sexta-feira, maio 20, 2022

Cegos sob o Sol

      “E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; e tinha na sua mão um livrinho aberto. E pós o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; e clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. E, quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o escrevas.Apocalipse 10.1-4

      Se fecharmos os olhos e mirarmos o Sol, ao meio-dia, num céu limpo, sem nuvens, nossas pálpebras ficarão aquecidas e brilhantes, perceberemos uma cor alaranjada, quase vermelha, mas não veremos o Sol. Neste mundo, presos a corpos físicos, é assim nossa experiência com Deus, ainda que nos preparemos moralmente, nos coloquemos racionalmente em sua direção e nos concentremos em ver sua face espiritual, enxergaremos só contornos embasados, nossa carne funcionará como grosso filtro, que nos impedirá de ver o outro mundo. Obviamente estou usando metáforas, comparando coisas espirituais com materiais.
      Existe algo que permeia as reflexões deste blog, principalmente nos últimos tempos, não é experiência exclusiva, mas é algo que tem crescido em minha vida com Deus, ainda que saiba que tenho essa vocação desde criança e que ganhou relevância com minha conversão ao cristianismo na adolescência. É uma experiência sensorial com o Espírito Santo, que conhece a vontade de Deus através dos dons espirituais interagindo com os sentidos físicos, audição, visão, tato. Não se escandalize, isso não é desvio doutrinário nem está fora da Bíblia, é vivência tanto de homens de Deus do antigo testamento quanto do novo. 
      Homens do antigo testamento registraram fortes experiências com Deus, Moisés falava com Deus face a face (Êxodo 33.11), Sansão adquiria força física com a unção do Espírito (Juízes 16.28), Davi era tomado pela glória de Deus de forma poderosa (I Samuel 16.13), Ezequiel foi transportado fisicamente pelo Espírito (Ezequiel 8.3), Daniel viu um ser espiritual fantástico (Daniel 10.5-7). Mas personagens do novo testamento também tiveram íntimas experiências espirituais, Pedro, João e Tiago viram Jesus transfigurado com os espíritos de Moisés e de Elias (Lucas 9.28-36), Paulo foi arrebatado ao “terceiro” céu (II Coríntios 12.1-4).
      A Igreja Católica tratou de podar os galhos que se alcancem ao Sol, queria manter a árvore nanica, dentro de suntuosa catedral, mas sobrevivendo só com os raios, ainda que do astro rei, filtrados por multicoloridos vitrais. O que já era limitado tornou-se mais restrito, os que quisessem aprender sobre Deus que ouvissem os sacerdotes, não a voz viva do Espírito Santo. Essa voz poderia dar lugar a subjetividades e liberdades que tornariam impossível ao homem dominar homens, mesmo usando o nome de Jesus. Mas o nome do Filho tem poder em si mesmo, quem o ouve, esteja onde estiver, pode se achegar ao Pai.
      As trevas podem ser contidas, a luz, não, a mentira tem existência breve, a verdade é perenal, a vaidade brilha por um início de noite, a humildade resplandece dias e dias mesmo com o Sol a pino. Luz, verdade e humildade são simpáticas aos raios mais claros de Deus, o Espírito Santo vive e atrai os homens a Deus, religiões e matéria não podem detê-lo. Aproxima-se o tempo quando, antagonizada pela incredulidade materialista que ela mesma alimentou e pelo diabo e o inferno que ela mesma inventou, a falsa igreja cristã será derribada, cairá como caem os impérios autoritários no mundo, babilônias que tentam tocar o céu.
      Os limites para interagirmos de forma mais plena com Deus, não nos são impostos pelo pai como punição ou por algum capricho seu, eles nos protegem e nos incentivam para que cresçamos. Por desígnios que só Deus sabe importa-nos viver por algum tempo num mundo material, mas com um desejo intrínseco do mundo espiritual, e ainda que não possamos sequer provar fisicamente que o plano espiritual existe, sabemos que dele viemos e para ele voltaremos. Pela fé quase vemos a Deus, mas não conseguimos segurar essa experiência, por mais que ela nos impressione, logo dela nos esquecemos, e seguimos assim. 
      Fitarmos o Sol, mesmo com os olhos fechados, se ficarmos demais nessa posição poderemos até ter a visão prejudicada quando abrirmos os olhos e tentarmos ver a terra. No mundo a experiência espiritual deve ser temporária, temos que estar lúcidos para administrar a sobrevivência do corpo físico. Contudo, como é prazeroso mirar o Sol, sentir seu calor nas pálpebras, ver que seja só um esboço da realidade, porque a vida material no mundo é que é a ilusão. A existência na Terra é só o sonho de uma noite curta, do qual nossos espíritos anseiam por acordar, para despertarem por Jesus, no dia eterno de paz e do amor do Altíssimo.

quinta-feira, maio 19, 2022

Não precisamos mover montanhas

      “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.Habacuque 3.17-19

      Não é a primeira vez que medito nesse texto bíblico e não será a última, uma das passagens mais poéticas da Bíblia. “Ainda que falte tudo eu me alegrarei”: podemos de fato vivenciar isso? Duas coisas são necessárias para vivermos a experiência de Habacuque, e a primeira delas não é boa: uma grande e difícil necessidade, uma montanha a ser ultrapassada. Só adquire uma grande fé quem precisa exercer uma grande fé para vencer um grande problema, caso contrário se permanece crendo o minimamente possível já que isso basta para viver e seguir vivendo. 
      Cuidado, quem pede a Deus por fé que mova montanhas (Marcos 11.23), esse na verdade está pedindo que uma montanha esteja entre ele e suas necessidades, uma montanha que nada pode anular, a não ser a fé adequada. Nós seres humanos nos prendemos à quantidade mais que à qualidade, quantidade é aparente, pode ser exibida mais facilmente aos outros, nossas vaidades gostam de ter, mas mais para parecer do que para usufruir. Por isso muitos querem poder, mais que dinheiro, poder dá-nos mais que posse de coisas, dá-nos controle sobre pessoas. 
      Podemos achar que mover montanhas pode mostrar a nós mesmos e aos outros que somos espirituais, mas também podemos querer fé assim para termos acesso a coisas materiais sem termos que nos esforçar por isso. Mas existem montanhas, e essas são as mais importantes, que não pedimos, Deus simplesmente as autoriza em nossas vidas, e se ele faz isso é porque sabe que podemos com elas. Mas podemos para fazê-las sumir, do nada, como por magia, só por fé? Nem sempre, às vezes é para darmos a volta, ou subirmos e descermos, trabalhando mais e crescendo no tempo. 
      A experiência de Habacuque parece-nos ter sido essa, uma montanha havia em sua vida, para a qual Deus não lhe deu fé para mover, mas fé para esperar, e eis uma terceira forma de encararmos grandes problemas. Algumas dificuldade não desaparecem num instante, após uma oração de fé, mas Deus também não nos orienta a pôr pés na estrada para subirmos, descermos, ou darmos a volta, o Senhor simplesmente manda-nos esperar. Nada que o profeta fizesse faria a figueira florescer, a vide dar fruto, as ovelhas voltarem, mas ainda assim ele estaria feliz. 
      Talvez a montanha do profeta não fosse a falta de coisas, mas a falta de alegria, muitas vezes só nos livramos da tristeza quando nos encontramos numa situação onde isso não faz diferença. Muitas vezes fazemos chantagem, ainda que inconscientemente, com a vida e mesmo com Deus, queremos exibir nossa tristeza como um troféu, deixando claro que a culpa dela existir não é nossa, assim nos colocando como vítimas. Nesse equívoco jogamos em Deus e na vida a responsabilidade para mudar nossos destinos, já que achamos que foram eles, não nós, a causa de nossas tristezas. 
      Essa montanha só desaparece quando aprendemos a ser felizes com o que somos e temos de verdade, e eis a segunda coisa necessária para vivenciarmos a experiência de Habacuque, aprender a viver com o mínimo. Uma lição difícil, mas que nos coloca num nível espiritual de maturidade, pois desapega-nos da matéria e das aparências e nos leva a valorizar a essência espiritual, qualidade mais que quantidade. Por isso o profeta pôde dizer “eu me alegrarei no Senhor… o Senhor Deus é a minha força… me fará andar sobre as minhas alturas”.
      Quem é feliz com o mínimo é leve, não precisa mover a montanha, rodea-la por baixo, ou escala-la e depois descê-la, muito menos aguardar passivamente, mas pode flutuar e passar. No mundo material? Não, no espiritual, faz isso dentro de si, e ninguém precisa ver, só Deus. As montanhas mais importantes que Deus autoriza em nossas vidas necessitarão da fé maior, essa fé não faz montanhas se moverem, faz nossos espíritos se moverem. Eis o mistério que Habacuque conhecia, por isso ainda que lhe faltasse tudo no mundo ele era feliz e grato a Deus. 

