quinta-feira, maio 21, 2020

Reavaliemos Igrejas (21/30)

21. Igrejas

       Muitos, de início, podem fazer uma pergunta: por que devo reavaliar minha igreja, ela está fazendo tudo certo? Pois é, o primeiro problema que enfrentamos para reavaliar igrejas e pastores é o fato de muitos cristãos hoje em dia não terem a mínima ideia do que deve ser uma igreja e um pastor, segundo a vontade de Deus, que deem a eles o alimento espiritual verdadeiramente do Espírito Santo, e isso acontece mesmo que muitos acreditem ser ungidos, íntimos de Deus, aliás isso ocorre mesmo com pregadores e líderes. Por que as pessoas não têm noção? 
      Porque há algum tempo, mesmo a doutrina bíblica tradicional protestante, deixou de ser ensinada na maioria das igrejas, principalmente nas mais frequentadas no Brasil, assim, sem Bíblia, não se tem informação sobre o que é igreja e o que é pastor. Esses ensinos foram substituídos por música e heresias, por longos períodos de “adoração”, por cultos ao dízimo e por discursos sobre prosperidade material e milagres. Enfim, tudo o que refletimos até aqui nessa série de reflexões “Reavaliemos nossas crenças”, tomou o lugar da orientação que levaria cristãos a entenderem o que é de fato uma igreja. 
      As palavras finais de Jesus antes de ser preso, em João 17, texto também conhecido como “oração do adeus” ou “oração sacerdotal de Cristo”, definem os cristãos, como nascem, como vivem no mundo e para onde irão após a morte, estabelecem a doutrina fundamental da igreja cristã e a sua missão, vou recortar da passagem alguns versículos (mas se possível leia todo o capítulo).

      “Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.“ (1-3): Jesus declara a legitimidade de sua obra, foi iniciativa de Deus, realizada por Deus em Cristo homem na Terra e entregando homens a Deus, começando por ele, que voltou ao céu como Cristo Deus. Jesus mostra a autoridade ímpar que a religião que ele fundou tem (o versículo tema do “Como o ar que respiro” está contido nessa passagem).
      “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” (6-9, 14-17): Jesus afirma que suas palavras foram dadas a ele por Deus e ele as dá aos homens, deu em pessoa enquanto encarnado, e depois de ressuscitado dadas pelo Espírito Santo. Jesus ensina que existe uma diferença clara entre os que recebem sua obra e os que não recebem, entre os salvos e os do mundo, Jesus divide a humanidade em dois grupos, mas Jesus revela que os do mundo odiariam os da igreja, como a ele odiaram. 
      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.“ (20-21): Jesus revela que sua obra não se encerraria no primeiro século, nas vidas de seus contemporâneos, mas estaria disponível a todos, através da igreja e pelo Espírito Santo, mas Jesus dá uma característica singular de seus seguidores, que os diferenciaria dos não salvos, a união.

     Diante do 17º capítulo de João chegamos a três perguntas que precisamos fazer ao cristianismo atual: 
- ele tem a autoridade exclusiva da única religião fundada na terra pelo próprio Deus? 
- ele de fato se diferencia do mundo e das outras religiões, correndo mesmo o risco de ser odiado? 
- ele une os cristãos?

      As respostas às três perguntas, infelizmente, nos conduzirão à necessidade de fazermos reavaliações sobre nossas igrejas, responsáveis pelo atual cristianismo no mundo. O cristianismo se adaptou demais, e tudo que se adapta se altera para sobreviver, mas será que o verdadeiro cristianismo de Cristo precisaria se adaptar? Jesus disse, “não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”, esse é o mistério que só a verdadeira igreja de Cristo pode viver, ser pura no meio do impuro, fazer diferença sem se adaptar, ainda que entregando uma maneira única de transformação. 
      Mas muitos se desviaram do verdadeiro cristianismo, ainda nos primeiros séculos, quiseram o mundo e seus valores, seu poder, sua aprovação, e não os valores do Deus altíssimo ensinados pelo Espírito Santo. Assim, para terem o que não precisariam ter, ser o que não precisariam ser, se adaptaram e nisso perderam a autoridade do evangelho puro. Esconderam-se debaixo do manto da autoridade humana, de poderes humanos, que ainda que usassem ícones do verdadeiro cristianismo, passaram a cultuar só a forma, a cruz, a palavra morta, as figuras dos apóstolos, os lugares históricos onde os cristãos primitivos viveram. 
      Contudo, a mentira nunca se basta, precisa de mais e novas mentiras para continuar existindo, assim nasceu e se estabeleceu a Igreja Católica, sobre a qual o protestantismo fez uma reforma, mas ainda mantendo em suas doutrinas muitas das mentiras. O cristianismo primitivo, da primeira igreja, de Pedro, de João, de Paulo, foi esquecido. A autoridade, a diferença e a união, se perderam, ainda que tantos cristãos hoje em dia tentem reivindicar essas virtudes que Cristo disse que seriam as de sua genuína igreja.
      Autoridade espiritual se tem quando se recebe, não de homens, mas de Jesus que a recebeu de Deus, “porque lhes dei as palavras que tu me deste”, disse Cristo. Essa palavra pura é a que salva, cura e pode fazer o que tantos chamam de milagres, contudo, só tem direito a essa palavra quem é de fato diferente do mundo, não diferente de acordo com referências humanas, sejam religiosas, sejam em costumes externos ou culturais. Alienação social pode ser insanidade, não reflexo de uma vida diferente em Cristo, seja como for o diferente em Cristo não é apreciado pelo mundo. 
      Nesse ponto algo precisa ficar bem claro, diferente em Cristo é ser como Cristo era, e Cristo não era odiado por ser escandaloso, inacessível, por dizer o que pensava sempre, para todos, querendo sempre gritar a última palavra como dono da verdade, se mostrando como “santarrão”. Jesus muitas vezes se calava e se retirava, Jesus era acessível e não tinha preconceitos, Jesus andava com pecadores e participava de festas (e bebia vinho, diferente de João batista, Lucas 7.33-34). Jesus era na aparência comum e não fazia nenhuma questão de ser diferente, mas era diferente no coração e nos frutos, por isso tinha autoridade.
      E sobre união? “Que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”? Talvez a característica mais conhecida do cristianismo hoje seja a desunião, quantas denominações, quantas igrejas, quantos ministérios, quantas seitas, quantas cisões, e ainda assim todos dizem ter a autoridade do Espírito Santo. Por que tantas diferenças? Bem, as pessoas são diferentes, fazer caber todas, com diferenças de cultura, de nível financeiro, de nível intelectual, de características emocionais (introvertidas, extrovertidas, centradas), num só lugar, numa só igreja, é de fato impossível. 

      “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós.I Coríntios 12.14-21

      Contudo, é justamente essa vontade de viver só com quem pensa igual, uma escolha com certeza mais fácil, é que leva as igrejas a serem corpos deformados, monstros, não organismos completos e aptos a viverem bem. Mãos gostam de mãos porque é mais fácil viver com iguais, assim mãos formam uma igreja de mãos, de fato uma igreja especialista, em mãos, mas eu pergunto, um corpo só com mãos pode andar, ou pode andar bem? Não, lhe faltam pés. Mas os pés, por sua vez, fazem a mesma coisa, formam um corpo só de pés, especialista em pés, que podem andar, mas que não conseguem manusear bem as coisas, lhe falta mãos para pegar.
      Assim, temos igrejas com excelentes teólogos, mas que desprezam os dons espirituais e a palavra revelada, temos igrejas cheias de dons, mas que não conhecem com profundidade a palavra escrita na Bíblia, por quê? Porque teólogos protestantes, em muitos casos, não conseguem conviver com os pentecostais, que falam em línguas espirituais estranhas. Organismos completos e unidos? Não, guetos de monstros, corpos desfigurados, desequilibrados, nos quais o Espírito Santo clama com gemidos inexprimíveis e não é ouvido. 
      É importante que entendamos que conviver juntos como um corpo não é só fazer parte da mesma igreja e se respeitar educadamente, é preciso que de fato ideias, doutrinas, atitudes, sejam compartilhadas e inter-relacionadas. Uma mão não funciona sozinha, ela precisa de sangue que vêm do coração, de comandos que vêm do cérebro, e de um braço para ligá-la ao corpo. Espiritualmente entendemos isso tendo teólogos estudando a Bíblia racionalmente, mas atentos às profecias, que são entregues por profetas que buscam aprovação delas pela Bíblia estudada pelos teólogos. 
      Todos têm que ouvir todos e aprender com todos, ainda que tendo cada um chamadas vocacionais, dons espirituais, aptidões humanas, experiências e formações diferentes. Viver como corpo de Cristo, a metáfora perfeita nos ensinada por Paulo sobre a igreja, não é fácil, para ninguém, é preciso temor a Deus e humildade, para se saber que por mais que nos apliquemos em nosso trabalho, o outro também faz o mesmo. Dessa forma ninguém deve se julgar melhor ou maior que o outro, mas todos membros, diferentes, mas importantes, do mesmo corpo cuja cabeça é Cristo. 
      Contudo, além da desunião que prefere viver só com pares, ênfases doutrinárias divergentes, onde mandam as heresias, também dividem igrejas. A prioridade da igreja cristã, dada por Cristo, é uma, salvar gente, pregar o evangelho que muda vidas. Mas quantos batismos a grande maioria das igrejas faz atualmente por mês? Hoje em dia muitas nem têm batistério, mas um grande palco para músicos e pregadores itinerantes, em templos que são mais salas de espetáculos que locais santos onde o Cristo que salva é pregado, são só teatros onde se paga shows com dízimos. 
      A igreja que tem a autoridade dada por Cristo, que é diferente e que é unida, virou só mais uma empresa de homem querendo morder um pedaço do mercado que são os corações de homens que só querem uma religião para se livrarem de culpas e fugirem do diabo. Mal sabem que o diabo está no meio deles, sentado na cadeira ao lado, cantando, batendo palmas, satisfeito por não precisar mais tirar as pessoas dos templos para que se desviem.
      Ter uma igreja com real autoridade de Jesus, a dada a ele pelo próprio Deus, uma igreja de fato diferente de tudo que o mundo e o diabo representam, uma igreja que une todo tipo de ser humano, do intelectual ao de serviço braçal, do hétero ao homoafetivo, do branco ao negro, do pobre ao rico, ter essa igreja que estava no coração de Jesus quando ele fez a oração sacerdotal, só depende de mim e de você. Orar por isso, cobrar isso de líderes e de demais irmãos, não aceitar heresias e manipulações, e acima de tudo, buscar uma vida cristã que dê frutos, de santidade, de libertação, isso, muito mais que dízimos e música, entrega ao Deus altíssimo uma adoração agradável. 

