quinta-feira, dezembro 03, 2020

64. O que é ser espiritual?

Espiritualidade Cristã (parte 64/64)

      O espiritual crê que só através de Jesus pode chegar ao Deus Altíssimo, sabe que só assim pode conhecer a verdade mais profunda. 

      O espiritual não se cansa de pedir perdão, ainda que se esforce para não repetir erros, ele cresce no quebrantamento de espírito. 

      O espiritual ama a Bíblia mas vive no Espírito Santo, experimenta nele, e em mais nada ou ninguém, o mestre Jesus no mundo.

      O espiritual busca a Deus, não religiões, apesar de conseguir viver dentro delas, ser abençoado por elas e abençoar outros nela.

      5 O espiritual está em Cristo, mas dá ao cristianismo no mundo seu lugar como coisa de homens, assim se desvia da igreja para Deus.

       6 O espiritual respeita o mundo e seus poderes, o livre arbítrio dos homens e suas religiões, ele não é violento nem em nome da verdade. 

      O espiritual é livre, não libertino, é tolerante, mas assume convicções, não tem preconceitos, se dá ao direito de questionar sempre. 

      O espiritual protege as crianças, abraça os idosos, é paciente com os jovens e conhece as astúcias dos seres espirituais rebeldes e dos políticos.

      O espiritual conhece o coração do homem, pois conhece o próprio coração, sabe quão águas profundas é, a verdadeira intenção está no fundo.

      10 O espiritual trabalha muito pela manhã, administra o suficiente à tarde e descansa à noite, ele conhece os tempos e os respeita. 

      11 O espiritual não tem medo de pagar preços, ainda que sofra sabe que importa morrer para renascer mais iluminado em uma só vida.

      12 O espiritual não teme a verdade, ainda que por ela perca aprovações, ele a mostra com firmeza, resistindo aos ventos da mentira.

      13 O espiritual não tem vaidades nem se apega às aparências, nem a de ser espiritual, ele sabe que o mais importante está no interior. 

      14 O espiritual não receia o tolo que grita, ele tem o argumento que mesmo no silêncio prevalece e alegra só por existir, não por se opor. 

      15 O espiritual ainda que caia, levanta-se, ainda que se desonre, se limpa, ainda que desacreditado, acredita, ainda que esquecido, ama. 

      16 O espiritual encontra e cala, mede o valor do que encontrou e cuida, satisfaz-se só em saber, não tem necessidade de dizer e contradizer. 

      17 O espiritual não engessa a espiritualidade, não se ilude com o saber nem despreza o não saber, ele vê Deus em todas as criaturas. 

      18 O espiritual se constrói neste mundo e no passar dos anos, e ainda que comece lá embaixo, vai subindo, como o sol ao amanhecer.

      19 O espiritual faz parte da solução, não do problema, isso o tempo sempre revela, e os que tiverem a menor honestidade reconhecerão. 

      20 O espiritual acha abrigo na paz que perde para ganhar, que cala para conhecer a Deus e a si mesmo, que não liga para palcos e púlpitos.  

      21 O espiritual sabe o tempo de se retirar, espera a morte tranquilo, não como quem vai sumir, mas subir, o sol nunca morre, só não é visto. 

      22 O espiritual entende e não é entendido, é odiado pelos de casa, ignorado pelos da rua, e ainda assim abençoa a todos e não represa rancores. 

      23 O espiritual percebe a história, não acorda como se o juízo final fosse ao meio-dia, mas dorme como se fosse encontrar Deus na madrugada. 
      
      24 O espiritual deseja um lugar com os luzeiros de Deus, não precisa ser um lugar vip, só um cantinho onde possa se unir ao amor divino eterno. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, dezembro 02, 2020

63. Conhecimento é vida

Espiritualidade Cristã (parte 63/64)

      E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      Sede de conhecimento espiritual é uma boa curiosidade, alguns a têm de forma mais natural, se for o teu caso não tente supri-la com teorias de conspiração, com explicações fantasiosas que existem aos montes no mundo, essas são mais ferramentas de manipulação, que de fato explicações verdadeiras. A verdade está na fonte, assim acesse-a de preferência em primeira mão, diretamente de Deus, “quem conta um conto sempre aumenta um ponto” e cada um armazena informação com as ênfases que lhe convêm, busque em Deus as tuas respostas. Mas se você não for curioso, cuidado, isso pode não representar uma virtude, mas só um desinteresse de quem ou não entendeu ou se esqueceu que amar a Deus é fonte de vida que nos atrai a ele nos faz crescer, “buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55.66).
      Podemos correr o risco de quando mais precisarmos termos dificuldades de achar a Deus, não porque Deus se esconda de nós, não é Deus quem se afasta, são nossos corações que podem se esfriar de tal maneira que não sintam mais vontade, que não tenham mais fé, que não experimentem mais a curiosidade espiritual, que nos leva a prosseguir querendo conhecer mais e mais a Deus. “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir, mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Isaías 59.1-2). Com Deus só tem uma direção a seguir, para frente e para cima, não se acomode, mas continue, conhecendo a Deus, ore mais, obedeça mais, viva mais a espiritualidade cristã.
      “Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.” (Provérbios 1.33), a curiosidade que nos dá vida espiritual não é vontade que se origina na alma do homem que deseja saber sobre coisas que não têm explicação, mas é iniciativa de Deus para revelar ao homem aquilo que ele precisa saber para ter uma vida espiritual sadia. Dessa forma, querer conhecer mais a Deus é uma questão de desobediência, quem se acomoda desobedece e se enfraquece, mas alguém pode perguntar, “mas como faço isso, lendo mais a Bíblia, indo a mais cultos, frequentando a E.B.D.? Também, mas o mais importante é orar dando liberdade para o Espírito Santo, o mestre é o Espírito Santo, e comunhão com o Espírito é algo que só se aprende fazendo, coisas espirituais se aprendem do jeito espiritual, debaixo do poder do nome de Jesus. 
      Os cristãos, por medo, que os leigos têm e os líderes querem manter para terem controle sobre os leigos, acabaram se afastando de experiências espirituais mais profundas, com isso passaram a crer e a ensinar uma religião de teorias, não de práticas. Por isso tantos preferem os espiritismos e esoterismos, essas crenças se aprofundam na comunicação e no conhecimento espiritual e entrega aos homens uma espiritualidade mais legítima e prática, ainda que ao não colocarem Jesus como único e suficiente salvador se perdem nos principados e potestades e não alcançam o Deus Altíssimo. A verdade é que o protestantismo, ainda que tenha pretendido um retorno ao cristianismo primitivo, o fez dentro de paradigmas católicos, sabemos que Martinho Lutero nunca quis deixar de ser católico, só queria se libertar de burocracias e de hierarquias religiosas.
      De fato Martinho Lutero e outros protestantes fizeram uma reforma, mas não fizeram uma transformação, simplificaram mas mantiveram os fundamentos, do cristianismo original? Não, do catolicismo, mesmo que sem os “santos”, ainda somos católicos, caros irmãos evangélicos, não nos enganemos, dessa forma ainda presos a lei (ao cânone bíblico) e não ao Espírito, a liturgias e não à liberdade de culto, a tradições e não ao conhecimento vivo e gradativo de Deus. Não, a palavra de Oseias 6.3, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”, não se aplica à prática do cristianismo que muitos evangélicos vivem atualmente, e que talvez nunca tenham vivido depois do primeiro século, esses são os fatos, os que tiverem olhos abertos verão. Deus abençoou a humanidade apesar disso? Sim, mas há limites.
      Precisamos acordar, não poderemos seguir como cristãos sem de fato conhecermos a Deus, uma grande, diferenciada e final perseguição se arma, sem mudança o cristianismo não resistirá, e já não está resistindo à medida que tenta lutar contra o inimigo com armas das trevas, não da luz. Nisso a espiritualidade cristã se desprestigia, à medida que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do fica mais atrativo, entregando uma espiritualidade que respeita e valoriza todos os seres humanos. Jesus não perde o poder, mas se o homem escolher não vivê-lo a luz mais alta se apagará no mundo, e isso, meus caros, é o anti-cristianismo se manifestando. O mesmo homem que deu poder ao diabo pelo livre arbítrio pode anular a salvação de Cristo também por uma simples escolha, Deus deu o mundo ao homem e esse pode dá-lo a quem escolher dar. 
      O texto inicial desta reflexão é o lema do blog “Como o ar que respiro”, uma das coisas que me dá segurança em compartilhar o que entendo em Deus como sendo espiritualidade cristã é João 17.3, me veio ao coração em maio de 2010 quando criei o espaço. Não foi só mais um de tantos versículos importantes na Bíblia, mas representa o centro de minha chamada neste mundo, que só vem se fortalecendo nesses dez anos de blog, chamada que me leva a não me acomodar com o tradicional e nem me prender a pré-conceitos, mas prosseguir, conhecendo a Deus, nisso tenho achado vida, libertação de vícios e vaidades, iluminação que me realiza e que me faz feliz. Com ele encerro o estudo “Espiritualidade Cristã”, exortando a todos que conheçam mais de Deus, e que não parem enquanto não acharem felicidade real que permanece. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

terça-feira, dezembro 01, 2020

62. Prossigamos em conhecer a Deus

Espiritualidade Cristã (parte 62/64)

      “Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele. Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva seródia que rega a terra. 
      Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Por isso os abati pelos profetas; pelas palavras da minha boca os matei; e os teus juízos sairão como a luz, Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” 
Oseias 6.1-6