quarta-feira, maio 18, 2022

O humilde acha o amor (2/2)

      “Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor.” Sofonias 3.12

      Os seres humanos não encontram a humildade da mesma maneira, alguns precisam ganhar para achá-la, outros precisam perder, generalizar dizendo que a pobreza conduz à humildade não é correto. Contudo, com certeza o homem acha com mais facilidade a humildade na falta, simplesmente porque nessa condição ele não tem outra maneira para ser feliz, caso contrário permanecerá revoltado contra tudo podendo ser levado à violência e à criminalidade. Mas muitos são humildes na abastança, e nesses, onde a humildade não é obrigação, mas opção, é que ela pode ser útil para muitos. 
      O que pouco tem e é humilde abençoa a si mesmo, principalmente na área material, mas o rico humilde pode ser instrumento de benefício material para muita gente, e ainda assim não sentir-se maior por isso, se for humilde só se verá como instrumento do amor de Deus. Infelizmente a maioria de nós não está preparada para ser rica, por isso, se desejarmos de fato agradar a Deus e servir o próximo, o Senhor terá que nos manter com rédeas curtas, com pouco e sempre dependentes dele. O Senhor, todavia, pode não ter outra opção que não nos empobrecer, para sermos humildes e acharmos seu amor. 
      A humildade verdadeira deixa alegria no coração do homem, não é virtude experimentada com tristeza, ainda que o trabalho inicial para achá-la seja de aceitação de erros e limitações e isso, sim, pode nos levar a certa contrição. Mas a tristeza inicial, se correta, se sincera, se com o objetivo de se apresentar ao verdadeiro Deus com respeito e temor, é só para assentar nossa alma, tranquilizar nossas ansiedades, controlar nossos egoísmos, curar nossas invejas e vaidades, depois o ser se alegra. Por quê? Porque vê que está na luz do Altíssimo e consegue enxergar toda a verdade sobre si mesmo.
      Ao homem de bem a verdade alegra, ele sabe que orgulho é engano, e ainda que dê algum prazer é só por um pouco, por isso quem de fato quer a presença de Deus vem para a luz para achar a humildade pessoal. Quem não quer inventa desculpas, até religiosas, para manter arrogância e malícia, esses não têm paz de fato, não se permitem ser tocados pelo amor de Deus. O humilde quer ser mais humilde, pois a luz fica cada vez mais clara e revela mais sobre ele, o arrogante se exalta nas trevas, sobrecarrega-se de trabalhos, tenta inutilmente criar uma falsa luz, querendo ofuscar a luz do Altíssimo.
      Há pessoas que passam a vida levantando-se e caindo, e achando que caem por causa das injustiças do mundo ou mesmo pelas ciladas do diabo, não entendem que quem as está derrubando é o próprio Deus. Com que propósito? Para que aprendam a ser humildes. Muitos são fortes na queda, se acham mais virtuosos por isso, e portanto mais merecedores de honras, quando na verdade são só rebeldes arrogantes. Por que alguns têm que passar finais de vidas em longos períodos internados em hospitais, sofrendo antes de morrer? Para achar a humildade e experimentar o amor de Deus.
      Muitos levaram a vida fugindo do amor de Deus, e quem foge do amor de Deus foge também do amor das pessoas, portanto são solitários e amargos. Fizeram isso por não quererem se mostrar como humildes aos homens, humildade implica em não ter a aparência de glória que o mundo admira, o status social, os bens, o frequentar restaurantes e hotéis chiques, o uso de roupas caras, a posse de carros luxuosos. Abrir mão de tudo isso não é fácil, e muitos conseguem viver sem abrir mão e resolvendo em suas cabeças que são bons cristãos, ainda que baseados no que tentam ter sem a aprovação de Deus. 
      Nisso a tal “teologia da prosperidade” ganha adeptos, teto para rebeldes arrogantes e materialistas, não para os humildes e espirituais. Então temos que nos contentar com pouco? Sim, se esse for o plano de Deus para nossas vidas, e isso não é ter uma vida material indigna, mas é só aprender a ser feliz com menos. Ah, meus queridos, quando vamos entender que isso não nos faz menores, mas maiores. Maiores no reino de Deus! Mas isso é para quem busca a glória do reino de Deus, quanto aos que querem a glória do mundo, terão que viver sem paz e sem amor, temendo a morte ainda que ricos.  

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

terça-feira, maio 17, 2022

O amor acha o humilde (1/2)