      Igrejas evangélicas atuais e seus pastores pode ser o ponto mais importante que devemos reavaliar, já refletimos bastante sobre isso aqui no “Como o ar que respiro”, seguem links de algumas reflexões:
Esta é a 21ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020


quarta-feira, maio 20, 2020

Reavaliemos Dízimos (20/30)

20. Dízimos

      Esta é a terceira parte da reflexão sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos de Israel para a cristã, continuando sobre a religião hebraica. Pensaremos agora sobre um tema polêmico, dízimos, uma lei da velha aliança, que não é para a igreja cristã do novo testamento.

      O tema dízimos é uma consequência do que refletimos sobre a religião de Israel no antigo testamento até agora, sobre a tribo sacerdotal de Levi, e sobre sua função exclusiva de administrar o templo e os sacrifícios dos israelitas. Uma tribo que se dedicava a esse trabalho não teria tempo para outras atividades, assim, Deus ordenou que as outras tribos a sustentassem. “Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.” (Números 18.24). O costume de dizimar como oferta de louvor, contudo, era costume anterior à lei de Moisés, “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gênesis 14.18-20). 
      Hoje o Espírito Santo habita nossos corações, o templo de Deus somos nós, o lugar onde fazemos os cultos são só locais para reuniões, e a parte na frente e mais alta dos templos não é um altar, é só um palco, ainda que consagrado. Solicitação de dinheiro na igreja cristã deveria ser só para ajuda de custo de pastores e missionários, e principalmente, para auxílio aos necessitados, primeiro os da igreja e depois os outros. A área financeira é uma necessidade secundária, não um objetivo primário, a igreja usa o dinheiro, não é usada por ele, uma igreja não é uma empresa com fins lucrativos, isso parece óbvio, mas não é o que acontece em muitos ajuntamentos religiosos cristãos. Uma igreja de fato de Deus deveria ter total transparência na maneira como administra ofertas e dízimos, movimentações financeiras e de bens deveria estar num balancete visível a todos no templo. 
      Não posso encerrar essa reflexão sem pensar sobre um texto tão usado na “dizimolatria”, heresia cometida num falso culto, dentro do culto principal, que muitas vezes é mais importante que o próprio culto em muitas igrejas evangélicas. “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 3.10-11). Essa palavra é dura, mas é para o contexto da nação de Israel dentro da antiga aliança. Podemos aprender algo com esse texto hoje? Sim, com certeza, mas de maneira alguma interpretando-o ao pé da letra. 
      A não entrega de dízimos no antigo testamento, para uma religião que necessitava deles para existir, já que os levitas e todo o serviço religioso dependiam dele, era negar a própria religião, era impedi-la de funcionar, e sem ela, naquele tempo, Deus não poderia se reconciliar com os homens. Assim, o jeito certo de aprender com o texto de Malaquias é fazendo-nos a seguinte pergunta: o que eu devo fazer para que o cristianismo continue vivo dentro de mim, já que eu sou o templo de Deus, não o prédio da igreja e o pastor? O texto a seguir é claro sobre quem é o templo de Deus no novo testamento, “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” (II Coríntios 6.16-18). 
      O mesmo egoísmo materialista e adoração a falsos deuses que levaram Israel a pecar deixando de dizimar, também podem nos desviar, isso acontece quando não nos humilhamos diante de Deus, quando desejamos coisas materiais ou mesmo religiosas só para nos exibirmos diante dos homens, quando buscamos, mesmo em igrejas e lideranças de ministérios, poder no mundo e aprovação humana, quando adorando um”Deus” falso obedecendo heresias. Em tudo isso deixamos de adorar e servir a Deus, e por causa isso, sim, o “devorador” destrói nossas famílias, na área financeira? Sim, mas principalmente na área moral, e aí toda a sociedade sofre, a criminalidade aumenta, o tráfego de drogas seduz, os maus políticos roubam e tudo vai mal. Isso por que não demos o dízimo? Não! Não e não! O evangelho não funciona assim, a nova aliança de Cristo não é isso, é muito mais que isso.
      O “devorador” nos afligi quando não entregamos a Deus nosso coração, a parte mais íntima do nosso ser, aquela que ninguém conhece, só o Senhor. Sim, a consequência final dessa entrega é uma vida material digna, e nessa vida ajudamos financeiramente igreja e necessitados com alegria, sem peso e com absoluta pureza de intenção. Isso, sim, é um louvor perfumado e suave que sob ao trono de Deus de maneira agradável, esse é o melhor “dízimo”. Contudo, de forma alguma fazemos essa entrega financeira para fins materialistas, para obter créditos de Deus para que ele nos faça prosperar materialmente. A nova aliança ensinada no novo testamento é baseada em fundamentos espirituais, ela prepara o homem para a eternidade espiritual, não para esse mundo, esse Deus espiritual não precisa de dízimos, os pobres nesse mundo sim, muito mais que falso Israel, falso templo e falso levita. 

Esta é a 20ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

terça-feira, maio 19, 2020

Reavaliemos Altar, sacrifício e levita (19/30)

19. Altar, sacrifício e levita

      Esta é a segunda parte da reflexão sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos de Israel para a igreja cristã, refletiremos agora sobre a religião hebraica, o templo, o altar, os sacrifícios e a tribo sacerdotal de Levi. 

      “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando algum de vós oferecer oferta ao Senhor, oferecerá a sua oferta de gado, isto é, de gado vacum e de ovelha. Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o Senhor. E porá a sua mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação. Depois degolará o bezerro perante o Senhor; e os filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o sangue, e espargirão o sangue em redor sobre o altar que está diante da porta da tenda da congregação. Então esfolará o holocausto, e o partirá nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o sacerdote, porão fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo.” 
Levítico 1.2-7

      O altar era parte do Templo de Jerusalém, o templo de Jerusalém não era uma igreja, nem uma sinagoga, era um local único e exclusivo para que a religião israelita fosse realizada. Abraão e seus descendentes ofereceram a Deus sacrifícios em outros lugares, em montes, em pedras empilhadas, que não no tabernáculo itinerante de Moisés ou no Templo fixo, construído por Davi e Salomão. As sinagogas surgiram durante os cativeiros e exílios de Israel, quando não podiam exercer sua religião no Templo, eram locais para estudo dos textos sagrados judeus, da Torá, essas talvez se aproximem mais do conceito igreja cristã. Mas o que precisamos entender é principalmente o conceito do altar dentro do Templo, existente não só na religião israelita como também nas pagãs, esse era um local para matar e queimar animais. Interessante que no caso da religião israelita, a carne dos animais era queimada, não era oferecida crua, assim o cheiro era agradável, como de um churrasco, isso é diferente de animais mortos em rituais, por exemplo, nas religiões afro-espíritas. Até nisso há diferença, entre uma religião oficial do Deus verdadeiro e as de entidades espirituais. 
      Usar o termo altar em igreja cristã é um erro doutrinário, no mínimo uma comparação inexata, mas pode ser até um sacrilégio, pelo menos para a teologia protestante tradicional, por quê? “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pedro 3.18), para o cristianismo esse sacrifício foi único, suficiente e para todos os homens de todos os tempos e nações. O altar foi a cruz no calvário, um evento histórico singular, não há mais necessidade de novos sacrifícios nem de outros altares. O altar que Deus construiu no século I d.C. na Palestina nunca mais se repetirá! Por que esse sacrifício foi especial, melhor e mais eficiente que os de animais? Porque foi o de um cordeiro perfeito, do qual os outros eram só símbolos, o filho de Deus encarnado. Contudo, algo é de suma importância para conferir ao sacrifício de Cristo o autoridade que tem, é a santidade, o sacrifício tinha que ser de um homem santo, por isso Jesus nasceu do Espírito Santo, cresceu e viveu sem pecar, morreu santo e ressuscitou, vencendo a morte, todas essas etapas tinham quem ser cumpridas. 
      Se Jesus tivesse vindo ao mundo, feito tudo isso, sem ter realizado um milagre ou sem ter deixado um registro escrito de seus ensino, sua obra já teria sido completa. Mas ainda assim ele fez milagres, para que homens incrédulos vissem para crer, como também suas palavras foram registradas no novo testamento, para que homens, também incrédulos, tivessem como conferir o ensino vivo e em primeira mão que o Espírito Santo pode dar a cada um de nós. O que Jesus fez foi muito mais importante que o que ele disse, ainda que tenha deixado palavras singulares, que nenhuma outra religião possui, e ainda que tenhamos palavras de excelente sabedoria registradas por outros fundadores de religiões, nenhum desses, todavia, fez o que Jesus fez, oferecer-se como puro cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Essa é a grande diferença do cristianismo, é algo que NÃO precisamos reavaliar em nossas crenças, mas que devemos nos focar mais para crer, conhecer, viver e compartilhar com o mundo. Jesus é único, especial, suficiente, digno de toda confiança, adoração e sob todo poder, seja na terra, seja no céu, desde o início dos tempos, hoje e para sempre!

