sábado, maio 07, 2011

Escolhendo o Teclado/Piano certo para a Igreja

     O melhor instrumento é aquele que podemos pagar, essa é a grande verdade, tirar desse instrumento a melhor qualidade para a tarefa que se deve executar fica por conta da criatividade e versatilidade do instrumentista. Contudo, tentarei dar aqui algumas dicas sobre instrumentos musicais de teclas, sejam teclados, sintetizadores, órgãos, pianos, etc, que melhor servem para desempenhar as tarefas dentro da igreja.
    A primeira pergunta a se fazer é quanto tenho para investir na compra? Isso vai nos dar os limites, tanto de recursos, quantidade de timbres e outras características, quanto da qualidade desses recursos.
     A segunda pergunta a se fazer é para que eu quero o instrumento? Para louvar a Deus, ok, para tocar na igreja, correto, mas uma resposta mais objetiva pode nos ajudar a achar o instrumento mais adequado, o instrumento mais adequado é aquele que consegue dar contas de suas funções com o menor custo.  Para responder a essa pergunta, veja as opções funcionais abaixo:

    A. Acompanhar o coral de vozes.

        Geralmente para essa função os timbres de piano ou de órgão bastam.

    B. Acompanhar os hinos mais tradicionais da igreja com a congregação.

        Semelhantemente à opção A, timbres de piano ou de órgão bastam.

    C. Tocar com banda de metais, ou orquestras com madeiras, metais, cordas, etc.

        Neste caso timbres de piano ou órgão, também bastam.

   D. Tocar com uma banda, banda aqui no sentido moderno, com bateria, baixo, guitarra, etc, para execução de arranjos pop/rock, de músicas inéditas ou covers dos artistas gospel, seja na igreja ou em palcos.

       Dependendo se o instrumento de teclas é tocado sozinho ou com outros instrumentos, a necessidade de timbres pode variar entre piano e outros timbres. Recursos de acompanhamento automático e de sequencidor ou sampler, também podem ser úteis, caso o instrumento de teclas seja usado sozinho.

    E. Usar em estúdio.

      Nesse caso vale tudo, tudo pode ser usado, novos, antigos, pianos, synths, órgãos, teclados, computadores, etc...
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   Por que é importante saber para que exatamente se quer comprar um instrumento? Porque muitas igrejas adquirem instrumento caro e com recursos desnecessários para sua utilização, é claro que o contrário é mais difícil, visto que os vendedores, no geral, são especialistas, e isso ocorre em todas as áreas, em nos enfiar pela goela abaixo produtos de alto custo e que não precisamos.
   Para as funções acima relacionadas, podemos verificar a presença de alguns tipos diferentes de instrumentos de teclas, vamos a eles:

    1º Piano: vamos chamar de piano não o instrumento em si, mas a maneira como ele é tocado. Podemos tocar piano, porque necessitamos desse timbre, em um teclado ou em um sintetizador, além é claro de em um piano acústico real. É claro que um instrumento direcionado especificamente para gerar o timbre de piano, mesmo que não seja um real piano acústico, tem recursos que simulam de maneira bem próxima a execução e geração de um piano acústico de verdade. Então vamos dividir essa categoria em mais três:

    A. Piano Acústico: a vantagem desse instrumento, é que ele dura mais tempo, tem o mecanismo original de piano, necessidade de quem estuda piano erudito e está acostumado com essa técnica, e se bem conservado, a médio prazo, precisará apenas de afinações. Mas existem centenas de pianos, entre modelos e formatos diferentes. Alguns com timbres mais abertos, estridentes, outros com timbres mais fechados, alguns mais profundos, com um som mais sustentado, outros com um som mais seco, etc. Existem também formatos e tamanhos diferentes, os de armário, chamados de verticais, os de cauda, ½ cauda, ¼ de cauda, etc.

    Outra vantagem do piano acústico é que ele não precisa de retorno de áudio para o pianista e pode funcionar bem em ambientes com um número relativo de pessoas, além é claro de não necessitar de energia elétrica. Contudo, para que o som chegue a um número maior de ouvintes, principalmente se a congregação estiver cantando junto, haverá necessidade de microfonação, aí dependerá da captação e da amplificação para que o som chegue com qualidade e quantidade às pessoas.

    B. Pianos Digitais (amplificados ou não): a grande vantagem é a amplificação para o ambiente, os que já vêm com um sistema interno dão conta de levar o som para um bom grupo de pessoas, e mesmo sem precisar de amplificação auxiliar, suas saídas de áudio conduzem com facilidade e qualidade o som para a mesa, sem necessidade de microfonação. Bons pianos digitais têm timbre e teclas, 88 e com peso, que nada ficam a dever para pianos acústicos reais.

    A grande desvantagem desse instrumento é a manutenção, ele não é tão resistente, principalmente à técnica e estudo de métodos de piano acústico. Sua manutenção pode ser dificultada pelo tamanho e peso que possui. Mesmo assim, a facilidade de ser ligado a uma mesa de mixagem, com toda a qualidade de simulação de pianos reais, produz uma relação custo/benefício muito interessante.

    C. Teclados ou sintetizadores: atualmente a maioria dos teclados e sintetizadores, incluindo aqueles com acompanhamento automático, geram timbres de piano com boa qualidade. O único inconveniente que vejo na escolha desses equipamentos para uso como piano é o custo desnecessário, já que pode se comprar uma variedade de recursos dos quais a maioria não será usada.

    Mas existem atualmente no mercado sintetizadores, principalmente os presetados, sem muitos recursos de sintetização, com poucos timbres, mas com qualidade. Esses, em minha opinião, são os mais adequados para uma igreja que quer um instrumento de teclas de custo baixo e com o mínimo de recursos para as funções desejadas.

    2º Órgão Eletrônico: o conceito desse instrumento está meio diluído hoje em dia. Sim, existem órgãos atualmente, e maravilhosos, diga-se de passagem, mas antigamente eles eram mais comuns e mais puros em suas funções.

    O órgão tem um timbre próprio, que é formado pela combinação e mixagem de vários timbres, timbres esses que simulam instrumentos de sopro de madeira e de metal. Por necessitar de recursos menos sofisticados para criar seus timbres, os órgãos foram os primeiros teclados eletrônicos, a princípio deveriam simular os órgãos acústicos que funcionam com a passagem de ar por tubos que criam os timbres de instrumentos de sopro. Mesmo esses órgãos acústicos, ainda existem hoje em dia, são fabricados e usados, porém são instrumentos caros, pesados e de instalação mais complicada. Por isso os eletrônicos ficaram mais populares.

    Da igreja, os órgãos eletrônicos foram para o mundo, nas mãos de tecladistas de blues, soul, spiritual, jazz, etc, e do mundo eles voltaram às igrejas, na criação da música gospel, principalmente nas culturas de afrodescendentes norte-americanos. Os órgãos Hammond e Farfisa são conhecidos em todo o mundo.

    Além do timbre, o que caracteriza um órgão é a presença de mais de um teclado, separando mão esquerda e mão direita, além da pedaleira, para fazer os baixos, e do pedal de expressão, o que dá ao instrumento a dinâmica, visto que originalmente o instrumento não tem sensibilidade nas teclas para controlar o nível de volume. O chorus, efeito eletrônico que simula o antigo “leslie”, sistema de trêmulo que funcionava como um “ventilador” sonoro, também dá expressão ao órgão, quando muda de velocidade. O timbre de órgão se presta atualmente tanto para execução de hinos mais antigos, tradicionais, como para música evangélica popular.

   Como acontece com todos os timbres, os teclados e sintetizadores também simulam timbres de órgão de qualidade, contudo, um instrumento fabricado especificamente para produzir timbres de órgãos possui os recursos mencionados, dois teclados, pedaleira, pedal de expressão, assim como as “drawbars”, barras que misturam os vários sons de sopros para criar o som de órgão.

    3º Sintetizadores: atualmente é bem difícil identificar e definir os teclados de maneira mais purista, visto que os recursos vêm misturados em equipamentos diferentes e com uma diversidade de nomes. Mas vou chamar de sintetizador o equipamento com uma função específica e sofisticada para criação e programação de timbres. Sintetizadores profissionais são verdadeiros laboratórios de timbres, com centenas de parâmetros que permitem a manipulação dos “samples”, que é uma gravação digital de som de todas as espécies de instrumentos, tanto acústicos como eletrônicos, assim como efeitos especiais, sons da natureza, etc. A combinação desses “samples” manipulados cria os timbres.