      “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.Salmos 138.6

      Quando o amor de Deus encontra a nossa humildade a paz é estabelecida, o caminho para a vida eterna se abre e entendemos o motivo maior da existência. É algo misterioso, como seres humanos não podemos dizer quem toma a iniciativa em primeiro lugar, o mais correto seria dizer que ambos, o ser humano e Deus, fazem isso ao mesmo tempo. Procurando ser espiritual e conforme a visão do cristianismo tradicional poderíamos dizer que a iniciativa é de Deus, Jesus homem foi isso, uma iniciativa de Deus para fazer algo que os seres humanos não poderiam fazer, dar um meio e um exemplo. 
      Mas se verificarmos que Jesus não veio milhares de anos antes, em algum momento da história logo após o pecado original mítico do primeiro casal no Éden, entenderemos que foi necessária alguma iniciativa do ser humano, preparando-o intelectual, moral e espiritualmente, para receber a iniciativa de Deus em Cristo. O cristianismo tradicional coloca responsabilidade demais em Deus e tira responsabilidade do homem, enfatiza a graça e a fé e diminui o valor de obras e trabalho moral. Sim, Deus pode tudo, mas só realiza tudo quando o ser humano faz por merecer, através de fé e obras.
      A nós neste mundo não compete entender certas coisas, principalmente porque isso não tem utilidade, se fosse para nós entendermos teríamos condições para isso e isso seria útil de alguma forma (e penso que quando for útil teremos condições). O que nos compete? Humildade, e uma das faces da humildade é aceitar limites, principalmente os físicos, emocionais e intelectuais, dessa forma, os que envolvem diretamente nossa vivência no mundo material. Existem limites espirituais neste mundo? Sim, mas menos que muitos pensam, mas também desde que se tenha humildade. 
      Quem quer se aproximar do plano espiritual já tem no mínimo noção que ele existe, e que se relacionar com ele é algo importante, portanto já possui alguma espiritualidade, não é ateu ou materialista, mas essa espiritualidade não é necessariamente a melhor. A melhor espiritualidade deseja Deus, seu amor, sua paz, sua vida, não só responder curiosidades sobre o mundo dos espíritos e entidades ou fazer alguma espécie de troca de favores com o mundo espiritual, para essa boa espiritualidade é imprescindível a humildade. É muito importante entendermos isso: falta de humildade nos afasta de Deus. 
      O humilde ainda que tenha acabado de pecar, busca a Deus, ainda que esteja emocionalmente confuso, persiste em buscar a Deus, e mesmo que esteja bem materialmente e afetivamente, procura a presença de Deus, sabendo que ela é melhor, é perene, e que as outras satisfações ou falta delas, são temporárias. O humilde teme a Deus em todas as situações e respeita todos os seres, humanos e espirituais, não quer usar nem desprezar ninguém, mas amar e servir. Essa humildade acha o amor de Deus e experimenta paz, então, põe-se no caminho do Espírito que conduz a Jesus onde há vida eterna. 
      A coisa mais poderosa e importante do universo ocorre quando um ser humano humilde se encontra com o amor de Deus, há uma explosão de luz que consola imediatamente o ser estabelecendo uma paz única. Esse encontro, que é espiritual, pode, contudo, não ser fácil, isso por causa da matéria, do nosso corpo físico, dos nossos limites. O ser humano deve persistir para achar dentro de si a humildade mais sincera e verdadeira, como quem procura uma pepita de ouro em meio a rochas mais duras. Mas imediatamente após achar será tocado pelo amor do Altíssimo e tudo o mais mudará
     Ainda que o Senhor é excelso, ainda que esteja numa posição espiritual alta de santidade impar e de poder soberano, ele atenta para o humilde, mesmo que a mente do Senhor esteja distante, muito mais que imaginamos, suas mãos estão próximas do humilde (perdoem as simbologias dos termos mente e mãos), mas ao soberbo conhece-o de longe, do arrogante tanto a mente quanto as mãos do Senhor estão distantes. Isso não impede Deus (com sua mente) de conhecer o arrogante, de amá-lo e de aguardar pacientemente que ele se torne humilde e se deixe tocar por suas mãos amorosas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

segunda-feira, maio 16, 2022

Pecar é fácil, se arrepender, não

      “De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” 
      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.” 
Tiago 4.1-4, 7-10

      O contexto do texto bíblico inicial é simples e direto: pecado. Quantas vezes nos vemos sem vontade de orar, sem prazer em buscar a Deus, nos achando mesmo sem fé? Em situações assim nossas cabeças podem fazer longas viagens, tentando achar o motivo de nosso intenso desânimo, mas a razão é uma só: pecado. O que é pecado? Você e eu sabemos muito bem o que é, tudo que nos afasta de Deus. O texto começa justamente fazendo a pergunta cuja resposta explica o motivo de nos vermos muitas vezes sem disposição para sermos espirituais, “de onde vêm as guerras e pelejas entre vós?”, a resposta é, “não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”. 
      Não adianta inventar moda, nos afastamos da luz de Deus quando pecamos, pecamos porque gostamos de pecar, ninguém peca porque é ruim, mas porque é prazeroso, ninguém bebe, usa drogas ou comete adultério porque é desagradável, mas porque agrada o corpo. A mesma coisa com iras e invejas, agredimos com ações ou palavras e expressamos desejo pelas coisas dos outros porque é gostoso, melhor que reprimir é desabafar. Isso que estou dizendo parece óbvio, mas mesmo inconscientemente muitas vezes nos portamos negando isso, somos amigos do mundo e inimigos de Deus, por isso demoramos para assumir o pecado, confessa-lo, deixá-lo, e só então termos vitórias em tantas coisas. 
      Acontece o que o texto descreve, “cobiçais e nada tendes, matais e sois invejosos e nada podeis alcançar”, a questão é simples, só um prazer pode ocupar nossas almas de cada vez, se adquirimos o prazer do corpo não há espaço para termos o prazer do espírito, nossa alma não comporta os dois ao mesmo tempo. Mas o pecado, mesmo depois que seu passageiro prazer passa, ainda permanecerá ocupando nossa alma enquanto não for devidamente tratado, tratar o pecado, contudo, pode não ser tão rápido como foi adquirir o prazer que ele entrega. O texto diz “senti as vossas misérias e lamentai e chorai”, é preciso esforço paciente para limpar nosso interior para que o Santo Espírito esteja à vontade nele. 
      Uma vez impressionado pelo pecado nosso mundo interior inverte os valores, para mudar isso temos que nos convencer que a paz que o pecado deu é enganosa, tem que haver libertação de vício, vício dá mais que prazer temporário, cria um caminho errado para o prazer, é esse hábito que tem que ser desfeito dentro de nós. Por isso o texto diz “converta-se o vosso riso em pranto e o vosso gozo em tristeza”, temos que inverter a “chavinha”, sentir profundamente o pecado e buscar intensamente uma nova disposição mental. Se isso não ocorrer nosso arrependimento será só de boca para fora, não nos convencerá e não permitirá que tenhamos uma experiência espiritual real que nos dê a paz maior.
      “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós, alimpai as mãos, pecadores e vós de duplo ânimo”, isso resume o ensino. Se nos sentimos distantes não é porque Deus se afastou, mas porque nós nos afastamos, Deus nunca se afasta de alguém. Nos purifiquemos, com profundidade e intensidade, com lágrimas, não com alegria ou frieza. Contudo, aprendamos com a lição, duplo ânimo (a N.V.I. diz mente dividida, a versão Nova Almeida Atualizada, indecisos) é característica de homem imaturo, que acha que pode ficar pulando de um lado para outro, que não leva a sério o tempo de sua passagem no mundo, nem a Deus e seu plano para nos fazer seres humanos que amem e pratiquem virtudes eternas. 

domingo, maio 15, 2022

Deus não precisa de luvas

      “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros. Este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?Isaías 14.24-27

