo sacerdotal levita. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9), aliás, numa possibilidade de transferir o termo levitas para a igreja cristã, poderíamos dizer que todos os cristãos são levitas, e os sacrifícios que esses oferecem são suas próprias vidas, não para serem salvos ou para ganharem qualquer espécie de créditos diante de Deus, mas somente para adorarem a Deus, por tudo que ele faz e dá, e muito mais por tudo que ele é. Com o termo igreja nos referimos ao conjunto de todos os filhos de Deus, não de todos os seres humanos, esses são só criaturas de Deus enquanto não escolhem ouvir e obedecer ao Deus verdadeiro, condição que se prova com eficiência através unicamente de Cristo. Assim, Igreja, noiva do cordeiro, que viverá com o melhor de Deus no céu, são todos os salvos, selados com o Espírito Santo, novos nascidos em Cristo, indiferente de a qual denominação cristã pertençam, seja católica, ortodoxa, anglicana, protestante, evangélica, pentecostal etc, incluindo outros filhos de Abraão que nem pertencem oficialmente a denominações cristãs. Veja que esse conceito vai muito além do conceito nação política de Israel neste mundo, e bem mais que o de tribo sacerdotal de levitas. 
      Por esse motivo a igreja católica, sob o ponto de vista da igreja primitiva do livro Atos dos apóstolos, do primeiro século, da teologia protestante oficial, pode ser considerada tão desviada, ela deixou a simplicidade do Espírito Santo, do evangelho, do cristianismo de Cristo e perdeu o poder de salvar, de consolar, de curar. Por isso teve que retroceder, recriar uma religião de ritos, onde o poder está nos objetos, nos rituais, nos sacramentos, no batismo, na hóstia, na extrema-unção, nos homens, nos santos, no altar que existe na parte frontal de todo templo romano (quanto mais elaborados os rituais mais distante do Deus altíssimo e verdadeiro se está). Quando se deixa o sacrifício eficiente e único de Jesus, deve-se fazer novos sacrifícios para se obter redenção, a igreja católica é toda baseada nisso, em homens fazendo sacrifícios de homens e para homens, não no sacrifício único do filho de Deus. Ela pode até usar a obra de Jesus como um molde, sim, como um exemplo, contudo, faz isso para criar uma nova religião, ainda que baseada no conceito da retrógrada e ultrapassada religião de Israel misturada com o paganismo greco-romano. A igreja com sede no Vaticano é só uma continuação do Império Romano, uma igreja pagã rudemente maquiada com os ícones do cristianismo, um poder político e econômico no mundo, com pouca eficiência espiritual. 

      “Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; Mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção.
      Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.” 
Hebreus 9.6-15

Esta é a 19ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

segunda-feira, maio 18, 2020

Reavaliemos Israel (18/30)

18. Israel

      A Bíblia pode nos passar vários tipos de ensino, os principais são três, os religiosos, os morais e os históricos. Os ensinos históricos precisam da homologação científica, não devem ser entendidos ao pé da letra, já que muitas histórias bíblicas sobre muitos personagens que chegaram ao conhecimento dos escritores bíblicos, principalmente no antigo testamento, foram através de tradição oral. Tradição oral é o costume que se tinha, principalmente antes da escrita existir ou ser acessível a todos, de uma geração contar para outra geração um acontecimento importante de um povo. A história original, ainda que tenha origem na realidade, naturalmente sofre alterações, adições e subtrações, à medida que a informação é verbalizada, assim a verdade inicial nunca saberemos de fato (pensamos mais sobre isso na reflexão “Mitos” desse estudo, “Reavaliemos nossas crenças”). A arqueologia e outras ciências podem auxiliar estudantes bíblicos sérios a chegarem mais perto da verdade sobre personagens que aprendemos a amar e com os quais tanto aprendemos. 
      Os ensinos morais são os que mais buscamos na Bíblia, onde o senso comum estabelece orientações para o dia a dia da vida, assim ainda que cultura e sociedade bíblicas sejam diferentes, tentamos retirar das histórias da Bíblia lições e referências de certo e errado, de bom e mau, de justiça, de amor, de misericórdia etc (neste link uma reflexão a respeito disso, feita aqui no blog). Contudo, a leitura desses ensinos desconsiderando contextos históricos e sociais, pode também conduzir a entendimentos equivocados sobre a vontade de Deus para o homem hoje (um desses equívocos ocorre, por exemplo, na área da sexualidade). Nos ensinos religiosos da Bíblia, todavia, é onde a grande maioria das igrejas evangélicas atuais mais se engana, nesta reflexão, dividida em três partes, pensaremos sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos da religião de Israel do antigo testamento para a religião cristã do novo testamento. Na primeira parte, que segue, pensemos sobre Israel e a missão que Deus deu a ela como nação.