      “Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança com Israel; das ofertas queimadas do Senhor e da sua herança comerão. Por isso não terão herança no meio de seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhes tem dito. Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que oferecerem sacrifício, seja boi ou gado miúdo; que darão ao sacerdote a espádua e as queixadas e o bucho. Dar-lhe-ás as primícias do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e as primícias da tosquia das tuas ovelhas. Porque o Senhor teu Deus o escolheu de todas as tuas tribos, para que assista e sirva no nome do Senhor, ele e seus filhos, todos os dias.” 
Deuteronômio 18.1-5

      “E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério” “Todos estes estavam sob a direção de seu pai, para a música da casa do Senhor, com saltérios, címbalos e harpas, para o ministério da casa de Deus; e Asafe, Jedutum, e Hemã, estavam sob as ordens do rei.
I Crônicas 25.1, 6

      Levitas eram israelitas de uma tribo específica, a tribo de Levi, separados para fazer exclusivamente a manutenção dos serviços religiosos, entre eles, os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, eram responsáveis pela música (I Crônicas 25.1-7). É correto usar o termo levita hoje em dia para identificar obreiros ou mesmo músicos que tocam em igrejas? Não! Jesus, já realizou toda a obra de salvação, bastando aos homens que aceitem isso pela fé em seus corações, então, não existe mais Israel, muito menos levitas, pessoas sem as quais os sacrifícios não eram feitos para que a reconciliação com Deus fosse acessada. Na verdade, na nova aliança, não precisamos nem de pastores, de obreiros, de diáconos, de presbíteros, de missionários ou ministros, e nem dos músicos, para termos uma comunhão com Deus. Sim, eles nos auxiliam, são de grande importância, devem ser honrados e Deus os guarda de um jeito especial, mas eles não são levitas. Para cada um de nós basta fé no nome de Jesus e a presença do Espírito Santo, essa é toda a religião cristã, o resto é conveniência social, necessidade que se tem quando comungando em grupo. O cristianismo verdadeiro é basicamente uma religião individual, não coletiva ou de nacional, a responsabilidade é pessoal e não se ganha privilégios só por ser de um povo ou de uma nação deste mundo. 
      Pastores ou líderes de ministérios não têm qualquer dever, assim como qualquer direito, que tinha a tribo sacerdotal levita. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9), aliás, numa possibilidade de transferir o termo levitas para a igreja cristã, poderíamos dizer que todos os cristãos são levitas, e os sacrifícios que esses oferecem são suas próprias vidas, não para serem salvos ou para ganharem qualquer espécie de créditos diante de Deus, mas somente para adorarem a Deus, por tudo que ele faz e dá, e muito mais por tudo que ele é. Com o termo igreja nos referimos ao conjunto de todos os filhos de Deus, não de todos os seres humanos, esses são só criaturas de Deus enquanto não escolhem ouvir e obedecer ao Deus verdadeiro, condição que se prova com eficiência através unicamente de Cristo. Assim, Igreja, noiva do cordeiro, que viverá com o melhor de Deus no céu, são todos os salvos, selados com o Espírito Santo, novos nascidos em Cristo, indiferente de a qual denominação cristã pertençam, seja católica, ortodoxa, anglicana, protestante, evangélica, pentecostal etc, incluindo outros filhos de Abraão que nem pertencem oficialmente a denominações cristãs. Veja que esse conceito vai muito além do conceito nação política de Israel neste mundo, e bem mais que o de tribo sacerdotal de levitas. 
      Por esse motivo a igreja católica, sob o ponto de vista da igreja primitiva do livro Atos dos apóstolos, do primeiro século, da teologia protestante oficial, pode ser considerada tão desviada, ela deixou a simplicidade do Espírito Santo, do evangelho, do cristianismo de Cristo e perdeu o poder de salvar, de consolar, de curar. Por isso teve que retroceder, recriar uma religião de ritos, onde o poder está nos objetos, nos rituais, nos sacramentos, no batismo, na hóstia, na extrema-unção, nos homens, nos santos, no altar que existe na parte frontal de todo templo romano (quanto mais elaborados os rituais mais distante do Deus altíssimo e verdadeiro se está). Quando se deixa o sacrifício eficiente e único de Jesus, deve-se fazer novos sacrifícios para se obter redenção, a igreja católica é toda baseada nisso, em homens fazendo sacrifícios de homens e para homens, não no sacrifício único do filho de Deus. Ela pode até usar a obra de Jesus como um molde, sim, como um exemplo, contudo, faz isso para criar uma nova religião, ainda que baseada no conceito da retrógrada e ultrapassada religião de Israel misturada com o paganismo greco-romano. A igreja com sede no Vaticano é só uma continuação do Império Romano, uma igreja pagã rudemente maquiada com os ícones do cristianismo, um poder político e econômico no mundo, com pouca eficiência espiritual. 

      “Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; Mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção.
      Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.” 
Hebreus 9.6-15

Esta é a 19ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

segunda-feira, maio 18, 2020

Reavaliemos Israel (18/30)

18. Israel

      A Bíblia pode nos passar vários tipos de ensino, os principais são três, os religiosos, os morais e os históricos. Os ensinos históricos precisam da homologação científica, não devem ser entendidos ao pé da letra, já que muitas histórias bíblicas sobre muitos personagens que chegaram ao conhecimento dos escritores bíblicos, principalmente no antigo testamento, foram através de tradição oral. Tradição oral é o costume que se tinha, principalmente antes da escrita existir ou ser acessível a todos, de uma geração contar para outra geração um acontecimento importante de um povo. A história original, ainda que tenha origem na realidade, naturalmente sofre alterações, adições e subtrações, à medida que a informação é verbalizada, assim a verdade inicial nunca saberemos de fato (pensamos mais sobre isso na reflexão “Mitos” desse estudo, “Reavaliemos nossas crenças”). A arqueologia e outras ciências podem auxiliar estudantes bíblicos sérios a chegarem mais perto da verdade sobre personagens que aprendemos a amar e com os quais tanto aprendemos. 
      Os ensinos morais são os que mais buscamos na Bíblia, onde o senso comum estabelece orientações para o dia a dia da vida, assim ainda que cultura e sociedade bíblicas sejam diferentes, tentamos retirar das histórias da Bíblia lições e referências de certo e errado, de bom e mau, de justiça, de amor, de misericórdia etc (neste link uma reflexão a respeito disso, feita aqui no blog). Contudo, a leitura desses ensinos desconsiderando contextos históricos e sociais, pode também conduzir a entendimentos equivocados sobre a vontade de Deus para o homem hoje (um desses equívocos ocorre, por exemplo, na área da sexualidade). Nos ensinos religiosos da Bíblia, todavia, é onde a grande maioria das igrejas evangélicas atuais mais se engana, nesta reflexão, dividida em três partes, pensaremos sobre equívocos que podem ser cometidos quando tentando transferir conceitos da religião de Israel do antigo testamento para a religião cristã do novo testamento. Na primeira parte, que segue, pensemos sobre Israel e a missão que Deus deu a ela como nação.

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” 
Gênesis 12.1-3

      “E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel. Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra.” 
Gênesis 35.10-12

      “E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a seródia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite. E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.”
      “Porque se diligentemente guardardes todos estes mandamentos, que vos ordeno para os guardardes, amando ao Senhor vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, e a ele vos achegardes, Também o Senhor, de diante de vós, lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém resistirá diante de vós; o Senhor vosso Deus porá sobre toda a terra, que pisardes, o vosso terror e o temor de vós, como já vos tem dito.” 
Deuteronômio 11.13-15, 22-25

      “Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador. Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus.” 
Isaías 43.10-12