      Deus não precisa de luvas, mas os homens criam luvas para Deus, as religiões. Quando muitos acham terem acesso à palavra direta de Deus têm apenas adaptações, interpretações, não é a mão pura de Deus, mas algo que fica entre a mão e os homens. Uma mão pode ser usada com luva, mas com limites, a pele não está diretamente em contato com o que é manipulado, é o material da luva que está e esse não tem a sensibilidade e a flexibilidade da mão. Deus não precisa de intermediários para tocar os homens, nem os homens precisam de algo que lhes adapte o toque de Deus, mas são os próprios homens que criam luvas. 
      O problema mais sério, contudo, talvez nem seja a criação e o uso de luvas, mas as luvas não terem noção que são luvas, se acharem as próprias mãos, ou pior, até melhores que as mãos. Que as religiões ainda que comecem puras se degeneram com o tempo, isso é fato, e ocorre com todas, ninguém se iluda. O cristianismo, ainda que fundado sobre Jesus, revelação e redenção mais plenas do Altíssimo, também se corrompeu. O protestantismo não purificou o catolicismo a ponto da mão pura de Deus ser apresentada ao homem, ele apenas limpou uma surrada e suja luva, deixando-a menos grosseira, mas ainda uma luva. 
      Como as luvas são criadas? Devagar, como parte do processo de degeneração da religião original, mas o que gera a primeira versão de uma, ainda fina, é a institucionalização da fé. O cristianismo é a crença que mais gerou luvas justamente por ser a crença que pode experimentar a ação mais alta de Deus. Quando os homens viram que Jesus era um “produto” muito bom, que povos e reis se convertiam a ele, eles foram tentados e sucumbiram, quiseram lucrar com isso. Se afastaram de Deus e dessa forma não tiveram mais direito à mão, então criaram uma religião, com o mesmo formato, com função semelhante, mas só luva. 
      A luva por si só, ainda que seja de fios de prata, cravejada com esmeraldas, aparentemente até mais bela que uma mão, é vazia, não tem vida. Em sua misericórdia Deus até veste certas luvas e as usa para abençoar os homens, ainda que de luvas ele aja com limites, não seus, mas da fé de homens que não creem puramente nele, que não querem a mão, só a luva. Contudo certas luvas, apesar de terem o formato perfeito de uma mão genuína, não podem ser mais minimamente usadas por Deus, no lugar do Santo Espírito manipula tais luvas espíritos malignos e enganadores, que dizem ser Deus, mas são seres imitadores. 
      Os homens se acostumam com luvas, com o toque delas, com suas pomposas aparências, e muitos ao verem a mão de Deus a menosprezam, duvidam que seja mais poderosa que a luva. Felizmente outros, que com boa sinceridade procuraram nas luvas a Deus, percebem com o tempo a ineficácia das luvas, que elas são obras de homens, que ainda que se pareçam com a mão de Deus não os abençoa como eles precisam, assim passam a clamar pela mão viva e maravilhosa do Senhor. Deus é paciente, amou e ajudou no que pôde, mesmo dentro de limitadas luvas, mas sorri quando o homem desperta e o deseja mais que religião. 

sábado, maio 14, 2022

Acalma-te e serás instruído

      “Na vossa paciência, possuí a vossa alma.(Almeida Revista e Corrigida)
      “É pela perseverança que vocês ganharão a sua alma.” (Nova Almeida Atualizada)
      “É perseverando que vocês obterão a vida.(Nova Versão Internacional)
Lucas 21.19

      Acalmar nossos sentimentos e pensamentos, eis um trabalho importante para que tenhamos uma oração de nível mais elevado. Todos chegam diante de Deus, na maior parte das vezes, ansiosos, angustiados, preocupados, com questões principalmente da área material a serem resolvidas. Deus, pai de amor, recebe a todos e estejam do jeito que estiverem, assim mesmo o alterado pela dor o Senhor ouve pacientemente. Depois de entregarmos nossas causas nas mãos de Deus ele as toma, não precisamos ficar repetindo e repetindo uma oração, contudo, podemos fazer isso quando ainda não convencemos, não a Deus, mas a nós mesmos que Deus nos ouviu, recebeu nossos pedidos e fará, no momento melhor, sua boa vontade.
      Na realidade material Deus realiza sua vontade através de nosso trabalho e do trabalho dos outros, podemos provar o sobrenatural aos nossos olhos através do natural que ainda não conhecemos, por isso chamamos milagroso. Impossível é só algo que ainda não foi feito ou que não sabemos que pode ser feito, “mágica” Deus nunca faz porque ele não precisa fazer. Nossa oração espiritual interfere nisso? Sim, positivamente de maneiras que hoje ainda não podemos entender como, incluindo anular impedimentos espirituais do mal para que algo material se realize no plano físico. Tudo isso é o primeiro momento de oração e o efeito disso deve ser paz em nossas almas, para que então possamos ter o segundo momento. 
      Precisamos entender como nós seres humanos funcionamos: somos seres duplos, corpo físico e essência espiritual, assim, ainda que racionalmente, baseados em experiências anteriores, saibamos que Deus ouve e responde, nossos sentimentos podem persistir na ansiedade e na angústia, impedindo-nos de sentir paz. Por que paz é importante? Porque ela é escudo contra o pecado e porta para ouvir a voz de Deus. Em paz não precisamos de prazeres na carne para anular a dor, assim não recorremos a vícios. Mas só em paz teremos acalmado todo aquele universo interior em nossas mentes e sentimentos, que nos agita, nos confunde e que nos impede de ouvir a suave voz do Espírito Santo. Oração certa é a que nos conduz a uma profunda paz. 
      A maioria de nós, na maior parte das vezes, tem experiência de oração só de nível inicial, falamos e falamos e até experimentamos paz, mas quando ela chega paramos de orar. Por isso até temos resposta para nossas orações, mas uma paz mais profunda, que fica e que nos fortalece contra o pecado, não temos. Nosso espírito precisa convencer nosso corpo, isso deve ser feito todos os dias porque nosso corpo tem “memória fraca” e muda o tempo todo. À medida que envelhecemos, quando adoecemos e mesmo nas mudanças de humor que experimentamos, tristezas, alegrias, dúvidas, certezas, tédios, anseios, nosso corpo é agitado e nisso não retém a paz, o que atrapalha nosso espírito na comunhão com o Espírito de Deus.
      Para entendermos melhor isso basta verificar o costume que temos de fechar os olhos ao orar, ou de preferirmos lugares com menos luminosidade, o objetivo é diminuir as distrações materiais para que as coisas espirituais sejam percebidas com mais facilidade e clareza. Entretanto, em corpos agitados ou torturados por alguma preocupação ou culpa, não haverá ambiente tranquilo ou com ausência de distrações materiais que lhes dê foco e paz. Por isso antes temos que nos colocar em Deus, pedirmos perdão, nos apossarmos do perdão e entregarmos nossas vidas a ele, para depois acalmarmos nossos sentimentos e pensamentos, permitindo que nossos espíritos tenham o controle e ouçam a voz do Santo Espírito de Deus.
      Evangélicos não menosprezem outros religiosos, como budistas e hinduístas, ou mesmo praticantes de ioga só como benefícios emocionais e físicos, quem se acalma pode ouvir o mundo espiritual, e se escolher, pode ouvir o Deus de amor e ser guiado no caminho de luz e paz. Não são as palavras, as rezas, as orações usando essa ou aquela linguagem religiosa, que tocam o coração do Altíssimo, mas a intenção espiritual pura e benigna. Paz real só se experimenta em Deus, e muitos, ainda que cantando a paz, pregando a paz, idolatrando a paz, não a vivem de fato, porque falam de Deus, até pregam Deus, mas não o experimentam de fato. A presença mais santa e verdadeira de Deus sempre traz paz ao ser humano, sem discriminação.  
      Nosso espírito pode até estar pronto, mas se nosso corpo não estiver impedirá nosso espírito de ouvir e entender a voz do Senhor. Isso não é algo que Deus nos impõe neste mundo para nos fazer sofrer, mas para nos fazer crescer. É no constante trabalho de acalmarmos nossos corpos, nossos pensamentos e sentimentos, para que entremos em sintonia com o Espírito Santo e em sincronia com a vontade de Deus, que construímos em nós o céu, aquilo que poderemos ser de melhor na eternidade. Ninguém se engane achando que crer superficialmente e ter a mínima comunhão com Deus, serão suficientes para ter o céu, que só ser cristão e ter fé, ainda que tenha vivido um inferno neste mundo, bastará para ter direito à paz eterna. 
      Acalma-te e serás instruído, ouvi o Espírito Santo me dizendo em meu último período de oração, isso depois de ter colocado minha vida em ordem, pedido perdão, intercedido pela família, enfim, ter seguido o protocolo inicial, e ainda assim estar sem a melhor paz. Ter paz dá trabalho, entendamos isso, e o trabalho que nos traz os melhores benefícios é o espiritual, muitos querendo substituir esse trabalho pelo físico conquistam tudo na vida menos paz. Que se trabalhe no mundo, mas também em oração, que se converse com Deus e nele confie, mas que se ouça a voz do Senhor, que se tenha ânimo e energia para viver, mas também a paz que acalma todo o ser e permite que se aprenda os conhecimentos mais profundos de Deus. 
      No mundo se diz que conhecimento é poder, que quem detém a informação tem controle, a internet tem mostrado a relevância disso, governantes políticos têm sido eleitos difundindo e manipulando a informação, ainda que seja fake news. Mas em se tratando de conhecimento espiritual de Deus, informação é vida, quem tem uma experiência profunda de oração, que vence a ansiedade e a dor, que alcança a paz e então pode ouvir a voz do Espírito Santo, não sairá só informado, com curiosidades intelectuais satisfeitas, mas vivificado, fortalecido. Notará o efeito dessa experiência horas, dias depois, e entenderá que comunhão com Deus permite mais que respostas materiais, que nunca são o suficiente, mas duradoura paz espiritual. 
      O que queremos de fato ganhar, quando buscamos a Deus? Coisas no mundo, posição diante de homens, ou nossas almas? Ganha a alma quem resiste no tempo, ainda que não se importe com ele, quem vence o corpo, ainda que produtivo nele o máximo que puder, num paradoxo de pegar e largar, onde se vive a realidade do plano material, sem medos ou ilusões, mas se abre mão dela para ter paz. Muitos não têm paz porque não pagam o preço por ela, e o preço é desprender-se de vaidades e prazeres, de aparências e poderes, para ser bonito por dentro e abraçado pelo todo-poderoso. Acalma-te e serás instruído, como essa palavra me consolou, me mostra o caminho a seguir para agradar a Deus, ser feliz e fazer felizes os outros. 