      O texto de Oseias é uma lição de espiritualidade cristã, podemos aprender várias coisas com ele. Em primeiro lugar ele faz um convite para que todos nos aproximemos de Deus, eis algo que precisamos aprender a fazer, acima de tudo nesta vida, convidar as pessoas para chegarem mais perto de Deus. Não de religião, não de crenças, mas do único e verdadeiro Deus, e por dois motivos básicos. Em primeiro lugar porque ele existe, e em segundo lugar por ele tem boas coisas para aqueles que se achegam a ele. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam“ (Hebreus 11.6), aproximemos-nos de Deus, e com fé, pois ele abençoa os que se aproximam assim, e sem acepção de pessoas. Deus sempre tem as portas de seu coração abertas. 
      Contudo, o convite que o profeta faz é mais que para um encontro, é para um reencontro, a quem um dia esteve perto do Senhor, por ele foi abençoado, mas que depois, por rebeldia, por imaturidade, por dar prioridade a alguma vaidade ou a algum prazer passageiro dessa vida, por ser enganado por uma ilusão, se afastou, e quem se afasta, principalmente depois de ter conhecido o melhor de Deus, paga um preço caro. O profeta admite esse preço, reconhece que ele é disciplina do Senhor para com os rebeldes, mas agora, num estado de quebrantamento acredita que o mesmo Deus que disciplinou, que feriu, poderá curar a ferida. Interessante as palavras “depois de dois dias nos dará a vida, ao terceiro dia nos ressuscitará e viveremos diante dele”, o profeta aceita que certos processos de reaceitação não são rápidos, mas ainda assim valem a pena.
      Amo as palavras que seguem, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor“, Oseias revela a profundidade que existe no conhecimento de tudo através de Deus, ele fala da vocação mais alta que todo ser humano tem, acima de qualquer outra coisa. Essas palavras me passam a sensação de algo que nos leva a uma expectativa apaixonada para experimentar uma aventura maior, o profeta diz que conhecer a Deus é uma experiência que nos instiga a mais e mais prosseguir aprendendo. Conhecer a Deus não é saber algumas doutrinas religiosas, cumprir alguns sacramentos, para depois cair num tédio que faz com que as coisas percam a graça, onde não existam mais novidades, não é um curso primário, e nem só um curso superior, mas pós, pós e pós graduações que vão iluminando nossos caminhos em direção ao Deus Altíssimo.
      Infelizmente conhecer a Deus é uma maravilhosa aventura que grande parte dos cristãos não usufrui, muitos seguem fieis a ritos e tradições, como que por obrigação, com medo de pararem e serem castigados, mas ainda que assíduos a cultos e missas, desligam-se do Espírito de Deus. Conhecimento de Deus não é só informação intelectual, é comunhão com o Espírito Santo, quem se nega a isso morre, ainda que seja um bom religioso. Mortos amam mortes e enterros, preferem fazer sacrifícios que experimentar misericórdia, por isso a exortação que segue no texto, “vossa benignidade é como a nuvem da manhã... que cedo passa”. Conhecer a Deus é viver, é praticar a verdadeira espiritualidade, quem não persiste em conhecer o Senhor poderá até ter cargo em ministério, ser um cristão ativo, mas não terá vida espiritual que gere frutos de justiça.
      Meus queridos e minhas queridas, Deus me levou a fazer esse longo estudo sobre espiritualidade não para tentar exibir conhecimentos teológicos ou bíblicos, para isso existem materiais bem melhores, mas o objetivo foi compartilhar minha experiência de vida com o Senhor. A essa altura do campeonato, nesse ponto de minha vida, não tenho mais tempo para preconceitos ou hipocrisias, nem para defender teorias que não levam a nenhuma prática de vida realmente cristã. Me cansei dos púlpitos falsos, que falam e falam, alguns nos levando às lágrimas com palavras proféticas incandescentes, outros encantando nossos intelectos com estudos bíblicos profundamente embasados, mas sempre levando as pessoas a mesma qualidade de vida fugaz que tinha Efraim e Judá no texto acima, que passa “como o orvalho da madrugada”. 
      Existe vida em Cristo, que se manifesta em nós através do Espírito Santo e que nos conduz ao Deus mais alto à medida que nos ensina coisas maravilhosas, isso é acessível aos que querem, buscam e prosseguem conhecendo. Não desistam, o que muitos dizem ser o final é só o início, acreditem, e muitos não têm interesse em que tenhamos esse conhecimento, homens e seres espirituais rebeldes a Deus. Mas é preciso coragem e total desprendimento de necessidade de aprovação humana, os que querem viver para os homens serão escravos da carne, fora e dentro de igrejas. Contudo, é preciso também humildade, para não se deixar ser seduzido pelos anjos caídos, que querem nos desviar do altíssimo não pela ignorância, mas pela arrogância que acham nos corações daqueles que querem ser deuses que serem adorados, e não adoradores. 
      “A sua saída, como a alva, é certa”, essas palavras nos falam sobre a fidelidade e realidade de Deus, quem o conhece não se decepciona e nem se frustra. Se as pessoas desistem e perdem o prazer no evangelho é porque podem até terem se esforçado, ouvido, aprendido, e mesmo praticado, mas coisas de homens, e essas, ainda que pareçam encantadoras no início, no final se mostrarão enganosas. Deus, não, aquele que se coloca nele, por ele é cuidado, consolado, levantado, suprido em todas as áreas, já os que se desviam para religiões de homens que fazem os homens escravos de homens são abatidos por palavras duras que saem da boca de Deus, esses não são felizes. Mas a esses a palavra diz, “vinde e tornemos ao Senhor, porque ele... feriu e nos atará a ferida”, feridas da disciplina de Deus só Deus pode curar, nada mais. 
 
“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

segunda-feira, novembro 30, 2020

61. Surpresas na eternidade

Espiritualidade Cristã (parte 61/64)

      “E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração. Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém.“ I Pedro 4.7-11

      Leio muito sobre religiões, profundamente, textos hinduístas, budistas, espíritas, esotéricos, assim como estudo filosofia e conheço essa nova visão que entende a necessidade de novos conceitos de família, sexualidade e igualdades. Não tive medo de conhecer aquilo que parece ir contra o que a teologia cristã protestante tradicional pensa, ou diferente daquilo que a doutrina evangélica pentecostal ensina. Deus me libertou de preconceitos para entender que o que está por trás das diferenças não é um “diabo” inimigo de Deus, não, são os seres humanos que estão por trás, seres diferentes e com tanto desejo e direito de serem felizes como os cristãos. O diabo é só um espectador condenado. 
      Creio em céu e inferno, mas construídos no plano físico e dele levados para o plano espiritual, não creio que na eternidade acontecerão coisas como num passe de mágica, e não entenda isso como mera metáfora, o que ocorrerá é só uma libertação do espírito. Seremos livres para sermos o quê? O que somos de fato, sem as cadeias do corpo físico, de suas paixões, ilusões, vícios, medos e encantos. Na eternidade não há lugares ou maneiras para fugas e escapismos, os refúgios que a carne oferece, no tempo e no espaço, não existem lá, por isso é tão importante construirmos ainda neste mundo um espírito reto, que de fato ama o bem, que deseja as coisas de Deus mais que as da carne.
      É isso que levaremos e é isso que será libertado e que nos dará o direito a melhor eternidade de Deus. Cristão, você diz que ama a Cristo? Então, viva esse amor na prática, “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama, e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele“ (João 14.21). Quanto aos outros, creiam, podem ir além que de entidades, anjos e espíritos, e o caminho é Jesus, o texto que diz “disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14.6), não é mero extremismo cristão, é uma verdade, e perdoem os cristãos por não serem coerentes com a verdade em que acreditam. 
      Muitos de nós protestantes e evangélicos, mas também católicos e outros cristãos, levamos toda uma vida para descobrir que o que nos encantou no início de nossas caminhadas no cristianismo, que de fato mudou nossas vidas, não foram as igrejas, as belas palavras que ouvimos em púlpitos, não foram os louvores, as liturgias, nem as comunidades cristãs, o afeto de irmãos ou a oportunidade de sermos úteis que o mundo não nos deu, fazendo parte de algo maior, organizado e focado, tudo isso é lindo, mas não foi isso. O que nos marcou de forma diferenciada foi Jesus, ele esteve presente mesmo nas igrejas mais afastadas da igreja cristã original, e cuidou de nós, com um amor especial, sempre. 
      A todos, contudo, deixo o termo “multiforme graça de Deus”, presente no texto inicial, ah, se entendêssemos de fato que Deus manifesta sua multiforme presença nas vidas de todos os seres humanos, cristãos ou não, que o maior e mais lindo quadro que Deus pintou, sua obra prima artística que é o universo material, precisa de cada ser humano, de todos os tempos, lugares e credos, para ser completo, e que o Deus altíssimo não faz acepção de pessoas, nunca, ainda que alguns escolham esperar mais tempo para compor esse quadro. Entretanto, talvez, só talvez, o nível de espiritualidade de cada um de nós esteja inversamente ligado ao grau de surpresa que teremos quando entrarmos no plano espiritual.
      Como você será surpreendido na eternidade, para melhor ou para pior? “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” (I Coríntios 2.10-11). O que tem o Espírito Santo e a ele dá liberdade está corretamente preparado, porque já começou a viver a verdadeira espiritualidade aqui e consigo a levará para o céu. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

domingo, novembro 29, 2020

60. Alfa e o Ômega

Espiritualidade Cristã (parte 60/64)