    Bem, com todo esse poder, um sintetizador se presta para criar qualquer som, seja piano, órgão, instrumentos de orquestra, instrumentos eletrônicos (os primitivos sintetizadores analógicos), etc, etc. A questão de comprá-los para uso na igreja está relacionada com o custo, sintetizadores de verdade são caros, e o que ocorre com frequência é que dos milhares de timbres que eles geram, apenas alguns são usados pela maior parte dos tecladistas de igreja. Um sintetizador realmente profissional tem seu uso eficaz em um estúdio de gravação, onde há a necessidade de se ter a mão toda espécie de som.

    O trabalho de música autoral também pode usar sintetizadores com eficiência, já que procura timbres certos para definir seu estilo, quanto mais timbres disponíveis, mais rica será a música produzida. Atualmente os melhores sintetizadores vêm em equipamentos denominados “Workstations”, que além da síntese sofisticada têm os recursos de gravador MIDI, de áudio e de controlador MIDI, portanto, com todos esses recursos, seu custo é alto.

    (O gravador MIDI gera um playback leve para a máquina, mas que precisa de um gerador  de timbres, teclado, módulo ou computador, conectado para executar a música. O gravador de áudio, que pode ser um gravador de som convencional (e digital), gera uma gravação que apesar de ser mais pesada, independe de outros equipamentos conectados para ser reproduzida. Se a gravação for salva em MP3, por exemplo (WAVE ou outros formados compatíveis), pode ser usada em qualquer player. Sampler é um gravador de áudio também, mas para gerar um instrumento tocado pelas teclas do equipamento.)

    4º Teclados Arranjadores Automáticos: são aqueles equipamentos que geram um playback com uma harmonia criada com acordes executados na parte inferior do teclado pela mão esquerda. Como esses equipamentos vêm com um número interessante de timbres e são, em média, mais baratos que as “Workstations”, sintetizadores e pianos, são muito usados pelas igrejas.

    (Teclados arranjadores mais sofisticados, que além de reproduzir os playbacks também têm recursos de criá-los, tantos os ritmos ou estilos quanto músicas MIDI, também podem ser chamados de "Workstations" e também podem chegar a um culto bem alto. Teclados arranjadores, a princípio "brinquedos domésticos", se tornaram muito úteis nas mãos de profissionais que fazem seu trabalho somente com o teclado.)

     Contudo, em sua maioria, as igrejas não utilizam o recurso de acompanhamento automático, o que faz com que uma função seja adquirida e paga, mas não usada. Lembro mais uma vez que os sintetizadores presetados são mais indicados, portanto, se uma loja não tiver esse tipo de equipamento, procure em outra, mas não adquira recursos comprados que não serão usados, é dinheiro gasto a toa.
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    Vou descrever agora o que para mim seria o setup ideal, levando-se em conta que a igreja tenha condições de pagar estes equipamentos assim como necessidade real de tê-los:

    1º Piano Acústico: de cauda, de preferência, por possuir melhor amplificação acústica, para uso na ministração, durante a palavra, assim com para acompanhar o coral, a banda de sopros, a orquestra, ou solos e bandas para audição e não para ministração com a congregação, isso para usar o quanto possível o som acústico do instrumento, sem a necessidade forçar a amplificação através dos microfones, que já descaracteriza o som do instrumento.

    2º Piano Digital: para ministrar com a congregação cantando, nos hinos tradicionais, com a banda (guitarra, baixo, bateria, etc), onde a ligação com a mesa fica fácil e funciona bem.

     3º Órgão Eletrônico: além de poder ser usado da mesma forma que um piano acústico, também se presta para as finalidades do piano digital, já que pode ser ligado à mesa. Em especial, a execução durante a palavra, que é bastante utilizada nas igrejas afrodescendentes norte-americanas, por ser o timbre muito expressivo e emocional.

    4º Sintetizador: por gerar timbres profissionais, completa o setup do tecladista de banda, tanto para audição como para ministração com a congregação, assim como é útil em qualquer estúdio de gravação.

    5º Teclado Presetado: um equipamento de custo mais baixo, de boa portabilidade e com uma quantidade suficiente de timbres para usos gerais, em outros ambientes que não no templo, assim como para trabalhos fora da igreja.

     Seguem agora algumas dicas sobre a compra:

    • A aquisição de equipamentos de segunda mão e fora de linha deve ser feita com cuidado, esses instrumentos possuem manutenção difícil e cara, portando aja com cautela, verificando com cuidado o equipamento que está sendo comprado. Toque cada tecla, em todas as dinâmicas (do pianíssimo ao fortíssimo para testar sensibilidade da dinâmica, assim como o aftertouch, quando o equipamento tiver esse recurso), veja cada botão e slide, as conexões, etc.

    • A melhor maneira de saber se o instrumento é o adequado, depois de verificar se o preço se encaixa no orçamento, é tocar o instrumento. Se precisar de amplificação, tome cuidado, pois o que fica bom no sistema ou nos fones de ouvido da loja, pode não funcionar no templo ou no local no qual será usado.

    • Teclados eletrônicos são produtos ligados à tecnologia, enquanto guitarras ficam mais procuradas e caras conforme ficam velhas, obviamente desde que sejam bons instrumentos na fabricação, com os teclados isso não ocorre. Novos recursos estão sempre sendo lançados, isso faz com que o custo dos antigos caia. Portanto pense bem antes de investir uma grande soma de dinheiro num único equipamento, às vezes compensa comprar vários, dividindo os recursos, já que a venda de equipamentos mais simples e baratos é mais fácil, assim como é menor o valor que se perde com a desvalorização natural de usados.
   
     Bem, espero ter ajudado, se precisarem de informações mais específicas como modelos e marcas, entrem em contato, seguem links dos sites dos principais fabricantes de instrumentos musicais.
Zé Osório, blog Como o ar que respiro (reflexões cristãs diárias)
(Este material é original, está autorizada a divulgação, seja pela internet ou outros meios, mas por favor, informe a fonte.)

Minha história com a música

Em 1969, aos nove anos de idade, meus pais me colocaram para aprender piano. Fiz oito anos de piano erudito, até 1976, ano em que me converti, em Santo André/SP. Em 1977 me preparei para vestibular, ingressando na PUC Campinas em 1978 para fazer a faculdade Análise de Sistemas. Nesse ano eu comecei também o curso de Bacharel em Teologia, no Seminário Batista Independente, também em Campinas.
Já compunha peças eruditas de pequeno porte quando comecei a frequentar a igreja evangélica, a 1a. Igreja Batista de Santo André sob a liderança do pastor Edson Queiroz. Lá, com a mocidade, comecei tocar os hinos e os cânticos mais jovens, experiência que me ensinou a tirar músicas também de ouvido. Dentro da Igreja Batista (CBB), convivi com a música até 1990, agora como membro da 1a. Igreja Batista de Campinas/SP, tocando com corais, dirigindo grupos, instrumentais e vocais, compondo e arranjando.
Entre 1983 e 1988, tive a oportunidade de participar da gravação de três discos, dois deles sendo a maioria das músicas, composições próprias. Foram experiências maravilhosas numa época em que entrar em estúdio era somente para músicos profissionais, tempo em que equipamentos de gravação analógica eram caros e imprecisos (comparados aos digitais de hoje).
Nos anos 1990 comecei minha experiência com a música secular, atuando como músico profissional. Toquei em bandas de baile, em bandas cover de rock, duplas sertanejas, música brasileira, música instrumental, música para balé, na noite e em cerimônias, casamentos, formaturas, festas, etc. Lendo partituras e com a facilidade de tocar também de ouvido, dentro de meus limites, sempre consegui atuar em várias “praias” da música.
O final dos anos 1990, agora em Ribeirão Preto/SP, foi muito importante pra mim, casei-me com Cláudia, nasceu minha primeira filha, Júlia, e Deus me livrou da morte, curando-me de um câncer. Nesse período Deus me deu a amizade fiel do pastor Richard Julius Sturz Jr (Edições Vida Nova), amigo que me acompanha até hoje. Ricardo me deu atenção e a consideração num momento de absoluta solidão em minha vida, foi um profeta que Deus mandou até o meu deserto para me acompanhar à Canaã. Na vida encontramos irmãos, vários, mesmo líderes competentes, muitos, mas pouquíssimos amigos, raros.
Nos anos 2000, em Americana/SP, fui proprietário de estúdio de gravação, agora na era digital, e de escola de música. Tive a oportunidade de participar do Encontro do G12 que foi usado de maneira poderosa por Deus como remédio em minha vida emocional, remédio para uma ferida que me incomodava há muitos anos. Minha segunda filha, Laura, nasceu nesse período, se minha felicidade familiar já era grande, ficou perfeita com esse mimo que Deus me Deus. Contudo, foi somente nessa época que comecei a ter uma experiência de “adoração instrumental”.
  Essa experiência começou na Igreja Batista da Redenção, em Americana/SP, sob a batuta do pastor e ministro de louvor Eliseu Fúlvio. Foram dois anos de trabalho pioneiro, começando uma igreja, onde a força para desempenhar o trabalho do Senhor, tocando, orando e compartilhando a palavra, foi derramada sobre minha vida de maneira fantástica. Nunca me esquecerei dessa vivência e sempre serei grato a Deus, ao pastor Eliseu e ao pastor Alex Sandro pela oportunidade.
Atualmente vejo a experiência de "adoração instrumental" amadurecendo, ministrando em uma igreja Assembleia de Deus na cidade de Itu por alguns anos me ensinou bastante, mas com certeza Deus ainda tem muito para derramar sobre a minha vida, e tenho bastante ainda para aprender sobre uma adoração excelente. Na verdade, depois dessa história toda, sinto que meu ministério está apenas começando, que muito de mim ainda precisa morrer para que Cristo viva com liberdade em meu coração e seja engrandecido. Agora, com minha filha Maria Júlia, tocando guitarra comigo e ministrando na casa de Deus, estou empolgado com o que virá.
Gostaria de acrescentar somente uma coisa: espero em Deus, no tempo dEle, ainda poder receber algum retorno financeiro pelo ministério musical que desempenho, afinal de contas, que músico não sonha em poder tocar somente na igreja, adorando ou evangelizando? Contudo, até o dia de hoje, e estou com 53 anos, nunca recebi um centavo pelo trabalho que desempenhei na igreja, também nunca cobrei isso de ninguém. Deus, contudo, tem me abençoado sobremaneira, em todas as áreas, principalmente na familiar, nada nunca me faltou, mas tem sobrado misericórdia do Senhor para aprovar meu ministério com a unção que a tantos tem abençoado.
O conselho que dou aos mais novos (também aos mais maduros), é que estudem, trabalhem, mantenham-se com sua profissão secular, e se doem para o ministério de forma gratuita e sincera, façam suas próprias tendas, como ensinou o apóstolo Paulo. Aperfeiçoem também seus talentos com estudo e exercício, se almejarem o profissionalismo, para então poder esperar em Deus por um retorno financeiro. Pode ser mais sincero atuar como músico profissional secular, do que ficar trocando trabalho espiritual por dinheiro, mas é claro que isso que digo está debaixo da vontade e da provisão de Deus, Deus sabe de cada um e do que Ele quer fazer com a vida de cada um.
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Certezas que tenho sobre homossexualidade