sexta-feira, maio 13, 2022

Genuíno profeta de Deus hoje!

      “Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles. E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes.Jeremias 15.19-21

      O homem espiritual discerne orgulho de sabedoria, sabe que não deve tomar a iniciativa com certas pessoas não por ser orgulhoso ou medroso, o que é a mesma coisa (o orgulhoso geralmente é um medroso disfarçado), mas porque é mais sábio, mais útil, e sendo assim, porque entende que Deus lhe dá essa orientação. Quem teme a Deus e quer viver o evangelho de amor algumas vezes pode se angustiar, sabe que é virtude do humilde tomar a iniciativa para estar em paz com o arrogante, essa é a regra, mas sente de Deus que em determinadas situações não deve se aproximar ou buscar diálogo, assim fica num dilema. 
      Quem não tem muito compromisso com o evangelho de amor não se sente em dificuldades numa situação dessa, se alguém lhe desagrada ele simplesmente se afasta, ou, então, toma a iniciativa e agride. Contudo, para o espiritual às vezes é preciso mais coragem para não fazer uma coisa do que para fazer, principalmente se o que pode ser feito é algo certo. O texto “não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mateus 7.6) é a orientação evangélica mais direta para uma situação onde o menos é mais (espiritual). 
      O texto bíblico inicial, numa lida rápida, parece conter um antagonismo, primeiro diz “se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim”, dando a entender que uma iniciativa deve ser tomada, mas depois diz, “tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles”, então, podemos entender que uma iniciativa não deve ser tomada. Afinal, devemos voltar ou não? Quem volta a Deus e diante dele se humilha, não precisa voltar para o homem e ser humilhado, muitos precisam ir a homens porque não vão a Deus. Mas a frase “se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca” dá a condição para que haja honra de Deus. 
      Não nos esqueçamos que o contexto da passagem é de chamada profética de um homem, eis uma missão que hoje muitos dizem ter e que outros, mesmo sinceramente, gostariam de ter. Contudo, ser profeta não é algo fácil nem prazeroso, e nos tempos atuais Deus chama a atenção de homens diferentes e de maneiras diferentes, assim o arquétipo de profeta bíblico não é aplicado. Para ser boca de Deus é preciso ter boca limpa, é o que é exortado em “apartares o precioso do vil”, muitos querem ser profetas, mas com o coração cheio de ódio, preconceitos e vaidades, poderão ser profetas de outros deuses, não do Altíssimo. 
      “E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles”, além de coragem para confiar em Deus, não se preocupar com que os homens pensam, e ter pureza de intenções, atos e palavras, o profeta deve estar preparado para perseguições. Mas entendamos bem, não é porque somos perseguidos que somos profetas, muitas vezes somos odiados pelos homens porque somos seres indigestos, mal educados, grossos, sem amor, ainda que achando que podemos ser tudo isso porque estamos dizendo “palavras proféticas”. 
      O texto é claro quando diz sobre a origem da perseguição legítima, o próprio Deus, “EU te porei contra este povo”, mas diz mais, “como forte muro de bronze”, se Deus nos coloca em um confronto ele nos fortalece para passarmos por ele. “Pelejarão contra ti mas não prevalecerão”, que promessa que o profeta recebe, deve ser a palavra em que ele confie quando estiver no meio do ataque mais mentiroso e cruel dos que não querem ouvir a genuína palavra de Deus que ele está entregando. Tenhamos cuidado em almejar tal missão, muitos foram taxados de loucos e endemoniados e outros viveram na pobreza para serem profetas.
      Por outro lado, Deus não chama profetas por serem os seres mais eruditos e diplomáticos que existem, se fossem isso não dariam profetas adequados. Resistir à oposição e à descrença requer certa dureza, com os duros é preciso ser duro, ferro com ferro se afia. Elias, Jeremias, João Batista e outros, não eram os homens mais afáveis que existiam. Contudo, o maior de todos os profetas, Jesus, era puro amor, boca de doces palavras, modelo de ser virtuoso, talvez porque sua obra fosse única, precisava se revelar em ações. O que ele disse não era especificamente para o seu tempo, naquele momento ele só tinha que ser obediente.
      Jesus estabeleceu novo modelo de “profeta”, a urgência profética não é mais para uma nação no mundo hoje, mas para todos e para a eternidade. Por mais que aprendamos com os profetas do antigo testamento até João Batista no novo testamento, devemos focar em Jesus como exemplo, essa é a vontade mais alta de Deus. Em Jesus é onde as palavras iniciais de Jeremias mais se aplicam, ele teve coragem para confiar em Deus e não se preocupou com que os homens pensavam dele, tinha pureza de intenções, atos e palavras, e estava preparado para ser perseguido e até à morte. Queremos ser profetas? Nos miremos em Cristo. 