      “Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro.” Apocalipse 22.13

      Todo bem feito no universo deve-se ao criador, todo mal feito, deve-se à criatura. Se você faz algo bom, glória a Deus por isso, não a você, mas se você faz algo ruim a responsabilidade é toda tua para colher as consequências disso. Se Deus é glorificado por um bem a ele também caberá recompensar quem fez o bem, e não cabe a quem fez exigir isso de alguma maneira, e se alguém não o reconhecer por isso, prestará contas a Deus. O bem verdadeiro vem de Deus e para ele volta, que novamente o devolve quando, onde e a quem achar justo. O mal que o homem faz permanece nele, o deixa em débito, assim não receberá de Deus justiça e ficará desprotegido do mal de outras criaturas, sejam físicas ou espirituais. 
      Vamos agora interpretar isso na prática de nossas vidas, em nossas vidas materiais, já que o bem não se realiza só nas áreas espirituais e morais, com paz e justiça, mas também em prosperidade material. Funciona do mesmo jeito, aliás, para Deus não existe material e espiritual, ele reina sobre tudo e todos, homens, espíritos, anjos e demônios. Isso não significa que você terá que trabalhar, estudar, se esforçar, e permanecer depois como um monge, na possibilidade de não receber nada por isso e na obrigação de ainda assim ser grato e não reclamar. O universo é uma máquina bem azeitada, se não vemos isso é porque estamos olhando de perto, já que de longe, no tempo e no espaço, tudo acontece de forma equilibrada.
      Um segredo de viver em paz é fazer como se não estivesse fazendo, não é não fazer e achar que pela fé as coisas acontecerão sem nossa atuação, isso é loucura e irresponsabilidade. Se agirmos assim, fazer como se não estivéssemos fazendo, a passagem por este mundo será leve, não esperará dos homens o bem que eles não podem dar nem os culpará pelo mal que nos dão. Se recebemos algum mal os únicos culpados somos nós mesmos, se não por termos feito algum mal, será por termos esperado o bem da origem, no tempo ou no lugar errado. Isso quer dizer que a existência aqui não tem graça? Não, mas quer dizer que ela é menor diante do que somos, do que é o universo, do que é Deus, isso quer dizer que devemos olhar certo.
      O entendimento de que o bem vem de Deus e para ele deve voltar é mais que um saber intelectual, é o conhecimento de um mistério espiritual, faz com que nos vejamos mais que como corpos de carne numa batalha injusta, num mundo mal e com homens egoístas, corpos fadados ao envelhecimento, a serem instalações de doenças e de culpas. Esse entendimento faz com que assumamos os seres eternos que somos, cujas missões são mais que terem famílias e boas vidas financeiras. Nossa missão é rumar ao Altíssimo, no qual não há fome, sede, nem nenhuma outra necessidade a ser saciada, porque é a essência espiritual primordial de tudo, de onde viemos originalmente e em quem acabaremos na melhor eternidade.
      Em Deus não há expectativas, ilusões nem surpresas, isso tudo é o início de toda dor e sofrimento, quem espera sempre se frustra, quem se ilude sempre se desilude, e se surpreende quem não sabe por onde anda porque olhou errado, olhou para baixo e não para o alto. Devemos olhar certo, para o lugar certo, que não é físico, neste mundo, em status social, bens ou em usufrutos materiais, devemos olhar para o Deus Altíssimo, o alfa e o omega, a vida eterna de luz, bem, paz e amor. Assim, a carne luta contra o espírito porque são opostos, incompatíveis no homem neste mundo, cabe-nos achar forças em Deus para convivermos com essa incompatibilidade, cientes de nossas limitações, nunca acreditando só em nós. 
      Isso é injusto, Deus é injusto por nos fazer viver assim? Não, ele apenas prova o nosso melhor e mais eterno, por isso a vitória nesta existência estranha aqui só se alcança na humildade de aceitarmos que não somos vitoriosos em nós mesmos, mas em Deus, por Deus, através de Deus, por isso é preciso entender que o bem verdadeiro só pode vir de Deus e para ele voltar. Não, isso não é masoquismo ou baixa autoestima, é elevar o espírito acima da carne, a eternidade acima deste plano, é entender a nossa existência maior e melhor, e é aceitarmos que só seremos felizes em Deus no plano espiritual. Isso representa o cerne da nova aliança que Jesus entregou no evangelho, a mais alta e verdadeira espiritualidade.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sábado, novembro 28, 2020

59. Causa e efeito

Espiritualidade Cristã (parte 59/64)

      “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá.” Ezequiel 18.20-22
 
      Na evolução espiritual que as religiões não cristãs acreditam e que é o processo que conduz o ser à espiritualidade mais alta, tal posição superior é alcançada conforme se conhece, administra-se e evita-se as consequências de ações ruins que se pratica, que os cristãos chamam de pecados. Enquanto o cristão crê que basta pedir perdão no nome de Jesus, entendimento que se for raso demais pode conduzir a irresponsabilidades e crenças em utopias, religiosos orientais, espíritas, esotéricos e outros, entendem que precisam lidar com as consequências dos erros com prática real de vida melhor, que se manifesta em obras, não só em fé. Assim, evolução espiritual para muitos não cristãos, é um árduo e demorado trabalho humano, não simples recebimento de graça divina, para isso o conceito do Karma é um princípio muito usado, mas que de certa maneira também existe no cristianismo.
      Karma (ou carma, do sânscrito कर्म, em páli, kamma, ambos os termos significam "ação"), é um dos princípios das religiões orientais, presente no hinduísmo, no budismo, mas também no xintoísmo e em outras, e mesmo em esoterismo ocidental, ainda que chamado de outro nome (como princípio hermético, na Cabala etc). Ainda que de formas um pouco diferentes, esse princípio diz o seguinte: no hinduísmo refere-se ao efeito que nossas ações geram em nosso futuro, no budismo se refere às nossas intenções, que podem ser boas, más ou neutras, boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. Mas de maneira geral é causa e efeito, que está relacionado também com um princípio científico da física, a 3ª Lei de Newton (princípio da ação e reação) que diz: a toda ação sempre há uma reação de mesma intensidade e direção, porém de sentido oposto. 
      Por que estou mencionado isso aqui, num estudo sobre Espiritualidade Cristã? A Espiritualidade Cristã nada mais é que retornar ao criador, ao Deus Altíssimo, aquilo que teve origem nele, assim na prática ela respeita esse princípio, que outras religiões estudam com mais profundidade, ainda que a Bíblia não o cite de forma clara. Dentro de evento causal original e maior que é Deus, todos nós estamos, assim boas obras sempre trazem de volta bons frutos, colhe-se o que se planta, o homem que pecar esse morrerá, são outras maneiras de se referir ao princípio Karma dos religiosos orientais. É claro que sabemos que as outras religiões pensam esse princípio de maneira mais abrangente, incluindo para explicar a necessidade de reencarnação, doutrina que o cristianismo tradicional não aceita, principalmente porque em Cristo todo efeito negativo de condenação espiritual eterna é anulado. 
      A anulação de Cristo não é de graça, experimentada pelos homens, sim, mas não foi para Deus, Deus teve que morrer e ressuscitar em Cristo para anular o efeito fatal do pecado e então poder salvar o homem. Assim, o Deus do cristianismo respeita o “Karma”, senão bastaria a ele decretar que quem cresse nele seria salvo e perdoado, mas nunca foi assim, para que um vivesse outro deveria morrer. Na velha aliança Mosáica sacrificavam-se  animais, e na nova aliança do evangelho Jesus foi sacrificado. Você pode até não entender o que está sendo dito aqui, mas precisa aceitar que causa e efeito, o Karma, é um princípio real, mesmo no cristianismo. Contudo, a grande diferença do cristianismo em relação às outras religiões é a salvação completa de Cristo, por isso o diabo pode aceitar e ensinar muitas coisas, coisas boas e verdadeiras, mas sempre negará a Jesus, o mais importante.
      No mundo material, o princípio de causa e efeito vale sempre, e ainda que o homem tenha sido perdoado, tenha paz e segurança da melhor eternidade com Deus, as consequências de seus atos ruins neste mundo são colhidas. Ninguém espere que basta fé para não ser preso por um crime que cometeu ou punido judicialmente por ter infringido alguma lei fiscal, dai a César o que é de César. Mesmo regras morais e sociais, como tratar as pessoas com educação e respeito, se desobedecidas geram consequências, e muitas vezes num momento em que a pessoa mais precisa de respeito e atenção, as mesmas coisas que ela um dia não deu a alguém. Vivamos neste mundo com cautela, o homem é injusto, mas o universo é justo, já Deus é misericordioso com aqueles que o buscam por Jesus, todas as nossas obras, contudo, têm consequências e nós as colheremos, em algum momento. 