Não sou médico, pastor ou psicólogo, e também não sou nem fui (se é que isso é possível), homossexual, como você pode ver na aba “Sobre mim” aqui no blog, tenho cinquenta e três anos, estou bem casado, e tenho duas filhas. Não, meu caminho não foi fácil, mas hoje posso ter certeza de algumas coisas, não de todas, uma delas é a felicidade que tenho com minha esposa e com a minha sexualidade.
Compartilharei nesta reflexão uma opinião, que pode ser mudada sim, estou aberto à vida, ao conhecimento e principalmente ao Espírito Santo, o maior de todos os ensinadores. Portanto, o que espero, é que você só considere esta opinião, junte-a a sua e a outras tantas, então coloque tudo isso diante de Deus, em oração, e peça a orientação dele.
Meu objetivo é incentivar as pessoas a pensar, a orar, a amar, a viver sem hipocrisia ou morosidade intelectual e espiritual. Os tempos pedem crentes maduros e lúcidos, isso é oferecer a Deus um culto racional.

1. Cristãos versus mundo: homofobia inventada

Homossexualidade ou homoafetividade, assunto que tem movimentado a opinião pública, os políticos e evangélicos no momento. Por um lado eu vejo os não cristãos, em sua maioria, querendo convencer a sociedade de que os cristãos são homofóbicos, uma mentira, tentando fazer o direito da minoria ser prioridade sobre o da maioria, um atentado à democracia, proclamando uma guerra que não existe.
Por outro lado vejo os cristãos defendendo bandeiras de princípios tradicionais cristãos, se levantando politicamente, o que é positivo, mas também entrando numa guerra que não é legítima do cristianismo. E ainda por outro lado, vejo o diabo ganhando com tudo isso não só pela mentira que os não cristãos divulgam como pelo posicionamento equivocado que os cristãos têm.
Qual é o lado de Deus nesta história toda? Bem, o lado de Deus está revelado no evangelho: amor ao pecador e não ao pecado e possibilidade de salvação e comunhão com Ele através de Jesus. Isso parece simples, mas é tudo o que é necessário para que o homem tenha paz.
Os cristãos, muitos dos quais que atualmente gostam tanto de se colocar como vítimas, não assumindo a responsabilidade de seus erros e nem a atitude cristã de humildade e de amor, que é semelhante à disposição que muitos homossexuais tomam, também se colocando como vítimas, esses cristãos não se aprofundam no assunto, não só da doutrina bíblica, mas principalmente no convívio real com pessoas com a questão homoafetiva.
(Como em outras reflexões, não tratarei o assunto homossexualidade como doença, formação e muito menos como opção, enfim, não o verei como um problema, mas como uma característica, no momento é como sinto que devo tratar a questão, sinto isso com o coração em absoluta paz com Deus.)
Percebo o medo, disfarçado de indiferença e de arrogância, que os crentes evangélicos têm do assunto principalmente quando compartilho reflexões a respeito neste blog e no Facebook. Isso não é nada mais, nada a menos, que efeito de uma hipocrisia que produz tanta incoerência no meio cristão. Fala-se de amor, mas não se vive o amor, falar-se de milagre, mas não se busca o maior de todos os milagres que é o amor.
Não, não quero cair no discurso dos desviados, que deixando o caminho de Deus, não falam mais de juízo, de santidade, mas só pregam o amor, não o amor de Deus, mas aquele da filosofia, da poesia, das religiões em geral. O amor de Deus é um amor responsável, que ama o errado, mas deixa claro que se ele não tomar jeito terá um fim longe de qualquer manifestação de amor de Deus. Deus é amor, mas Deus é justiça: Jesus é a plena manifestação do amor e da justiça de Deus.
O cristão não vive o amor quando declara nos púlpitos que homossexualidade é abominação ao Senhor, mas nunca realmente andou com um homossexual, ouviu sua dor, acompanhou por anos sua dificuldade enorme em ter atração pelo sexo oposto. A grande maioria esmagadora dos cristãos não sabem nada sobre os homossexuais, nada mesmo.
Os que os cristãos pregam são textos bíblicos radicais e que talvez não se prestem, não com a interpretação que eles fazem, à realidade sociológica atual. Quero deixar bem claro, neste momento, que eu acredito na Bíblia em sua totalidade, no cânon de sessenta e seis livros que Deus permitiu que fossem oficializados como inspirados por Deus na Bíblia usada pelos protestantes, evangélicos, crentes, seja lá qual for o nome que se dê aos cristãos que não são católicos ou ortodoxos.

2. Conveniência na obediência das leis

Contudo, quem estuda a Bíblia com seriedade e lucidez sabe que existem muitas “regras” que a Bíblia orienta que não são praticadas. Mesmo aquilo que era considerado abominação no antigo testamento (veja reflexão Abominação), não o é mais, mas prefiro evitar exemplo do antigo testamento já que as orientações não eram somente espirituais, mas eram físicas, médicas e higiênicas. Com o evangelho e principalmente no mundo atual, com o desenvolvimento científico, muitas orientações não são mais relevantes.

(Sobre orientações que a Bíblia dá no novo testamento e que não são seguidas, não pelo consenso das igrejas chamadas de evangélicas, cito alguns exemplos:
- o véu que a mulher deveria usar nos cultos (I Coríntios 11.5);
- a orientação mais severa de Paulo de que as mulheres não deveriam sequer falar nos cultos (I Coríntios 14.34);
- a orientação de que os escravos deveriam obedecer e honrar seus senhores, não havendo qualquer menção à escravatura como algo errado, como se pensa na sociedade atual;
- o batismo que os vivos faziam pelos mortos (não está no apócrifo Macabeus não, mas em I Coríntios 15.29);
dentre outros.)

Contudo, meu objetivo com esta reflexão, como próprio nome diz, é confessar, com coragem, já que a maioria dos cristãos não pensa sobre o assunto e muito menos revela o que realmente acha, as certezas que tenho. Não, não estou fechando o assunto para o meu coração, estou aberto para mudar de opinião caso o Espírito Santo me convença disso, mas saiba que eu penso assim baseado em fatos, na realidade de caminhar com pessoas com esta questão e principalmente na realidade de caminhar com Jesus.