      Deus sempre teve um propósito, após a queda do homem no jardim do Éden, salvar a humanidade, já que sobre a Terra um lei impera desde que Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá.” (Ezequiel 18.20-22). Contudo, nos primeiros tempos, Deus escolheu um homem, Abraão, uma família, a de Jacó, uma nação, Israel, para estabelecer uma primeira aliança com a humanidade, para mostrar ao mundo sua salvação. Como essa salvação era obtida? Obedecendo as leis mosaicas e fazendo sacrifícios no templo de Jerusalém. Assim, três são os conceitos fundamentais da religião primeira que religava o homem a Deus: a Lei, que são as regras morais e sociais, o altar no Templo de Jerusalém, representando a presença de Deus na Terra, e sistema de ofertas e sacrifícios, o meio de perdão e manutenção da comunhão entre o Senhor e Israel. 
      Podemos, todavia, fazer uma interpretação mais extrema da narrativa do antigo testamento, que Deus escolheu, desconsiderando o restante da humanidade, os descendentes de Abraão, de Isaque e de Jacó. Por que esses agradavam a ele e o resto do mundo não? Não sei se só eles agradavam a Deus, não sei se em toda a Terra, não havia mais nenhum outro homem, família ou nação, que buscasse, adorasse e seguisse ao Deus verdadeiro e não aos falso deuses. Seja como for, Israel foi um povo especial no mundo (e é até hoje), principalmente antes de Jesus ter executado sua missão messiânica. Bem, de uma nação foi escolhido uma tribo, e não era a de Levi (a tribo responsável pela religião israelita, isso é algo bem significativo), mas a de Judá, dessa tribo foi escolhido um homem, Davi, um rei e líder político, e desse rei um descendente nasceu, Jesus, que seria nele mesmo a segunda, final e completa religião de Deus para religar a humanidade ao seu criador, numa nova aliança. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6.23), em Cristo seu objetivo de salvação foi alcançado, não temporariamente, e não de uma maneira ligada a uma nação do mundo, mas eternamente estabelecendo um povo espiritual, a igreja.
      Com Israel e sua religião Deus tinha o mesmo propósito, mas com uma ferramenta diferente, Deus tinha um povo, mas no mundo e definido geograficamente. Interessante notarmos que no antigo testamento pouco se fala de vida pós-morte, de promessas para uma eternidade com Deus, de céu e de inferno. Para aquele tempo Deus era visto como uma divindade que fazia daqueles que o obedeciam vencedores neste mundo, como potências militares, políticas e econômicas (Deuteronômio 11). Israel obedecia a Deus para que através dele tivesse vitória sobre as outras nações, e essas sempre eram apresentadas como nações que não serviam ao Deus verdadeiro de Israel, mas a outros deuses, falsos deuses. Pelo antigo testamento podemos entender que só Israel no planeta Terra conhecia e adorava o Deus Jeová, nenhuma outra nação no mundo fazia isso. Mas será que era nenhuma mesmo? Essa é uma conclusão bem extremista, mas é o que os registros de Moisés, Esdras, juízes e profetas não levam a entender através do antigo testamento, nós lemos e estudamos isso, mas nunca nos atentamos de como isso é extremo...
      Outra coisa que também não vemos no antigo testamento, de maneira geral (salvo algumas exceções), é Israel se preocupando com a salvação dos outros povos, esses que gostam de comparar a igreja cristã com a nação israelita precisam se atentar a isso. Israel não tinha, pelo que lemos na Bíblia, nenhuma intenção “evangelista” no mundo de seu tempo, não lhes pesava o fato de egípcios, filisteus ou babilônios não serem abençoados por Deus, esses eram vistos como inimigos a serem vencidos ou mantidos fora de suas fronteiras, simples assim. Nessa questão muitos cristãos erram por transportarem o mesmo conceito para a igreja, não no sentido de não serem evangelizadores, mas de verem aqueles que lhes fazem oposição como inimigos, que devem ser vencidos. Assim, ao invés de perdoarem e no pior das situações, quando não existe jeito de viver junto, só se afastarem, pedem vingança. Uma igreja que se acha Israel não ama, não age com misericórdia, mas clama a Deus para que se vingue por ela, meus queridos e minhas queridas, isso definitivamente não é o evangelho de Jesus, não é a verdadeira igreja de Cristo (Mateus 5.43-44).
      A religião de Israel era aberta a estrangeiros, um gentio podia se converter ao judaísmo, são os prosélitos. Um bom exemplo disso é o do profeta Jonas, enviado a Nínive para falar sobre Deus, “E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor... e Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez” (Jonas 3.5, 10). Mas esses deveriam seguir as regras, começando pela circuncisão, “porém se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, seja-lhe circuncidado todo o homem, e então chegará a celebrá-la, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. Uma mesma lei haja para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós.” (Êxodo 12.48-49). Contudo, as profecias messiânicas, já revelavam uma salvação para todos os povos no futuro, quando não haveria diferenciação entre judeu e gentio, em Cristo todos têm as mesmas oportunidades espirituais e os mesmos direitos na eternidade (leia com calma Isaías 56, fala sobre a salvação de Deus para o estrangeiro e para o eunuco). 
      Mas podemos entender que não havia outra maneira de Deus trabalhar naquele mundo, que a humanidade naquele momento era assim mesmo, a grande maioria adorava a falsos deuses, que ela não tinha maturidade intelectual, emocional, social, cultural, espiritual, para receber a nova aliança de Cristo. Foi necessário uma primeira aliança, metafórica, temporária, para ensinar ao homem conceitos básicos de religião, preparando uma humanidade ainda infantil para que pudesse no futuro entender a aliança de fato permanente, não simbólica, mas real. É imprescindível que entendamos isso, para não fazermos simplesmente transferências diretas entre o que era Israel no antigo testamento e a igreja da nova aliança. Não podemos de forma alguma interpretar direitos e objetivos que uma nação política desse mundo tinha, através do Deus que eles conheciam como Jeová, como sendo os mesmos, com as mesmas referências, de uma igreja espiritual, eterna, formada por gente de todas as nações e tempos, incluindo o Israel do velho testamento. Fazer isso seria tentar escrever um romance adulto e sofisticado com o conhecimento de linguagem e ortografia de uma criança de sete anos de idade. A ferramenta  Israel de Deus, que ele usou para o apresentar ao mundo, foi só uma simbologia simplista da igreja de Cristo. 
      Esse erro muitas igrejas evangélicas cometem hoje em dia, obviamente usando só as características da nação Israel que lhes são convenientes, como as riquezas materiais de patriarcas e reis hebraicos. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia. Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma”, sim, nós, igreja de Cristo, somos nação santa de Deus, mas com uma missão superior comparada com a de Israel. É uma missão espiritual para salvar homens para a eternidade, o final do texto de I Pedro 2.9-12 ensina isso, “peço-vos como a peregrinos e forasteiros”, em Jesus não somos mais desse mundo, nosso reino não é mais aqui, nossos interesses e bens devem ser os espirituais, não os materiais. Dessa forma, usar a prosperidade financeira de homens considerados de Deus do antigo testamento como referência para sermos considerados povo de Deus do novo testamento é um erro, para não dizer uma heresia. “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” (João 8.36).

Esta é a 18ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

domingo, maio 17, 2020

Reavaliemos Eternidade (17/30)

17. Eternidade

      Segue a terceira e última parte de reflexões sobre o tema céu e inferno.

      “Quem pós a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?Jó 38.36

      “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.Isaías 26.3

      “Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.I Coríntios 2.16

      “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros.Efésios 4.22-25

      Muitos pensam em ser humano como corpo e espírito, no corpo veem os desejos carnais, as paixões, e no espírito a parte que se comunica com Deus, que recebe a “unção“, pouco, contudo, se pensa sobre a mente. Na verdade a porta para o nosso ser não é o coração, que dizemos ser o centro de nossas emoções, mas é a nossa mente, antes de sentirmos, de querermos e de fazermos, nós pensamos. Já refletimos no “Como o ar que respiro” sobre tricotomia, que divide o homem em três partes, corpo, espírito e alma, bem, sentimentos e pensamentos, coração e mente, fazem parte da alma. Isso é um jeito simplista de entendermos as coisas, alguns pensam diferente, mas eu acho um jeito fácil de entendermos o ser humano. 
      Os textos iniciais citam a mente humana, que Deus a criou, que é a parte que retém a paz de Deus de forma lúcida, mas dizem também que o novo nascido em Cristo não tem mais uma mente comum, humana, mas divina. Ah, se as pessoas entendessem a verdade poderosa que existe nisso, o mistério que nos é revelado. “Mas nós temos a mente de Cristo”, isso é muito forte, mas é algo que precisamos aprender a guardar, a dar liberdade para que apareça e nos mostre a vontade de Deus, à medida que mortificamos a mente do homem natural que ainda continua conosco. Liberar a mente de Cristo em nós é construir o céu ainda neste mundo, é vivermos uma eternidade boa com Deus ainda neste plano físico. 
      Mas será que é isso, construímos em nossas almas e neste mundo o céu ou o inferno que teremos no outro mundo? Pode ser, somos ensinados pela Bíblia a crer num lugar maravilhoso, onde não haverá dor, nem culpa, nem tédio, só paz com e em Deus, talvez isso não seja a indicação de um lugar que teremos no mundo espiritual, mas algo que nos ensine sobre o lugar melhor que Deus pode nos dar, ensino que constrói em nossas almas o céu. Talvez a fé seja a melhor maneira que Deus tenha para que neste mundo, encarnados, nós possamos fazer uma construção mental que seguirá conosco na eternidade, a melhor construção daquilo que é uma eternidade boa com Deus.
      Contudo, por que é importante fazer essa construção em nossas mentes, através de uma imaginação movida pela fé em Deus, conforme a informações que a Bíblia nos dá sobre céu e inferno? Lembre-se que essa reflexão faz parte do estudo, “Reavaliemos nossas crenças”, assim a proposta é pensar um pouco além daquela maneira tradicional que pensamos na maioria das igrejas ensinados pela maioria de pregadores e teólogos. Veja, na outra vida não teremos corpos físicos, que ainda que limitados nos permitem alguns escapismos. Quando estamos tristes, por exemplo, dormimos, comemos algo gostoso, tomamos um café, enfim, achamos conforto, ainda que temporário, em prazeres do corpo.
      Mas imagine uma existência sem um corpo, suas necessidades e suas consequentes satisfações, teremos nosso espírito e nossa alma e só. Se o espírito tiver a presença do Espírito Santo de Deus, nossa alma, enfim, poderá viver em plena paz, mas se não tiver, teremos só uma alma atormentada, sem as distrações do corpo, sem os vícios e outros artifícios para escaparmos do sofrimento. A dor e a culpa, que tantas vezes se escondem de todo mundo neste plano físico, terão que ser encaradas sem desculpas e sem o Espírito Santo, isso não será um inferno? Indiferentemente de haver um local espiritual de fogo eterno, esse fogo de sofrimento já levarão muitos deste mundo, construído com orgulho e ausência de temor a Deus. 
      Por isso é tão importante sermos verdadeiros e sinceros do bem, querermos com todo o coração o caminho da verdade e da paz, termos uma boa intenção que se traduza, ao menos em parte, em boas obras. Ainda que tenhamos uma alma boa ela vive em luta? Sim, pois sabemos que o melhor que desejamos ser muitas vezes não conseguimos ser, mas ainda assim não deixamos de pedir perdão a Deus, às pessoas, de recomeçarmos, tantas vezes quanto necessárias, com humildade. Só conseguimos isso com Deus em nós, assim a primeira e principal obra é crer em Deus através de Jesus, para depois seguirmos com ele como amigo, focando na luz. Isso constrói um céu em nós ainda neste mundo, e esse céu é eterno.
      Por outro lado, não basta ter uma experiência religiosa ou mesmo cristã de imaginação, e muitos têm essa experiência vazia. Estão nas igrejas, ou conhecem muito bem a Bíblia, ou mesmo pregam a teologia tradicional protestante, de boca, na aparência, mas seus corações estão numa agonia sem fim, não experimentam de fato a libertação que há em Jesus, não têm a paz dos justos. Esses serão arrebatados na “primeira leva” dos salvos? Esse terão o céu na eternidade? Dificilmente, e muitos carregam o inferno nas almas, ainda que digam que vão para o céu, esses de fato nunca creram em Jesus como salvador, não têm as lâmpadas cheias de óleo, são as “virgens loucas” da parábola de Mateus 25.1-13. 