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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sexta-feira, novembro 27, 2020

58. Evolução Espiritual

Espiritualidade Cristã (parte 58/64)

      “No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.Gênesis 1.1-4

      Existem textos religiosos, não cristãos, que encontram extensos conhecimentos sobre eventos primordiais e que levaram milhares de anos para acontecerem entre os primeiros versos do primeiro livro do cânone bíblico, citados acima. Talvez a maioria dos cristãos não esteja preparada para esse entendimento, e na verdade saber ou aceitar esse entendimento não é necessário para se entender o conhecimento principal que Deus quer nos transmitir pela Bíblia, Jesus. Mas algo que temos que notar no texto inicial, é que antes de qualquer coisa no plano material no universo, antes mesmo do “big bang”, Deus existia como um espírito sobre as águas, águas que podem não ser o líquido que temos hoje em mares e rios do planeta Terra. Deus é a causa primordial de tudo, tudo saiu dele, por isso tudo é atraído para retornar a ele, num processo evolutivo que começa no espírito, passa à matéria e retorna ao espírito, obviamente em passagens com muitas nuanças de variações que misturam os dois elementos em proporções distintas. 
      Para as religiões não cristãs, de maneira geral, o processo da evolução que conduz à espiritualidade prova basicamente duas experiências: misticismo e caridade. Misticismo é a crença que se pode estabelecer comunicação entre o plano físico e o plano espiritual, caridade é amor, mas mais que o sentimento, é a manifestação dele em palavras e em ação, seja com Deus, mas principalmente com os homens, de maneira altruísta, opondo-se ao egoísmo. Principalmente amor para com os homens porque muitas religiões, principalmente as espíritas, creem que Deus é alguém de nível espiritual tão elevado que simplesmente é possível, pelo menos no nosso nível espiritual atual (como eles pensam), nos comunicarmos diretamente com ele. É por essa razão que tantos buscam comunicar-se com espíritos guias, com desencarnados, com entidades, com anjos e demônios, mas não diretamente com Deus, e na impossibilidade de manifestar um amor pessoal a Deus, o amor mais elevado deve ser manifestado aos homens.
      Se misticismo é pela fé e caridade é por obras, então achamos essas experiências também na espiritualidade cristã, a diferença, como sempre, é Jesus, ele nos permite acesso ao Deus Altíssimo, acesso que outros, por ignorância ou por outro motivo, não têm. O outro motivo, meus queridos, é uma das verdades sobre a espiritualidade não cristã, por mais caridosa e crédula que ela seja, ela afasta o homem de Deus à medida que o aproxima dos principados e potestades de seres espirituais, sejam quais forem os nomes que se deem a eles. Um espírita é sincero? É um homem de bem? É um ser que busca luz e justiça? É alguém que ajuda o próximo? Sim, sim, sim e sim, e se não for, o é tanto quanto não são alguns que se dizem cristãos. Entretanto, com tudo o que eles sabem e fazem de correto, não conhecem a Jesus, não como o único e suficiente salvador, e me perdoem, amigos espíritas, eu os entendo, mas essa é a verdade. Quem conhece a Jesus do jeito certo tem a vida mudada de uma maneira que nenhuma outra religião muda. 
      Mas seja como for, um princípio básico na grande maioria das religiões, é que o ser não é alguém passivo e parado no universo, ele é atraído para seguir num caminho que o leva mais e mais a uma iluminação, iluminação essa que o liberta da carne e o faz mais espiritual. Essa espiritualidade, contudo, não é algo que se manifestará só no plano espiritual, ele é evidenciada no plano físico, assim, para muitas metafísicas não cristãs o homem evolui à medida que existe no mundo, encarnando e reencarnando nele, numa evolução que pode demorar centenas, milhares de anos. Essa evolução, conforme pensam eles, também fará com que o ser humano desperte faculdades espirituais e psíquicas no plano físico, assim espiritualidade não é só virtudes morais, mas um certo poder espiritual manifestado na carne que torna homens em deuses. Essa é uma diferença em relação ao cristianismo, que ainda que sua espiritualidade disponibilize os dons do Espírito Santo, não crê numa evolução dessa forma.
      Transformar homens em deuses parece ser mais o desejo da serpente do Éden, isso para que possa se opor ao Deus altíssimo, não unir-se a ele, e eis o objetivo maior do “diabo”, dividir um poder indivisível, ocupar uma posição inalcançável, receber uma adoração impossível. Deus não divide seu poder, sua posição só é alcançada em Cristo, e só ele pode receber adoração, assim o que o diabo quer e diz que o homem pode ter é uma mentira, um engano, que só conduz à segunda morte, ao inferno, à separação espiritual de Deus. A verdade mais profunda é perigosa, por isso Deus ordenou ao casal mítico no Éden que não comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e meus queridos, o conhecimento que eles tiveram não adveio do fruto, o fruto não tinha poderes mágicos, era apenas um teste. O conhecimento veio pela desobediência, pelo pecado, e foi um conhecimento, ainda que verdadeiro, ruim, prejudicial, amargo. Antes do tempo? Talvez, Deus tudo sabe e sabia que o homem não passaria no teste. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quinta-feira, novembro 26, 2020

57. Sigamos para o Altíssimo

Espiritualidade Cristã (parte 57/64)

      “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3.13-14

      Nestes meus últimos anos de vida tenho sido levado, creio que pelo Espírito Santo, a conhecer mais profundamente algumas religiões, principalmente o hinduísmo e o budismo. Quando se deixa o preconceito de lado e se busca conhecer aquilo que é muito importante para muitas pessoas, ainda que pareça ser diferente daquilo que se está acostumado a estudar, principalmente na área religiosa, podemos nos surpreender e sairmos da experiência mais lúcidos. Não pense que esse tipo de conhecimento seja pecado, ainda que não seja para todos, ainda que seja sábio buscar a orientação de Deus antes de começar a adquiri-lo, no meu caso eu pedi autorização e Deus me deu. 
      Quanta sabedoria achei no Bhagavad Gita, que li na íntegra, e no Mahabharata, que li numa excelente versão em forma de romance, o Bhagavad é uma espécie de novo testamento dos textos sacros hindus, já o Mahabharata originalmente é extenso demais para ser lido integralmente com mais facilidade. Esses são textos sagrados do hinduísmo, o budismo basicamente se baseia no hinduísmo, mas com a ótica do Buda, que está para o hinduísmo como Jesus está para a religião israelita do antigo testamento, para usarmos comparações arredondadas para que possamos entender melhor como cristãos. Mas o ponto aqui não é uma reflexão sobre as teologia budista e hinduísta, talvez numa outra ocasião. 
      Sim, há muita sabedoria em textos de outras religiões, principalmente em assuntos sobre busca de valores morais mais altos e de domínio próprio para abrir mão dos apetites carnais e dos valores materiais do mundo, a fim de se preparar melhor para uma eternidade espiritual. Contudo, algo precisa ficar bem claro, só o cristianismo foca na necessidade de salvação e a entrega unicamente através da obra de Jesus, essa eficiência de reposicionamento espiritual possível através exclusivamente de fé em Jesus só o cristianismo ensina, ainda que outras religiões toquem em pontos para lá de relevantes principalmente nos efeitos que devem existir na vida dos que buscam a mais elevada espiritualidade.  
      Talvez você não concorde com isso, mas todas as religiões possuem parte da verdade, incluindo as não cristãs, e todas as religiões acreditam em partes da mentira, incluindo as cristãs, só Jesus é a verdade absoluta, e essa só conhecemos quando a buscamos no Deus altíssimo pelo Santo Espírito, não nas religiões. Mas muitos podem questionar, “mas se não acho Jesus pelas religiões, então, que igreja frequentarei, qual é a que pode me ajudar no caminho”? A resposta é: todas e nenhuma. Isso confundiu mais que ajudou? Mas é simples, comece pelas religiões, comece pelas igrejas, comece em denominações protestantes cristãs, comece em templos evangélicos, mas não pare aí, siga em frente a Deus.
      Ninguém precisa começar o caminho pelo fim, nem pode, a jornada é longa e se estreita à medida que caminhamos, mas é importante começar, e começar com a intenção correta. Onde? Tanto faz, Deus vê o coração, mas se houver um desejo profundo de conhecer a verdade ela será achada. Por quê? Porque a verdade está num Deus de amor que tem interesse em iluminar os que o amam. O caminho não é só aquisição de conhecimento intelectual, de respostas a perguntas, mas é um processo de transformação interior que muda as pessoas de dentro para fora. Mas é preciso que se tenha os olhos focados em Deus, isso é algo que se faz por fé, fé pura e interessada unicamente em Deus, no que ele pensa e quer de nós.
      É prazeroso achar respostas para perguntas, mas isso, simplesmente, pode não mudar nossas almas, ao contrário, muitas vezes aceitar do jeito certo perguntas sem respostas pode nos transformar muito mais para melhor. O conhecimento pode conduzir à arrogância intelectual, mas a ausência dele, depois de buscado persistentemente, pode nos conduzir a uma humildade espiritual profunda. Deus tem interesse em responder às nossas perguntas mais importantes concernentes aos mistérios mais altos do universo? Sim, mas só depois que nosso caráter for transformado, religiões podem responder as perguntas e nos dar algum status religioso numa comunidade, mas só Deus pode nos ajudar a mudar nossos homens interiores.
      Agora, uma palavra a todos os homens, religiosos, ateus, espiritualistas, materialistas, cristãos ou não: somos todos iniciantes no conhecimento de Deus, só que alguns são iniciantes há mais tempo, ninguém é mestre, assim não nos achemos assim ou chamemos os outros disso. Saibam que Deus ama a todos, entende a todos, se importa com todos, sejam quais forem suas crenças e descrenças. Saibam também que indiferente do que igrejas oficiais cristãs fizeram e fazem de errado no mundo, Jesus é algo muito especial vindo de Deus, e isso, eu nunca negarei, ainda que eu saiba da beleza espiritual que existe em muitas religiões, em muitas crenças, em muitas descrenças, em todos os homens. 
      O que abre nossos olhos espirituais é a humildade, que reconhece Deus como o Altíssimo e que aceita que o melhor jeito de existir só ele pode dar, seja qual for o nome que se dê a esse Altíssimo, ainda que Altíssimo só exista um. Quem tem essa intenção, ainda que em caminhos escuros, chegará à luz e ao Deus verdadeiro, outros, contudo, ainda que estejam no caminho mais direto e reto do cristianismo original, se não possuem essa intenção, se estiverem tentando usar o cristianismo, ao invés de deixarem que Deus os use, estão perdidos mesmo que debaixo da luz, em trevas, ainda que falando no nome de Deus. Esses não aprenderam ainda o caminho da verdadeira espiritualidade. 
      O que é espiritualidade? É a espiritualidade cristã, essa é a mais elevada, se posicionam nela os humildes que creem em Jesus. Não, meus queridos que ainda não foram “iluminados” pelo poder do evangelho, que ainda não nasceram de novo, não olhem para o cristianismo, mas olhem para Cristo, ele não mudou em dois mil anos de história, ainda que o cristianismo tenha mudado, e tantas vezes para pior. Por que o cristianismo resiste e forte mesmo corrompido? Porque Jesus está nele, e incorruptível. Por que um Deus incorruptível trabalha num meio corrompido? Por amor, e nesse amor ele tem achado seres humildes que provam de fato a verdadeira espiritualidade, a espiritualidade cristã. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, novembro 25, 2020