quinta-feira, maio 12, 2022

Invocarei a Deus e ele me salvará

      “De dia e de noite a cercam sobre os seus muros; iniquidade e malícia estão no meio dela. Maldade há dentro dela; astúcia e engano não se apartam das suas ruas. Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. Consultávamos juntos suavemente, e andávamos em companhia na casa de Deus. A morte os assalte, e vivos desçam ao inferno; porque há maldade nas suas habitações e no meio deles. Eu, porém, invocarei a Deus, e o Senhor me salvará.Salmos 55.10-16
 
      O que anda com temor a Deus o tempo todo não é pego de surpresa pelo mal, contudo, o benigno de coração pode ser surpreendido pelo homem mau. Homem de bem espera sempre o bem, principalmente de próximos, e mais ainda de familiares, contudo, ainda assim pode ser pego de surpresa por uma intenção ruim, escondida há tempo no coração do outro. Surpreender-se demais pode ser falta de sabedoria, ingenuidade irresponsável, mas nunca se surpreender, principalmente com a maldade alheia, pode ser só malícia. Quem é mau e faz o mal também espera sempre o mal dos outros, não confia em ninguém, está sempre com um pé atrás, esperando que o outro faça a ele o que ele faz aos outros. 
      O filho justo de Deus anda na sabedoria, nela há equilíbrio, que protege do mal, mas que espera o bem ainda da pessoa mais má, assim, não fique triste demais se for traído por alguém que não achava que te trairia. Não sofra demais se descobrir que alguém próximo, para quem você sempre quis o melhor, na verdade sempre te tratou com desconfiança, com inveja, mais desejando teu mal que teu bem, ainda que escondendo isso. Ore pela pessoa, do fundo do teu coração, abençoe-a com todas as tuas forças, perdoando-a e desejando a ela bênçãos em todas as áreas de sua vida, afetiva, profissional, espiritual, financeira. Contudo, aprenda com a experiência, não para ser desconfiado, mas para ser prudente. 
      Sobre injustiças, perseguições e traições vou compartilhar algo, você não precisa concordar, é algo pessoal que aprendi na vida. Não penso que existam injustos, perseguidores ou traidores, penso que os que agem assim têm algum motivo para isso, autorizado por Deus, que me é misterioso e que devo respeitar. Isso não faz com que eu pense que o mal vence, ou com que me sinta vítima que merece sofrer e que deve aceitar o mal com resignação, mas leva-me a entender que injustos, perseguidores e traidores não detêm o poder, não para sempre. O poder pertence a Deus, Deus cria e destrói, dá vida e a tira, autoriza o mal e o bem, assim, invoco a Deus, que no momento certo me redime e faz justiça. 
      Quando focamos demais no homem mau, damos poder a ele. Quando queremos que ele colha pela maldade que está fazendo, ainda que isso seja justo, nós o enaltecemos, e não tem nada que o mal mais queira que reconhecimento, isso pode importar até mais que o efeito direto e material da maldade. Como justos que confiam em Deus o mal pode nem nos atingir externamente, somos protegidos das obras das trevas pela luz, mas as trevas podem ter vitória sobre nós em nosso interior, não prejudicando nossa vida material, mas deixando-nos oprimidos. Isso é glorificar não a obra má, mas a própria maldade, por isso é importante entregarmos nas mãos de Deus o mal e exaltarmos o poder do Senhor. 
      O homem mau não precisa saber por nós de sua maldade, quanto menos informação ele tiver, menos o mal será glorificado. Isso é ver certas injustiças, perseguições e traições, não só como obras de homens, mas como simpatias a interferências espirituais maléficas, que influenciaram o maldoso que lhes deu abertura e que querem a glória por terem participado do mal. Reagir do jeito errado pode até calar o homem, mas não parará a ação de maus espíritos, que depois podem voltar a atormentar o homem mal para que faça maldades de novo. Se reagirmos do jeito certo, pondo o assunto diante do poder de Deus, calaremos mais que o homem, anularemos o temporário poder de espíritos maus. 

quarta-feira, maio 11, 2022

Alegria maior de Deus pai

      “Compra a verdade, e não a vendas; e também a sabedoria, a instrução e o entendimento. Grandemente se regozijará o pai do justo, e o que gerar um sábio, se alegrará nele.Provérbios 23.23-24

      Deus tem amor para estender a mão, curar o doente e fraco e levanta-lo, assim como tem paciência em segurar a mão do filho ainda criança e levá-lo pelo caminho. Contudo, o Senhor tem ainda mais prazer ao ver que o filho está curado, forte e amadurecido, para poder caminhar sozinho, não pela mão que vê, mas pela fé. Ainda assim o Senhor estará perto, Deus sempre está perto, mas sempre numa distância adequada, para a percepção humana, para que o filho crescido trabalhe pela fé e prossiga com as próprias forças, crescendo e se tornando mais forte espiritualmente.
      As primeiras coisas sempre são apresentadas por Deus de forma mais óbvia, mesmo física, de um jeito visível, material. Por isso Jesus fez tantos milagres físicos em sua passagem como homem quando inaugurou seu ministério, para despertar seres humanos ainda imaturos, moral, intelectual e espiritualmente infantis. Para iniciarmos nossas jornadas Deus muitas vezes usa de iscas para nos atrair, mesmo para que façamos escolhas importantes de nossas vidas, como profissão e casamento. Fracos e crianças precisam de uma atenção especial, mas que é exceção, não regra. 
      Depois que recebemos as primeiras coisas nos cabe trabalhar. Hoje, pelo Espírito Santo, Deus chama a todos para as coisas espirituais mais profundas, essas não curam só o corpo, mas o espírito, essas curas não são realizadas de forma aparentemente milagrosa. Deus não fará “milagres” físicos, que só parecem sobrenaturais, para sempre, agora temos a ciência que pode explicar e resolver muitos problemas. O trabalho hoje e para o futuro é para aperfeiçoamento moral, isso exige do homem persistente trabalho de fé no tempo, para que haja evolução do espírito. 
      Deus sorri para os seres humanos aguardando que esses sejam atraídos a ele como adultos espirituais, num trabalho de busca de virtudes morais. Quando isso ocorrer haverá justiça e igualdade no mundo, portanto respeito para todos, fim de preconceitos e do sofrimento de tantos que não têm nem o que comer. As guerras acabarão, porque para isso basta que um lado seja humilde e pratique a caridade, ditadores e terroristas têm espaço no meio da pobreza e da ignorância, cessem esses males e eles definharão sozinhos. O Pai espera para se alegrar com filhos crescidos. 

terça-feira, maio 10, 2022

Para ter e manter

      “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. 
      Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
      Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.” 
Salmos 1