Esta é a 17ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sábado, maio 16, 2020

Reavaliemos Inferno (16/30)

16. Inferno

      Está é a segunda reflexão sobre o tema “Reavaliemos Céu e Inferno”, na anterior refletimos sobre o céu, nesta refletiremos sobre o inferno, ambas sobre a passagem bíblica de Mateus 25.32-46.

      “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjosMateus 25.41

     O inferno é definido no novo testamento como um local de sofrimento e castigo no plano espiritual, preparado, ao menos inicialmente, só para o diabo e seus anjos, não para os seres humanos, isso é o que entendemos no texto bíblico. Isso porque os seres espirituais malignos já escolheram uma eternidade sem Deus, no início dos tempos, o homem está escolhendo, a partir do momento em que Adão e Eva míticos foram expulsos do paraíso terrestre. A Bíblia, exceto pela informação que é um local de fogo, não diz mais sobre o inferno (poderia ser um local gelado, isso também pode causar sofrimento), mas ela nem precisa dizer mais, sofrimento é tão terrível quanto simples, e se estamos nele tudo o mais desaparece, referências de estética, de espaço e de tempo, sofremos e ponto. No Antigo e no Novo Testamento termos diferentes são usados para referirem-se ao inferno: 

      “A palavra hebraica principal usada para se referir ao mundo dos mortos é sheol. A origem do termo sheol é incerta e todas as tentativas de fazer isso foram frustradas ou são duvidosas... A Bíblia Hebraica usa o termo sheol (65 vezes) para se referir ao submundo dos mortos retratado como um profundo e escuro abismo. Na Bíblia o termo está estritamente relacionado a abismo e sepultura. Sheol é o termo preferido dos textos poéticos, pois exceto oito passagens no AT, todas as demais ocorrem em textos poéticos. Sheol é a sepultura ou morada de todos os mortos indistintamente. Em várias ocorrências da palavra não é um local desejável de se ir, exceto quando preferível a um grande sofrimento aqui na terra dos vivos. Mas está completamente ausente o ensino de que era um local de fogo e tormento dos maus como na ideia atual de inferno. 
      ...Para os israelitas antigos era o termo designativo do mundo dos mortos é sheol, que apresenta essa característica de desolação, silêncio e purificação. "De acordo com o pensamento dos israelitas antigos, um abismo escuro e silencioso situado nas profundezas da terra, para onde todas as pessoas iam depois de morrer." Sheol tem uma associação muito estreita com o túmulo (veja Isaías 5.14; 11.9,18-20), mas sheol é usado principalmente em textos poéticos. Embora o significado seja controverso, o uso do termo sheol indica lugar de morada dos espíritos dos mortos, conforme o contexto nos mostra, embora deixe transparecer que essa existência no sheol é um estilo de vida fraca e não gratificante...”

      “Quando os judeus fizeram a tradução da Bíblia Hebraica para o Grego Koinê (comum), conhecida como Septuaginta (símbolo LXX), usaram 61 vezes o termo grego hades comum na mitologia grega para se referir ao reino dos mortos, mas não há evidências de que partilhassem de todas as concepções mitológicas sobre o hades, principalmente sua personificação no deus Hades. Seguindo a tradição da Septuaginta (LXX), os cristãos, ao produzirem o chamado Novo Testamento Grego, usaram a palavra hades para se referir ao submundo dos mortos, principalmente quando citavam a Bíblia Hebraica ou Antigo Testamento para traduzir a palavra sheol. 
      Como os judeus, os cristãos emprestaram apenas o sentido geral de hades como mundo dos mortos, mas não há evidências no Novo Testamento ou nos primeiros cristãos de que usassem a palavra com a mesma ideia mitológica grega. O Dicionário da Bíblia Almeida, publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil, que é responsável pela tradução das principais versões da Bíblia protestante usada no Brasil, diz sobre o termo hades: "Palavra grega que designa a morada dos mortos, bons e maus. Em quase todos os contextos, hades é equivalente a SHEOL (At 2.31). Possivelmente no seu Evangelho, Lucas (16.23) tenha empregado hades como equivalente de GEENA, num contexto de castigo e tormento, visto que essa era a visão típica dos gregos e dos romanos quanto à situação das pessoas depois de sua morte.”

      “A origem do termo inferno é latino: infernum, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior". Origina-se da palavra latina pré-cristã inferus "lugares baixos", infernus. 
      A medida que a igreja crescia e mais e mais romanos foram se tornando cristãos vindo, por fim, a cristianizar todo o império, foram feitas traduções da Bíblia para o latim, língua oficial dos romanos. Primeiro havia os textos da Antiga Latina ou Vetus Latina, e, por fim, o monge São Jerônimo fez uma tradução completamente nova da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) para o latim que veio a ser conhecida como Vulgata Latina (vulgata, quer dizer comum, i.e., latim comum). Na Vulgata, foi usado o termo latino infernus 61 para traduzir o hebraico sheol (61 vezes) e o grego hades e geena sem distinção, o que fatalmente tem causado vários mal entendidos, uma vez que geena tem sentido diverso de hades e sheol, embora em alguns contextos apareça associado a estes. Assim como sheol e hades, infernus se referia ao mundo dos mortos na mitologia romana.” 

      Achei importante citar as explicações mais técnicas acima para entendermos que na verdade a Bíblia não se dá ao trabalho de especificar muito o sheol, o hades ou o inferno, e os termos usados nas línguas originais têm significados variados, sejam hebreus, gregos, romanos ou latinos. Novamente o evangélico atual precisa entender que a Bíblia não é esse livro com exatidão científica que temos que obedecer e crer ao pé da letra, é preciso interagir com ela usando todo o nosso ser, não só fé espiritual, mas também inteligência mental e mesmo um sentimento de amor e de paz, é preciso reavalia-la. O que de fato é o inferno? Não sabemos, o que sabemos é que é um “lugar” (ou uma posição espiritual, ou uma disposição mental...) de sofrimento, é eterno? Bem, todo sofrimento parece eterno enquanto estamos nele, e terá duração proporcional ao tempo de nosso orgulho, só a humildade para por fim a ele. 

Quem vai para o Inferno

      “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.25.42-46

      Interessante que os condenados a uma eternidade longe do melhor de Deus também questionaram o Senhor no juízo, mas esses pelo motivo oposto ao dos justos. Esses tinham certeza que morariam no céu na eternidade, por isso se surpreenderam, se ainda não tivessem se surpreendido haveria neles mais justiça, pois seria atitude de quem sabe que está errado e por isso entende que é justificado seu terrível fim, para esses talvez ainda houvesse uma eternidade no melhor de Deus. (Uso frequentemente o termo perto ou longe do melhor de Deus, alguém pode perguntar, mas Deus tem pior? Sim, o inferno foi criado por Deus, está em Deus, pois Deus tudo contém sempre, mas é um lugar bem ruim). 
      Não entendemos pelo texto bíblico, que são os não cristãos, pessoas que muitos evangélicos consideram mundanos, carnais, adúlteros e alcoólatras, que questionam Deus do porquê não terem direito ao céu, esses não fazem esse tipo de pergunta, eles não estão nem aí pra céu e inferno, muitos desses dizem com desdém, “vou pro inferno mesmo”. Por outro lado, os que dizem ter certeza do céu são justamente os religiosos, e principalmente cristãos evangélicos e protestantes. Assim, reavaliemos nossas vidas, o que esperamos da eternidade, o que pensamos sobre a eternidade dos outros, será que o inferno não será de acordo com o que cremos que ele é? Se for assim, cristãos equivocados são os que terão o pior inferno, pois creem nele.

Esta é a 16ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sexta-feira, maio 15, 2020

Reavaliemos Céu (15/30)

15. Céu

      Alguns creem que céu e inferno não são regiões acima e abaixo do plano físico, mas estão no mesmo nível do plano físico, só que em realidades ou dimensões diferentes, assim o que gradua alguém não é sua posição geográfica, mas sua qualidade espiritual, ligada obviamente à moralidade estabelecida por Deus. Ser mais ou menos espiritual é estar mais próximo ou mais distante do melhor de Deus, da luz do altíssimo santíssimo Deus, assim pertencer ao céu ou ao inferno espirituais. O planeta Terra, interior, superfície e atmosfera ao redor, assim como o espaço sideral ao redor dele, estão submergidos no plano espiritual, com anjos e diabos todos convivendo ao mesmo tempo com os seres humanos, os animais, a natureza, assim como com a Lua, o Sol, as estrelas etc.
      Existe uma classificação mais simplista que define três tipos de céu, Paulo cita um 3º céu em II Coríntios 12. O primeiro céu é o físico, que está ao redor do globo celeste, o segundo, e o primeiro espiritual, ocuparia o mesmo espaço físico que o primeiro e físico, nele se encontram os demônios e outros seres espirituais e é onde se fazem as batalhas entre as legiões, como a descrita em Daniel 10 (já refletimos sobre isso no estudo “Desvendando o mundo espiritual”). O terceiro céu, o segundo espiritual, é onde estão o trono do altíssimo e santíssimo mais outros seres espirituais, em Isaías 6 é mencionado um local assim, com Deus e os serafins. Mas e o céu e o inferno onde habitarão os seres humanos e os seres espirituais malignos depois do juízo final, onde se encontram?
      Como nós cristãos evangélicos e protestantes temos facilidade para julgar onde alguém vai passar a eternidade, como dizemos com tanta certeza, “esse vai para o céu”, ou, “aquele vai para o inferno. Algo que também precisamos reavaliar é o que pensamos e quem pensamos que tem direito a essa ou àquela eternidade. Céu ou inferno? Se quiser, se estiver pronto para isso, você pode ter tua certeza, e se tiver fé pode dizer isso para os outros, mas infelizmente o que mais ocorre é gente sem noção ter certeza de coisas que nem sabe o que é, muito menos ter vida digna para ter direito a essas coisas. Reavaliemos céu e inferno estudando o texto de Mateus 25.32-46, um texto tão completo quanto revelador, este tema será dividido em três reflexões, esta, sobre o céu, a próxima, sobre o inferno, e a última sobre a eternidade.