56. Espíritos

Espiritualidade Cristã (parte 56/64)

      “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor.I Samuel 16.14

      Antes de iniciarmos uma reflexão sobre espíritos, algo importante para se entender dentro do tema Espiritualidade Cristã, façamos um rápido resumo sobre a história de Saul. Israel queria um rei, mas o profeta Samuel disse que isso não era a vontade de Deus, na insistência do povo, Deus deu a Israel um rei, conforme o coração do povo. Saul era um homem de boa aparência, tinha suas qualidades, mas desobedeceu o Senhor, Deus mandou que ele destruísse totalmente um inimigo e não ficasse com os despojos, mas ele não seguiu a ordem, assim perdeu direito ao trono. Deus, então, levanta Davi como novo rei, um homem de aparência mais simples, mas de muitos talentos, com um coração adorador e com uma unção diferenciada, é nesse momento da história que o versículo inicial é citado. Entre o momento que Saul perdeu a legitimidade como rei até o momento que Davi assumiu como o novo rei, um tempo se passa, e é nele que podemos estudar todo o processo de degradação do homem Saul. 
      O ponto desta reflexão são os usos da palavra espírito, citados no versículo inicial (se possível leia todo o capítulo 16 de I Samuel): um se refere ao Espírito do próprio Deus, o outro é um ser espiritual rebelde, do mal, das trevas, mas conforme o texto, vindo da parte do Senhor. Se as pessoas entendessem a verdade ensinada nesse texto, tanto cristãs como não cristãs, perceberiam como interpretam erradamente o mundo espiritual, Deus e o diabo, luz e trevas, bem e mal. O plano espiritual não é um campo de batalha, com duas forças iguais e antagônicas, numa guerra eterna, que influenciam o plano físico cada uma à sua maneira. Deus é soberano, acima de tudo e todos, presente em todos os lugares, com autoridade sobre tudo e todos, sempre! O diabos, os anjos caídos, os demônios, ou seres espirituais rebeldes que um dia tiveram oportunidade de livre arbítrio e que escolheram não estar em comunhão com Deus, nos melhores e mais elevados lugares espirituais de luz, estão absolutamente subordinados a Deus. 
      Qual é então a diferença entre esses diabos e os outros seres espirituais, os de luz e do bem, que chamamos de anjos, arcanjos, querubins, serafins? Os seres da luz existem em perfeita harmonia com o Deus Altíssimo, são responsáveis por diversas tarefas, mas sempre, conforme entendemos pela teologia cristã tradicional, para abençoar os homens. Os seres das trevas podem “pensar” e desejar o mal, contudo, só podem fazer o mal em primeiro lugar sob autorização de Deus, e em segundo lugar através de obras, que nós homens fazemos, para as quais damos a eles o crédito. Por causa de suas índoles, diabos e demônios são responsáveis por testar e atormentar os homens, fazem o serviço “sujo”, digamos assim, mas ainda assim sob ordem de Deus. O diabo não tem corpo físico, dessa forma não pode andar pelo mundo, mas ele pode conversar conosco e tentar nos convencer a fazer o mal no mundo e aos outros homens, assim podemos ser ferramentas do diabo no plano físico. 
      Por que Saul era atormentado por um mau espírito? Não penso que a resposta para isso seja simples, a princípio ele negou a comunhão do Espírito de Deus, o que o deixou frágil para um ataque contrário. Mas não foi só o caso dele ter quebrado uma aliança com Deus, e então, em represália, Deus ter enviado um espírito mau para lhe atormentar. Toda a situação de desobediência de Saul destruiu sua sanidade, suas referências de certo e errado, de amigo e de inimigo, a prova disso é que mesmo Davi, que a princípio era alguém que ele gostava (I Samuel 16.22), depois tornou-se, pelo menos na cabeça de Saul, seu inimigo. Davi teve temor a Deus e respeitou Saul até sua morte. Na vida de Davi podemos ver um outro aspecto sobre espírito, Davi tinha uma unção espiritual especial, e era isso que conferia às suas expressões artísticas, seja no tocar do instrumento ou na composição de salmos, que já eram frutos de um talento humano especial, um poder curativo. 
      Enquanto Saul teve sua alma ferida por causa de seu orgulho espiritual, Davi teve a alma ungida, um experimentou enfermidade, o outro, arte. Incrível como Deus reuniu numa mesma história duas pessoas tão contrárias, e ambos com características semelhantes, dentre elas a espiritualidade. Sensibilidade espiritual é uma faca de dois gumes, pode tanto discernir a voz de Deus, quanto outras vozes, sejam de ecos negativos da própria mente ou de espíritos maus. Isso nos ensina que pessoas com um dom espiritual, com uma chamada de Deus especial, se não forem obedientes ao Senhor podem provar uma força contrária e semelhante, que ao invés de conferir unção de Deus, entrega tormentos e mesmo doenças, principalmente mentais. A música de Davi era terapêutica para Saul, e essa ironia, onde alguém acha justamente no principal oponente o remédio para seu tormento, é só parte de uma história bíblica complexa, e mais sofisticada que muito romance literário. 
      Mas podemos entender que Saul ficou psicótico, o que começou como arrogância, como uma má administração dos direitos reais que tinha, acabou por levá-lo a desobedecer a Deus, a perder direitos e finalmente a transtornos mentais. Algo que devemos aprender na história de Saul é que o entendimento das passagens bíblicas pode não ser algo fácil, simples e rápido. Sim, podemos fazer uma interpretação mais simplificada, numa primeira leitura, que já nos ensina algo. Deus em seu grande amor pelos homens permite ensinos mais simples para aqueles que por um motivo ou outro não se aprofundam na Bíblia, mas se estudarmos um pouco mais poderemos ver além da superfície. Entender, no texto de I Samuel 16, que Deus simplesmente envia um mal para atormentar alguém não penso que seja o mais correto, o livre arbítrio humano coloca a misericórdia do Senhor no limite, assim certas portas só são abertas quando o homem insiste e muito em fazer algo errado. 
      O mal maior, a vergonha maior, a queda no buraco mais fundo, nunca ocorre na vida de alguém de um dia para o outro, e isso é devido, repito, principalmente ao amor e à misericórdia de Deus, que tenta de toda maneira recuperar o homem, salvá-lo, principalmente alguém como Saul que recebeu do Senhor uma honra tão grande. Contudo, o exemplo de Saul é pra lá de emblemático, como alguém que começou tão alto caiu tão baixo? O final da vida de Saul foi humilhante (I Samuel 31.4-6), se suicidou, talvez não exista fim mais covarde e incrédulo para o ser humano. O certo é que ter a instalação de um “mal espírito”, seja isso algo espiritual ou psiquiátrico, quando não se tem um problema congênito ou efeito de uma longa vida de erros, antes, um bom berço e boas oportunidades na vida, é algo sério, uma situação quase que irremediável de perdição ainda no mundo, tenhamos a humildade para nos acertar antes que isso possa ocorrer.
      A história de Saul é de fato muita rica para aprendemos sobre “espíritos”, além das três abordagens que fizemos acima, o Espírito de Deus, um espírito mau sobre Saul e o Espírito Santo sobre Davi, tem ainda a consulta de Saul à profetiza de En-Dor (I Samuel 28). Refletimos nesse tema no estudo “Reavaliemos nossas crenças”, assim não vou me aprofundar nele desta vez, mas o acontecimento só reforça a ideia da relevância que Saul dava para a espiritualidade, e ainda na desobediência a Deus e após a morte do homem que era boca de Deus em sua vida, o profeta Samuel, ele tentou esse meio para achar conhecimento, ainda que para acessar fins polêmicos dentro da teologia cristã. Interessante que o mesmo homem que consultou uma médium espírita teve o tormento de um espírito mau, isso pode revelar uma porta que o próprio Saul deu legalidade para ser aberta em sua vida, que quando mexeu com coisas proibidas pagou um preço caro.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

terça-feira, novembro 24, 2020

55. A verdade sobre o mundo espiritual

Espiritualidade Cristã (parte 55/64)