3. Cura emocional para os que buscam a Deus com humildade

A primeira coisa que gostaria de dizer é que como tudo na existência humana, talvez seja impossível estabelecer-se uma regra, não depois que a psique humana começou a ser olhada, estudada, respeitada e tratada, existem casos, casos e casos. Não constatar isso é fechar os olhos não só para as pessoas e para a vida, mas para si mesmo. A generalização é sempre míope, encerrar o assunto homossexualidade numa gaveta, colocando todos os que vivem essa questão como errados e contra o plano original de Deus para homem e mulher, é algo que não cabe no ser humano do século XXI. As coisas já não são e nem precisam ser, tão simples assim, e isso não significa que estamos desprezando os ensinamentos bíblicos como absolutos e atemporais. Significa que Deus deu ao homem moderno, através das ciências, da psicologia, da medicina, etc, mais ferramentas para conhecer a profundidade e extensão de sua sabedoria, recursos que os homens antigos não tinham (e nem podiam ter).
A sexualidade homoafetiva pode ser expressada por vários motivos, acredito sim que em muitos casos pode ser revertida, já vi casos reais assim. Incluo nesse caso pessoas traumatizadas por algum motivo com o sexo oposto, essas podem ser literalmente curadas e de forma efetiva. Isso acontece, obviamente, com humildade, com o caminhar com Jesus, com liberação e posse de perdão, através da vida com Deus. Mas mesmo nesse caso, a complexidade do ser humano sempre oferecerá dificuldades, dores e pesares que só quem vive sabe.

4. Libertinos e promíscuos: Sodoma e Gomorra

Existe também outro tipo de homossexualidade, e esse tipo, no meu entender, é aquele que a Bíblia cita quase que na maioria dos textos. Refiro-me à busca desenfreada por prazer físico, com o objetivo de saciar uma fome espiritual. Necessidade do espírito não é saciada com prazeres do corpo, isso é impossível. Nesse caso as pessoas são levadas, como diz em Romanos 1.24-32, pessoas que não conhecem a Deus e já se desviaram dele de maneira extrema, as suas próprias paixões, indo até as últimas consequências para obter o prazer carnal. Bacanais e orgias, festas com sexo coletivo onde todos se relacionavam sexualmente com todos, homens, mulheres e mesmo animais, sempre existiram. A homossexualidade existente nesse ambiente é pecado sim, deve ser confessado e deixado, essa obsessão, assim como tantas outras, só pode ser curada pelo sangue de Cristo.
Contudo, julgar todos os homossexuais como promíscuos é generalização burra e preguiçosa, o mesmo tipo de engano pode acontecer se acharmos que toda relação sexual de héteros é promiscuidade. Mesmo os homossexuais “verdadeiros”, e uso esse termo (verdadeiros) com cuidado, podem ser promíscuos. Então o pecado não é a homossexualidade, mas a promiscuidade. Existe prostituição tanto entre gays quanto entre heterossexuais, e em ambos os casos é pecado, é doença que pode e deve ser curada.
Penso que os textos bíblicos que relatam sobre Sodoma e Gomorra (Gênesis 18 e 19), dizem respeito à promiscuidade, assim como à falta de hospitalidade que os sodomitas tiveram por não receber bem Ló e os anjos (algo que era levado muito a sério no oriente naquele tempo), e não necessariamente à homossexualidade.
Na verdade o que mais nos choca com relação à homossexualidade é a relação física que pode acontecer, e principalmente a relação entre homens homossexuais, a feminina não é tomada com tanta severidade, não por uma sociedade machista e viciada em sexo como a nossa. Mas nessa interpretação já existe malícia, quando se acha que o que busca relacionamento homossexual o busca somente pelas possibilidades “diferentes” de obtenção de prazer carnal.

5. “Verdadeiros” homossexuais?

Não, não é assim que funciona. A homossexualidade “verdadeira” (e novamente peço cuidado com o termo) o é no coração, na alma, na essência do ser humano, e não nos órgãos genitais. Conheço pessoas que nunca tiveram uma relação sexual com o sexo oposto, e essas têm verdadeira ojeriza por esse tipo de relação, tanto quanto os heterossexuais têm pela relação com o mesmo sexo. Essas pessoas se apaixonam, sim, e desejam, com todo o seu coração, alguém do mesmo sexo. Elas são diferentes, uma diferença que a ciência ainda não encontrou, ou está partindo para encontrar, no cérebro, mas que notamos em tantos casos no corpo, nas formas, no rosto, nos quadris, no jeito de andar e de falar, e isso desde a mais tenra infância.  
Não, muitos casos nunca sofreram qualquer tipo de abuso e tiveram uma criação afetiva equilibrada, mas mesmo assim não sentem atração pelo sexo oposto. Se você, crente, não sabe disso é porque não olhou direito, não com o olhar de preconceito e reprovação, mas com o olhar maduro do amor.
Contudo, novamente digo com relação à complexidade da psique humana, fica muito difícil dizer quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Fica difícil entender se as pessoas querem relacionamentos com o mesmo sexo porque tiveram abusos do sexo oposto, ou se por preferirem relação com o mesmo sexo se sentem abusadas pelo sexo oposto.
O que eu sei é que tanto héteros como gays sofrem abusos sexuais, um hétero não se torna gay por causa disso, mas se torna uma pessoa reprimida e machucada, e o gay, por sua vês, continua sendo homossexual, mas um homossexual machucado, e assim como o heterossexual, uma pessoa violenta e passível de também cometer abusos, já que se dá o que se recebe.
A resposta é sempre a mesma: existem casos, casos e casos. Como descobrir que caso é qual caso? Da única forma que se pode saber a verdade sobre tudo nesta vida, na luz de Deus. Com coragem vou fazer uma afirmação, coragem que preciso ter como crente convertido há quase quarenta anos, ligado oficialmente a uma igreja tradicional e legítima, levita atuante no ministério musical: eu acredito, sim, que existam pessoas que têm uma natureza que lhes orienta a ter uma relação afetiva somente com pessoas do mesmo sexo. Acho também que existem outras pessoas para as quais o relacionamento sexual físico não é assim tão importante como é para a maioria (se isso é normal ou não, não sei, bem, o que é normal afinal de contas?).

6. Uma sociedade machista, os eunucos e o profeta Daniel

Permitam-me compartilhar uma interpretação que faço que tenta explicar porque havia leis tão sérias sobre a questão homossexualidade. Não vou me referir aqui à promiscuidade homossexual, mas a simples relação afetiva. Nos tempos do antigo testamento, não havia máquinas, indústrias, mecanismos eletromecânicos que faziam o trabalho produtivo, não sofisticados como os que passaram existir a partir da revolução industrial. Agricultura e pecuária eram trabalhos executados por mão de obra humana e animais.
Além disso, a manutenção de bens, terra e gado, era feita através, muitas vezes, de confrontos bélicos. Nessa sociedade a família era considerada abençoada quando tinha muitos filhos, e principalmente, filhos homens. Esses por sua vez deveriam se relacionar com mulheres para ter mais filhos. Filhos eram a mão de obra para a agricultura e para a pecuária, assim como soldados para a guerra. Uma relação homossexual não interessava porque não gerava filhos, isso não quer dizer que homossexuais não eram úteis, eram sim, e de maneira bem especial.
Mas será que aqueles que não têm atração pelo sexo oposto deveriam então viver como assexuados, será que isso não seria um caminho de Deus para algumas pessoas? Não sei, não sei se as pessoas, pela menos a maioria delas, conseguem viver assim, sublimando os desejos e instintos... E se puderem, elas não deveriam então dedicar suas vidas á caridade, ao sacerdócio católico (que pede castidade de seus sacerdotes)? Por que alguns homens eram escolhidos para serem eunucos, função que tinha entre outras responsabilidades administrar os haréns? Com certeza era conveniente para os reis ter assexuados cuidando de suas esposas.
Daniel, um dos célebres profetas do antigo testamento foi escolhido como eunuco, veja em Daniel 1.3-9 a respeito das habilidades e privilégios desse homem de Deus. Não podemos dizer com certeza que Daniel era homossexual, mas sabemos que ele era eunuco, e um eunuco com conhecimentos especiais, que foi honrado na corte do rei Nabucodonosor.