O Juízo Final

      “E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.Mateus 25.32-33

      O evento escatológico deste texto é o último, na série de eventos sobre o final dos tempos, após o arrebatamento, a grande tribulação, a volta de Cristo em Jerusalém e o reinado de Cristo e dos santos na Terra por mil anos (o milênio), depois disso é que ocorre, segundo a interpretação de muitos estudiosos protestantes, o trono branco ou o derradeiro juízo final. Antes disso ainda haverá oportunidade de escolha do tipo de eternidade que se deseja viver, chance de salvação haverá mesmo após o arrebatamento quando os salvos e consagrados subirão para as bodas do cordeiro, sendo preservados da grande tribulação. O que precisamos entender é que sob o ponto de vista cristão protestante haverá um momento onde todos os seres humanos, de todas as nações e tempos, serão divididos em dois grupos, dois extremos, sem meios termos, direita e esquerda, ovelhas e bodes, sem purgatório e sem reencarnação. 

O Céu

      “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.Mateus 25.34-36

      Um grupo terá uma herança boa, em paz, com e em Deus, gozará de delícias e maravilhas que não podemos ter ideia do que sejam. Jesus é o meio direto que pode nos levar a fazer parte desse grupo, não religiões ou mesmo boas obras. Não basta seguir fielmente uma religião, é preciso ter uma experiência espiritual e interior com o verdadeiro Deus, que nos transforma de dentro para fora. Também não basta fazer boas obras, ainda que elas possam ser o efeito da causa fé em Deus, mas se as obras não forem para adorar a Deus, podem até valerem como créditos de prosperidade neste mundo, mas não levarão as pessoas para perto de Deus na eternidade. Por quê? Porque os egoístas e materialistas aqui, continuarão sendo lá, mesmo que tenham sido bons cidadãos, estarão num abismo sem fim na eternidade.

Quem vai pro Céu

      “Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?Mateus 25.37-39

      Na passagem, os justos questionaram o supremo juiz sobre quando fizeram coisas boas que lhes deram direito a uma eternidade com e em Deus, só essa pergunta dos justos já explica tudo, revela o coração de um justo, sua intenção verdadeira e sua essência. O justo não pratica boas obras porque isso lhe dará alguma recompensa, e mesmo que faça conscientemente coisas boas, nunca se acha bom o suficiente, nunca se acha no direito de receber um pagamento eterno de Deus por isso. Isso é uma das definições mais precisas de humildade, o humilde vigia de tal maneira sua mente e seu coração que não ficam nele qualquer presunção ou sentimento de arrogância, de se achar melhor por ter feito isso ou aquilo. Ele faz por obrigação, por dever, mas ainda assim, não faz com frieza ou displicência, mas com alegria, dando o seu melhor no tempo certo, age depressa e com generosidade porque sabe que isso é certo. 

      “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.Mateus 25.40

      O versículo 40 nos revela um mistério espiritual e universal importantíssimo, que esotéricos e espiritualistas, principalmente orientais, muitas vezes conhecem mais que os cristãos, o mistério é: somos todos um em Deus e Deus está em todos. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor norte-americano Ernest Hemingway encontrou inspiração para o título do seu romance “Por Quem os Sinos Dobram” (1940), o texto original de Donne, escrito em 1623, diz: “Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado, todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós” (Link da Fonte).
      Desculpe-me recorrer à arte secular, mas ela se encaixa muito bem ao ensino deste texto bíblico. Infelizmente, como muitos evangélicos atuais são egoístas, materialistas, escondem-se nos templos com medo do diabo, condenam muitos ao inferno, se acham no direito do céu, e pouco praticam para ajudarem o próximo, mesmo que esse próximo esteja de fato próximo a ele, na cadeira ao lado num culto. Quando desprezamos um pequenino de Cristo, é a Cristo que desprezamos, e um pequenino pode estar bem ao nosso lado, às vezes com uma cara feia, com uma postura que até não achamos de cristão, mas com um coração humilhado diante de Deus, adorando a Deus em silêncio, na solidão. Ajudar um pequenino como esse, muitas vezes com algo que nem nos custa muito, só com alguma atenção, com algum carinho, pode nos dar muito mais direito à eternidade com e em Deus que assiduidade em cultos, fidelidade em dízimos e ofertas, e só aparência externa de crente.

Esta é a 15ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quinta-feira, maio 14, 2020

Reavaliemos Comunicação com mortos e a Teologia (14/30)

14. Comunicação com os mortos e a Teologia

      Neste texto, a finalização da reflexão sobre comunicação com mortos, no outro texto analisamos passagens bíblicas que falam sobre o assunto, aqui análises teológicas, um pouco diferentes entre si, mas que representam a opinião da grande maioria de protestantes e evangélicos sobre o tema. Lembrando que este texto é uma das partes do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, que traz à tona temas importantes e polêmicos sobre a doutrina cristã, se possível leia todo o estudo para ter uma opinião sobre o ponto de vista do “Como o ar que respiro” sobre o assunto. 

      Na defesa da Bíblia ser a palavra de Deus, é muito importante que ela seja coesa, isso é, não se contradiga e se auto-explique, como poderia se defender algo como dito por Deus se contivesse incoerências, interpretações dúbias? Assim teólogos protestantes se esforçam para não acharem na Bíblia textos que se contradigam, nisso podem forçar certas interpretações, em minha opinião. A Bíblia pode ter três camadas de interpretação: o que Deus pode dizer através dela, o que os homens quiseram e querem dizer através dela, e o que nós queremos que ela nos diga, em cada uma dessas camadas acha-se coesão. Coesão é relativa, vê-se coerência onde se quer ver, busca-se integridade naquilo que se quer achar, como sempre a subjetividade humana é quem dá a palavra final, não Deus, coesão não existe por si, é algo buscado, defendido, construído.
      Os teólogos protestantes constróem sua coesão bíblica sobre a tradição judaica e a igreja primitiva, assim, textos como I Samuel 28 (Saul consultando a médium de En-Dor) e Lucas 9 (a transfiguração de Cristo), se apresentam para eles como exceções que exigem deles esforço maior para casarem suas interpretações com o que eles defendem ser a teologia geral da Bíblia sobre comunicação de vivos com mortos. Abrindo parênteses, a Igreja Católica permite oração pelos mortos apoiada na citação de Macabeus I 12.38-45, livro considerado apócrifo pelos protestantes e não presente na Bíblia evangélica, essa doutrina está atrelada à doutrina católica do purgatório, assim católicos oram pelos mortos para que esses passem do purgatório ao céu (leia neste link a respeito), fechando parênteses.

      Uma análise séria sobre I Samuel 28, defendendo sobre muitos aspectos técnicos a doutrina protestante tradicional sobre consulta aos mortos que diz que isso é tanto proibido por Deus quanto impossível, é feita pelo teólogo, mestre e missionário, Russell Shedd, nas Bíblias Vida Nova e Shedd, segue transcrição de parte de sua análise:
      “A crônica de 7-25 fora escrita por uma testemunha ocular, logo por um dos servos de Saul que o acompanhara à necromante. Frequentemente esses servos eram estrangeiros e quase sempre supersticiosos, crentes no erro, razão porque o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que é parte da história de Israel pela determinação divina, entrou no cânon sagrado e deve estar lá, como lá estão os discursos dos amigos de Jó, as afirmações do autor de “debaixo do sol”, a fala da mulher de Tecoa etc - palavras e conceitos humanos. (Infelizmente esta crônica é interpretada por muitos sobre o mesmo ponto de vista do servo de Saul).” 
      “Quem respondeu a Saul? Sugerimos a seguinte possível explicação, a Bíblia fala de certos espíritos, sua natureza e seu poder. São os anjos maus. Do mesmo modo fala de anjos que acampam ao nosso redor e nos guardam. São os anjos bons. São dois, os “secretários” (se não mais) que nos acompanham durante a vida toda, um bom e outro mal. Anotam tudo e sabem tudo a nosso respeito. Depois da morte o anjo bom leva o nosso livro-relatório diante de Deus pelo qual seremos julgados. Por sua vez o anjo mau assume a nossa identidade e representa-nos no mundo através dos médiuns, onde revela o nosso relatório com acerto e “autoridade”. É por isso que Paulo fala da luta que temos contra as forças espirituais do mal e é pela mesma razão que Deus proíbe consultas aos “mortos”, porque estes são falsos. Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém, proíbe o que é dissimulação e falsidade.” (Bíblia Shedd, 1ª edição, 1998, Edições Vida Nova, parte dos comentários de rodapé das páginas 430 e 431 sobre o texto de I Samuel 28.7-25)