      A verdade sobre o mundo espiritual é que nele existem seres espirituais que por algum motivo são rebeldes ao Deus altíssimo. Nessa afirmação temos que entender várias coisas para podermos enxergar a verdade, a primeira coisa é que existe um Deus altíssimo. Esse Deus não está em conflito com ninguém, nem se iguala em tamanho e altura a ninguém, seja na pureza de sua luz espiritual, nas virtudes de sua essência moral e no controle que ele tem sobre tudo, em todos os planos, espiritual e físico, e em todos os tempos (estudamos sobre isso em “Deus e o diabo”). Não existem no universo dois poderes numa batalha eterna, bem contra o mal, ou luz contra as trevas, a batalha existe dentro dos seres humanos e esses podem permitir a vitória de um lado ou de outro dentro deles, através do livre arbítrio. Essas escolhas afetam a eles e a seus próximos, mas não o universo e muito menos a Deus, ainda que o Altíssimo possa permitir que exércitos da luz lutem contra exércitos das trevas para beneficiar um ser (Daniel 10.11-13).
      A segunda coisa a saber é que existem seres espirituais não encarnados, que podem estar ou não em comunhão com o melhor de Deus (leia mais em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”), assim, quando alguém se prontifica a se comunicar com o mundo espiritual há varias possibilidades, pode-se fazer contato com seres de índoles distintas (I João 4). Falar com os mortos não foi proibido porque não pode ser feito, mas porque não deve ser feito, essa é a opinião desse que vos escreve (falamos a respeito em “Comunicação com mortos...”). Por que não deve ser feito? Porque pode-se incorrer em muitos erros, e o principal deles é se desviar do Espírito Santo que através da salvação em Cristo é o meio autorizado por Deus para todas as pessoas saberem e viverem as verdades espirituais. Para ser sincero eu não creio que seja só isso, mas creio que isso seja a vontade de Deus segura e eficiente para salvar qualquer homem, em qualquer tempo, indiferentemente de seus conhecimentos, cuidados ou experiências. 
      A terceira coisa a saber é sobre alguns seres espirituais especiais, que nunca se encarnam, são mais que demônios menores, são príncipes, grandes diabos, anjos ou arcanjos caídos, rebeldes de alguma maneira ao Deus Altíssimo. Esses, em algum momento, também tiveram oportunidade de escolha, mas não puderam, depois disso, mudar o efeito dessa escolha. Eles possuem, do próprio Altíssimo, liberdade de ação em diversas instâncias, mais que isso, são ferramentas de Deus, e nunca semelhantes a ele de maneira alguma, visto que são criaturas e não criadores. O início da história de Jó é o melhor exemplo disso (Jó 1 e 2), Satanás pedindo permissão a Deus, depois de andar pela Terra, e Deus permitindo que ele tirasse coisas de Jó, não foi Deus quem tirou diretamente, mas o Diabo, que tocou os bens, a família e a saúde física de Jó. Podemos entender com isso que o diabo é a ferramenta de Deus para o serviço “sujo”? Mas se for isso sua existência é útil aos propósitos divinos de alguma maneira, ou não (Deuteronômio 32.39)? 
      Citar a serpente no Éden como exemplo de Deus usando o diabo, pode tocar em assunto polêmico para muitos, se alegarmos que mais que ser instrumento de tentação, que só testou o livre arbitro dado ao homem pelo próprio Deus, a própria queda que adveio da desobediência foi “vontade“ do Altíssimo. Se Deus tudo sabe, ele já sabia que o homem iria cair na tentação. Será que podemos dizer que o diabo foi instrumento de Deus para que a humanidade tomasse o caminho que tomou? Seja como for, o que precisamos entender é que o mundo espiritual pode ser bem complexo para os que forem além daquilo que o cristianismo tradicional recomenda, e o conhecimento disso é o que muitos chamam de elevada espiritualidade. Contudo, aliado a isso, pelo menos em muitas religiões e visões espiritualistas, espiritualidade está numa vida de abstinências materiais, que para muitos é condição sine qua non para se receber conhecimentos espirituais, para se ser digno das revelações dos grandes mistérios. 
      Não é só ser um bom cidadão, trabalhador honesto, tolerante com todas as diferenças e praticante de caridade para com os mais necessitados, é experimentar uma vida de sacrifício no corpo, “refrear” a carne para libertar o espírito. Todavia, o início dessa reflexão foi a afirmação de uma verdade, e tão importante quanto saber que existe um Deus, que se estivermos em comunhão com ele pode nos abençoar, é saber sobre a rebeldia de seres poderosos. Essa rebeldia não é só aprovada por nós quando de alguma maneira agradamos mais a nós, a nossa carne, que a Deus e aos outros, não, pessoas em íntima comunhão com os grandes príncipes rebeldes espirituais podem viver existências de privações e caridade, e ainda assim serem rebeldes com o Deus Altíssimo. Por que levantei esse tema no estudo “Espiritualidade Cristã”? Porque para muitos espiritualidade pode ser mais uma armadilha que encarcera e faz retroceder, que uma fonte de águas vivas que renovam, curam e permitem evolução espiritual.
      “Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10.26-28), viciar-se nos apetites carnais pode matar o corpo, contudo, a espiritualidade dos príncipes espirituais rebeldes pode matar o espírito, porque nega o Espírito Santo, peca contra ele, não aceita o caminho reto de Cristo e desvia-se do Deus Altíssimo para os falsos deuses. Tenhamos cuidado com as armadilhas desses “anjos” caídos, e eles podem influenciar mais que vidas individuais, mas sociedades inteiras, toda uma civilização, através de ideologias que fazem a cabeça de líderes intelectuais, sociais, políticos e religiosos. O homem de bem, contudo, sempre terá a chance de fazer a escolha certa, terá uma visão lúcida de tudo, para esse nunca se apagará a luz de Deus. 
      Nosso exemplo maior e completo de espiritualidade é Jesus encarnado, não o que ele sempre foi como Deus, esse é nosso salvador e Senhor, mas como ele viveu no mundo desprovido de poderes divinos. O que muitos não entendem é que o ministério do Espírito Santo não é nos fazer deuses, com poderes para operar atos extraordinários, seu ministério é nos ensinar a ser homens, como foi Jesus encarnado. Mas sim, para aqueles que buscarem de Deus mais que vaidades e satisfação de necessidades materiais, o Espírito Santo pode revelar mistérios acima de qualquer conhecimento que obtêm magos e espiritualistas com os grandes anjos rebeldes, mas mistérios com a autorização do Altíssimo pelo poder de Cristo o redentor eterno. Assim, anime-se, espiritualidade é ouvir a voz de Deus que nos entrega o real sentido da vida, os simples e humildes a acharão e serão muito felizes, não para exibirem isso aos homens, a eles basta nossa prática de vida em amor e paz, mas para nos prepararmos para a eternidade que é plenamente espiritual. 

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José Osório de Souza, 30/09/2020.

segunda-feira, novembro 23, 2020

54. Onde está teu Deus?

Espiritualidade Cristã (parte 54/64)

      “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.Gênesis 3.8-10

      “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?Salmos 42.3 

      “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.Mateus 27.42-43

      Talvez essa seja a maior e mais determinante tentação que os filhos de Deus devam passar para que possam reagir do modo realmente espiritual, responder a uma pergunta: “onde está o teu Deus”? Qual a resposta certa? Nenhuma. Os que não conhecem a Deus em profundidade, e mesmo alguns que são seus filhos, levantam a voz e defendem seus pontos de vista, ainda mais quando eles se referem a confiar em Deus acima de tudo, mas será que uma resposta mais enfática tem alguma eficácia para quem faz uma pergunta como essa? Penso que não, por vários motivos, não somente pela dureza de coração de quem nos afronta, mas também pela situação de debilidade que podemos nos achar.
      O salmista diz, “minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite”, quem responde numa atitude ativa e defensiva se coloca no ataque, como forte, e não deve estar chorando com o questionamento incrédulo, cínico e injusto que lhe fazem. Se o salmista estava quebrantado era porque sabia que não adiantava responder, que estava só e fragilizado diante de grande insolência. Pode parecer fraqueza, mas diante de um confronto tão cruel, que pode vir geralmente quando estamos passando pela pior situação de sofrimento e vulnerabilidade, só nos resta olhar para Deus e nos humilhar, não é momento de levantar a voz, não é momento para nos defender ou defender àquele que nos defende, o Senhor.
      Quem enfrentou o pior exemplo dessa situação e da maneira mais espiritual foi Cristo na cruz, a ele disseram em sua pior hora, “confiou em Deus, livre-o agora se o ama”, parece difícil ouvir essas palavras? Mas muito pior foi para Jesus, e ele ouviu e se calou. Não, calar-se em momentos de grandes afrontas não é disposição de enfraquecimento, por isso tantas vezes procuramos palavras em certas situações e não achamos, os argumentos nos faltam enquanto o incrédulo e cínico destila sua injustiça com prazer, assistindo nossa humilhação. Se nosso Senhor passou humilhação pela justiça, por que os que dizem segui-lo não passariam? “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15.20b).
      Precisamos entender, contudo, que não deve ser uma humilhação por algo errado que fizemos, nesse caso ainda menos razão temos para responder à injúria, mas nos calarmos diante de uma afronta estando nós de fato testemunhando da justiça, aí sim, pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus. “Porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Coríntios 12.9b), sim, nesse caso, nossa fragilidade pode ser usada para demonstrar o poder de Deus. Foi exatamente isso que ocorreu na morte de Cristo no calvário, Deus dando vida à humanidade à medida que seu filho morria, eis o conceito antagônico do plano espiritual em relação ao físico apresentado em seu apogeu. 
      Interessante que o silêncio de um justo compensou o silêncio dos pecadores originais no Éden, “e ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, e esconderam-se”, os pecadores com noção de suas condições fogem do santíssimo, e isso ainda é algo bom, mostra que o coração não se cauterizou. Contudo, vivemos tempos que ainda erradas as pessoas se acham no direito, de enfrentarem a justiça, aos justos e ao santo Deus. Uma geração que acha que tem o direito de levantar a voz e defender posicionamentos sempre, afasta-se de Deus, fortalece-se no reino dos homens, mas enfraquece-se para ter direitos no reino da luz à medida que se rende ao reino das trevas.
      “Onde está o teu Deus?”, se alguém te perguntar isso, respire fundo, pense um pouco, não se apresse em responder, muitas vezes você não deverá responder nada, porque não adianta e porque Deus pode usar isso para julgar a dureza de coração das pessoas. Que a insolência do louco ecoe no teu silêncio e retorne a ele, para o fundo de sua alma, e fique lá, e o leve a responder a si mesmo à medida que lembre das vezes que Deus lhe falou e ele não quis ouvir, negou aquele que poderia lhe dar vida eterna. Deus pode usar nosso silêncio, muitas vezes muito mais que nossas palavras, afinal quem tem que brilhar é Deus, não nós, quem tem que convencer é o Espírito Santo, não nós, quem salva é aquele que se calou na cruz, não nós.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