7. Levantando bandeiras

Tenho a coragem de dizer, que como cristão, até o momento eu acredito que possam existir pessoas na condição homoafetiva, que só conseguem se relacionar afetivamente com pessoas do mesmo sexo. Nessa relação não está implicada, necessariamente, uma ligação física, sexual, mas como diz o termo, afetiva. Bem, a coisa mais natural do ser humano é sua necessidade não apenas de amigos, o que já é algo precioso e necessário, mas de um amigo especial, mais próximo, com quem possamos dividir as maiores intimidades, com quem possamos compartilhar um teto, bens, e a maior de todas as parcerias humanas, a criação de filhos.
Contudo, não penso que seja correto os excessos, o que para os héteros pode ser o machismo ou o feminismo exacerbado, para os gays são as cirurgias para alterações em órgãos e estéticas naturais e o “travestismo” exagerado. Assim como mostra insegurança e falta de autoestima a autoafirmação de um heterossexual masculino através de exercícios físicos e uso de medicamentos (chamados "bomba") para realçar características da virilidade masculina (pelo menos de acordo com o que muitos pensam ser virilidade), ou de uma mulher heterossexual que fica viciada em cirurgias plásticas e outros recursos para atenuar suas características femininas, assim, a meu ver, age um transformista ou o que se submete a procedimentos cirúrgicos para mutilar seus corpos. A sexualidade está na alma, e esta não pode ser amputada ou maquiada.  
Assim como os heterossexuais devem manter sua privacidade afetiva na intimidade, entre quatro paredes, como se diz, o mesmo cuidado precisam ter os homossexuais. Assim como aqueles que representam a maioria, precisam ter a humildade e o carinho para com os outros, assim devem proceder os gays, que são minoria, que não são menos e nem pior, mas que não podem (ou não querem) constituir família, terem e criarem filhos legitimamente seus. Sim, casais homossexuais devem ter direito civil de compartilhar bens, assim como estão aptos, sim, a criar filhos, ainda mais num mundo com tantas crianças precisando de homens e mulheres afetuosos e respeitosos que elas podem chamar de pais.
Delicadeza, cuidado, respeito mútuo, assunção das características naturais, sejam físicas ou emocionais, tudo é deve haver, em todos, e tudo isso só é realmente possível caminhando-se com Deus, nascendo-se de novo através de Jesus, estudando e praticando a Bíblia.
A arrogância não deve haver em nenhum lado, nem nos cristãos, por saberem que são filhos de Deus, nem nos gays, por se sentirem vítimas. Vítimas todos somos, de alguma maneira, exceções somos todos, em alguma instância, mas humildes todos devemos ser para conhecer a Deus, conhecer a nós mesmos, e respeitar a todos.

8. Crente, responda algumas perguntas, por favor

Você cristão não concorda comigo? Você acha que já tem uma posição sobre o assunto e pronto? Então eu pergunto: você convive com alguém com a questão homossexualidade?
Se acha que alguém próximo a você tem a questão, esse alguém se sente à vontade para se abrir com você sobre o assunto?
E se essa pessoa se abriu com você, você já o levou a uma igreja?
Se a pessoa está na igreja, você está pronto para caminhar com ela, não esperando que uma mudança ocorra assim, num estalo de dedos, ou em curto prazo (o que realmente pode acontecer), mas você está pronto para caminhar com ela, talvez por anos?
Você realmente entende a dor de alguém que não sente atração por alguém do mesmo sexo, mas que não é promíscuo, que teme a Deus, que é convertido, e que até é líder dentro da igreja? Você acha que isso é possível ou pensa que se alguém é gay é porque vive em pecado?
A resposta que tenho é uma só: se eu entendo a minha dor, se convivo com ela diante de Deus, com honestidade, com sinceridade, eu também entenderei a dor do outro, seja ela qual for.

9. Você, gay, por favor, considere isto

Todos, todos nós temos dores, sofrimentos, questões que consideramos impossíveis. Todos também, de alguma maneira, sofremos preconceitos. Baixo, altos, magros, gordos, cabeludos, calvos, brancos, negros, homens, mulheres, gays, todos sofremos, sejam por características naturais, por enfermidades, sejam físicas ou psicológicas, por obsessões, transtornos, vícios, fraquezas.
Mesmo aquela pessoa que nós achamos mais perfeitinha, mais de acordo com as estéticas e valores sociais, no seu coração ainda haverá uma dor, um sentimento de rejeição, um complexo de inferioridade. Então não se “vitimize”, não se esconda atrás de sua dor, ou ache álibi para ela na maldade dos outros.
Busque a Deus, e não pense que isso vai ser fácil, não é não, na verdade é um trabalho que só terá fim na eternidade. Mas é no processo dessa busca que temos nosso homem interior transformado, para que se pareça mais e mais com Jesus.
Enquanto isso seja coerente consigo mesmo, busque a felicidade e a possua, sem medo, pague os preços para isso. Deus respeita quem sai de cima do muro e se posiciona, a esse ele responde prontamente. Saia do armário, venha pra luz, Deus te ama, e muito, mas você precisa se submeter à vontade dele para experimentar todo esse amor.

       (Você pode ler outras reflexões sobre o assunto em Homossexualidade e respeito.)
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Amigo

      Deus existe, sinto-o ao meu lado, não se impõe pela sua grandeza, não me repugna por ser santo, nem me invade com sua sabedoria, ele apenas espera, quieto, como o melhor dos amigos, na verdade melhor amigo só existe um, Deus.
Ao meu lado Ele vai comigo, se eu ando, Ele anda, se eu, corro, Ele corre, se eu paro pra descansar e me sento, Ele senta-se comigo. Nunca me atropela, assim como não me segue de longe, não, Ele está bem perto, esperando. Não sou eu que espero por Ele, é Ele quem espera por mim, espera que eu me cale, que eu desista, que eu pare e olhe pra Ele.
Eu não olho, não por enquanto, mas sinto seus olhos me olhando, discretos, tranquilos, olhos do Jesus homem, olhos de Deus encarnado, olhos eternos filtrados pela humanidade, pelos limites, pela carne. Sim, Jesus ressuscitou e está no céu, mas os trinta e três anos que viveu nesse mundo foram para que eu me lembra-se dEle como homem, para que fosse mais fácil pra mim achar consolo, achar Deus, achar um amigo.
Enquanto me segue eu entro na igreja, sento-me na cadeira e ouço os homens, eles gritam, emocionados, tomados, por Deus? Às vezes, mas muitas vezes só pela humanidade, humanidade que sonha, que deseja, que precisa, que mente e se engana, mas que busca com todo o coração a Deus.
Também, às vezes, os homens ouvem o que o Espírito Santo fala, ouvem e entendem, com os ouvidos da alma, entendem e conseguem verbalizar, não só sentir, e as palavras chegam até mim, são tomadas pela minha mente e deitadas sobre o meu coração.
Então, e só então, eu consigo olhar pra Deus, que está ao meu lado, não, não está no altar. Então, como que por um milésimo de segundo, eu tenho paz, eu a seguro, seguro tão forte que minhas unhas entram na carne da palma de minha mão que sangra, um sangue sem cor, sem cheiro e sem corpo. Mas é inútil, aquela sensação única, deliciosa, sobe do meu peito e escapa por entre meus dedos, como um vapor, quente e perfumado, a presença de Deus em mim.
A paz se foi, mas Deus continua perto e sempre estará assim. Não, ter a amizade de Deus não significa ter a paz que permanece, na verdade a dor e a agonia são tão grandes como as de outros homens, que correm insanos, ou esperam incrédulos e por isso nunca experimentam Deus ao lado. Contudo, mesmo quando não há paz, mesmo quando existe sofrimento, ainda assim sei que Deus está, perto de mim, calado, esperando que eu pare, que eu faça a pergunta certa, para que Ele possa então me responder.
Quando Deus fala é pouco, quando Ele responde, é tudo, quando Ele acha em mim boa vontade, é único, inefável, mas suficiente para que eu continue e encontre sentido na vida.

        (Talvez este texto não represente a reflexão triunfalista que você queria ler, nem eu vejo as coisas desta maneira o tempo todo, mas acredite, quando o escrevi procurei expressar toda a sinceridade e emoção que minha alma continha naquele momento, acho que se você pensar bem, também já sentiu assim alguma vez, mas não deixe que isso o desanime não, siga crente, Deus é fiel.)
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Homossexuais: estamos preparados para amá-los?