     Para defender seu entendimento bíblico, Shedd dá a sua interpretação do texto, que ao meu ver, em alguns aspectos, é forçada, sacrificando exegese por uma coesão teológica que ele tenta ver. Isso ocorre quando diz que o texto pode ter sido escrito por um servo estrangeiro de Saul, que estava enganado sobre o que de fato tinha testemunhado. Sob esse ponto de vista, alguém registrou uma mentira na Bíblia e isso, mesmo depois de anos de revisões feitas principalmente por líderes judeus, não mereceu de ninguém uma explicação de que é mentira, simplesmente ficou registrado como uma declaração verdadeira, e justamente uma passagem que fala sobre algo de proibição tão clara na Bíblia (Deuteronômio 18.10-13).
      Shedd defende esse argumento dizendo que isso ocorre também em outras passagens na Bíblia, dá como exemplo passagens do livro de Jó com os discursos dos amigos de Jó. Ao meu ver, no livro de Jó é diferente, aliás não existe nenhuma polêmica sobre as passagens de Jó, lá está registrado de maneira clara que os argumentos dos amigos de Jó são equivocados, que o que Jó experimenta é um embate ideológico que tenta suas convicções. As afrontas ideológicas dos amigos de Jó são parte importante na tentação do homem de Deus, que no final do livro reconhece a soberania de Deus, assim como seus amigos são punidos por Deus por terem falado a Jó coisas erradas sobre Deus (Jó 42.7).
      Além disso, Shedd usa argumento não bíblico para defender uma possível simulação maligna do espírito do morto Samuel, que pode ter ludibriado o servo de Saul responsável pelo relato enganoso. O argumento é um conhecimento do esoterismo, sobre o “anjo bom” e o “anjo mau”, que não tem base bíblica direta. Interessante o professor basear-se no princípio que a Bíblia explica a própria Bíblia em um ponto, e usar algo que não está na Bíblia para achar coesão na Bíblia em um outro ponto. Mesmo que eu não tenha qualquer intenção de descreditar Russell Shedd, homem de magnífica importância para a teologia no Brasil e no mundo, não tenho receio de discordar dele sobre o texto de I Samuel 28, a eternidade nos esclarecerá.

      Outra análise muito interessante sobre I Samuel 28, que representa mais a minha opinião, e que abre a porta para um conhecimento mais profundo de Deus através da Bíblia, é feita pelo pastor e teólogo Augustus Nicodemus Lopes (clique no link para ver o estudo completo). Essa análise ainda defende a posição tradicional protestante que diz que consulta a mortos é proibida por Deus na Bíblia, todavia, diz que tanto o aparecimento de Samuel já morto na passagem de I Samuel 28, como o aparecimento de Moisés e Elias já mortos a muito mais tempo em Lucas 9, são exceções feitas pelo próprio Deus. Realmente foi o espírito de Samuel que apareceu a Saul, não foi um engodo do diabo, nem charlatanismo da feiticeira, nas palavras do reverendo Nicodemus, “pois Deus mesmo faz as regras e as suspende de acordo com sua soberana vontade e com seus propósitos”. 
      Isso pode ser difícil de ser aceito por uma grande maioria de cristãos, pois contraria um mandamento de Deus assim como a doutrina protestante tradicional, mas é o único jeito de ser fiel ao texto bíblico, sob o ponto de vista exegético. Em nenhum momento, como ocorre em outras passagens bíblicas, é dito que o diabo aparece enganando Saul, mas que é Samuel quem aparece. Contudo, os que discordam dessa interpretação são os mesmos que defendem interpretações da Bíblia ao pé da letra em tantas outras passagens, assim fazem uma exceção neste caso, mas a interpretação ao pé da letra de I Samuel 28 nos leva a acreditar que Deus faz uma exceção, e ele pode fazer isso, quando permitiu que o espírito verdadeiro do morto Samuel aparecesse ao teimoso Saul, experiência que só aumentou sobre Saul o juízo de Deus.
      Uma das coisas que mais me agradam na Bíblia são justamente os pontos que sob o ponto de vista humano são considerados polêmicos, só sob o ponto de vista humano, não de Deus. Passagens assim mostram a total liberdade que o Espírito Santo teve para orientar os registros bíblicos, sem se preocupar em ser teologicamente sistemático, sem se acomodar às caixas humanas, sem revelar todas as verdades de Deus, mas também sem escondê-las, sem escancarar as limitações humanas, mas também sem escondê-las. Enfim, a Bíblia não é para ser lida como um livro de leis objetivas para então ser obedecido cegamente (sem pensar ou sentir), é preciso usar a inteligência, o bom censo, mas também o discernimento espiritual e o amor de Deus. Eu pessoalmente não acho que Deus fez uma exceção para Saul e para Jesus na transfiguração, só penso que a maioria dos cristãos não está preparada para a verdade de Deus, por isso é melhor que certas coisas, ao menos por enquanto, sejam simplesmente proibidas. 

Esta é a 14ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quarta-feira, maio 13, 2020

Reavaliemos Comunicação com mortos na Bíblia (13/30)

13. Comunicação com os mortos na Bíblia

      O assunto deste texto é polêmico, refletiremos sobre passagens bíblicas que relatam algo que parece destoar da doutrina bíblica protestante tradicional sobre necromancia, consulta aos mortos, comunicação de vivos com falecidos e de mortos com mortos. Na próxima parte, ainda dentro do estudo “Reavaliemos nossas Crenças”, a continuação dessa reflexão, assim, se possível, leia todo o estudo para ter uma opinião sobre o ponto de vista do “Como o ar que respiro” sobre o assunto. 

      - Deuteronômio 18.10-13: uma lei mosaica que condena consulta a espírito adivinhador e aos mortos. A Bíblia é clara quando Moisés orienta a nação de Israel que a prática de consulta aos mortos não deveria ser feita, contudo, se existe proibição é porque a experiência pode ser realizada, isso pode ser interpretado, ainda que não seja aconselhável, senão nem seria proibida. Dessa forma se Moisés legislou enfaticamente uma proibição é porque comunicação com os mortos faz mais mal que bem, conduz mais ao afastamento de Deus que à aproximação com ele, não que seja impossível de ser feita. 

      - I Samuel 28 (todo o capítulo, por favor, leia todos os textos citados nesta reflexão, mas esse em especial leia com calma e mais de uma vez, se possível): a experiência de Saul falando com o espírito do morto Samuel através da feiticeira de En-Dor. Ela é a mais polêmica, talvez a mais polêmica da Bíblia protestante, cita uma experiência de contato com espírito de um morto, Saul com Samuel através da médium, em momento algum a Bíblia diz com clareza que é mentira, sonho, ou algum tipo de engano demoníaco. I Crônicas 10.13-14 diz que Saul teve o fim que teve porque dentre outras coisas buscou a adivinhadora para a consultar, desprezando a orientação que Deus já tinha dado (ou não) por meios legítimos, conforme a religião israelita da época. Contudo, ainda assim, a Bíblia não diz que a experiência não foi real, só diz que não era a maneira aprovada por Deus para orientar Saul.

      - Lucas 9.28-36, Mateus 17.1-9 e Marcos 9.2-9onde Jesus transfigura-se e os espíritos de Moisés e Elias aparecem a ele, a Pedro, a Tiago e a João. Nessas passagens duas pessoas mortas apareceram a uma pessoa viva, isso é, os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, esse acontecimento foi uma exceção ou um dos registros únicos na Bíblia de um evento real? O consenso da teologia tradicional protestante é que foi um evento único que antecedeu a ressurreição de Jesus, legitimando essa, revelando, antecipadamente, o poder diferencial que Cristo teve de vencer a morte. O aparecimento especialmente de Moisés e Elias, representantes dos pilares da religião de Israel, Moisés a lei e Elias os profetas, revela o valor superior da nova aliança de Cristo com relação a velha aliança. Interessante que justamente esses dois personagens tiveram mortes, digamos assim, não normais e envolvidas em mistérios (Enoque é um terceiro exemplo bíblico disso, Gênesis 5.24), ambos tiveram experiências diferentes com seus corpos físicos. A Bíblia até cita que Moisés foi enterrado, mas não se sabe exatamente onde (Deuteronômio 34.5-6), além do que houve uma disputa entre o diabo e o arcanjo Miguel por seu corpo (Judas 1.9), por quê? A Bíblia não diz. Já Elias foi levado ao céu, ao que nos parece, ainda em vida por uma carruagem de fogo celeste (II Reis 2.11).

      - Lucas 16.19-31: a parábola do rico e do mendigo Lázaro, onde é dito que existe um abismo entre inferno e céu. Interessante que a pergunta do rico morto no inferno diz respeito a uma possibilidade de quem está no céu (no seio de Abraão) se comunicar com que está no inferno, na “parábola” Abraão responde, “está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá“. Assim o que fica claro neste texto é que não é possível ou permitido uma comunicação entre quem está no inferno com quem está no céu, e vice-versa. Mas o rico faz um segundo pedido a Abraão, que ele pudesse alertar seus irmãos em vida para que agissem melhor para não virem ao inferno, contudo, a resposta de Abraão é, “se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”, a palavra não diz exatamente que não seria possível a comunicação, só diz que seria inútil. Um detalhe sobre essa passagem é que estudiosos têm a opinião que apesar de relatar uma história fictícia ela se baseia em realidade espiritual, não em metáforas, assim não se configura uma parábola tradicional, isso dá ainda mais argumentos para uma explicação teológica sobre a vida além morte e comunicação entre mortos e entre mortos e vivos.