domingo, novembro 22, 2020

53. Três testes para a espiritualidade

Espiritualidade Cristã (parte 53/64)

      “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
 I João 2.15-17

      “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”
 Gênesis 3.6-7

      “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
      Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
      Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.” 
Mateus 4.1-11

      Essa abordagem não é nova, mas achei interessante trazê-la a esse estudo sobre espiritualidade, ela diz que em todas as tentações que sofremos, basicamente, três coisas são testadas em nós. Ela resumi todos os “testes” que o mal nos faz a essas três coisas, partes de uma estratégia que esteve presente na tentação de Adão no Éden, assim como na tentação de Cristo no deserto. As três coisas são: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida, que confrontam gradativamente o ser com o mal. Concupiscência, é cobiça de bens materiais ou anelo de prazeres sensuais, é dar lugar aos instintos carnais do homem, carnal no sentido físico, do corpo, que a princípio nada tem de errado, mas que pode se tornar “carnal” no sentido pecaminoso. A carne se torna “carnal” quando valores mais altos são relegados em favor dos mais baixos, quando o físico ou o emocional ganham prioridades sobre o espiritual, quando o ser humano perde o equilíbrio entre suas partes, o corpo, a alma e o espírito. 
      Moisés, no texto de Gênesis, define os conceitos denominados por João o evangelista em sua primeira carta, assim há uma correspondência entre eles. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal é bom para comer, o que tenta a concupiscência da carne, mas ele também é agradável aos olhos, o que tenta a concupiscência dos olhos, finalmente é desejável para dar conhecimento, que tenta a soberba da vida. Uma testa o corpo, a outra a alma e a última o espírito. Na tentação de Cristo também há uma correspondência entre as três coisas, na sugestão dada a Cristo para que ele transformasse pedras em pães é tentada a concupiscência da carne, na sugestão que ele se lançasse do pináculo do templo é tentada a concupiscência dos olhos, e na possibilidade de ter tudo o que quisesse é tentada a soberba da vida. O corpo é tentado com às necessidades básicas de sobrevivência, a alma com as vaidades aparentes que vão além dos instintos primordiais, o espírito com a necessidade de ter poder sobre tudo. 
      A concupiscência da carne tenta o querer imediato, a concupiscência dos olhos o ter para mostrar aos outros, e a soberba da vida tenta o ser, que estrapola o plano físico e quer dominar o espiritual. Querer, ter e ser, eis a evolução daquilo que é tentado em nós pelo mal, vemos claramente na sociedade pessoas de níveis financeiros e culturais diferentes desejando coisas distintas. Os mais pobres só querem trabalho para se alimentarem, se vestirem e terem onde morar. Acima desses, aqueles que ganham o suficiente para o básico mais alguma coisa, não se satisfazem só com comer, vestir e morar, querem comer algo mais caro, vestir algo mais chique, morar numa casa melhor, ter mais de um carro. Para que, para satisfazer necessidades? Não, passaram desse ponto, querem mostrar aos outros que são melhores, no campo material, mas também usam o que têm a mais que os mais pobres para consumir cultura e informação, e isso também é vaidade, o primeiro passo para a soberba da vida no campo intelectual. 
      Finalmente vemos os mais perigosos, que já têm tudo o que precisam e mais um pouco, tanto na área material quanto intelectual, esses querem ser, ser o quê? Serem adorados, querem ser deuses. Vemos políticos, empresários, artistas e outros nesse nível de tentação. Não há nada de errado em ser rico, político ou artista, mas alguns acham prazer na proeminência social que essas posições dão e se viciam nesse prazer, proeminência que é simples efeito de uma causa. Quando se faz um bom trabalho é natural que sejamos elogiados por isso, que ganhemos mesmo alguma fama por isso, mas a fama é algo perigoso, que deve ser administrado com lucidez e humildade. Muitos conseguem vencer a tentação nos dois primeiros testes, não se vendem por um prato de comida nem querem aparentar só para parecerem melhor que os outros, contudo, caem diante da soberba da vida, a pior das tentações porque corrompe mais que corpo e alma, corrompe o espírito e leva o homem a invejar a Deus. 
      Assim, a fama, que deveria ser mero efeito de quem é competente, passa a ser o objetivo final, quando as pessoas não querem mais fazer algo bem feito, querem ser adorados por isso. Veja que nas duas primeiras tentações a queda numa tentação só prejudica a própria pessoa, quando ela troca o prazer de um fruto por uma virtude, ou troca a exibição da aparência do fruto pelo amor sincero dos outros, sim, porque o que sucumbe à concupiscência dos olhos se afasta das pessoas porque se acha melhor que elas. Na terceira tentação, contudo, as pessoas querem se aproximar das outras, mas para dominá-las, e fazem isso mentindo, enganando. Quem quer o lugar de Deus toma o lugar de Lúcifer e esse não tem escrúpulos para obter seus objetivos. A soberba da vida quer o conhecimento de Deus sem ser Deus e sem ter o Espírito Santo dentro de si. Infelizmente muitos pastores, pregadores e cantores evangélicos caem nessa tentação, viciam-se em fama e poder, e querem adoradores, não irmãos ou ovelhas. 
      Como o diabo que dizemos ser o pai da mentira, um ser das trevas, que incentiva o mal, conhece tão bem o ser humano? Na verdade precisaríamos rever muitas de nossas crenças, incluindo o que achamos ser o diabo e entender melhor o que é bem e mal, luz e trevas, e todas as implicações disso tudo na nossa moralidade. Não é o ponto aqui, mas resumindo, esse assunto não é tão simples como muitos acham que é, contudo, o que de fato precisamos saber é: o melhor caminho, o que traz a paz que permanece e o amor que une, é aquele que olha para o Deus altíssimo através de Jesus. Esse caminho nos afasta do diabo e de todas as suas estratégias, que não são de maneira alguma burras ou levianas, porque na minha opinião são autorizadas por Deus. Se como já foi dito nesse estudo, o diabo é responsável pelo serviço sujo, ele também é responsável pelos testes, não é o que ensina, mas pode ser o que aplica as provas, se for isso ele não é um oponente que contribui para o caos, mas parte do grande sistema, que confere a ele, equilíbrio. 