      Orgulho, inveja, desonestidade, falso poder, vaidade e queda, eis o processo do homem que adquire algo sem base moral. Aquele que não é humilde e não teme a Deus invejará o que não pode ter, e se não pode ter, obterá o que quer de forma desonesta, pois o fará desobedecendo o melhor de Deus para sua vida. Quem ganha algo dessa forma poderá até ser discreto por um tempo, mas num determinado momento não resistirá, não lhe bastará usufruir, terá que exibir aos outros, assim será vencido pela vaidade. 
      Quem se mostra por vaidade é invejado por outros orgulhosos que não temem a Deus e que também desejam o que não podem ter, dessa forma quem começou errado, terminará errado, traído, condenado e despojado por pares. Para ter é preciso a intenção certa e o trabalho adequado, mas o que mantém de pé o que se constrói são virtudes morais. Para manter é preciso conservar-se humilde, reconhecendo limites e respeitando quem não tem, senão será presa da vaidade. O vaidoso não quer ser feliz, quer ser deus. 
      A vaidade, ainda que seja para exibir algo que se conquistou honestamente, conduz ao engano de achar que não basta o usufruto do que se tem, mas que se precisa ter também adoração dos outros pelo que se tem. Adoradores obrigados não podem dar uma veneração sincera, invejarão, odiarão até que destruírem os falsos deuses que os subjugaram. Quem inveja será invejado, quem se constrói desonestamente acabará destruído por desonestos, e mesmo que comece certo, se for presa da vaidade porá tudo a perder.  
      “Será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo, as suas folhas não cairão”, esse trecho do salmo um define o processo de vida do humilde e que teme a Deus. Sua existência é simples mas plena, harmoniosa e bela, numa perfeita interação da matéria com o espírito, do homem com Deus. Para esse nada falta porque suas raízes estão próximas às vivas águas do Espírito Santo, ele sabe o tempo certo de plantar e de colher, para trabalhar e para usufruir, sempre na humildade.  
      Algo maravilhoso está na frase “tudo quanto fizer prosperará”, isso não significa ser rico aos olhos dos homens, não, o que é humilde e teme a Deus vence o orgulho, a inveja e a vaidade, sabe quando Deus manda que ele faça algo, e o que Deus orienta a fazer sempre dá certo. Ninguém se engane, “o Senhor conhece o caminho dos justos, porém o caminho dos ímpios perecerá”, quem se constrói baseado no que os homens pensam e valorizam não se manterá de pé. Deus sabe muito bem quem é justo e quem não é. 

segunda-feira, maio 09, 2022

Deus não se esquece de nós

      “Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim. Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim. Os teus filhos pressurosamente virão, mas os teus destruidores e os teus assoladores sairão do meio de ti.Isaías 49.14-17

      Quanto consolo nos dá esse trecho dos registros de Isaías, ele começa com um entendimento ingrato e injusto que tantas vezes temos de Deus, achamos que ele se esqueceu de nós, de tão grande que às vezes é nossa dor. O Espírito Santo, inspirando o profeta, responde citando um amor que todos nós podemos entender muito bem, o de nossas mães por nós. Muitos se esquecem de nós e nos julgam mal, mas aquelas que nos criam como filhos, que necessariamente não precisam ser nossas mães biológicas, nunca se esquecem e sempre pensam bem de nós. Contudo, o Espírito Santo vai além, ainda que uma mãe se esqueça, Deus não se esquece, o amor de Deus supera até o singular amor de mãe.
      Isaías faz então um registro lindo, “nas palmas das minhas mãos eu te gravei”, Deus diz com isso que estamos marcados de tal maneira nele que ele nunca poderá se esquecer de nós. As palmas das mãos nos remete a muitos entendimentos, um deles é que são partes dos membros que usamos para fazer muitas coisas, ainda que impedidos de andar, estenderemos os braços e usaremos as mãos para entregar o alimento ou acarinhar um filho. As palmas podem ser protegidas, basta fecharmos as mãos, assim Deus é rápido para nos ajudar como para nos proteger. Mas as palmas das mãos são as partes de nossas corpos que vemos com facilidade, assim Deus não se esquece de nós, nos vê o tempo todo bem de perto. 
      “Teus muros estão continuamente diante de mim”, muros eram proteções das cidades, num tempo em que guerras eram modo de conquistar e manter poder no mundo, eram o último bastião entre um povo e seus inimigos. Mas do que adiantam muros se Deus está longe porque o homem se afastou dele? As muralhas mais sofisticadas e resistentes cairão como castelos de areia à beira-mar, mas mesmo as mais simples e delicadas resistirão a tudo, estando diante do Senhor. “Teus filhos pressurosamente virão, mas os teus destruidores e os teus assoladores sairão do meio de ti”, que se aproximem de nós os homens de bem, nossos verdadeiros irmãos, que se afastem os violentos e falsos, somos amados de Deus. 

domingo, maio 08, 2022

Deus não retarda a promessa (6/6)

      “Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.II Pedro 3.8-10

      Juízo final, fim do mundo, últimos tempos, destruição do planeta, terceira guerra mundial, quando tudo isso acontecerá? No que isso interfere ou interferirá em nossas vidas? Estamos preparados para isso, seja lá o que for e quando for? Confesso que minha fé não é do tipo que aceita muitas profecias bíblicas para o futuro como predizendo acontecimentos ao pé da letra. Considero, sim, cada palavra bíblica com muito respeito, mas com cuidado, procurando sempre aprender com o princípio atemporal contido na palavra, o que de fato interfere em minha vida prática no mundo hoje, assim como em minha qualidade moral que preciso levar à eternidade. O texto bíblico inicial nos ensina várias coisas com relação ao juízo final. 
      “Um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia”, que mistérios há nessa afirmação. Muitos não esperam o fim do mundo, desejam-no, mas não pelos motivos melhores segundo a vontade de Deus. Muitos estão ansiosos pelos últimos tempos, mas esses talvez não saibam de fato o que estão desejando, não entendem a seriedade do assunto, se entendessem não quereriam tanto isso. Apressar o juízo é diminuir o tempo que a humanidade tem para se acertar com Deus, talvez quem queira o fim do mundo ache que já está preparado, e que se outros não estão, então, o problema é deles, que não aproveitaram suas oportunidades. Mas será que cristão genuíno, amoroso, humilde, temente a Deus, deve pensar assim? 
      Aos crédulos e sem sabedoria a palavra diz, mil anos é como um dia, aos incrédulos e materialistas a palavra diz, um dia é como mil anos. Eu tenho fé para crer num Deus perfeito que faz perfeitamente tudo, e isso para cada um dos filhos que criou, e considero todos os seres humanos criados como filhos de Deus. Assim, o tempo demorará ou se apressará dependendo do que cada filho precisa para ser amigo de Deus, essa, sim, uma relação especial com Deus, que vivem os que escolhem viver, crendo em Jesus e praticando obras em amor. Vou compartilhar um sentimento muito pessoal, você não precisa concordar com ele, creio que juízo final, fim do mundo, últimos tempos, destruição do planeta se referem a coisas diferentes. 
      Eventos diferentes acontecem em tempos e em planos diferentes. Certos encerramentos ocorrem no plano espiritual e é diferente para cada ser humano que morre no mundo e passa para a eternidade. Já outros encerramentos ocorrerão no planeta Terra, mas num futuro mais distante, e pegarão a humanidade preparada. Em “o Senhor é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se”, está o juízo pelo qual todos nós passaremos na eternidade após morte no plano físico. Mas em “os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão”, está um juízo planetário e físico, que ocorrerá uma única vez. 
      Na verdade penso ser perda de tempo estudiosos usarem tanto tempo especulando sobre palavras, que se tiveram origem no Espírito Santo, foram entendidas por homens do passado. Por mais que muitos não aceitem, muitas profecias bíblicas já se cumpriram. Creio que o mais importante para nós hoje está em “o Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia” e “o dia do Senhor virá como o ladrão de noite”. Essas exortações nos dizem uma coisa: estejamos preparados sempre. Aos ansiosos digo: as coisas não serão como muitos cristãos protestantes e evangélicos acham que serão, e se querem saber, a terceira guerra já começou, muitos não perceberam e estão sendo usados pelo lado que vai perder. 
      Guerras para conquista de territórios geográficos hoje são feitas com teleguiados, dessa forma há menos contato homem a homem. Mas guerras também são ganhas restringindo-se direitos econômicos do inimigo, limitando e impedindo que o dinheiro se movimente. Contudo, temos a guerra virtual, onde o campo de batalha é a internet, nesse embate fazer ataques hackers contra sites inimigos impede a comunicação, da qual o mundo tanto depende hoje. No campo virtual guerras são feitas com informações, mentira ou fake news é arma mais eficiente que a verdade, onde se diz o que se quer dizer para manipular pessoas. Muitos têm sido conquistados e abatidos em redes sociais, achando que estão sabendo e lutando pela verdade. 
      Sei que muitos cristãos não vão entender, nem concordar, mas me entristece ver congregações entrarem em êxtase quando pregadores falam: Jesus está voltando. Se soubessem de fato o que nos será cobrado no juízo não desejariam isso com tanto entusiasmo. Mas não é só emocionalismo infantil que é evidenciado na reação de tantos evangélicos diante de uma iminente volta de Jesus, é um desvio tremendo das prioridades ensinadas pelo Cristo em sua vinda no século I. O que faria feliz o Espírito de Deus seria evangélicos demonstrarem o mesmo entusiasmo quando fosse dito: vamos amar o próximo, os diferentes, as minorias, os homoafetivos, e vamos ajudar materialmente famintos e sofredores mesmo sem serem cristãos. 
      Uma última palavra sobre “o Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia”, não mais sobre assuntos escatológicos, mas sobre nossos lutas diárias neste mundo diante de tantas dores. Não se desespere, nem perca o ânimo, tenha esperança no Deus que conhece teus limites, que vê toda injustiça que você suporta do jeito certo, calado e sem construir mágoas e vinganças dentro ti. O que o Senhor te prometeu ele cumprirá, em breve, teu tempo de alegria está próximo, mantenha-se humilde, e quando Deus te exaltar, seja mais humilde ainda. Aprenda a lição, seja alguém melhor por dentro, o mundo passa, o planeta passará, os poderosos serão humilhados, mas os que confiam em Deus serão honrados.