Esta é a 13ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

terça-feira, maio 12, 2020

Reavaliemos Catolicismo e Protestantismo (12/30)

12. Catolicismo e Protestantismo

      Um conhecimento com embasamento mais científico, algo que ajudaria muito os crentes entenderem melhor o que creem, contudo, o que vemos em muitos púlpitos são pregadores demonizando ciência e filosofia, não entendendo (ou se fazendo de não entendedores propositalmente para não criarem ovelhas lúcidas) que elas são só ferramentas, não fim em si mesmas, e ferramentas da parte intelectual do homem, tão criação de Deus como o corpo e o espírito. Saber um pouco mais de história, por exemplo, pode nos fazer enxergar verdades claras sobre os processos evolutivos de muitas coisas, como das religiões e de seus textos sagrados. Existem livros de história universal, esses usados no ensino público, que em quatrocentas páginas nos dão uma ideia bem legal sobre história ocidental, império romano, idade média, etc, são informações importantes para entendermos o que é a Igreja Católica e a Reforma Protestante, com o tempo que levaríamos para ler um romance qualquer somos abastecidos com um conhecimento bem relevante para nossa fé.
      Muitos hoje, desconhecendo a história, não enxergam que durante a maior parte da trajetória do cristianismo no mundo ocidental, era a Igreja Católica quem imperava, assim ela era a representante oficial do cristianismo na Terra (eu disse do cristianismo, não de Cristo). Contudo, é preciso antes de tudo entendermos, que apesar dos católicos exigirem para si a continuidade legítima do cristianismo iniciado por Cristo e a igreja cristã fundada por Paulo, Pedro e outros apóstolos do século I, isso não confere. “Em 313, o imperador Constantino fez publicar o Édito de Milão, que instituía a tolerância religiosa no império, beneficiando principalmente os cristãos. Com isso, recebeu apoio em sua luta para se tornar o único imperador e extinguir a tetrarquia. Em 361, assumiu o trono Juliano, que tentou reerguer o paganismo, dando-lhe consistência ético-filosófica e reabrindo os templos. Três anos depois o imperador morreu e, com ele, as tentativas de retomar a antiga religião romana.” (Fonte Wikipedia). 
      A Igreja Católica que foi oficializada pelo imperador Constantino era extremamente distinta na doutrina, na hierarquia, nos objetivos, mas principalmente nos frutos, amargos e terríveis, que o Catolicismo colheu e colheria no decorrer de sua história, daquela fundada pelo Espírito Santo em Jerusalém na Festa de Pentecostes. Assim, se hoje evangélicos veem no catolicismo tantos erros, o que pensava Deus sobre o que era ensinado sobre ele, no mínimo entre o século IV e o século XVI, início oficial da Igreja Católica e época da reforma protestante? Se entendermos isso poderemos chegar a duas conclusões diferentes: ou a Igreja Católica está certa e os protestantes estão errados, e Deus está no catolicismo, ou Deus age indiferentemente do que é ensinado e ele não está nem aí com o que igrejas cristãs acreditam como sendo suas doutrinas oficiais e exclusivas para levarem os homens à verdade, sejam elas quais forem. 
      O que fica difícil de aceitar, e incrivelmente é o que os protestantes e evangélicos mais acreditam, é uma terceira conclusão, que a verdade sobre Deus só foi revelada ao mundo (ou a revelação foi restabelecida após mais de mil anos de catolicismo exclusivo) quando se fez a Reforma Protestante. É difícil crer que só a partir do século XVI (31 de outubro de 1517), quando Martinho Lutero publicou suas noventa e cinco teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, é que de fato tivemos uma Bíblia e sua interpretação realmente “corretas”. Dizer isso é dizer que por mais de mil anos as pessoas estiveram sem a luz da Bíblia, condenadas às trevas do verdadeiro conhecimento de Deus e presas à idolatrias e heresias. Está achando isso exagero? Em primeiro lugar é preciso saber se você está entendendo de fato o que está sendo dito aqui, você está? Senão, leia novamente, por favor. 
      A verdade é que Deus salva pelo Espírito Santo, não pela palavra escrita, Deus nunca teve a intenção de estabelecer na Terra uma embaixada oficial. Por outro lado, esse cânone bíblico que protestantes e evangélicos tanto idolatram, só foi largamente acessível há pouco tempo, na época anterior à reforma era escrito em latim e de estudo restrito a clérigos, a liderança lia, entendia e ensinava, o povo só ouvia e aceitava, sem questionar. Mas mesmo após a reforma, cópia da Bíblia na língua natal do país não era algo fácil de se ter, e as pessoas, muitas delas, nem sabiam ler. Seja como for, essa Bíblia que todos têm na mão hoje em dia com tanta facilidade, em tantas versões, encadernações e comentadas por tantos, é muito mistificada e é por isso que muitos não reavaliam suas crenças, acham que são a real palavra de Deus e ir contra elas seria ir contra o próprio Deus.
      Isso nos leva ao entendimento que usar a Bíblia, que protestantes e evangélicos têm nas mãos hoje em dia como palavra direta e plena de Deus, não é o mais sensato, ainda que ela contenha a palavra de Deus, ainda que seja singular entre todos os textos religiosos do mundo de todos os tempos, ainda que o centro dela seja Jesus, o caminho, a verdade e a vida, ainda que seus textos tenham sido escritos por homens inspirados pelo Espírito Santo. Mas se tivesse a relevância legalista e absoluta que muitos lhe dão, ela teria sido entregue aos homens no início e sempre estaria com eles, iluminando seus caminhos e mostrando o rumo ao altíssimo. Contudo, é por idolatrar a Bíblia que muitos se desviam de Deus, calam o Espírito Santo, negam o amor de Jesus, deixam de dar no mundo um testemunho verdadeiro, eficiente e poderoso, e são preconceituosos e intolerantes. 

Esta é a 12ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

segunda-feira, maio 11, 2020

Reavaliemos “A Bíblia é a palavra de Deus” (11/30)

11. “A Bíblia é a palavra de Deus”

            Continuando nossa série de reflexões sobre reavaliar crenças, uma reavaliação sobre a Bíblia, tema que já refletimos bastante no estudo “Bíblia do jeito certo”. Este tema será apresentado em duas partes do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, nesta e na próxima reflexão, que desta vez será focado em responder uma questão, de importância fundamental à teologia cristã protestante: a Bíblia é a palavra de Deus ou ela contém a palavra de Deus? 

      É importante que protestantes e evangélicos (e católicos, e ortodoxos, para se falar com mais abrangência de cristãos) estejam cientes que muitas coisas que eles creem como verdades indiscutíveis, como dogmas, como doutrinas básicas e delimitadoras de experiências e ideias do que eles vivem como cristãos, foram estabelecidas por séculos de tradições orais passadas de geração para geração, de escritos em línguas e materiais distintos, e depois por concílios e consensos teológicos estabelecidos por homens. Como a religião, textos sagrados são construções humanas, Deus nunca desceu do céu para definir princípios, selecionar esse ou aquele texto como inspirado, elencar essa ou aquela doutrina como verdade. 
      Aqueles que inocentemente acreditam que antes de qualquer dessas reuniões de lideranças eclesiásticas, uma busca a Deus, verdadeira e santa, foi feita, para que se conhecesse a real vontade do Senhor para os homens, se enganam. Muitas doutrinas foram estabelecidas por pura conveniência humana, para manter o controle político (e mesmo econômico e militar) nas mãos de alguns, para dominar sobre a maioria, para se estabelecer como povo e nação, ainda que abrindo mão de pureza de intenções. Enfim, tanto a nação de Israel, como a Igreja Católica e os Reformadores Protestantes, escolheram o que era de seus interesses, e isso é ensinado até hoje. O processo histórico é construído com falsas verdades? Sempre.
      Mas e a soberania do altíssimo sobre tudo, como fica? Não acompanhou e direcionou tudo conforme sua vontade para que homens fossem abençoados e conhecessem a Deus? Com certeza isso é argumento também de homens, mas a resposta é sim e não. O livre arbítrio sempre tem prioridade, tanto para os que selecionam o que deve ser crido, como para os que escolhem no que querem crer. Contudo, ainda assim, creio num Deus amoroso, que conhece os limites humanos, que protege os homens deles mesmos, mas que muitas vezes tem que agir como pai de crianças, não de adultos, dizendo não para algumas coisas, não porque sejam erradas em si mesmas, mas porque crianças não estão preparadas para administra-las. 
      Vou me posicionar, eu penso que a Bíblia contém a palavra de Deus, não penso que ela é. A verdadeira palavra de Deus com certeza foi falada ao coração de Moisés, de Samuel, de Davi, de Salomão, de Daniel, de Isaías, de Marcos, de Lucas, de Pedro, de Paulo, de João evangelista e de tantos outros que registraram os textos bíblicos, Deus sempre fala com todos, principalmente com os que o buscam. Mas eles registraram isso com fidelidade? Não, não podiam porque eram limitados como indivíduos em suas espiritualidades, e como homens de seus tempos em suas intelectualidades, mas também nem precisavam, Deus nunca exigiu isso deles e não exige de ninguém. 
      O que precisamos entender é que achar a palavra de Deus na Bíblia é exercício de homens íntegros, inteligentes e espirituais, que querem de fato conhecer a Deus, não obedecer cegamente e ao pé da letra um livro de regras morais. É preciso se dar ao trabalho, de estudar e orar, não só de decorar e repetir, isso permite que homens e mulheres cresçam em suas plenitudes como seres, no corpo, na alma e no espírito. Isso difere robôs de humanos, manada de animais irracionais de ovelhas espirituais do verdadeiro pastor. Isso nos permite ler os mitos (assunto que refletiremos mais a frente neste estudo) e entender as verdades, escondidas dos ociosos e hipócritas, mas reveladas aos simples. 

Esta é a 11ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020