      “E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.
II Samuel 11.1-4

      Cada teste é perigoso para cada um de nós no nível de espiritualidade que estivermos. Muitas vezes é melhor termos vidas simples se podemos dar conta só do primeiro teste, simples mas humildes. Em outros casos, ainda que tenhamos competências, é melhor permanecermos discretos e não adquirirmos fama, se ela for uma tentação muito forte para nós, que nos leve a querer uma glória que é de Deus, não nossa. Melhor entrarmos no céu com só um olho que com dois formos ao inferno (Mateus 18.9). Muitos podem não acreditar, mas como existem pessoas que fazem o que fazem só porque querem ser amadas, e se essa carência for muito grande e muito mal resolvida as pessoas poderão ser motivadas para alcançarem posições elevadas no mundo, só para terem a atenção do maior número de pessoas possível. Muitos ditadores e tiranos, levaram nações inteiras a guerrearem contra o mundo, só para saciarem uma terrível necessidade de adoração.
      Mas por mais inacreditável que pareça o desejo dessas concupiscências está latente no ser humano, o casal original sucumbiu aos três testes e eles não tinham nenhum motivo aparente para serem carentes, de nada. Tinham um jardim maravilhoso para viver e um pai, o melhor pai do universo, que cuidava deles bem de perto. Isso nos ensina que a culpa de nossos pecados não é de nossos pais, de nossa criação ou da sociedade, a culpa é nossa, todos temos livre arbítrio para fazer escolhas. Que espiritualidade podemos ter? Aquela que administrarmos do melhor jeito, simples assim, e entenda, aquela que lidarmos melhor com ela, será o jeito melhor de agradarmos a Deus, de sermos felizes e de fazer nossos próximos felizes. Deus não julga pela aparência, mas pelo coração. Muitos adquirirão o mais elevado nível de espiritualidade sendo pessoas simples e discretas, sem nenhum reconhecimento do homem (leia também sobre a tentação de Cristo em “A primeira tentação de Cristo”).
      Algo interessante sobre os três testes é que eles podem ocorrer em tempos e lugares diferentes, se no jardim do Éden foi testado o primeiro homem e no deserto o último, podemos achar na vida de Davi (II Samuel 11) o tempo e o lugar para testar o homem intermediário. Esses testes, esses tempos e esses lugares revelam mistérios profundos, são metáforas para as vidas de todos os seres humanos. Nosso primeiro teste ocorre no início de nossas vidas como adultos, é o que nos faz sair da idade da inocência e entrar na idade da razão, onde escolhas nos são apresentadas e fazê-las definirá nossas vidas. O último teste ocorre em nossas velhices, quando a paixão já tiver seca, quando nossas forças físicas estiverem diminuídas e consequentemente estivermos menos susceptíveis a cairmos nas tentações básicas da carne. Nesse momento, no deserto, poderemos ser confrontados com os conhecimentos espirituais mais profundos, que definirão nossa eternidade, mais próxima do que nunca de nós. 
      Mas o segundo teste ocorre no meio do caminho, quando já tivemos algumas vitórias e conquistamos, principalmente neste mundo, bens e posições. O segredo para não cair nessa tentação é não relaxar antes do tempo, se é que existe neste mundo um momento para relaxar, manter-se vigiando e lutando, é não se iludir com o passageiro. Davi pode ter caído porque achou que já tinha tudo e podia ficar em casa descansando, enquanto os outros lutavam, “numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando... então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la, e ela veio, e ele se deitou com ela. Parece-nos que tudo foi tão fácil e rápido, mas esse é um exemplo típico de se estar no tempo errado, no lugar errado fazendo a coisa errada. Somos presas fáceis do pecado quando depois de muitos avisos desobedecemos não uma, mas várias regras, simplesmente porque queremos descansar antes do tempo.  
      Davi é o símbolo da glória maior do homem no plano físico, levou Israel, dentro da velha aliança, à sua melhor situação no mundo, como nação política, econômica e religiosa, mas como tudo que ainda não conhece a espiritualidade mais alta de Deus, sucumbe, e sucumbiu justamente na concupiscência dos olhos de Davi quando ele adulterou. Por misericórdia Deus não permitiu que o castigo maior viesse no tempo de Davi, nem de seu filho Salomão, que nasceu de sua relação adúltera, mas só no tempo de seu neto. Roboão não reinaria sobre as doze tribos unificadas por seu avó Davi, mas somente sobre Judá e Benjamim, reino que recebeu o nome de Judá, as outras dez tribos ficariam com Jeroboão que legaram o nome de Reino de Israel. É um ensino para todos nós, a desaprovação no segundo teste pode tirar de nós grande parte do direito de prosperidade que teríamos se fôssemos aprovados, seguiremos com algumas vitórias, mas aquém daquelas que originalmente Deus queria nos dar. 
      Mais que estarmos no lugar errado e com os sentimentos errados, podemos cometer um erro pior e perdermos tudo o que tínhamos conquistado até então, se perdermos a noção de tempo. Há tempo para descansar, e se for o tempo de Deus estaremos protegidos, por fora e por dentro, por fora pela providência divina, e por dentro pelo nosso próprio espírito já amadurecido e focado nas coisas do Espírito Santo e não da carne. “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus“ (Romanos 8.14), os que são guiados pelo Espírito de Deus têm noção do tempo, não se apressam em relaxar antes da hora, mas também não se mantêm fazendo esforços exagerados quando já deveriam descansar em Deus e ocuparem-se só com coisas espirituais. Pecam os que param de lutar antes do momento e também os que continuam lutando quando Deus mandou parar de lutar. Enfim, jardim, terraço ou deserto? Em que lugar e tempo estamos? Em quantos testes fomos aprovados a caminho da espiritualidade?

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

sábado, novembro 21, 2020

52. Permaneçamos no amor de Deus

Espiritualidade Cristã (parte 52/64)

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.” João 15.9

      “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8.38-39

      Iniciei o estudo “Espiritualidade Cristã” com Mateus 22.37-40, ele tem um assunto em comum com João 15.9, o amor. Mateus resume a velha aliança de Moisés, obrigações do homem para com Deus e com seus semelhantes, o homem deve amá-los, mas João nos fala da maior motivação que Deus tem para buscar o homem, Deus ama o homem. Quer saber o que é a mais elevada espiritualidade, seja no plano físico ou no espiritual? É permanecer no amor de Deus. João resume tudo num único versículo, Deus amou a Jesus, Jesus nos amou e nós devemos ama-lo, quem ama permanece, tem comunhão, obedece, adora, conhece e dá testemunho disso, por amor e em amor. 
      É muito difícil entendermos o amor de Deus, assim como muitos de nós até hoje não entendem a obra de Jesus, estamos presos demais a uma religiosidade de barganhas, que acha que para ter favores de Deus precisa fazer favores a ele em troca, fé por milagres, dízimos por provisão material, assiduidade em cultos por algo que apazigue almas escravizadas a remorsos. O amor de Jesus não exige nada, só pede permissão para nos amar, e quem é amado se sente satisfeito, não corre atrás de vaidades ou de prazeres passageiros. O amor liberta, quem é amado não se sente só e quem ama não se sente vazio, o amor ilumina, abre a porta para o mais alto dos conhecimentos espirituais e nos coloca perto do Altíssimo. 
      O grande desafio que temos na vida é permanecer no amor de Deus, isso quando nós mesmos, os homens, o mundo, os espíritos rebeldes, todos estão sempre tentando nos tirar dessa posição. Estar nessa posição é ser espiritual, espiritualidade não é um lugar para se chegar, mas é uma posição para se estar. Quem pensa que tem que melhorar, caminhar por um longo tempo para agradar a Deus, nunca alcançará seu objetivo, pisamos a mais elevada posição espiritual pela fé, quando nos lavamos com o “sangue” de Cristo o cordeiro de Deus e permitimos que o Espírito Santo nos conheça e se deixe conhecer por nós, numa comunhão que levaremos à eternidade, que permite que nosso espírito volte para quem o criou. 
      Quem prova isso tem a vida transformada, toma da água da vida e nunca mais desejará outro líquido espiritual ou material para satisfazer, não o corpo e a alma, mas o espírito. Quem tem essa experiência já chegou no ponto espiritual mais alto, ainda que caminhe por esse mundo, ainda que mude, não perderá jamais a referência daquele que pode alimentar para sempre o espírito, uma riqueza que bem ou prazer nenhum desse mundo ou do outro pode superar. Esse conheceu o amor de Deus e não abrirá mão dele, antes ficará, até o fim, e não existe lugar melhor para se estar que no amor de Deus, isso é mais que conhecimento espiritual, que milagres físicos, que sinais e mistérios, é a própria pessoa do Altíssimo.
      Os espíritos rebeldes, chamemos-os dos nomes que forem, diabo, Satanás, demônios, anjos caídos, arcanjos caídos, enfim, seres espirituais que nunca escarnaram e que num momento do tempo tiveram autorização de Deus para exercerem livre arbítrio, são seres que não têm direito a nada, só ao inferno. Por isso quiseram fazer com que o homem se afastasse de Deus, para terem legalidade de entrar no lugar que nem Deus pode impedir que entrem, no coração do homem se esse autorizar. Esses seres não têm outro poder senão aquele que os homens delegam a eles, e Deus não pode ir contra o livre arbítrio que ele mesmo deu aos homens, pelo menos até o juízo final, por isso o diabo tem tanto interesse no homem. 
      Esses espíritos rebeldes não querem que o homem fique no amor de Deus, pois isso simplesmente os impedem de terem poder, de ocuparem espaço no mundo. O diabo conquista o mundo não com suas mãos e seus pés, mas com as mãos e os pés dos seres humanos, enquanto esses realizam, fora do amor de Deus, injustiça, egoísmo, intolerância. Contudo, ainda que defendendo os valores morais e espirituais mais altos, o diabo conquista espaço, e essa é sua estratégia final, negando a Deus, sua mais alta posição espiritual, sua onipotência, e principalmente, sua salvação pelo nome de Jesus. Quem nega a Jesus, nega a Deus e de maneira alguma pode provar o verdadeiro amor, sem esse amor espiritualidade é impossível. 
      Por todas as coisas pela quais devemos lutar, a mais importante delas é permanecer no amor Deus, nada falta aos que se colocam nessa posição, assim como ninguém toca os amados de Jesus. E entendamos certo, no amor não existe exigência de sacrifícios, mas só compartilhamento de misericórdia. Um bom casamento é a maior bênção que podemos ter nesse mundo, mas só no amor de Deus podemos ter, administrar e manter isso com equilíbrio e paz. Que percamos tudo, bens e aprovações de homens, mas no amor de Deus sempre estaremos tranquilos, protegidos, vitoriosos, e acima de tudo, preparados para a eternidade melhor de Deus, onde nós e Jesus seremos todos um só no eterno amor do Deus Altíssimo.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.