   Pra começar a falar sobre o assunto, primeiro gostaria de refletir sobre qual deve ser a disposição do que se põe na posição de evangelista, de entregador de boas novas aos homens, sejam os homens quais forem, tenham eles os problemas que tiverem. Isso é indiferente do posicionamento que se possa vir a ter sobre o assunto homossexualidade: se é pecado ou se não é; se é escolha, que se adquire por opção e pode então ser revertida; se é enfermidade que se nasce com ou que se adquire com a criação, mas que pode ser curada; se deve ser encarada como característica e não como doença, logo não precisa de cura.
O pregador deve saber em primeiro lugar que o Evangelho é uma porta aberta para a comunhão com Deus, para isso deve haver reconhecimento de pecado e tomada de posse de perdão do pecado reconhecido através do cordeiro de Deus, Cristo Jesus. Por meio do perdão cremos que o homem está apto a receber a intervenção de Deus em sua vida, bênçãos, curas, seja na área material ou espiritual, no corpo, na alma ou no espírito. Como porta aberta, até a morte da pessoa o Evangelho deve ser pregado a ela, com amor, com paciência, com fé, de que pode haver uma transformação poderosa em sua vida, caso ela se converta ao Senhor Jesus. Essa deve ser a segurança do pregador, sua convicção, seu princípio fundamental, pois que crédito tem o médico que não acredita em seu diagnóstico e em seu tratamento de cura?
Tendo em vista essa convicção tem-se que confiar que se a salvação pode acorrer até no último momento de vida, não podemos lançar uma pessoa a um julgamento antes do tempo. O amor ao não salvo deve ser exteriorizado principalmente pelo respeito por ele, e o que deve ser mais respeitado é sua condição de perdedor, de escravo de vícios, de detentor de uma condição que o envergonha. Sim, o pecado deve ser odiado, mas não o pecador, resumindo, nada é desculpa para que não tratemos as pessoas com amor e com respeito.
A pergunta que desejo fazer com essa reflexão é a seguinte: até que ponto a igreja evangélica está preparada para receber, conviver e tratar pessoas com a “questão” homossexualidade?
Não, a igreja não está pronta para receber essas pessoas quando de púlpito se chama homossexuais por termos pejorativos, que ofendem, humilham tais indivíduos. É preciso entender que homossexual não pode ser colocado no mesmo nível de um viciado em drogas, de um alcoólatra, ou mesmo de um promíscuo. Com alguma dificuldade as pessoas admitem ter problemas com drogas, cigarro ou álcool, mas é bem mais difícil admitir que se convive com a questão homossexualidade. Tratar essas pessoas com termos pejorativos é afastá-las ainda mais da “solução”. (Será que tal solução existe? Será que é uma doença que precisa de cura? Nem a ciência tem ainda uma resposta pra isso.)
Quem se aproveita dessa atitude de falta de respeito é o Inimigo, que fomenta ódio no coração dos homossexuais e simpatizantes pela igreja e pelo Evangelho. Outros, que foram criados dentro da igreja com essa questão, permanecem nas igrejas, mas calados, guardando para si angustiosamente um problema que lhes parece ser sem solução. Esses ou vivem toda uma vida na hipocrisia ou se afastam da igreja com a mesma revolta que os incrédulos que nunca frequentaram uma igreja.
Tratar as pessoas com essa questão de forma vulgar é uma forma de generalizar o problema, quem faz isso tem a falsa impressão de facilitar a solução, mas mesmo que seja essa a razão ainda assim não é desculpa para negar amor. Mas cada caso é um caso, existem motivos e atitudes diferentes dos homossexuais, colocar todos dentro de uma só panela é uma disposição covarde. Nem todos os homossexuais são promíscuos, nem todos são radicais violentando seus corpos com transformismos, nem todos experimentam essa situação buscando formas torpes de prazer carnal. O que existe, na maior parte dos casos, é a necessidade de ser amado, de se ter uma companhia especial para o resto da vida, muitos nem estão a procura de sexo, mas de afeto, como tantos nesse mundo, como eu, como você.
Se a maioria dos evangélicos não está pronta para receber homossexuais em suas igrejas, muito menos está pronta para conviver com eles. Você já imaginou um travesti participando de um culto com você, sentado ao seu lado? Você conseguiria conviver com um casal gay aprendendo a Bíblia junto de você numa célula familiar? Indiferente da posição que você tenha sobre o assunto, poucos teriam paciência para caminhar com essas pessoas, esperando uma interferência divina. Se receber e conviver é difícil para a maior parte dos evangélicos, mais difícil ainda é tratar essas pessoas, buscar uma cura.
Caso você não tenha concordado com a opinião que expressei aqui, por favor, faça a você só uma pergunta: você já conviveu com pessoas com essa questão? Se você conviveu, já caminhou com elas? Se você caminhou, foi durante quanto tempo? Se você testemunhou uma mudança nessas vidas, essa mudança foi duradoura? Sim, acredito que por um motivo ou por outro, muitos que caminhavam na homossexualidade mudaram de vida, mas muitos não conseguem sair desse caminho. Não, esse assunto não é simples, eu não tenho uma palavra final sobre ele, um veredicto, uma acusação ou uma defesa, muito menos uma solução genérica, contudo o Espírito Santo me orienta que devo ter amor por essas pessoas e que nesse amor, há uma solução.
Se todos devem tratar os homossexuais com respeito, muito mais aqueles que acreditam que tais pessoas podem mudar de vida, infelizmente, na maior parte das vezes, são esses justamente os que menos demonstram respeito, a maioria fala de um assunto que na verdade não conhece, não respeita porque nunca esteve realmente próxima dessas pessoas para amá-las da maneira como elas precisam ser amadas.
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Quem somos?

Sabe, cristãos genuínos (evangélicos, crentes, protestantes, pentecostais...) não são pessoas sem crítica, que não pensam, que não estudam, que não apreciam arte e literatura, que odeiam ateus, evolucionistas, idólatras e homossexuais (e não existe qualquer juízo de valor ao citar esses grupos), que se vestem com mau gosto, que sustentam e seguem cegamente líderes mal intencionados, que se posam de "santarrões", que se privam disso ou daquilo, que não brincam e que não convivem com gente diferente delas. Não, isso não é uma defesa, o Evangelho não precisa de advogados, antes ele dá aos homens a oportunidade de serem suas testemunhas, essas são pessoas comuns, como eu e você, que se aproximam de Deus e que se relacionam com Ele dia a dia.
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"Aluga-se motivo de vida"

      Não satisfeitos por tirar de nós as coisas boas que temos, tem gente querendo roubar de nós até os nossos problemas. Até a nossa infelicidade eles tentam arrancar de nós, como se não tivéssemos direito nem de ter as nossas próprias dificuldades.
      Como? Se contamos um problema, eles sempre têm um problema maior para contar. Se dizemos que estamos com um dente cariado, eles têm um canal para tratar, se contarmos que estamos gripados, eles estão com pneumonia, se quebramos um dedo, eles arrumam um jeito de quebrar as duas pernas.
      Pior ainda são aquelas pessoas que acham motivo para viver sofrendo por causa do sofrimento dos outros, fazendo um jogo de culpa interminável. Você então fica numa situação que parece que nem pode sofrer sua dor, já que ela pode fazer sofrer a outra pessoa. Não estou sendo ingrato com aqueles que se preocupam com a gente, mas isso tem limites.
      Seja como for, dá vontade de colocar no jornal o anúncio “Aluga-se motivo de vida”. Pode ser qualquer um, sempre tem gente interessada, já que tem muitos sem motivos para viver, então ficam cobiçando os motivos dos outros. Eu sei que isso é mentira, todos nós temos motivos para viver. 
      Ocorre é que muitas pessoas não se olham no espelho, não conhecem sua identidade.
Seria cômico se não fosse trágico, mas tem gente querendo até nossos problemas, afinal para quem não tem nada até uma dor interessa, quem não tem programa para domingo de manhã, visitar o pronto atendimento para resolver uma doença imaginária pode ser um programa legal.
      Você já viu aqueles caras que só namoram garotas problemas? Ou meninas que só se apaixonam por cafajestes? Não que garotas problemas e cafajestes não tenham direito de amar. Contudo tem gente que não se apaixona pelas pessoas mas pelos problemas delas. Isso é perigoso já que nesse caso não se quer o problema resolvido, é necessário mantê-lo já que sem ele a pessoa amada perde a graça, se é que isso é amor.
      Sem falsa modéstia, eu tenho motivos e de sobra para viver, sejam bons ou maus, nada além do normal. Acontece que tenho espelho em casa e me olho sempre. Mas não é por causa disso que posso usar meus problemas como insígnias para aumentar a minha patente como ser humano. Ter mais problemas não faz ninguém melhor que o que tem menos problemas.
      O melhor espelho que existe é se relacionar com Deus. Só nos conhecemos de verdade quando conhecemos a Deus. Identidade é isso, se conhecer, tê-la nos faz pessoas que não precisam sonegar outras pessoas para se sentir melhor. Se sentir bem, por sua vez, não é não ter problemas, ou não ter inseguranças. Não existe nada de errado em ter inseguranças e muito menos em admiti-las. Contudo, quando olhamos para Deus, nós conseguimos nos ver e achar o melhor motivo de todos para viver.
      Quer motivo de vida? Caminhe com Deus, olhe para ele, tudo o mais fica menor, menos importante. O mais importante é se relacionar com o Senhor, saber o que ele pensa de nós, Deus sempre acredita na gente, em nossa superação.

Abominação

Os versículos 1 e 2, do capítulo 4, do livro do profeta Jeremias, dizem o seguinte sobre o termo abominação: “Se voltares, ó Israel, diz o Senhor, volta para mim, e se tirares as tuas abominações de diante de mim, não andarás mais vagueando, e jurarás: vive o Senhor na verdade, no juízo e na justiça, e nele se bendirão as nações, e nele se gloriarão.”.
      Outra versão do texto diz: “"Se você voltar, ó Israel, volte para mim", diz o Senhor. "Se você afastar para longe de minha vista os seus ídolos detestáveis, e não se desviar, se você jurar pelo nome do Senhor, com fidelidade, justiça e retidão, então as nações serão por ele abençoadas e nele se gloriarão."”.