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” 
Gênesis 12.1-3

      “E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel. Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra.” 
Gênesis 35.10-12

      “E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a seródia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite. E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.”
      “Porque se diligentemente guardardes todos estes mandamentos, que vos ordeno para os guardardes, amando ao Senhor vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, e a ele vos achegardes, Também o Senhor, de diante de vós, lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém resistirá diante de vós; o Senhor vosso Deus porá sobre toda a terra, que pisardes, o vosso terror e o temor de vós, como já vos tem dito.” 
Deuteronômio 11.13-15, 22-25

      “Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador. Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus.” 
Isaías 43.10-12

      Deus sempre teve um propósito, após a queda do homem no jardim do Éden, salvar a humanidade, já que sobre a Terra um lei impera desde que Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá.” (Ezequiel 18.20-22). Contudo, nos primeiros tempos, Deus escolheu um homem, Abraão, uma família, a de Jacó, uma nação, Israel, para estabelecer uma primeira aliança com a humanidade, para mostrar ao mundo sua salvação. Como essa salvação era obtida? Obedecendo as leis mosaicas e fazendo sacrifícios no templo de Jerusalém. Assim, três são os conceitos fundamentais da religião primeira que religava o homem a Deus: a Lei, que são as regras morais e sociais, o altar no Templo de Jerusalém, representando a presença de Deus na Terra, e sistema de ofertas e sacrifícios, o meio de perdão e manutenção da comunhão entre o Senhor e Israel. 
      Podemos, todavia, fazer uma interpretação mais extrema da narrativa do antigo testamento, que Deus escolheu, desconsiderando o restante da humanidade, os descendentes de Abraão, de Isaque e de Jacó. Por que esses agradavam a ele e o resto do mundo não? Não sei se só eles agradavam a Deus, não sei se em toda a Terra, não havia mais nenhum outro homem, família ou nação, que buscasse, adorasse e seguisse ao Deus verdadeiro e não aos falso deuses. Seja como for, Israel foi um povo especial no mundo (e é até hoje), principalmente antes de Jesus ter executado sua missão messiânica. Bem, de uma nação foi escolhido uma tribo, e não era a de Levi (a tribo responsável pela religião israelita, isso é algo bem significativo), mas a de Judá, dessa tribo foi escolhido um homem, Davi, um rei e líder político, e desse rei um descendente nasceu, Jesus, que seria nele mesmo a segunda, final e completa religião de Deus para religar a humanidade ao seu criador, numa nova aliança. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6.23), em Cristo seu objetivo de salvação foi alcançado, não temporariamente, e não de uma maneira ligada a uma nação do mundo, mas eternamente estabelecendo um povo espiritual, a igreja.
      Com Israel e sua religião Deus tinha o mesmo propósito, mas com uma ferramenta diferente, Deus tinha um povo, mas no mundo e definido geograficamente. Interessante notarmos que no antigo testamento pouco se fala de vida pós-morte, de promessas para uma eternidade com Deus, de céu e de inferno. Para aquele tempo Deus era visto como uma divindade que fazia daqueles que o obedeciam vencedores neste mundo, como potências militares, políticas e econômicas (Deuteronômio 11). Israel obedecia a Deus para que através dele tivesse vitória sobre as outras nações, e essas sempre eram apresentadas como nações que não serviam ao Deus verdadeiro de Israel, mas a outros deuses, falsos deuses. Pelo antigo testamento podemos entender que só Israel no planeta Terra conhecia e adorava o Deus Jeová, nenhuma outra nação no mundo fazia isso. Mas será que era nenhuma mesmo? Essa é uma conclusão bem extremista, mas é o que os registros de Moisés, Esdras, juízes e profetas não levam a entender através do antigo testamento, nós lemos e estudamos isso, mas nunca nos atentamos de como isso é extremo...