sábado, maio 07, 2022

Não nos iludamos com o mundo (5/6)

      “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores.Mateus 24.6-8

      Depois da segunda guerra mundial, encerrada em 1945, a criação da Onu, da Otan, e de outros tratados mundiais, nos deram uma sensação de vida civilizada, ao menos em grande parte do mundo. A queda do muro de Berlim e a dissolução da URSS, a partir do final dos anos 1980, pareceram ter encerrado a guerra fria. A economia se tornou campo de batalha mais interessante, levando mesmo a China, ainda que comunista, a ser uma nação poderosa economicamente. Mesmo que extremistas muçulmanos estejam à margem dessa vibe civilizatória, internet e outros meios de compartilhamento de informações, tornaram cada ser humano um cidadão do mundo, anulando fronteiras, prevalecendo globalismo sobre nacionalismo. 
      A invasão da Ucrânia pela Rússia, contudo, virou o mundo de cabeça para baixo, as regras civilizatórias que custaram tão caro foram esquecidas, uma nova e muito pior guerra nuclear nos ameaça (escrevo este texto em 6/03/22, 10º dia da guerra). Como cidadãos do presente achamos que já havia se passado muito tempo no planeta em uma situação de relativa paz, mas se olharmos para traz na história veremos que setenta e sete anos, tempo desde o fim da segunda guerra mundial, não é tão grande. O mundo nunca passa muito tempo em paz, sempre uma nova guerra aparece, assim, não nos iludamos achando que vivemos um tempo mais evoluído, quando já conseguimos manter uma humanidade civilizada e sem grandes conflitos. 
      Novas guerras são novas oportunidades para se vender armas, se isso acontecesse há cem anos atrás seria grave, mas hoje um agravante maior é adicionado a guerras como oportunidades para homens gananciosos e desumanos ganharem dinheiro. A grana que os países gastam para comprarem armas faltará para cuidar do planeta, para desenvolvimento de combustíveis não poluentes, para busca de alternativas que não destruam flora e fauna. Hoje o planeta está com tempo contado para entrar numa situação, que se não for irreversível, demorará muito tempo para se reverter de forma natural, cientistas já previnem sobre o aquecimento global. A guerra maior é contra a natureza e para essa os seres humanos estão perdendo. 
      Essa modernidade, que por algum tempo achamos ter sido um degrau de evolução que o homem tinha finalmente alcançado, parece que foi só ilusão, infelizmente o ser humano ainda tem muita crueldade para lançar contra seus semelhantes. Interessante como conflitos terríveis são disparados por poucos homens, que não vão a campos de batalha para matar e morrer, quem mata e morre são jovens e inocentes, que muitas vezes nem sabem porque estão lutando, guerreiam baseados em narrativas mentirosas inventadas pelos líderes. Quem mata jovens ucranianos? Jovens russos. A verdade é que não há inocentes, situações terríveis são permitidas por Deus por motivos justos, líderes são mantidos pelos cidadãos de seus países. 
      Sempre que falo sobre fim do mundo gosto de frisar alguns pontos. As descrições bíblicas não devem ser interpretadas ao pé da letra. Os registros são de homens em contextos históricos antigos, interpretando uma experiência espiritual com mentes, olhos e ouvidos antigos. Muitas profecias podem já ter se cumprido. Certos processos históricos são repetitivos no mundo, independe do tempo, assim temos que nos atentar ao que é diferente hoje que possa tornar nosso conceito de fim de mundo mais legítimo que os conceitos que homens de outros tempos tinham. Hoje temos três diferenciais: grande população da Terra, uma planeta exaurido de recursos naturais, e desenvolvimento cientifico e de comunicação superiores. 
      Por que não podemos nos iludir com o mundo? Porque a variável que pode definir o fim do mundo não está na maldade do coração do homem, mas no planeta, quem clama por justiça, até de forma mais impactante que o ser humano, é a Terra. O mundo, no sentido do lugar onde o mal e a matéria têm algum poder, não mudou, não ainda, mas o planeta, o campo físico que Deus nos oferece para que nos aperfeiçoemos, esse está chegando num ponto crítico. Muitos cristãos, baseados numa interpretação antiga da Bíblia, tentam ver o fim do mundo só como uma grande guerra, não se atentam ao planeta, justamente porque isso não era preocupação do homem antigo que escreveu a Bíblia em que esses cristãos creem. 
      Contudo, tenhamos esperança, se líderes e povos como nações estão querendo o pior, a iniciativa para uma mudança surpreendente pode partir do indivíduo, que num mundo globalizado, tendo a internet como arma, talvez possa ter voz mais alta que líderes loucos com suas ogivas nucleares. Eis outra coisa que profetas e escatológicos não previram e que tem tudo a ver com a verdade espiritual maior: na eternidade não seremos de um povo ou de uma nação, mas espíritos de Deus, e os que creram e trabalharam pela justiça e santidade ainda no mundo serão atraídos para o céu, as regiões espirituais mais elevadas em Cristo. Não nos iludamos com o mundo, mas acreditemos no amor do indivíduo que faz escolhas pela paz.