      Abominação, você achou a palavra forte? E é mesmo, o dicionário a define como algo repulsivo, contrário à moral, ligado à idolatria, algo nojento. Mas estamos falando aqui de abominação aos olhos do Senhor, isso aumenta ainda mais a seriedade da palavra.
      O termo abominação nos arremete a dois extremos, ou achamos que não tem a ver conosco, visto que é algo muito exagerado, ou pensamos que nos acusa em tudo, visto que a Bíblia usa esse termo para muitas coisas. Os livros Levítico e Deuteronômio contêm muitas orientações sobre o que o povo de Israel não deveria fazer por ser considerado abominação perante o Senhor:

      “E, se uma pessoa tocar alguma coisa imunda, como imundícia de homem, ou gado imundo, ou qualquer abominação imunda, e comer da carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, aquela pessoa será extirpada do seu povo”, Levítico 7:21.
      “Também todo o réptil, que se arrasta sobre a terra, será abominação, não se comerá”, Levítico 11:41.
      “Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação, certamente morrerão, o seu sangue será sobre eles”, Levítico 20:13.
       “Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher, porque, qualquer que faz isto, abominação é ao Senhor teu Deus.”, Deuteronômio 22:5.
      “Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto, porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus”, Deuteronômio 23:18.
      “Maldito o homem que fizer imagem de escultura, ou de fundição, abominação ao Senhor, obra da mão do artífice, e a puser em um lugar escondido. E todo o povo, respondendo, dirá: Amém”, Deuteronômio 27:15.

      Havia uma diversidade de coisas que era considerada abominação, referente a muitas áreas da vida, como alimentação, relação sexual, idolatria, costumes, etc. Tudo era colocado no mesmo nível. Para realmente entender isso, temos que deixar a preguiça espiritual que nos faz ver a Bíblia simplesmente como um livro de leis. Isso facilita o entendimento somente daqueles que não querem buscar a Deus para saber qual é o princípio que existe por traz dos mandamentos. É mais fácil também para aqueles que ignoram totalmente o contexto histórico no qual foram dadas essas leis.

      Deus estava construindo uma nação, nação essa que teria a missão de dar testemunho dele para o resto do mundo. Então Deus tratou de proteger Israel de todas as maneiras. As orientações do Pentateuco dizem respeito não somente à vida religiosa do povo, idolatria, mas também à saúde física, alimentação e higiene, assim como à vida íntima, sexualidade e casamento.
      Veja que naquele tempo não havia um sistema público de saúde, Deus tinha que orientar o povo em todas as áreas, em detalhes, e com seriedade, punindo os que não obedecessem tais orientações. Se não fosse assim, o povo teria sucumbido. As orientações médicas foram tão certas que durante a idade média, quando a chamada peste negra assolou a Europa, o povo judeu sofreu menos com a epidemia, visto que obedeciam as orientações de Deus com relação à higiene, dadas em seus livros sagrados.
      Para saber o que Deus quer falar conosco hoje, através daquilo que ele permitiu que fosse registrado no cânon de sessenta e seis livros da Bíblia protestante atual, é preciso entender o princípio existente no texto, mais do que o mandamento explícito que pode ser entendido através da interpretação ao pé da letra.

      O princípio, por trás de todas as abominações, é um só, santidade, em todas as esferas. Por quê? Porque é isso que Deus pede de uma nação levantada como sacerdote para o mundo. Mas será que isso era somente para aquele tempo? O que diz I Pedro 2:9? “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. O povo escolhido de Deus não é mais uma nação física, política, mas espiritual, já que de todas as nações Deus levanta sacerdotes para anunciarem suas obras. Desses Deus requer santidade.
      Contudo, tenha cuidado, não estamos mais debaixo da lei, a lei tinha que ser simples e geral, para que o povo da época do antigo testamento entendesse e obedecesse. Hoje, na dispensação da graça em que vivemos, as coisas funcionam um pouco diferente, o ministério é pelo Espírito Santo. É o Espírito quem nos mostra a vontade de Deus, esse ministério não é mais limitado à letra, mas revelado em sua plenitude em nossos corações.

      “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata e o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória, como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.”, II Coríntios 3:6-9.
      Não saiamos por aí julgando as pessoas conforme a lei, antes, busquemos em Deus o discernimento. A lei do dente por dente e olho por olho foi substituída pela lei do amor, da misericórdia. O homem evoluiu intelectualmente e socialmente, e ungido pelo Espírito Santo de Deus, ele pode entender coisas que os israelitas do antigo testamento não poderiam.

      Contudo, não pense que no ministério do Espírito as coisas ficaram mais fáceis, não ficaram não. “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo, e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”, Ezequiel 36:26-27. Se o coração é quem conhece a intimidade de Deus, a santidade deve começar nele. Agora adultério, não é o pecado exteriorizado, a ação em si, mas o simples sentimento de adultério já é considerado adultério. “"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”, Mateus 5:27-28. Portanto o entendimento do que é abominável aos olhos do Senhor também mudou.
      Não vou entrar no mérito de cada mandamento que cita abominação, principalmente na área de sexualidade, há muitas coisas a serem consideradas hoje, no século XXI. Porém, só para citar alguns exemplos, rã, que é um réptil, é um tipo de carne com a qual as pessoas se alimentam, hoje em dia. Devidamente preparada, não tem nada de não higiênico nisso. Mas isso era considerado abominação, no antigo testamento. Com relação às vestes, hoje as mulheres usam calça comprida, uma roupa originalmente masculina, algo que também seria considerado abominação.

      Bem, se obedecemos uma lei, devemos obedecer todas, mas não é assim que fazemos. Agimos com uma parcialidade conveniente, algumas coisas são consideradas abominações, e outras não. Por quê?

      Mas o entendimento das boas novas do evangelho é um só, buscar o discernimento do Espírito, dentro do coração, não mais obedecer cegamente à lei. “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras”, Mateus 16:27. Todavia, vou deixar um versículo que nos faz pensar um pouco mais nas leis do velho testamento, “"Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas, não vim abolir, mas cumprir”, Mateus 5:17.

      Nada que existe na Bíblia está lá por acaso. Deus tem um propósito, mesmo com os mandamentos que nos parecem mais retrógrados e fora do contexto atual, mesmo que chamar algumas coisas de abominação nos pareça um exagero. Não vou dar respostas prontas para todas as questões, nem as tenho, que fiquem as dúvidas, as falsas contradições, pois Deus não se contradiz, nós sim. Que nós não usemos a Bíblia como uma lista de certos e errados, mas como um texto a ser entendido com os joelhos no chão, em oração e clamor, no Espírito do amor.

      “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”, Hebreus 4:12.   

Ter

      Liberdade somente existe quando se pode escolher o que não se quer fazer. Se digo que sou livre, mas faço tudo, então sou escravo, escravo de tudo. O livre faz somente uma parte das coisas, a melhor parte, que escolheu fazer. A melhor parte é aquilo que nos deixa presos a Deus, é o bem. Não existe liberdade acima de tudo, do bem e do mal. Deus está acima de tudo e ser livre é ser servo de Deus, somente presos a ele é que somos livres.

      Bem, ou se é 100% dele, ou se é do mal. 99% de bem, ainda é o mal, já que 1% de mal faz tudo ser do mal. O bem vem de Deus, é feito em Deus e é oferecido para Deus. As três coisas têm que acontecer concomitantemente para que haja bem, sendo assim o fim não justifica os meios. Algo que se originou do mal não perde a maldade por ser oferecido ao bem. Por outro lado, algo que nasceu do bem perderá sua benignidade se for dedicado ao mal. Uma casa construída com tijolos maus, não será boa só porque abriga o bem após a sua construção. Por outro lado, usar bons tijolos na construção de uma casa, não a fará boa, se a casa for usada para o mal após construída.

      Prazer, ninguém disse que servir a Deus é não usufruí-lo. Sempre seremos atraídos pelo prazer. Contudo, a satisfação que a alegria espiritual dá é o único tipo de prazer que é 100% bem. O prazer da carne e da alma sempre termina e findando ele, fica a dor. Dor é não querer sentir dor, o prazer da carne e da alma sempre está lutando para não se acabar, mas ele se corrompe em si mesmo e isso causa dor. O prazer do espírito, enchido com o Espírito de Deus, não luta, não segura, não se prende, ele simplesmente é, existe, descansa, se solta, deita nos braços de Deus. O corpo envelhece e a alma se entedia, o espírito cheio do Espírito de Deus voa e se expande, infinitamente.