      Outra coisa que também não vemos no antigo testamento, de maneira geral (salvo algumas exceções), é Israel se preocupando com a salvação dos outros povos, esses que gostam de comparar a igreja cristã com a nação israelita precisam se atentar a isso. Israel não tinha, pelo que lemos na Bíblia, nenhuma intenção “evangelista” no mundo de seu tempo, não lhes pesava o fato de egípcios, filisteus ou babilônios não serem abençoados por Deus, esses eram vistos como inimigos a serem vencidos ou mantidos fora de suas fronteiras, simples assim. Nessa questão muitos cristãos erram por transportarem o mesmo conceito para a igreja, não no sentido de não serem evangelizadores, mas de verem aqueles que lhes fazem oposição como inimigos, que devem ser vencidos. Assim, ao invés de perdoarem e no pior das situações, quando não existe jeito de viver junto, só se afastarem, pedem vingança. Uma igreja que se acha Israel não ama, não age com misericórdia, mas clama a Deus para que se vingue por ela, meus queridos e minhas queridas, isso definitivamente não é o evangelho de Jesus, não é a verdadeira igreja de Cristo (Mateus 5.43-44).
      A religião de Israel era aberta a estrangeiros, um gentio podia se converter ao judaísmo, são os prosélitos. Um bom exemplo disso é o do profeta Jonas, enviado a Nínive para falar sobre Deus, “E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor... e Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez” (Jonas 3.5, 10). Mas esses deveriam seguir as regras, começando pela circuncisão, “porém se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, seja-lhe circuncidado todo o homem, e então chegará a celebrá-la, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. Uma mesma lei haja para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós.” (Êxodo 12.48-49). Contudo, as profecias messiânicas, já revelavam uma salvação para todos os povos no futuro, quando não haveria diferenciação entre judeu e gentio, em Cristo todos têm as mesmas oportunidades espirituais e os mesmos direitos na eternidade (leia com calma Isaías 56, fala sobre a salvação de Deus para o estrangeiro e para o eunuco). 
      Mas podemos entender que não havia outra maneira de Deus trabalhar naquele mundo, que a humanidade naquele momento era assim mesmo, a grande maioria adorava a falsos deuses, que ela não tinha maturidade intelectual, emocional, social, cultural, espiritual, para receber a nova aliança de Cristo. Foi necessário uma primeira aliança, metafórica, temporária, para ensinar ao homem conceitos básicos de religião, preparando uma humanidade ainda infantil para que pudesse no futuro entender a aliança de fato permanente, não simbólica, mas real. É imprescindível que entendamos isso, para não fazermos simplesmente transferências diretas entre o que era Israel no antigo testamento e a igreja da nova aliança. Não podemos de forma alguma interpretar direitos e objetivos que uma nação política desse mundo tinha, através do Deus que eles conheciam como Jeová, como sendo os mesmos, com as mesmas referências, de uma igreja espiritual, eterna, formada por gente de todas as nações e tempos, incluindo o Israel do velho testamento. Fazer isso seria tentar escrever um romance adulto e sofisticado com o conhecimento de linguagem e ortografia de uma criança de sete anos de idade. A ferramenta  Israel de Deus, que ele usou para o apresentar ao mundo, foi só uma simbologia simplista da igreja de Cristo. 
      Esse erro muitas igrejas evangélicas cometem hoje em dia, obviamente usando só as características da nação Israel que lhes são convenientes, como as riquezas materiais de patriarcas e reis hebraicos. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia. Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma”, sim, nós, igreja de Cristo, somos nação santa de Deus, mas com uma missão superior comparada com a de Israel. É uma missão espiritual para salvar homens para a eternidade, o final do texto de I Pedro 2.9-12 ensina isso, “peço-vos como a peregrinos e forasteiros”, em Jesus não somos mais desse mundo, nosso reino não é mais aqui, nossos interesses e bens devem ser os espirituais, não os materiais. Dessa forma, usar a prosperidade financeira de homens considerados de Deus do antigo testamento como referência para sermos considerados povo de Deus do novo testamento é um erro, para não dizer uma heresia. “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” (João 8.36).

Esta é a 18ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020