      Aventura é querer conhecer a Deus. As entidades do mal, os demônios, nada sabem, nada podem criar. O mistério que elas vendem aos homens é criado pela curiosidade dos próprios homens, pela sede que eles têm de Deus. As entidades apenas repetem as questões que ouvem do espírito humano. A eficácia da sedução não está na capacidade de quem seduz, mas na qualidade de ser seduzido que existe no homem. Quando a sede do homem é saciada pela presença do Espírito Santo, os demônios perdem as forças. A alma do homem, essencialmente curiosa, sente prazer em viajar nas questões eternas, as espirituais. Ela sabe que essa é a maior das aventuras, porque esse é o caminho para se conhecer a Deus. O Espírito Santo responde a todas as questões, e a melhor resposta é a que dá contentamento mesmo quando não recebe resposta alguma.

      Destino, por mais que tentemos não podemos fugir daquilo que nos tornaremos no final de nossa existência natural, o que levaremos em nossa identidade para sempre. Destino é o lugar de chegada da essência humana, essência essa que vem conosco do outro lado da eternidade, quando nascemos. O destino fica preso entre a porta de entrada e a porta de saída, início e fim da nossa única encarnação. Existir é ser testado a responder uma única pergunta: queremos caminhar com Deus? A mesma pergunta se repete vez após vez, em tempos e espaços distintos, durante toda a nossa vida neste mundo. Deus, para quem o tempo é um presente constante, sempre sabe dessa resposta, portanto conhece o nosso destino e acredita em nós, em todo o tempo.

Ser

Quando eu era jovem, tinha todas as respostas, hoje só tenho algumas perguntas”. No caminho da vida, começa-se dando respostas para tudo. Contudo a maturidade é achada quando se descobre quais são as perguntas que realmente importam.
      Queremos conter a existência em nossa mente, contudo as dimensões do viver podem apenas ser sentidas, não compreendidas.
      Temos o dever de questionar, sempre, mas não temos o privilégio de receber respostas, na maioria das vezes. As perguntas certas são aquelas para quais os seres humanos nunca encontrarão respostas. Então por que fazê-las? Para se libertar.
      O coração, não o órgão de carne, propulsor do nosso sistema sanguíneo, mas o abstrato, centro de nossas emoções, deve ser a caneta que registre nossos dias. Ele está sempre em expansão, sempre atento. A mente não, ela se apaga como uma vela, ensimesma-se. Mas quem pode maquetear o infinito intangível?
     Responder é encerrar, cortar, mutilar. Perguntar é lançar-se no caos de todos os mundos, natural e sobrenatural. Todavia não existe sobrenaturalidade, tudo é natural para quem é livre, e o caos existe apenas do lado de dentro do espelho, já que esse é limitado para refletir o todo.
      Somos espelhos oblíquos e franzinos, refletindo o contínuo com incapacidade intrínseca. Nessa limitação, nos pomos no direito de nos achar deuses. Enganamo-nos, crianças que somos, brincando de construir castelos de areia com poeira de estrelas, fina e delicada como os sonhos do homem.
      Quando amamos, somos espelhos refletindo outros espelhos. Impossível é para um espelho reconhecer seu semelhante. O engano se multiplica em proporções geométricas, um refletindo no outro aquilo que o outro reflete de si mesmo. Somente a eternidade, que está do lado de fora, é quem pode abraçar todos esses refletores, sujos, medíocres e insanos.
      Ao homem não foi dado o direito de desconstruir a decadência da existência, decadência que ele mesmo escolheu. Contudo, a curiosidade desmesurada, o efeito colateral dessa escolha, é quem o lança em uma aventura incrivelmente prazerosa pela interior de seu próprio coração.
      Doce equívoco é pensar que queremos viajar pelo espaço, dentro de uma espaçonave. Queremos apenas respostas para a dor latente de nossas almas. O Sol está no nosso peito, não no meio do dia, a Lua, nos nossos olhos, e as estrelas? Slides antigos, ilusões do passado projetadas num futuro que talvez nunca venha a existir.
      “Eu pensei e pensei, filosofei, me enganei, parei, me calei, tornei então a refletir. Busquei palavras sofisticadas, que dissessem mais que aquilo que eu podia dizer, que convencessem os vaidosos, os que buscam apenas sons que agradam seus ouvidos, os incrédulos, que se perdem nas elucubrações, que se viciam nelas, buscando uma viagem impossível dentro do entendimento humano, buscando o saber. Então concluí que o que não se sabe, não é para se saber, mas apenas para se perguntar, esperando que um dia seja respondido por Deus”.   

Seguindo o Deus que me seguiu

      Lembro-me do início da minha caminhada com Deus, quanta sinceridade, quanta vontade de servi-lo, quanto evangelismo a tempo e fora de tempo. Havia tanta busca de santidade, dos dons espirituais, de ser parecido com Deus. Eu tinha dezesseis anos, tanta culpa no coração, tantas feridas para serem, antes de curadas, conhecidas. Quanta ilusão, tanta ingenuidade.
      Eu e minha irmã nos convertemos juntos, e, no início, como buscávamos por reuniões de oração, mais avivadas que aquela que ocorria na igreja protestante tradicional da qual éramos membros, queríamos a unção que os apóstolos receberam no livro de Atos. Que anseio por falar em línguas, por ter visões, por ouvir profecias. Toda essa vontade se traduziu num ingresso imediato em um seminário teológico, queríamos ser pastor e missionária, separados para a obra.
      Muita coisa aconteceu depois, não, nós não estávamos preparados para servir no ministério da igreja em tempo integral. Uma grande prova de amor de Deus por nós, de que ele conhecia a nossa sinceridade, foi que ele não permitiu que tivéssemos ministérios superficiais, que acobertassem vidas hipócritas, repletas de pecados secretos. Contudo, Deus seguiu conosco. Digo que Deus me seguiu, não eu que o segui, foi ele quem se pôs atrás de mim, por meus caminhos estranhos.
      Um dia eu parei, parei de fugir, parei de me procurar, então vi que Deus não estava longe, não, estava do meu lado, me esperando. Quando parei, ele se pôs a falar comigo, e eu, enfim, consegui ouvi-lo. Ele limpou minhas mãos, meus pés, meu coração. Ele me ajudou a encarar toda a frustração que eu acumulei, à medida que fui verificando que não conseguia obedecê-lo, não com as minhas forças, não do meu jeito.
      Então o Senhor começou a me curar, primeiro foram as feridas da infância e da adolescência, aquelas que os outros me fizeram, aquelas feridas que deveriam ter sido tratadas lá no início de minha conversão. Depois ele curou as feridas que eu mesmo me tinha infligido, porque na caminhada sem rumo que eu me coloquei, eu cometi meus erros, me machuquei e machuquei muita gente. Percebi então que eu já não era um adolescente perdido, mas um adulto responsável pelos meus próprios pecados.
        Hoje me vejo cansado, quebrado, mas com os olhos abertos, vendo tudo o que eu sempre fui, um cara limitado, mas com muita vontade de conhecer a Deus. Ainda existe em mim o desejo de andar com o Senhor, como havia a trinta e cinco anos atrás. Minha irmã também teve o seu percurso, diferente do meu, se expôs menos, se guardou mais, mas eu a vejo como a via quando ela tinha quinze anos, uma garota com muita vontade de servir a Deus.
      Ainda espero muitas coisas do Deus que me seguiu, antes que eu o seguisse, e que permaneceu do meu lado com um copo de água e um pedaço de pão. Espero muito do Deus que me esperou, que saciou minha sede e matou minha fome, que aguardou que eu me fortalecesse, e então continuasse a caminhar, agora não mais na frente, tomando direções erradas, mas atrás dele, deixando-o me guiar no caminho melhor.
      Deus é o mesmo dos meus dezesseis anos, o mesmo que perguntou para mim e para minha querida irmã, se tínhamos certeza de salvação. Eu tinha entrado, naquela reunião, tão cheio de religiosidade, entupido de respostas para as questões espirituais, e absolutamente contra o que eu achava que era o povo evangélico. Para a pergunta que me foi feita, eu respondi não, então eu orei para ter a certeza. Isso foi o suficiente, foi tão simples, todas as dúvidas existenciais desapareceram e eu comecei, a partir daquele momento, a caminhar com Deus.
      Quanto tempo foi necessário para que eu fosse liberto, por um lado, do meu desejo de me sujar com prazeres errados, tentando preencher o vazio da minha alma, por outro lado, do superego forjado em minha cabeça a fogo pela criação que tive, superego esse que cobrava de mim muito mais do que Deus me cobrava, que me escravizava. Parei de ficar trocando de senhorios e estou buscando me deixar levar pelo único senhor que realmente liberta, seguindo o Deus que me seguiu durante tanto tempo.